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A SOCIEDADE FRANKENSTEIN - UFSM

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É uma comunicação aplicada a uma realidade em que as pessoas já não<br />

mais se olham, se tocam, se sentem, se falam. Mais além, ela não mais<br />

funcionando como intermediação (ponte) entre o mundo e os lares, é, ela<br />

própria, produção livre de conteúdos, fábrica de estórias. O fenômeno da autoreferencialidade<br />

está nos jornais cuja notícia são eles mesmos, nas televisões<br />

que focalizam, falam, tratam, polemizam consigo mesmas. São os media<br />

narcisos, nos quais o único referente para a transmissão pública são suas<br />

próprias maquinações e fabricações.<br />

Em outro plano, as formas de comunicação implodem os conceitos de<br />

esfera pública e esfera privada. As redes de comunicação do passado, isto é,<br />

as que se articulavam no interior das instituições sociais, eram marcadas pela<br />

privacidade, pelo espaço íntimo e do sagrado. O homem enquanto pai, citoyen<br />

ou bourgeois era quem defendia a relação entre público e privado. No<br />

momento em que a comunicação invade todas as esferas do social, ela anula,<br />

através de sua "obscenidade"(v. adiante: 2. A Informação), a privacidade, a<br />

intimidade e o mistério, rompendo a antiga esfera auto-suficiente e autônoma<br />

do privado. Ela alimenta-se exatamente da vida íntima e do fato de tornar<br />

público este universo.<br />

2.1. O processo televisivo<br />

2.1.1.. A visão<br />

Entre todos os sentidos humanos, o que recebeu maior investimento<br />

estético, o que foi mais explorado politicamente e mais seduzido do ponto de<br />

vista econômico foi, sem dúvida alguma, a visão. A começar pela expressão<br />

artística da pintura, que representava de forma analógica a ordenação do<br />

mundo e das idéias do Período Renascentista, continuando até os<br />

desdobramentos de que a visão passou a ser objeto a partir da invenção da<br />

fotografia e, mais recentemente, na reprodução eletrônica, o olhar sempre<br />

esteve em posição privilegiada.<br />

O século XV foi marcado pelas representações estético-visuais do<br />

centralismo-perspectivista, opositor do precedente policentrismo, do<br />

deslocamento visual, do ritmo e do movimento das expressões artísticas da<br />

Idade Média tardia. Antecipava o racionalismo e desenvolvia uma arte mais ou<br />

menos similar ao desenvolvimento do capitalismo, à sua rigidez, ao seu cálculo.<br />

Expressões dessa época são Da Vinci, Galileu, Maquiavel e Duerer.<br />

Mais tarde, na Alta Renascença, ganha corpo a tendência de retorno ao<br />

movimento, mas agora trata-se de um "movimento na rigidez", como aquilo que<br />

se move quando colocado sobre trilhos. A época de Ticiano é que dá destaque<br />

ao primeiro plano, como ocorre no teatro, e também é a primeira manifestação<br />

de a imagem assumir o caráter de mercadoria e deixar de ser sagrada.<br />

Autonomiza-se o território separado de registro e sincroniza-se com a produção<br />

de bens em seu movimento externo. É o período em que o olho<br />

descorporificado de Deus é substituído pelo do monarca.<br />

O surgimento da Era Burguesa caracteriza-se pelo início da mobilidade<br />

da perspectiva. A imagem vista de uma carruagem já não é mais a que um<br />

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