6 Escola Superior Agrária de Bragança -‐ Botânica para Ciências Agrárias e <strong>do</strong> Ambiente
7 Escola Superior Agrária de Bragança -‐ Botânica para Ciências Agrárias e <strong>do</strong> Ambiente Prólogo aos quatro volumes Este <strong>do</strong>cumento não é um livro texto de referência e muito menos um trata<strong>do</strong>. Resume-‐se a uma revisão bibliográfica mais ou menos atualizada, complementada pela experiência de 20 anos de ensino e investigação <strong>do</strong> seu autor, em torno de temas chave de organografia vegetal 1 , biologia da reprodução, evolução, de botânica sistemática de plantas-‐com-‐semente e de botânica económica. Tem por destinatários os estudantes <strong>do</strong> ensino superior que necessitam de adquirir, num curto perío<strong>do</strong> de tempo, conhecimentos básicos de botânica. Por isso, a organização <strong>do</strong> texto, a linguagem, e, muitas vezes, a estrutura das frases nem sempre será fácil de perseguir. De início a sua leitura será trabalhosa, quan<strong>do</strong> não cansativa, porém, a persistência e a perseverança abrirão as portas a um conjunto de conhecimentos essenciais para to<strong>do</strong>s aqueles que têm a plantas como objecto de trabalho. Objecto A forma externa, a biologia da reprodução e a organização sistemática, como produtos de um processo evolutivo, e o uso humano das plantas-‐com-‐semente são os objetos maiores deste livro. O seu estu<strong>do</strong> pode ter diferentes pen<strong>do</strong>res. Por exemplo, pode ter uma abordagem descritiva-‐formal, uma perspectiva histórico-‐evolutiva ou insistir em aspectos funcionais. Procurou-‐se uma abordagem híbrida, ten<strong>do</strong> em mente conferir competências a futuros profissionais de “biologia aplicada”. Para tal foi dada uma ênfase especial aos seguintes temas: i) descrição <strong>do</strong>s caracteres morfológicos externos e internos de maior interesse taxonómico (vol I); ii) relações morfologia-‐<strong>função</strong> (vol. I); iii) biologia da reprodução das plantas-‐com-‐semente (vol. II); iv) fundamentos de biologia da evolução das plantas (vol. II); v) história evolutiva da plantas-‐terrestres (vol. II); vi) sistemas de classificação botânica e nomenclatura (vol. III); vii) sistemática e filogenia <strong>do</strong>s grandes grupos de plantas-‐com-‐semente (vol. III); viii) tipologia, origem e evolução das plantas cultivadas (vol. IV); ix) taxonomia, características morfológicas diagnóstico e distribuição das plantas úteis de maior interesse económico. A segunda parte <strong>do</strong> II volume, depois de uma pequena introdução à biologia da evolução, inclui uma história evolutiva das plantas-‐terrestres. Pode parecer estranho que um tema tão especializa<strong>do</strong> e volátil como este seja desenvolvi<strong>do</strong> num livro de botânica que se pretende aplica<strong>do</strong>. As plantas, ao longo da sua evolução, foram tanto agentes de mudança como sujeitos passivos nas alterações climáticas e na dinâmica da composição química da atmosfera terrestre. O solo como hoje o conhecemos é uma criação das plantas-‐terrestres. Sem noções de evolução das plantas é impossível entender estes três temas chave das ciências <strong>do</strong> ambiente (vd. (Berling, 2007)). Depois, como escrevia em 1973 o evolucionista norte-‐americano de origem ucraniana Theo<strong>do</strong>sius Dobzhansky, "Nada em biologia faz senti<strong>do</strong> excepto à luz da evolução”. Breve reflexão epistemológica Na organização <strong>do</strong>s seres vivos reconhecem-‐se vários níveis de complexidade (vd. Figura 1). As células, as unidades elementares da vida, organizam-‐se em teci<strong>do</strong>s, os teci<strong>do</strong>s em órgãos e sistemas, e estes, por sua vez, integram os organismos. Os indivíduos ocupam nichos ecológicos e trocam informação genética entre si no âmbito de uma população. A componente viva <strong>do</strong>s ecossistemas, a biocenose, compreende indivíduos de diferentes espécies. Finalmente, os ecossistemas organizam-‐se em sistemas ecológicos de complexidade variável (e.g. comunidade vegetal, série de vegetação, geossérie e bioma). Os diferentes níveis de complexidade interatuam entre si, de forma tanto mais intensa quanto mais próximos estiverem na escala de complexidade, e ajustam-‐se às flutuações e variações direcionais <strong>do</strong> ambiente abiótico e biótico, através de rearranjos na sua estrutura (e.g. composição florística de uma comunidade vegetal ou plasticidade fenotípica <strong>do</strong>s indivíduos) e pela ação da seleção natural à escala <strong>do</strong> indivíduo. A biologia e a ecologia, à semelhança de outras ciências fundamentais, procuram explicar e prever a estrutura e <strong>função</strong> de cada nível de complexidade, em <strong>função</strong> <strong>do</strong>s imediatamente anteriores. Constata-‐se, porém, que “em cada salto de complexidade” este esforço esbarra na emergência de novas propriedades, não previstas nos níveis de complexidade inferiores. Por exemplo, a estrutura <strong>do</strong> genoma é insuficiente para uma compreensão total <strong>do</strong> funcionamento celular, ou a autoecologia das espécies é insuficiente para explicar e prever o funcionamento de um ecossistema. Os epistemólogos – os especialistas em filosofia da 1 A organografia vegetal ou fitomorfologia tem por objecto a morfologia externa das plantas (= estrutura externa). A anatomia vegetal dedica-‐se à morfologia interna (= estrutura interna). Neste texto consideram-‐se redundantes os conceitos de estrutura, morfologia e forma.