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31<br />

Fantasias operísticas italianas<br />

na América Latina *<br />

Benjamin Walton<br />

Universidade de Cambridge<br />

O assunto ópera nas Américas surgiu várias vezes nas páginas do Allgemeine<br />

musikalische Zeitung, durante meados da década de 1830; e, em janeiro de 1836, o<br />

correspondente da revista Livorno apresentou uma atualização. Ele começou relembrando<br />

algumas viagens anteriores pela América, principalmente a de Lorenzo da Ponte, então<br />

em meados dos seus 80 anos de idade, a Nova York, e a viagem de Manuel García e família<br />

para os Estados Unidos e México. Também mencionou uma então recente visita a<br />

Milão por um empresário mexicano para contratar um contralto, um baixo e um diretor<br />

musical. Porém, o foco principal do relatório era uma lista detalhada de toda uma companhia<br />

que recentemente partira para Havana. Aí se incluíam uma prima donna soprano,<br />

um primo contralto que também era primeiro músico, mais dois primi contralti, duas<br />

seconde donne, sete primi tenori, dois primi bassi cantanti, um primo basso generico, uma<br />

série de primi e bassi secondi, três coristas, um diretor de música, um diretor de coros, um<br />

copista e ponto, ainda os principais membros de uma orquestra completa: músicos de<br />

cordas e de sopro, um trompetista e um harpista. Havia ainda um suplemento completo<br />

de bailarinas e mímicos, com seus mestres de dança, assim como pintor, maquinista, alfaiates<br />

de ambos os sexos, um médico e um cozinheiro. Todos eram italianos arregimentados<br />

durante o verão anterior em Milão e Bolonha por um empresário de Berlim, Franz Brichta;<br />

a companhia completa totalizava 70 pessoas. A epidemia da cólera atingiu a região enquanto<br />

aguardavam o navio em Livorno. Quando da partida, somavam 67 membros; perderam<br />

um dos tenores, um alfaiate e o infortunado médico (“Theatralische Sommer-Stagione”,<br />

1836, colunas 63-64).<br />

“Se levarmos em consideração”, concluiu o relatório, “que ano após ano, a Itália<br />

fornece cantores para não apenas os seus inúmeros teatros, mas também os de Lisboa,<br />

Madrid, Barcelona, Cádiz, Sevilha, Porto, as ilhas de Maiorca e a América, muitos dos<br />

quais também cantam em vários teatros na Inglaterra, França e Alemanha, e que ainda há<br />

um grande número deles sem qualquer compromisso, temos de nos maravilhar com essa<br />

imensa assembleia; mas, claro, nos campos de Espéria” – isto é, na Itália – “todos cantam,<br />

mesmo quando falam!” (col. 64).<br />

De certa forma, isso não era novidade: já no século XVIII a ópera italiana fora apresentada<br />

em toda a Europa e também desde o Vice-Reino de Lima até a corte Imperial da China,<br />

onde o imperador Qianlong teria sido tão seduzido por La buona figliuola, de Piccinni, que<br />

ele arrumou um grupo de músicos chineses especialmente treinados para executar essa obra<br />

em um teatro especialmente construído para isso (Ginguené, 1800, p. 10-11). 1 O espanto da<br />

...........................................................................<br />

* A pedido do autor, o texto está aqui publicado na tradução para o português, realizada por Maria Alice Volpe<br />

e Régis Duprat.<br />

1 “Esse príncipe havia se emocionado deliciosamente ao constituir uma trupe de músicos incumbidos apenas de<br />

tocar a música dessa peça; pois ele havia feito construir por hábeis operários do país uma espécie de teatro, e<br />

que sobre as muralhas ele havia feito pintar todas as cenas de La Cecchina, a fim de poder vê-la e ouvi-la ao<br />

mesmo tempo”. Tradução livre, do original “Ce prince en avait été si délicieusement ému, qu’il avait établi une<br />

troupe de musiciens chargés seulement de jouer la musique de cette pièce; qu’enfin il avait fait bâtir par d’habiles<br />

ouvriers du pays une espèce de théâtre, et que sur les murailles il avait fait peindre toutes les scènes de la<br />

Cecchina, afin de pouvoir la voir et l’entendre à la fois”. Sou grato a David Irving por chamar minha atenção para<br />

esta referência. Sobre a ópera em Lima no século XVIII, ver Villena, 1945 e Estenssoro, 1989.<br />

Atualidade da Ópera - Série Simpósio Internacional de Musicologia da <strong>UFRJ</strong>

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