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TRAÇOS GERAIS DA <strong>SOCIEDADE</strong><br />
A sociedade da racionalidade técnica, que substitui a da razão humana,<br />
é constituída por traços gerais novos e próprios, que marcam sua<br />
especifidade. No decorrer da exposição eles serão melhor esclarecidos através<br />
dos exemplos e das descrições de situações.<br />
1. Crescimento louco, multiplicação e morte<br />
Nos novos processos que caracterizam a época atual, os atores<br />
históricos, desinvestidos de sua onipotência, são testemunhas de que os<br />
próprios movimentos, os próprios objetos expandem-se, desenvolvem-se,<br />
desagregam-se indiferentes às intenções de controle racional dos homens. (A<br />
fundamentação deste item 1 está baseada principalmente em Baudrillard: 1981,<br />
1983, 1986, 1987a)<br />
Com a morte da ilusão do sujeito e o fim das metanarrativas,<br />
movimentos e objetos afirmam sua autonomia e auto-realização; instala-se a<br />
lógica da divisão, da multiplicação serial, da duplicação, da potencialização, da<br />
proliferação ao infinito. Sujeitos e instituições explodem anômala e<br />
arbitrariamente e são as técnicas que "refundem" o social. Nos sistemas como<br />
os de comunicação, informação, produção e destruição, as formações<br />
cancerosas, a antecipação da morte no seio da significação viva, o crescimento<br />
louco, desordenado, o girar em torno de si mesmo, a ausência de regras, a<br />
proliferação permanente caracterizam seu movimento.<br />
Os sistemas ultrapassam os limites de suas funções reafirmando com<br />
isso um funcionamento cego e automático, indiferente à questão do sentido, da<br />
finalidade e da função e tornam-se inertes, hipertélicos e mortos. É aquilo que,<br />
apesar de morto, continua a se mover mecanicamente, realizando-se como<br />
histerese, processo que continua por inércia mesmo quando a causa<br />
desaparece. Os meios de comunicação são o exemplo mais claro deste<br />
processo: forma extrema de clonagem que dispensa o original e em que as<br />
coisas só existem para sua reprodutibilidade ilimitada. O real desaparece no<br />
hiperreal, o sexo no pornográfico, o movimento na aceleração e na velocidade,<br />
o corpo no obeso, a informação na obscenidade, as redes na proxenética.<br />
Também nos homens, agora despidos das fantasias iluministas, instalase<br />
a lógica indiferente da multiplicação serial, sem aura; a fabricação de<br />
idênticos, sexuados mas com sexualidade inútil. Sem a representação do<br />
original, o ser vivo torna-se matriz artificial. Só a nostalgia o restitui como<br />
"autêntico". O outro passa a ser ele mesmo, desaparecida a confrontação. É a<br />
morte: o ser confunde-se consigo mesmo, desaparece o jogo com a aparência,<br />
a individualidade, a transcendência, a representação de si mesmo. A identidade<br />
individual fractaliza-se em múltiplos pedaços como cacos de espelho. Fim da<br />
representação sintética, de uma "grande gama de dimensões".<br />
2. Vivência imaginária<br />
A vivência na sociedade da racionalidade técnica institui o privilégio do<br />
imagético, do virtual, do circular e do autocentrado. O imagético é o privilégio da<br />
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