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2013 1º Vol Morfologia e função Fasc I.pdf - Biblioteca Digital do IPB ...

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30 Escola Superior Agrária de Bragança -­‐ Botânica para Ciências Agrárias e <strong>do</strong> Ambiente<br />

Nas plantas, em alternativa ou em complemento à reposição, as partes perdidas podem ser compensadas por um<br />

crescimento mais vigoroso, mais ou menos descentraliza<strong>do</strong>, de outras. Os frutos das árvores-­‐de-­‐fruto comerciais têm<br />

maior calibre, e mais sementes, se um número significativo de flores for elimina<strong>do</strong> com uma poda em verde, por<br />

méto<strong>do</strong>s químicos ou por uma geada tardia. Algumas espécies arbustivas e as plantas herbáceas com intensa<br />

propagação vegetativa (e.g. por rizomas ou bolbos) são virtualmente imortais porque as partes que, por qualquer<br />

razão, colapsam são continuamente substituídas por outras novas. A resistência à herbivoria das plantas pratenses<br />

resulta, também, da sua estrutura modular: os animais herbívoros consomem biomassa aérea que posteriormente é<br />

restituída por meristemas intercalares e por meristemas axilares, localiza<strong>do</strong>s na proximidade da superfície <strong>do</strong> solo<br />

(vd. Corpo vegetativo das gramíneas).<br />

As plantas têm um corpo flexível em massa, volume e forma porque ajustam o número, a disposição espacial e,<br />

como se refere mais adiante, a forma e a natureza <strong>do</strong>s módulos às condições ambientais (e.g. temperatura) e à<br />

disponibilidade de recursos (e.g. luz e nutrientes). Diz-­‐se, por isso, que as plantas têm uma grande plasticidade<br />

fenotípica (vd. Variação morfológica intraespecífica). Quan<strong>do</strong> os recursos são abundantes os meristemas caulinares<br />

ativos são mais numerosos e produzem mais módulos, geralmente de maior dimensão. Por consequência, os caules<br />

são mais ramifica<strong>do</strong>s e mais longos, e as inflorescências são mais numerosas e têm mais flores. Em condições de<br />

escassez são construí<strong>do</strong>s menos módulos, por vezes mais curtos, e em casos extremos é reduzi<strong>do</strong> o número de<br />

partes, e.g. pela abcisão de ramos (= cla<strong>do</strong>ptose, vd. Alongamento, ramificação e cla<strong>do</strong>ptose) e/ou folhas por efeito<br />

<strong>do</strong> ensombramento ou da escassez de água. O crescimento por módulos possibilita que as plantas ultrapassem,<br />

parcialmente, a limitações impostas à captura de recursos pela sua natureza séssil (imobilidade). Pela mesma razão,<br />

os animais sésseis geralmente também têm uma estrutura modular (e.g. corais). A totipotência e a semi-­‐autonomia<br />

<strong>do</strong>s módulos que compõem as plantas permitem que o crescimento, ao nível <strong>do</strong> indivíduo, seja matematicamente<br />

modela<strong>do</strong> de forma análoga a uma comunidade de organismos similares e independentes, corresponden<strong>do</strong>, neste<br />

caso, cada “organismo” a um módulo individual.<br />

Entre as plantas, indivíduos com a mesma idade podem ter um tamanho e fisionomia muito distintas. Por outro<br />

la<strong>do</strong>, as células, os teci<strong>do</strong>s e os órgãos das plantas, ao contrário <strong>do</strong> ocorri<strong>do</strong> nos animais unitários, não têm a mesma<br />

idade. Num tronco as células diminuem de idade de dentro para fora e num ramo as folhas proximais são mais<br />

velhas <strong>do</strong> que as folhas distais. As plantas-­‐com-­‐flor (angiospérmicas) são mais plásticas que as restantes plantas-­‐<br />

vasculares (fetos e gimnospérmicas), facto que, aparentemente, ajuda a explicar o seu sucesso evolutivo. A<br />

modularidade tem ainda outra vantagem importante: permite que os módulos possam evoluir de forma quase<br />

independente sem alterar significativamente o funcionamento de outras partes. Por exemplo, as flores podem estar<br />

sujeitas a uma grande pressão de seleção pelos poliniza<strong>do</strong>res enquanto o corpo vegetativo se mantém inaltera<strong>do</strong><br />

(i.e. em estase evolutiva). Nos seres unitários as mutações somáticas (nas células não reprodutivas) não são,<br />

geralmente, transmitidas à descendência. Nos seres modulares nada impede que uma mutação somática ocorrida<br />

num determina<strong>do</strong> ponto da copa não possa ser transmitida, por via assexual ou sexual, à descendência.<br />

O crescimento <strong>do</strong>s organismos modulares, além no número de módulos e o mo<strong>do</strong> como estão espacialmente<br />

organiza<strong>do</strong>s, envolve, como se referiu, duas outras componentes: a forma e a natureza <strong>do</strong>s módulos. Por exemplo,<br />

num mesmo indivíduo, ao nível <strong>do</strong> módulo elementar caulinar, os entrenós podem ser longos ou curtos e as folhas<br />

apresentarem modificações mais ou menos acentuadas: os ramos mais expostos ao sol têm, frequentemente, folhas<br />

mais pequenas; os ramos estiola<strong>do</strong>s pela falta de luz exibem entrenós mais longos e folhas maiores e mais delgadas;<br />

as plantas pratenses sujeitas a uma herbivoria intensa têm folhas mais pequenas, entrenós mais curtos e um hábito<br />

prostra<strong>do</strong>, etc. To<strong>do</strong>s estes casos são exemplos de plasticidade fenotípica porque as alterações na forma são<br />

controladas por factores ambientais. Pelo contrário, a diferenciação de flores, a formação de tubérculos ou a<br />

formação de rosetas foliares implicam mudanças radicais na natureza <strong>do</strong>s módulos e têm um controlo genético<br />

direto.<br />

As plantas, ao contrário <strong>do</strong>s animais unitários, estão “condenadas” a crescer continuamente porque a<br />

imobilidade confere-­‐lhes uma grande susceptibilidade à herbivoria e à competição pela luz. A herbivoria só pode ser<br />

compensada pela reposição de partes perdidas e o acesso à luz depende, em muitas plantas, da capacidade de<br />

expandir folhas acima da canópia <strong>do</strong>s competi<strong>do</strong>res mais diretos. Nas plantas perenes a degradação <strong>do</strong>s sistemas<br />

fotossintético e vascular com o tempo é, também, resolvida pela continuidade <strong>do</strong> crescimento porque as plantas

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