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A SOCIEDADE FRANKENSTEIN - UFSM

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exterior do próprio fenômeno. Tem sentido aquilo que se coadunava com a<br />

maneira prévia de como o cientista ou o filósofo viam o mundo.<br />

Caem por terra, portanto, os conceitos de conteúdo e de mensagem<br />

como manifestações que estão escondidas, por trás, obscurecidas, pela<br />

linguagem manifesta. A análise da mensagem, a análise de conteúdo<br />

buscavam exatamente através do instrumental semiológico encontrar ligações,<br />

construções inconscientes, formas internas de um discurso não-expresso para<br />

trazê-las à luz. O campo então ficava aberto a todas as formas possíveis de<br />

especulação, já que tudo é válido e portanto pode se submeter a critérios<br />

múltiplos de julgamento. As chamadas "leituras ideológicas" de um texto, de<br />

uma pintura, de um filme, de uma peça teatral, de um livro, de um programa de<br />

televisão, todas elas remetem a essa tentativa de violentar o real impondo-lhe<br />

um sentido, que o pesquisador achava mais correto.<br />

Da mesma forma, o conceito de discurso, que remetia a uma<br />

concatenação superior das falas e à sua submissão a toda uma lógica<br />

precedente, reduzia todas manifestações à mera expressão dessa própria<br />

ordem, dessa visão de mundo. O pesquisador violentava o real e o distorcia<br />

para impor-lhe a significação que era da sua própria metanarrativa.<br />

3.3.3. Autonomia do objeto<br />

Na nova teoria desaparece a polarização dominante/dominado, que está<br />

na mesma ordem da polarização emissor/receptor. É novamente Umbero Eco<br />

quem declara que nas novas formas de comunicação eletrônica não há mais<br />

um poder sozinho, um poder centralizado, uma destinação ideológica da<br />

mensagem. Se existe uma circularidade na comunicação, se ocorre o que se<br />

chama "sedução circular" é porque então ninguém mais manipula ninguém, não<br />

há mais persuasão, não há mais influência deliberada, nem a capacidade de<br />

indivíduos interferirem radicalmente no comportamento de outros através do<br />

uso deliberado dos meios de comunicação.<br />

Em suma, o componente intencional nos efeitos da comunicação<br />

extingue-se. As novas formas de manifestação dos meios de comunicação<br />

remetem a outro tipo de funcionamento, assim como também a uma nova forma<br />

de se considerar a questão do poder. (No item II, se retomará novamente a<br />

discussão sobre o caráter do poder na nova sociedade).<br />

A forma como Baudrillard, por exemplo, encara o fenômeno das massas<br />

justifica uma tal acepção de poder. Para ele, estas não são boas nem más<br />

condutoras do político; nelas tudo dilui, são ao mesmo tempo passividade e<br />

espontaneidade selvagem, não guardam nenhum sentido e neutralizam toda<br />

cena e o discurso político. O poder não manipula e tampouco as massas são<br />

enganadas. Absorvem a energia do social mas não a refratam; absorvem<br />

signos mas não os digerem; nunca participam: são boas condutoras de fluxos<br />

mas de todos os fluxos, boas condutoras de informação mas de qualquer<br />

informação.<br />

Seu comportamento, portanto, é algo que não pode ser previsto, préprogramado,<br />

administrado, controlado ou definido pelos indivíduos, Estados ou<br />

formas de "poderes" socialmente localizáveis. O que marca seu comportamento<br />

é, contrariamente, o da absoluta imprevisibilidade.<br />

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