09.05.2013 Views

tratados de amor: uma análise das obras de pietro bembo

tratados de amor: uma análise das obras de pietro bembo

tratados de amor: uma análise das obras de pietro bembo

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

pela qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus escritos e pelo talento com que escreveram e se <strong>de</strong>dicaram às letras.<br />

Este foi o caso <strong>de</strong> Túllia que expôs suas idéias através <strong>de</strong> seus escritos.<br />

Tullia D’Aragona nasceu provavelmente em 1508 em Roma, filha da cortesã Giulia<br />

Campana e do Car<strong>de</strong>al Luigi D’Aragona. Tullia exerceu a mesma profissão da mãe.<br />

Recebeu <strong>uma</strong> educação h<strong>uma</strong>nista patrocinada por seu pai, o que lhe propiciou um<br />

equilíbrio entre a profissão <strong>de</strong> cortesã e as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> poeta e pensadora. Ela viajou para<br />

as principais cida<strong>de</strong>s italianas e soube tecer ligações <strong>amor</strong>osas, <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e <strong>de</strong> proteção<br />

dos po<strong>de</strong>rosos. Cabe ressaltar que sua presença nestes círculos se <strong>de</strong>ve em parte à sua<br />

profissão <strong>de</strong> cortesã, mas foi garantida porque ela foi reconhecida pelos contemporâneos<br />

como poeta <strong>de</strong> talento e como h<strong>uma</strong>nista.<br />

Sobre a Infinida<strong>de</strong> do Amor estrutura-se a partir <strong>de</strong> três interlocutores: Tullia, seu<br />

amigo, o filósofo aristotélico Varchi, um <strong>de</strong> seus ex-amantes, Benucci. A questão principal<br />

da obra, como já sugere o título, é saber se o <strong>amor</strong> tem fim ou não. Utilizando estratégias<br />

discursivas muito bem elabora<strong>das</strong>, Tullia en<strong>de</strong>reça a pergunta a seu convidado Varchi,<br />

entretanto, ao longo da obra observamos que Tullia não apenas ativa o diálogo com suas<br />

questões, mas assume o papel <strong>de</strong> autora. É perceptível, <strong>de</strong>ssa forma, a complexida<strong>de</strong> dos<br />

temas abordados por ela, que para além da discussão sobre o <strong>amor</strong>, discorre também sobre<br />

o conhecimento e sobre as relações <strong>de</strong> gênero.<br />

Concluímos que nesta tradição renascentista as mulheres têm lugar nos diálogos,<br />

como observamos na obra <strong>de</strong> Bembo. No entanto, o papel <strong>de</strong>las é secundário. São os<br />

homens (ficcionais ou não) que <strong>de</strong>sempenham o papel mais importante na condução do<br />

discurso filosófico sobre o <strong>amor</strong>. As mulheres geralmente são ativadoras do diálogo, fazem<br />

perguntas que permitem aos interlocutores masculinos o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> seus<br />

argumentos. Já reconhecida por seus contemporâneos e como boa conhecedora dos<br />

diálogos sobre o <strong>amor</strong> e dos poetas clássicos, principalmente <strong>de</strong> Petrarca, ao escrever<br />

Sobre a infinida<strong>de</strong> do <strong>amor</strong> Tullia inseriu-se na tradição dialógica <strong>de</strong> <strong>uma</strong> maneira própria<br />

e original. Po<strong>de</strong>mos aferir, nesse sentido, que com sua obra, Tullia institui um outro lugar<br />

nesta tradição porque observamos <strong>uma</strong> mescla entre poesia, filosofia e a própria<br />

experiência <strong>de</strong> Tullia, que aponta, <strong>de</strong>ssa forma, para os limites do saber douto e para as<br />

limitações <strong>das</strong> <strong>de</strong>finições fecha<strong>das</strong>, que não levam conta as múltiplas fontes do<br />

conhecimento. A autora tece, assim, <strong>uma</strong> sofisticada crítica às limitações da filosofia<br />

praticada por homens como Varchi (um dos interlocutores <strong>de</strong> seu diálogo).<br />

Nesse sentido ao cruzar as <strong>análise</strong>s dos dois <strong>tratados</strong> escolhidos, pu<strong>de</strong>mos verificar<br />

que ambos os autores versam sobre o <strong>amor</strong>, no entanto <strong>de</strong> formas muito diferentes. Esse<br />

distanciamento se dá, justamente pela problematização dos respectivos lugares <strong>de</strong><br />

enunciação: Bembo, poeta <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> renome, com acentuada respeitabilida<strong>de</strong> nos meios<br />

cultos renascentistas que através <strong>de</strong> um <strong>de</strong>nso discurso sobre o <strong>amor</strong>, aponta para <strong>uma</strong><br />

perspectiva unilinear que não leva em consi<strong>de</strong>ração as múltiplas fontes do conhecimento,<br />

entre elas a experiência. Por outro lado temos o lugar <strong>de</strong> Tullia, <strong>uma</strong> cortesã que possuía<br />

<strong>uma</strong> sólida formação cultural e que construiu se lugar no interior da produção do discurso<br />

poético e literário nos ambientes <strong>das</strong> cortes renascentistas. A alterida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua escrita<br />

repousa não só no fato <strong>de</strong> escrever sobre um tema tão caro aos h<strong>uma</strong>nistas da época, mas<br />

também na maneira como problematiza as relações sociais. Ela conseguiu inserir-se num<br />

espaço masculino, no qual raramente <strong>uma</strong> mulher era aceita. Levou para o <strong>de</strong>bate um<br />

elemento central, que era sua experiência como cortesã. 11 Procurar enten<strong>de</strong>r como o acesso<br />

<strong>de</strong> D’Aragona à escrita ocorreu, bem como os questionamentos e estratégias discursivas<br />

por ela apresentados, forçam os limites <strong>das</strong> convenções e dos cânones renascentistas.<br />

Atentar para tal fato po<strong>de</strong> levar a <strong>uma</strong> compreensão mais plural do Renascimento.<br />

11 MARTINS, Ana Paula V. Tratados <strong>de</strong> Amor: <strong>uma</strong> <strong>análise</strong> da inserção <strong>de</strong> Tullia d’Aragona (1547) na<br />

tradição filográfica do renascimento italiano. DEHIS-UFPR.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!