2013 1º Vol Morfologia e função Fasc I.pdf - Biblioteca Digital do IPB ...
2013 1º Vol Morfologia e função Fasc I.pdf - Biblioteca Digital do IPB ...
2013 1º Vol Morfologia e função Fasc I.pdf - Biblioteca Digital do IPB ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
48 Escola Superior Agrária de Bragança -‐ Botânica para Ciências Agrárias e <strong>do</strong> Ambiente<br />
(os açucares atingem 60-‐70% da MS). As raízes tuberosas são, geralmente, uma adaptação a habitats onde, chegada<br />
a estação favorável, é particularmente vantajoso iniciar no ce<strong>do</strong> o crescimento vegetativo (e.g. comunidades<br />
herbáceas de regiões com uma estação seca pronunciada) ou a produção de flores (e.g. pra<strong>do</strong>s e florestas<br />
caducifólias). A tuberização das raízes, frente à <strong>do</strong>s caules, tem em seu favor a proteção conferida pelo solo contra<br />
preda<strong>do</strong>res.<br />
As raízes ditas tuberoso-‐aprumadas (= tuberculoso-‐aprumadas) derivam de um sistema radicular apruma<strong>do</strong>; e.g.<br />
Daucus carota (Apiaceae) «cenoura». As raízes tuberoso-‐fasciculadas (= tuberculoso-‐fasciculadas) derivam de um<br />
sistema radicular fascicula<strong>do</strong>; e.g. Asphodelus (Asphodelaceae) «asfódelos». Vários géneros de orquídeas terrestres –<br />
e.g. Dactylorhiza, Ophrys e Orchis, to<strong>do</strong>s eles indígenas de Portugal continental – possuem, durante o perío<strong>do</strong> de<br />
floração, duas raízes tuberosas: uma delas, formada no ano anterior e de aspecto engelha<strong>do</strong>, suportou o arranque<br />
<strong>do</strong> crescimento <strong>do</strong> caule atual, a outra, mais lisa, com poucos meses de crescimento, sustentará o crescimento inicial<br />
<strong>do</strong> caule no ano seguinte.<br />
Micorrizas<br />
4.2.5. Modificações causadas por microrganismos<br />
As micorrizas são associações simbióticas radiculares entre fungos e plantas. As plantas recebem <strong>do</strong> fungo água,<br />
nutrientes, sobretu<strong>do</strong> fósforo, e proteção contra infecções radiculares fúngicas e toxinas presentes no solo (e.g.<br />
metais pesa<strong>do</strong>s). Os fungos, em troca, têm acesso aos produtos da fotossíntese da planta. 80% a 90% das plantas-‐<br />
com-‐semente têm micorrizas. As micorrizas são mais frequentes em solos pobres em nutrientes ou tóxicos. A<br />
dependência das plantas-‐vasculares das associações simbióticas micorrízicas é variável: as Proteaceae não têm<br />
micorrizas, as Betula (Betulaceae) «bi<strong>do</strong>eiros» desenvolvem-‐se adequadamente sem estas associações, o<br />
crescimento <strong>do</strong>s Quercus (Fagaceae) «carvalhos» e <strong>do</strong>s Pinus (Pinaceae) «pinheiros» é muito deprimi<strong>do</strong> sem<br />
micorrizas, as sementes de Orchidaceae «orquídeas» dependem de associações com fungos para germinar.<br />
Existem <strong>do</strong>is tipos principais de micorrizas: vesículo-‐arbusculares (= en<strong>do</strong>micorrizas, micorrizas en<strong>do</strong>tróficas) e<br />
forma<strong>do</strong>ras de manto (= ectomicorrizas, micorrizas ectotróficas). As micorrizas de Ericaceae (e famílias<br />
evolutivamente próximas) e de Orchidaceae enquadram-‐se em <strong>do</strong>is tipos especiais não desenvolvi<strong>do</strong>s no texto.<br />
Nas micorrizas vesículo-‐arbusculares o fungo invade as células corticais das plantas e a maior parte da massa<br />
fúngica situa-‐se no interior das raízes. Este tipo micorriza limita-‐se a complementar o papel das raízes na absorção de<br />
nutrientes <strong>do</strong> solo, sen<strong>do</strong> as raízes infectadas semelhantes às raízes normais. Consomem 1-‐15% <strong>do</strong> carbono fixa<strong>do</strong><br />
pelos hospedeiros e apresentam uma baixa especificidade fungo-‐planta hospedeira. São mais frequentes em solos<br />
com matéria orgânica bem humificada. Os fungos das micorrizas vesículo-‐arbusculares pertencem à divisão<br />
Glomeromycota (= Zygomycetes p.p.), uma das sete divisões atualmente reconhecidas no reino Fungi. Tipo<br />
<strong>do</strong>minante nas florestas tropicais, também presente nas gramíneas e muitas outras plantas herbáceas de óptimo<br />
tempera<strong>do</strong>.<br />
Nas micorrizas forma<strong>do</strong>ras de manto o fungo invade os espaços intercelulares <strong>do</strong> córtex radicular e forma uma<br />
fina camada de micélio, conhecida por manto micorrízico, que cobre a raízes finas. As raízes infectadas perdem os<br />
pelos radiculares e param de crescer; o fungo emite longos sistemas ramifica<strong>do</strong>s de hifas através <strong>do</strong> solo que<br />
substituem, quase por completo, as raízes infectadas na absorção de nutrientes. Consomem 15% ou mais <strong>do</strong><br />
carbono fixa<strong>do</strong> pelas plantas hospedeiras e demonstram uma grande especificidade fungo-‐planta hospedeira. São<br />
mais frequentes em solos de matéria orgânica ácida e pouco humificada. Os fungos das micorrizas forma<strong>do</strong>ras de<br />
manto enquadram-‐se nas divisões Basidiomycota, Ascomycota e Glomeromycota. Alguns cogumelos edíveis – e.g. ds<br />
géneos Lactarius e Boletus – são ectomicorrízicos. Tipo de micorriza presente em 90% das árvores temperadas e<br />
boreais.<br />
As plantas-‐terrestres estabeleceram relações simbióticas com fungos Glomeromycota num momento muito<br />
recua<strong>do</strong> da sua evolução. As en<strong>do</strong>micorrizas são a condição ancestral da micorrizia; provavelmente auxiliaram as<br />
primeiras plantas-‐terrestres a conquistar a terra emersa (Smith & Read, 2008). As ectomicorrizas e as<br />
en<strong>do</strong>ssimbioses com bactérias fixa<strong>do</strong>ras de azoto são em termos evolutivos mais tardias.