O Herói Byroniano Brasileiro de J. M. de Macedo: O Trovador de
O Herói Byroniano Brasileiro de J. M. de Macedo: O Trovador de
O Herói Byroniano Brasileiro de J. M. de Macedo: O Trovador de
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Revista Crop - nº 15/2010<br />
Revista <strong>de</strong> Estudos Linguísticos e Literários em Inglês<br />
www.fflch.usp.br/dlm/lingles/Lcorpo_ingles.htm<br />
PIRES, Ramira. O <strong>Herói</strong> <strong>Byroniano</strong> <strong>de</strong> J. M. <strong>Macedo</strong>: O <strong>Trovador</strong> <strong>de</strong> A Nebulosa. pp. 3-25<br />
Manfred, Cain e Child Harold. Todos, contudo, são heróis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong>, como observa<br />
Thorslev, <strong>de</strong> alguma forma anseiam por serem absorvidos pelo universo que os cerca e têm<br />
uma enorme capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentimento, sobretudo <strong>de</strong> ternura e da paixão do amor (p.188).<br />
Assim, além do satanismo e da sensibilida<strong>de</strong>, que são os caracteres centrais do<br />
herói byroniano, observam-se outros traços que gravitam em torno <strong>de</strong>ste núcleo:<br />
impetuosida<strong>de</strong>, egocentrismo, misantropia, orgulho e <strong>de</strong>sespero.<br />
O satanismo está ligado à rebelião em nome do individualismo, típica do<br />
Movimento Romântico, um individualismo que <strong>de</strong>staca o homem sensível como um<br />
homem entre homens e, portanto, um proscrito que, no seu isolamento, rebela-se contra as<br />
normas da socieda<strong>de</strong>, o po<strong>de</strong>r instituído e muitas vezes, contra Deus. Os ancestrais <strong>de</strong>ste<br />
herói romântico são o Satã <strong>de</strong> O Paraíso Perdido (1667) <strong>de</strong> John Milton que, a partir do<br />
século XVIII, é reinterpretado como herói do poema, e, antes, Prometeu, recriado no<br />
Romantismo por Goethe, Shelley e Byron. Satã – seu espírito inventivo e sua orgulhosa<br />
auto-afirmação, bases da hybris – fundamenta a autoconfiança, o humanismo do<br />
Romantismo. Prometeu – a maior figura para os românticos – encarna a luta do homem<br />
contra a opressão em todas as suas formas.<br />
A Nebulosa, <strong>de</strong> Joaquim Manuel <strong>de</strong> <strong>Macedo</strong>, explicita o paralelo entre o <strong>Trovador</strong><br />
e o titã grego: “Somente como à rocha enca<strong>de</strong>iado / Mo<strong>de</strong>rno Prometeu, firme resiste /<br />
Mísero <strong>Trovador</strong>;” (p.22). “Mo<strong>de</strong>rno”, diz <strong>Macedo</strong>, seu trovador seria uma versão<br />
diminuída <strong>de</strong> Prometeu: sua revolta já não por uma causa tão nobre – <strong>de</strong>sespero <strong>de</strong> amor.<br />
“Tropical e latino”, acrescentaríamos nós: volta-se para feitiçaria para tentar conseguir o<br />
amor da Peregrina, porém, filho <strong>de</strong> cultura <strong>de</strong> profundas raízes católicas, sente-se<br />
amaldiçoado por Deus:<br />
Minha esperança em hora <strong>de</strong> loucura<br />
Caiu dos pés <strong>de</strong> Deus no caos do inferno.<br />
Não longe, em fundo vale e gruta horrível,<br />
Vendia filtros e conselhos tredos<br />
Astuta feiticeira: procurei-a;<br />
Entrei no antro e consultei a maga;<br />
7