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impossível a construção de uma realidade para além desta. Tal fato encontra<br />
nos indivíduos um correspondenrte homólogo, que é o que se verá na próxima<br />
parte do texto, a saber, a condição esquizofrênica do homem nesta era.<br />
3. A política<br />
Antes do período moderno, a política definia-se como atos e vontades<br />
do soberano. Eram os inúmeros jogos, artifícios, golpes, astúcias de que fala<br />
Maquiavel e que correspondem a uma concepção do agir político como<br />
teatralização diante dos demais membros da sociedade. A era moderna vai<br />
abrir, com a liquidação dos monarcas ou o esvaziamento de seu poder político,<br />
a fase da representação. Instala-se o conceito de povo como soberano, de<br />
vontade popular, de representatividade, de delegação, de opinião pública. É a<br />
fase de ouro da cena política, em que os governados acreditam na<br />
possibilidade de os governantes agirem em seu nome, na viabilidade de<br />
construção de um estado fundado na democracia de uma transparência política.<br />
Na nova fase política (fim da modernidade), esta dissolve-se por ser<br />
incorporada pelo sistema de comunicação ou as próprias instituições políticas<br />
tornam-se meios de comunicação.<br />
Nossa época é marcada pelo desaparecimento ou perda de importância<br />
das instituições intermediárias que configuravam o quadro político do século<br />
passado e da primeira metade deste século; opinião pública, esfera pública,<br />
sindicatos entram em progressivo descrédito assim como conceitos de<br />
cidadania e direito. O desaparecimento do espaço público, o fim das grandes<br />
mobilizações de massa como formas de ostentação política, a crise da<br />
demonstração política ocorrida através da estetização fascista, o declínio dos<br />
sindicatos, dos movimentos ideológicos, todos estes fatos convergem para a<br />
ruptura dos componentes mediadores instalados entre o povo e seus<br />
governantes.<br />
Fim da representação, fim das instituições intermediárias e também fim<br />
do homem político. Com a expansão e absorção dos media, os políticos<br />
tornam-se atores destes sistemas com peso e importância pequena. São<br />
substituídos por técnicos nas tomadas de decisões e as definições políticas<br />
escapam ao seu controle porque são determinadas por pareceres de<br />
especialistas, estudos específicos e investigações externas ao debate<br />
propriamente político. Ao mesmo tempo, o cenário clássico da política tornou-se<br />
espaço de micropolíticas de lobbies e de vantagens marginais e oportunistas.<br />
A política na era das altas tecnologias é o território sem a dimensão das<br />
grandes mudanças, das radicais alterações. Ou então: sem a interferência ativa<br />
dos atores, partidos e organizações. As transformações espetaculares da<br />
história de certos países, de regimes inteiros ocorreu como estravazamento<br />
explosivo sem liderança, como explosão incontrolável, como fantástica violência<br />
das coisas. Desaparecem os atores e, como lembra Virilio, as mães da Praça<br />
de Mayo são uma demonstração de que os verdadeiros atuantes, de fato, estão<br />
ausentes. Da mesma forma, em São Paulo, a descoberta de ossadas de<br />
antigos inimigos do regime vem para comprovar que no momento de<br />
esvaziamento da política só os fantasmas de uma política desaparecida é que<br />
conseguem exercer o papel de atores.<br />
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