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A SOCIEDADE FRANKENSTEIN - UFSM

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4. O Estado orbital<br />

Desaparecidas as instituições intermediárias, reduzido o papel do<br />

homem e das classes, a máquina estatal auto-regulada entra num ciclo "orbital".<br />

É a satelização, de que fala Baudrillard, em que o mundo do controle é dirigido<br />

a partir do sideral; o Estado como excrescência política não prevê a troca e<br />

produz pânico e terror; fim das intermediações e flutuação das<br />

responsabilidades.<br />

O comportamento deste tipo de Estado da era tecnológica é mais<br />

notório em questões como a ameaça nuclear, os atentados terroristas e nas<br />

situações internacionais e planetárias de guerra. A instância política decide a<br />

partir de informações distantes da opinião pública e elaboradas por equipes<br />

criadas especialmente para esse fim. Torna-se máquina decisória com<br />

retroalimentação própria.<br />

Mais recentemente, diante da própria transformação que sofreram os<br />

sistemas de comunicação, incluindo neles as redes de jornais, rádio, televisão e<br />

revistas, que passaram a ser sistemas auto-referentes, o próprio Estado tornase<br />

também meio de comunicação. Medium de comunicação, na era técnica,<br />

não se restringe mais à infra-estrutura e às instalações físicas dos próprios<br />

sistemas de comunicação, mas torna-se categoria genérica, abstrata e difusa. É<br />

pólo irradiador de informações e comunicados, buscando construir e difundir<br />

imagens e fantasias de si mesmos.<br />

Ultrapassando a situação em que o Estado era dependente dos media<br />

para sua projeção no campo internacional, hoje este tornou-se seu próprio<br />

medium. A Guerra do Golfo, mais uma vez, é o exemplo mais claro deste<br />

objetivo, numa situação em que as forças chamadas "aliadas" usaram-se de<br />

uma estratégia de informação muito diferente da utilizada pelos norteamericanos<br />

no Vietnã. Tratava-se agora de excluir toda influência crítica ou<br />

negativa dos media institucionalizados, retirando-se daí também parte de seu<br />

poder. O Estado - neste caso, o Pentágono - tornou-se o próprio medium,<br />

produzindo notícias, interferindo exclusivamente na forma de o mundo tomar<br />

conhecimento e formar sua opinião acerca do desenvolvimento da guerra. A<br />

guerra propriamente dita não foi de conhecimento de ninguém, já que o Estado<br />

como medium de comunicação, providenciou ele próprio a sua verdade.<br />

5. O "locus" do poder<br />

Se o poder no Estado transpolítico deixa de ser troca e é apenas<br />

violência do pânico e do terror, o poder propriamente dito não está menos ainda<br />

nos espaços institucionalmente definidos como tal.<br />

Já não se pode mais interpretá-lo como um território em que ele se<br />

encontra associado à figura do governante, como na época de Maquiavel;<br />

tampouco como multiplicação e difusão molecular, num conceito microfísico de<br />

Foucault. A nomeação, a qualificação do poder leva à sua própria anulação. O<br />

marxismo, no momento em que se tornou oficial e aceito pela academia, perdeu<br />

sua violência teórica e crítica. Da mesma forma, os partidos comunistas, uma<br />

vez autorizados e participantes da vida política esvaziam-se. O que não dizer<br />

então dos sindicatos e das grandes associações trabalhistas, como a AFL-CIO<br />

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