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alanceamento dos instrumentos. A partir disso, constata-se que a performance<br />
na verdade é uma cópia que não tem original, que só existe enquanto objeto<br />
de pura reprodução. Trata-se da mostra de algo que jamais ocorreu. A<br />
gravação de rock é, portanto, um fenômeno de ficção.<br />
Por outro lado, o próprio audiófilo também penetra neste mundo de<br />
modelos e simulações de forma equivalente, através da obsessão pela<br />
recaptura da linguagem musical. Trata-se de uma espécie da construção da<br />
hiperfidelidade, ou seja, de tentar encontrar um som que seja mais fiel do que o<br />
fiel; é onde o audiófilo quer discernir instrumentos, separar vozes de<br />
instrumentos, vozes isoladas dentro de um coral, além de tentar também<br />
controlar o próprio ambiente da cena, buscando administrar as oscilações da<br />
eletricidade, isolar a sala, sentar-se no centro dos altofalantes e procurar aquilo<br />
que Poster chama de "utopia auditorial", em que fundem-se na mesma cena<br />
sujeito e objeto. O sujeito desloca-se da sua vinculação, da sua impregnação a<br />
um certo solo, o lugar lhe escapa; ele flutua suspenso entre pontos de objetividade"(Poster,1990,p.11).<br />
É a expressão mais clara de que também o som<br />
pode ser interpretado como "som virtual".<br />
3 - Teoria em ruinas<br />
3.1. Velhas teorias da comunicação<br />
Retomando o esquema de Lucien Sfez, das três visões de mundo e das<br />
três metáforas da comunicação (representação-expressão-confusão, máquinaorganismo-Frankenstein),<br />
encontramos os modelos de análise e explicação dos<br />
processos de comunicação da primeira metade deste século, majoritariamente<br />
associados à bola de bilhar (meios de comunicação vistos como<br />
representação), assim como aqueles que propuseram o quadro teórico, entre os<br />
anos de 1950 a 1970, mais familiarizados com a metáfora da criatura.<br />
Na visão de mundo marcada pela representação, impera a dualidade<br />
cartesiana e a separação radical entre o homem e seu objeto. O homem<br />
domina a máquina e está com ela para seus fins. Os primeiros estudos sobre<br />
meios de comunicação endossam este modo de interpretar o social. São os<br />
modelos teóricos da visão aristocrática das massas (Charcot, Le Bon, Tarde),<br />
assim como aqueles orientados a uma perspectiva de administração,<br />
organização, controle e sobmissão das massas através dos meios de<br />
comunicação. A ênfase é a de reforçar a função daquele que no processo de<br />
comunicação assume a posição do emissor.<br />
Os primeiros estudos de comunicação dos anos 30 seguem a<br />
perspectiva empírico-behaviourista ou empírico-funcionalista, na qual a relação<br />
dos homens com os meios de comunicação baseava-se na fórmula reduzida do<br />
estímulo-resposta. Para alguns pensadores, a psicologia de Pavlov servia de<br />
fundamento para se analisar os problemas da comunicação "de massa" (por<br />
exemplo, Serge Tchakhotine). Em outros, contudo, o receptor é passivo e<br />
hipnotizável e a comunicação centra-se num processo de três componentes<br />
(emissor, mensagem, receptor, ou E-M-R). A interação ocorre através do<br />
comportamento baseado em estímulos e a psicologia experimental fornece a<br />
base epistemológica para as análises.<br />
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