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VJ SET 2008 A.p65 - Visão Judaica

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10<br />

* Ana<br />

Jerozolimski é<br />

jornalista e<br />

correspondente<br />

em Israel do<br />

Semanário<br />

Hebreo-<br />

Uruguay.<br />

VISÃO JUDAICA setembro de <strong>2008</strong> Elul / Tishrê 5768 / 5769<br />

"Não há opção de diálogo com o Hamas",<br />

diz o líder do Al-Fatah, Ziad Abu Ein<br />

Em entrevista destaca: "Temos que recuperar o poder pela força porque o Hamas tem a população de refém".<br />

Ana Jerozolimski *<br />

Ziad Abu Ein, vice-ministro da Autoridade<br />

Palestina, encarregado do tema dos presos em<br />

Israel, é um dos líderes da Al Fatah, a facção<br />

central da OLP, encabeçada pelo presidente da<br />

Autoridade Palestina Mahmud Abbas na Cisjordânia.<br />

Ele analisa com preocupação a situação atual e<br />

está certo de que Israel não os ajudará contra o<br />

Hamas. Para ele Israel é culpado da situação. Essa é<br />

a cabeça de um dirigente palestino que mostra o<br />

quão difícil é chegar a paz com eles.<br />

P: Como avalia a situação interna atual<br />

palestina, após os últimos atos de violência<br />

na Faixa de Gaza?<br />

R: Creio que o Hamas escolheu seu caminho:<br />

continuar ocupando a Faixa de<br />

Gaza, usando seu poder militar para tapar<br />

todas as bocas, para impedir que<br />

qualquer outra facção palestina em<br />

Gaza participe da vida palestina. Este<br />

é seu caminho e não me parece que<br />

exista nenhuma opção de diálogo com<br />

o Hamas na Faixa de Gaza. A única opção<br />

é devolver o poder da Autoridade<br />

Palestina pelas armas. Não há possibilidade<br />

de conversar, porque eles não<br />

escutam e têm sua própria agenda, que<br />

não é a agenda nacional palestina.<br />

P: O que você acredita que seja a agenda<br />

do Hamas?<br />

R: O Hamas adota sua própria estratégia.<br />

Querem construir um estado islâmico<br />

na Faixa de Gaza. Não querem que<br />

exista uma Autoridade Palestina unificada<br />

entre a Cisjordânia e a Faixa de<br />

Gaza. Não querem diálogo. Usam sua<br />

força militar contra a população, não<br />

só contra o Fatah, mas contra outras<br />

facções, inclusive a Jihad Islâmica.<br />

Realmente não me parece que exista<br />

opção de diálogo com o Hamas. A única<br />

coisa que pode salvar a situação é<br />

que o mundo ou os países árabes dêem<br />

ao presidente Mahmud Abbas (Abu Mazen)<br />

a possibilidade de recuperar o poder.<br />

É que um milhão e meio de palestinos<br />

que vivem na Faixa de Gaza são<br />

reféns do Hamas e o dever do Presidente<br />

é libertá-los de suas mãos.<br />

P: Mas o tema não é só se haverá legitimidade<br />

internacional para que Abu<br />

Mazen atue pela força contra o Hamas,<br />

porém se a Autoridade Palestina, ou o<br />

Al Fatah, têm o poder de fazê-lo... É<br />

que o Hamas fortaleceu-se mais ainda<br />

em Gaza.<br />

R: O problema agora é que até o momento<br />

não se tomou a decisão política<br />

de dar esse passo. Um dos nossos erros<br />

é que se deixa que o Hamas continue<br />

nos combatendo, sem tomar uma<br />

decisão de fazer algo a respeito. Nós<br />

temos a maioria na Faixa de Gaza. Mais<br />

de 7.500 membros das forças de segurança<br />

em Gaza, recebem salários da Autoridade<br />

Palestina e são de Abbas.<br />

P: O Hamas tem muito mais homens<br />

que isso, e por certo não se poderia dizer<br />

que não há apoio ao Hamas em<br />

Gaza... E não me refiro só aos resultados<br />

das últimas eleições...<br />

R: Temos que recordar o que aconteceu<br />

quando foi o segundo aniversário<br />

da morte de Yasser Arafat, em novembro.<br />

Em sua memória, um milhão de palestinos<br />

saiu ás ruas para dizer: "sim a<br />

Arafat, sim à OLP, não ao Hamas".<br />

P: É verdade. E houve enfrentamentos<br />

violentos.<br />

R: Sem dúvida. O Hamas abriu fogo contra<br />

a população e matou doze palestinos.<br />

Isso significa que a maioria da população<br />

ali não quer o Hamas. Neste<br />

momento, o Hamas é um poder ocupante<br />

em Gaza, que atua contra os interesses<br />

do povo. Por exemplo, o cerco<br />

imposto à Faixa de Gaza, ajuda o Hamas,<br />

convém a ele. Quando não há cerco,<br />

digamos que algo que se venda por<br />

um dólar, agora custa 20. Usam os canais<br />

de contrabando desde o Egito e ganham<br />

assim milhões por dia. Agem<br />

como a máfia na Faixa de Gaza, controlam<br />

tudo, da gasolina até os cigarros,<br />

tomam posse do que querem.<br />

P: Recordemos que tinha gente que lançava<br />

essas acusações também contra<br />

o pessoal do Fatah, quando controlava<br />

ali a Autoridade Palestina...<br />

R: É o Hamas que age contra os interesses<br />

palestinos, pela força. E devese<br />

tomar a decisão de reverter a situação.<br />

E o elemento mais preocupante é<br />

que entre o Hamas e as outras facções,<br />

há "sangue", muitas coisas passaram<br />

e as pessoas, em algum momento, querem<br />

reagir. Isso é o que mais medo dá,<br />

o que pode chegar a ocorrer.<br />

P: Mas por ora, a Autoridade Palestina<br />

não faz nada diz você, não decide<br />

politicamente fazer algo...<br />

R: Nada. E me enoja. Nós somos responsáveis<br />

por todos na Faixa de Gaza,<br />

mas não se tomam medidas. E temo<br />

pensar o que possa acontecer aqui, na<br />

Cisjordânia, se minha vida corre perigo,<br />

se nós aqui vamos ser ameaçados.<br />

Se não podemos ajudar em nada aos<br />

irmãos de Gaza por que aqui seria diferente?<br />

P: E quem é responsável por esta<br />

situação?<br />

R: O Presidente, o Comitê Central da Al<br />

Fatah. E precisam se decidir de uma vez.<br />

As pessoas na Faixa de Gaza nos perguntam<br />

até quando esperaremos, o<br />

que fazer. Dizem-nos: "Não querem que<br />

lutemos, porque não querem violência,<br />

guerra civil. Está bem. Mas têm algum<br />

plano? Virão pelo mar? Do Egito? De<br />

Israel? Tratarão de alguma forma de<br />

reinstaurar o poder legítimo da Autoridade<br />

Palestina em Gaza? Pensam em<br />

falar com o Hamas?". E nós não dizemos<br />

nada.<br />

P: Que tipo de plano você vê para reverter<br />

a situação?<br />

R: O que lhe posso dizer é que Israel<br />

não entrará nunca em Gaza com seus<br />

tanques para fazê-lo, mas que defenderá<br />

com eles o que está acontecendo<br />

em Gaza.<br />

P: Ao que se refere?<br />

R: Israel defenderá o Hamas com seus<br />

tanques, porque se se libertar um milhão<br />

e meio de palestinos que estão em<br />

Gaza, sejam do grupo que sejam, isso<br />

reduz o problema demográfico para Israel.<br />

Asseguro-lhe que Israel defenderá<br />

um Estado do Hamas na Faixa de<br />

Gaza. Não permitirá que os palestinos<br />

fiquem unidos.<br />

P: Não lhe parece realmente exagerado<br />

acusar Israel pelos problemas internos<br />

palestinos?<br />

R: Quando o Hamas contrabandeia armas<br />

à Faixa de Gaza, Israel não o detém,<br />

mas se fosse contra si, o faria...<br />

P: É contra si. Israel vê com grande<br />

preocupação o contrabando de armas<br />

e não depende só de Israel que se detenha<br />

isso, porém, mais que tudo do<br />

Egito.<br />

R: Mas à Autoridade Palestina, Israel<br />

não permitiu ter armas pesadas. E o<br />

problema é que o Hamas as tem.<br />

P: E crê que a Autoridade Palestina<br />

deveria tratar de entrar de novo<br />

em Gaza?<br />

R: Sim, mas com a ajuda do mundo árabe.<br />

Mas creio que Israel não o permitirá.<br />

Não creio que Israel permitirá que<br />

levemos nossas armas para Gaza para<br />

libertar os palestinos que são ali reféns<br />

do Hamas. Nós podemos fazê-lo sozinhos,<br />

mas unicamente se nos permitirem<br />

trazer nossas armas e por isso digo<br />

que é imprescindível ter autorização internacional.<br />

Se tivermos armas pesadas,<br />

a população nos obedecerá. Sem armas<br />

fortes, a luta pode prolongar-se muito<br />

tempo e correrá muito sangue. Não precisamos<br />

de mais sangue em Gaza.<br />

P: No fundo, já há sérios problemas,<br />

mais além da luta pelo poder. Muita<br />

gente morreu no primeiro grande choque<br />

violento, há mais de um ano, quando<br />

o Hamas tomou o poder em Gaza e<br />

isso deixa aberto o desejo de vingança<br />

em diferentes níveis.<br />

R: Claro que sim. Há uma quebra, uma<br />

fratura na sociedade. Isso é algo muito<br />

profundo e muito sério. Precisamos de<br />

uma liderança forte para acabar com<br />

isto.<br />

P: E a única opção é tratar de libertar<br />

Gaza do Hamas pela força?<br />

R: Sim, não há nenhuma opção de diálogo<br />

com o Hamas. Em sua mentalidade<br />

religiosa, o Hamas não pode aceitar<br />

outros diferentes do Hamas. Crêem<br />

que os não religiosos devem ir ao inferno,<br />

devem ser mortos. É uma forma<br />

de pensar. Se esse pensamento não<br />

muda, não haverá nenhuma oportunidade<br />

de fazer nada. Tampouco em outras<br />

partes do mundo árabe, onde há<br />

outros grupos fundamentalistas, como<br />

a Irmandade Muçulmana.<br />

P: No sábado, Israel permitiu a entrada<br />

de numerosos palestinos do clã de<br />

Ahmed Hiles, identificados com o Al-<br />

Fatah, que fugiram de Gaza após ser<br />

atacados pelo Hamas. Alguns foram<br />

hospitalizados em Israel e outros foram<br />

detidos até que se esclarecesse sua situação.<br />

Finalmente passaram para Jericó<br />

Quem são?<br />

R: Só homens do clã Hiles. As mulheres<br />

ficaram em Gaza. Mas a intenção é organizar-se<br />

de modo que possam passar<br />

para Ramallah, onde está a sede<br />

do governo palestino.<br />

P: Há dúvidas sobre essas pessoas. Em<br />

Israel se diz que de fato, Ahmed Hiles,<br />

o chefe do clã, tinha relações ambivalentes<br />

com o Hamas...<br />

R: É verdade. Ele é amigo pessoal de Al-<br />

Jaabari, o chefe dos batalhões Izz al Din<br />

al-Qassam, o braço armado do Hamas.<br />

P: É verdade que ele não lutou contra<br />

o golpe do Hamas há mais de um ano?<br />

R: É verdade.<br />

P: E para que tinha então tantas armas<br />

em sua casa?<br />

R: É que assim é em Gaza. Esse é o problema.<br />

Ele tinha muitas diferenças com<br />

o pessoal de Muhamad Dahlan.<br />

P: Que também é do Fatah... era ele<br />

chefe da Segurança já nos tempos de<br />

Arafat. Ou seja que a guerra não é só<br />

entre o Hamas e o Fatah...<br />

R: É correto, há muitos problemas...<br />

Mas agora, o urgente, é pôr fim à ocupação<br />

do Hamas em Gaza.

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