Copyfight: Pirataria & Cultura Livre - Monoskop
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Um novo conflito<br />
Esse deslocamento não é linearmente libertador ou emancipador.<br />
Ele apenas define o marco de um novo conflito. Na execução virtuosa,<br />
nos lembra Virno, temos sempre uma prestação pessoal, quer dizer os<br />
elementos ambíguos próprios da mobilização produtiva da vida. Abrese<br />
o horizonte de uma atividade livre e criativa, mas também cria-se<br />
uma nova condição servil. A execução virtuosa aparece como o máximo<br />
de atividade livre e criativa, mas temos uma prestação pessoal que<br />
indica os termos de uma nova escravidão. A clivagem entre esse dois<br />
polos não é sempre nítida. Em primeiro lugar porque entre eles há uma<br />
infinita modulação de condições que dosam graus diferentes de liberdade<br />
e servilismo: entre o trabalhador informal dotado de um telefone<br />
celular e o trabalhador intelectual continuamente conectado à rede.<br />
Em segundo lugar, porque – uma vez que essas dinâmicas correm fora<br />
da tradicional relação salarial – nem sempre fica claro qual mecanismo<br />
agencia e qual separa, qual participa da colaboração e qual hierarquiza<br />
e modula o controle.<br />
Uma boa maneira de construir a capacidade crítica de apreender<br />
esse mecanismo é de articular a metáfora do trabalho virtuoso com a<br />
questão dos modos de construção e funcionamento da “partitura” que<br />
o prestador de serviços executa. No capitalismo das redes, a partitura<br />
do virtuoso é aquela de um intelecto (saber) que se tornou geral: conhecimento<br />
que produz conhecimento, formas de vida que produzem<br />
formas de vida. Ao mesmo tempo, esse tornar-se geral do intelecto não<br />
é um processo linear, nem unívoco. Ou seja, os modos dessa generalidade<br />
podem ser diferentes e são o terreno de conflito entre o novo tipo<br />
de trabalho (imaterial) e o novo regime de acumulação (cognitiva). O<br />
conflito entre capital e trabalho passa por uma outra dinâmica. Em seu<br />
cerne não se encontra mais o salário, mas a “partitura”.<br />
As lutas por salário privilegiavam o justo reconhecimento do valor<br />
do capital variável (o trabalho e sua reprodução) e deixavam em segundo<br />
plano, o da reforma ou da revolução, a questão da propriedade do<br />
capital constante (as maquinarias). Aliás, reforma e revolução, mercado<br />
ou Estado, se encontravam no mesmo terreno, aquele da legitimidade<br />
tecnológica do capital fixo e a ele se dobravam, como mostrou a<br />
experiência soviética.<br />
As lutas do trabalho imaterial tem como variável fundamental a partitura<br />
e, pois, conjugam num mesmo terreno um novo tipo de luta salarial<br />
e a luta no terreno da propriedade. A produção sensata de formas<br />
de vida por meio de formas de vida depende dos níveis de liberdade e<br />
democracia que caracterizam a produção e a execução, em espiral, da<br />
partitura. No plano salarial, a variável diz respeito o reconhecimento da<br />
dimensão produtiva da vida e, portanto, o deslocamento do tema salarial<br />
em direção ao da distribuição de renda pela implementação de uma<br />
“renda universal”, uma biorenda. No plano da partitura, o terreno de luta<br />
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