O Herói Byroniano Brasileiro de J. M. de Macedo: O Trovador de
O Herói Byroniano Brasileiro de J. M. de Macedo: O Trovador de
O Herói Byroniano Brasileiro de J. M. de Macedo: O Trovador de
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Revista Crop - nº 15/2010<br />
Revista <strong>de</strong> Estudos Linguísticos e Literários em Inglês<br />
www.fflch.usp.br/dlm/lingles/Lcorpo_ingles.htm<br />
PIRES, Ramira. O <strong>Herói</strong> <strong>Byroniano</strong> <strong>de</strong> J. M. <strong>Macedo</strong>: O <strong>Trovador</strong> <strong>de</strong> A Nebulosa. pp. 3-25<br />
O’er the crag’s headlong perpendicular,<br />
And fling its lines of foaming light along,<br />
And to and fro, like the pale courser’s tail,<br />
The Giant steed, to be bestro<strong>de</strong> by Death,<br />
As told in the Apocalypse.<br />
[…]<br />
[Manfred takes some of the water into the palm of his hand and flings it<br />
into the air, muttering the adjuration. After a pause, the Witch of the Alps<br />
rises beneath the arch of sunbow of the torrent.]<br />
(Manfred, Act II, Scene II)<br />
Nos dois trechos citados, a cena sublime emoldura o aparecimento <strong>de</strong> duas feiticeiras: a<br />
Nebulosa e a Feiticeira dos Alpes. Tanto Byron quanto <strong>Macedo</strong> recorrem à figura da maga<br />
para compor o elemento do sobrenatural em seus poemas. Em Manfred, a Feiticeira dos<br />
Alpes é mais uma das várias instâncias do sobrenatural evocadas pelo protagonista.<br />
Manfred, além da Feiticeira dos Alpes, assoma vários espíritos da terra e dos elementos e o<br />
gran<strong>de</strong> príncipe Arimanes, fonte <strong>de</strong> todo o mal. <strong>Macedo</strong>, contudo, restringe o espaço do<br />
sobrenatural à feiticeira. Certamente pesaram sua formação católica e a consciência dos<br />
melindres <strong>de</strong> seu público. Em função do papel importante dos negros na cultura brasileira,<br />
nos séculos XVIII e XIX a feitiçaria era bastante popular e não <strong>de</strong>veria causar protestos. 9 O<br />
poeta brasileiro, entretanto, na ausência <strong>de</strong> espíritos e <strong>de</strong>mônios, triplica a figura da<br />
feiticeira e nos dá a Nebulosa, a primaz; a Doida, a jovem feiticeira que ama secretamente<br />
o <strong>Trovador</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância e a mãe da Doida, cujos conselhos o <strong>Trovador</strong> vai buscar.<br />
Com domínio da maquinária gótica – a ermida arruinada, o campo santo<br />
adjacente, lendas locais, fantasmas, feitiçaria, a natureza grandiosa – <strong>Macedo</strong> vai dotando a<br />
cena dos traços misteriosos e arrepiantes:<br />
Ar<strong>de</strong>nte imaginar, que o medo excita,<br />
Criou fantasmas, pavorosas sombras,<br />
Que vagam pelo monte; à noite, dizem,<br />
9 Veja-se, a este respeito: SOUZA, Laura <strong>de</strong> Mello e. O Diabo e a Terra <strong>de</strong> Santa Cruz – Feitiçaria e<br />
Religiosida<strong>de</strong> Popular no Brasil Colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1986; KARASCH, Mary C. A<br />
Vida dos Escravos no Rio <strong>de</strong> Janeiro – 1808-1850, São Paulo: Companhia das Letras, 2000.<br />
17