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Copyfight: Pirataria & Cultura Livre - Monoskop

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autores, ainda que em menor número aos segundos. Sem critérios<br />

claros e universais para gerir estes direitos de uso, o Senado de Veneza<br />

suspendeu todos os privilégios em 1517 e começou a elaborar novas<br />

bases para o sistema. Aos poucos, as instituições ali formadas foram<br />

incorporadas em outros governos, assumindo diferentes características,<br />

mas sem abrir a mão da estratégia de concessão de privilégios<br />

sobre as prensas como um mecanismo de controle prévio político e<br />

cultural. Mesmo assim, a difusão do uso das prensas móveis não pôde<br />

ser contida e acarretou diversas mudanças no pensamento da época,<br />

influenciando inclusive a Reforma Protestante. Tais transformações<br />

obrigaram os governantes a rever o sistema de privilégios e elaborar<br />

novas formas de controle cultural.<br />

A transição entre o “Licensing Act” (1622) e o “Estatuto de Anne”<br />

(1709) na Inglaterra exemplifica esta mudança entre a visão monarquista<br />

de regulação dos bens imateriais, exercida através do controle<br />

prévio e privilégios, e outra “moderna” onde esta ocorre através das leis<br />

de mercado e da naturalização da “propriedade intelectual”. Tal como<br />

o sistema veneziano, o primeiro é baseado na autoridade da Coroa de<br />

realizar o licenciamento prévio e censurar trabalhos considerados perigosos.<br />

A legislação inglesa do século XVI protegia apenas o editor, que<br />

comprava os direitos sobre a reprodução dos manuscritos e podia vendê-lo.<br />

De acordo com o Licensing Act, antes de serem distribuídos, todos<br />

os livros deveriam ser previamente licenciados na Stationers Company,<br />

grupo criado em 1403 que exerceu o monopólio sobre a imprensa<br />

até a publicação do Estatuto de Anne.<br />

Neste contexto, os autores não eram vistos como proprietários,<br />

sendo a remuneração por seu trabalho intelectual feita através de honorários.<br />

Do mesmo modo, praticamente inexistia a noção de cópia<br />

privada ou reprodução sem fins lucrativos. Por conta dos altos custos<br />

de obtenção das máquinas tipográficas, somente editores comerciais<br />

eram capazes de realizar cópias dos materiais.<br />

Esta prática intensiva do monopólio sobre a impressão das obras<br />

se mostrou desvantajosa até mesmo do ponto de vista mercadológico.<br />

Cresceram as críticas às práticas da Stationers Company e o Licensing<br />

Act foi suspenso antes de sua renovação, em 1693, para que<br />

uma nova base legal para o tema fosse elaborada. Em 1710, o Estatuto<br />

de Anne saiu como uma resposta dos palácios reais para o problema<br />

colocado à época. Seus feitos mais importantes foram abolir o<br />

monopólio centralizado da Stationers Company, pulverizando-o em<br />

outras iniciativas, e estabelecer um prazo claro para o exercício de<br />

propriedade intelectual sobre alguma obra. A partir de então, após<br />

14 anos de monopólio de editores, a obra voltava a ser dos autores,<br />

que poderiam então renovar sua propriedade por mais 14 anos. Agora,<br />

não mais a autoridade do poder monárquico, mas as leis de mercado<br />

é que passam a regular os trabalhos culturais (já devidamente<br />

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