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entreatos de uma vida não fascista - Grupo de Estudos em ...

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diferença à uniformida<strong>de</strong>; o fluxo às unida<strong>de</strong>s; os agenciamentos móveis aos<br />

sist<strong>em</strong>as. Consi<strong>de</strong>re que o que é produtivo, <strong>não</strong> é se<strong>de</strong>ntário, mas nôma<strong>de</strong>.<br />

(FOUCAULT, 1977, p. 3)<br />

Nos burburinhos da aca<strong>de</strong>mia, escolas on<strong>de</strong> <strong>em</strong>erg<strong>em</strong> discursos marcados por<br />

sist<strong>em</strong>as regulados <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> que sancionam ou <strong>não</strong> <strong>de</strong>terminadas narrativas, retomo a<br />

probl<strong>em</strong>atização <strong>de</strong> Michel Foucault sobre o elo analítico, ou necessário, entre a ética e as<br />

outras estruturas sociais, econômicas ou políticas. O autor questiona essa relação construída,<br />

essa idéia <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong> que vigora entre ética e outras estruturas <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a<br />

libertação <strong>de</strong>ssas regras:<br />

O que me surpreen<strong>de</strong> é o fato <strong>de</strong> que, <strong>em</strong> nossa socieda<strong>de</strong>, a arte tenha se<br />

transformado <strong>em</strong> algo relacionado apenas a objetos e <strong>não</strong> a indivíduos ou à <strong>vida</strong>; que<br />

a arte seja algo especializado ou feito por especialistas que são artistas. Entretanto,<br />

<strong>não</strong> po<strong>de</strong>ria a <strong>vida</strong> <strong>de</strong> todos se transformar n<strong>uma</strong> obra <strong>de</strong> arte? Por que <strong>de</strong>veria <strong>uma</strong><br />

lâmpada ou <strong>uma</strong> casa ser um objeto <strong>de</strong> arte, e <strong>não</strong> a nossa <strong>vida</strong>? (FOUCAULT,<br />

1995, p. 261)<br />

Vislumbro o centenário da escritora Patrícia Galvão (1910-1962) como um momento<br />

estratégico para que professorxs 4, estudantes, pesquisadorxs promovam discussões que<br />

permitam <strong>uma</strong> projeção da artista para além do estatuto <strong>de</strong> musa e ninfeta, para além das<br />

matrizes <strong>de</strong> sentidos ancoradas na univocida<strong>de</strong> do sexo e da coerência interna do gênero<br />

(BUTLER, 2003, p. 59).<br />

Sobre a produção <strong>de</strong> sentidos no cotidiano, Mary Jane Paris Spink e Benedito<br />

Medrado a abordam como <strong>uma</strong> prática social, dialógica, que implica a linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> uso.<br />

Sendo o sentido <strong>uma</strong> construção social, um <strong>em</strong>preendimento coletivo, por meio do qual as<br />

pessoas constro<strong>em</strong> os termos a partir dos quais compreen<strong>de</strong>m e lidam com as situações e<br />

fenômenos a sua volta, xs autorxs tomam a produção <strong>de</strong> sentidos como um fenômeno<br />

sociolinguístico:<br />

<strong>uma</strong> vez que o uso da linguag<strong>em</strong> sustenta as práticas sociais geradoras <strong>de</strong> sentido e<br />

busca enten<strong>de</strong>r tanto as práticas discursivas que atravessam o cotidiano (narrativas,<br />

argumentações e conversas, por ex<strong>em</strong>plo) como os repertórios utilizados nessas<br />

produções discursivas. (SPINK; MEDRADO 2000, p. 42)<br />

4 Faço a opção política <strong>de</strong> repensar as normas culturais e seus governos dos corpos, <strong>de</strong> <strong>não</strong> significar as pessoas,<br />

quando possível, pelas marcas gramaticais <strong>de</strong> gênero. Na esteira das probl<strong>em</strong>atizações <strong>de</strong> Judith Butler sobre<br />

através <strong>de</strong> que normas regulatórias é o próprio sexo materializado, atenho-me a tratar essa materialida<strong>de</strong> como<br />

um efeito <strong>de</strong> práticas normativas e reiterativas. Atenta a noção <strong>de</strong> que a diferença sexual ―<strong>não</strong> é, nunca,<br />

simplesmente, <strong>uma</strong> função <strong>de</strong> diferenças materiais que <strong>não</strong> sejam <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong> forma, simultaneamente marcadas<br />

e formadas por práticas discursivas‖ (BUTLER, 1999, p.153), reporto-me também à questão da constituição do<br />

sujeito para <strong>de</strong>sconstruir seu pressuposto fundacionista: ―O sujeito <strong>não</strong> é <strong>de</strong>terminado pelas regras pelas quais<br />

é gerado, porque a significação <strong>não</strong> é um ato fundador, mas antes um processo regulado <strong>de</strong> repetição que tanto<br />

se oculta quanto impõe suas regras, precisamente por meio da produção <strong>de</strong> efeitos substancializantes‖.<br />

(BUTLER, 2003, p. 209)<br />

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