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A SOCIEDADE FRANKENSTEIN - UFSM

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marcará a divisão de rumos de concepções que pautarão a discussão sobre a<br />

pós-modernidade.<br />

De um lado, aparece Juergen Habermas, que segue a tradição de Kant e<br />

de Adorno em relação à arte, que ainda vê nela a possibilidade de restauração<br />

de uma certa utopia perdida. Para ele, a arte ainda é a marca da negação<br />

contra o poder totalizador de uma sociedade unidimensional, o "armazém de<br />

significados que se encontram em perigo"(Jay,1988, p.207).<br />

Para Habermas, a arte moderna encontra-se num dilema: ela pode<br />

recuperar aquilo que está fortemente ameaçado pela devastadora cultura da<br />

pós-modernidade mas para isso é preciso que resgate o projeto kantiano de<br />

fusão de esferas cognitiva, político-moral e expressivo-estética.<br />

Claro está aqui, que para o pensador alemão as coisas ainda se colocam<br />

em termos de uma essência perdida ou mutilada pelo processo histórico, que<br />

deve ser de alguma forma recuperada.<br />

No debate sobre a questão, Peter Buerger, Andreas Huyssen e Jean-<br />

François Lyotard colocam-se radicalmente contra a perspectiva habermasiana.<br />

Para Buerger, a interpretação de Habermas é absolutamente ilusória. As três<br />

esferas não têm nenhuma identificação entre si já que a ciência não integra a<br />

vida cotidiana, a arte goza de autonomia própria e aspira à transcendência,<br />

coisa que a ciência não faz. Sua crítica é de que Habermas tentaria fazer valer<br />

uma concepção totalmente irreal de harmonia entre as três esferas que<br />

buscariam apoiar-se mutuamente na construção do projeto estético.<br />

Para Huyssen, Habermas é holista e está na verdade em busca de um<br />

"telos" (fim, realização), procurando recuperar portanto a concepção de um<br />

devir, de uma história, de um futuro utópico de natureza finalista.<br />

Para Lyotard, da mesma maneira, Habermas, na sua proposta de<br />

revitalização do fenômeno estético, deixa transparecer seu objetivo unificador<br />

da história e a existência do sujeito totalizador. Para ele, Habermas busca a<br />

ordem, a unidade, esperança, a esfera pública quando critica todos os<br />

movimentos chamados vanguardistas e a por ele caracterizada perda do<br />

referencial histórico da arte.<br />

Mas para a maioria dos autores que analisam o momento atual pósmoderno<br />

do desenvolvimento social, a arte é uma manifestação que por seu<br />

atrelamento às concepções de mundo e ao espírito do Iluminismo e da razão<br />

não tem mais possibilidades nem esperanças de recuperação da aura perdida.<br />

A arte na sociedade tecnológica deixou de ser um fenômeno específico; a<br />

experiência geral das pessoas tornou-se estetizada, isto é, os ambientes gerais<br />

que compõem a cultura passaram eles próprios a se tornarem porta-vozes,<br />

maneiras públicas de expressão artística. Tanto nas pessoas como designers<br />

bodies (Kroker), como nos ambientes interiores e nos próprios edifícios da<br />

paisagem urbana instala-se uma total estetização dos ambientes de vida. Isso<br />

constitui o que se convencionou chamar de "fenômeno artístico integral".<br />

A arte dissolve-se, dilui-se, pulveriza-se na cultura como um todo,<br />

deixando de existir, portanto, como um fenômeno em si, singular.<br />

Por outro lado, em vista também do espírito do tempo, ela já perdeu sua<br />

característica de escandalizar: já não choca, já não atrai, já não é capaz de<br />

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