O Herói Byroniano Brasileiro de J. M. de Macedo: O Trovador de
O Herói Byroniano Brasileiro de J. M. de Macedo: O Trovador de
O Herói Byroniano Brasileiro de J. M. de Macedo: O Trovador de
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Revista Crop - nº 15/2010<br />
Revista <strong>de</strong> Estudos Linguísticos e Literários em Inglês<br />
www.fflch.usp.br/dlm/lingles/Lcorpo_ingles.htm<br />
PIRES, Ramira. O <strong>Herói</strong> <strong>Byroniano</strong> <strong>de</strong> J. M. <strong>Macedo</strong>: O <strong>Trovador</strong> <strong>de</strong> A Nebulosa. pp. 3-25<br />
[...] em longas filas<br />
Os túmulos se or<strong>de</strong>nam [...]<br />
É o alcaçar da morte, e seu ministro<br />
O tempo recuara ante o jazigo.<br />
(Nos Túmulos, IV, p.136)<br />
A noção do sublime <strong>de</strong>senvolvida por Edmund Burke (1729-1798), filósofo, teórico<br />
político e estadista inglês, a partir <strong>de</strong> Longino e Horácio, fundamentou o gosto do gótico<br />
pelos aspetos extraordinários e grandiosos da natureza. Para Burke, a natureza é um<br />
ambiente hostil e misterioso que <strong>de</strong>senvolve no indivíduo um sentido <strong>de</strong> solidão e <strong>de</strong><br />
medo: "tudo aquilo que serve para incitar as idéias <strong>de</strong> dor e perigo [...] constitui uma fonte<br />
do sublime, isto é, produz a mais forte emoção <strong>de</strong> que o espírito é capaz” (p.48). Assim,<br />
gran<strong>de</strong>s montanhas, tempesta<strong>de</strong>s, a imensidão do mar, castelos antigos, ruínas e capelas<br />
mortuárias são assuntos a<strong>de</strong>quados para se lograr o sublime. <strong>Macedo</strong> já <strong>de</strong>monstrara<br />
familiarida<strong>de</strong> com textos dos filósofos ingleses 8 e o célebre tratado <strong>de</strong> Burke po<strong>de</strong>ria não<br />
lhe ser estranho – suas <strong>de</strong>scrições da natureza em A Nebulosa revelam sua consciência da<br />
importância do sublime na construção do gótico. E o <strong>Trovador</strong> é o arauto da cena sublime:<br />
“Oh natureza! Minha dor insultas!<br />
Na tua placi<strong>de</strong>z leio o sarcasmo;<br />
Abomino-te assim, amo-te horrível.<br />
[...]<br />
Eu ouço meus hinos no chorar dos homens!<br />
Sim! o raio!, a serpente do horizonte,<br />
Que coriscante mor<strong>de</strong> e rompe as nuvens;<br />
Os trovões a bramir, tigres do espaço;<br />
As montanhas do pego embevecido<br />
Nas praias se quebrando, e branca espuma<br />
Do rochedo atirando a face turva;<br />
8 Em A Moreninha (1844), por exemplo, <strong>Macedo</strong> cita a filósofa Mary Wollstonecraft e sua obra A<br />
Vindication of the Rights of Woman (1792).<br />
15