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entreatos de uma vida não fascista - Grupo de Estudos em ...

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A escolha do romance entre as outras possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção da artista se<br />

constrói por motivos específicos e estratégicos. Enquanto, <strong>em</strong> um primeiro momento, o<br />

funcionamento das representações misóginas sobre a escritora são <strong>de</strong>sveladas e a <strong>de</strong>flagração<br />

do mito Pagu analisada, aqui interessa viabilizar um contorno <strong>de</strong> suas múltiplas facetas que<br />

discute justamente a ati<strong>vida</strong><strong>de</strong> das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r misóginas, racistas, etc...<br />

Atualizo esse <strong>de</strong>bate, <strong>em</strong> um terceiro momento com a probl<strong>em</strong>atização ética da sua<br />

existência <strong>em</strong>preendida pela própria Patrícia Galvão <strong>em</strong> sua narrativa autobiográfica (1940)<br />

en<strong>de</strong>reçada ao amigo e companheiro Geraldo Ferraz. Nesse sentido, a investigação da carta-<br />

<strong>de</strong>poimento se conduz para a verificação dos indícios, os quais suger<strong>em</strong> <strong>uma</strong> aversão à busca<br />

da completu<strong>de</strong> existencial, à padronização <strong>de</strong> sentimentos, à regulação <strong>de</strong> comportamentos,<br />

assim como um <strong>de</strong>sassossego transmutado <strong>em</strong> práticas do cuidado <strong>de</strong> si. Dessa forma, a<br />

escrita <strong>de</strong> si como prática <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong>spontará como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentá-la <strong>em</strong> suas<br />

multifaces, <strong>em</strong> sua estética da existência 5 .<br />

A metodologia <strong>de</strong>ssa dissertação foi construída mediante as inquietações, os<br />

questionamentos suscitados pela leitura, interpretação e análise dos objetos recortados. Desse<br />

modo, alinhada <strong>em</strong> <strong>uma</strong> proposta multidisciplinar, os estudos foucaultianos sobre o si, a teoria<br />

da Análise do Discurso, os estudos sobre representação e a epist<strong>em</strong>ologia f<strong>em</strong>inista<br />

configuram o aporte teórico <strong>de</strong>ssa pesquisa.<br />

No primeiro capítulo, ao analisar diferentes representações sobre Patrícia Galvão,<br />

trago à tona <strong>uma</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> comprometimentos discursivos com o dispositivo da sexualida<strong>de</strong> 6 .<br />

5 No que concerne à utilização da expressão ―estética da existência‖ no transcorrer <strong>de</strong>ssa dissertação, valho-me<br />

do aporte teórico foucaultiano sobre os estudos do si no imaginário helenístico. Deslocado o interesse da alma<br />

enquanto substância para a preocupação com a ati<strong>vida</strong><strong>de</strong>, o cuidado <strong>de</strong> si materializado na escrita <strong>de</strong>sdobra<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> novas experiências do eu. Sobre a estética da existência, t<strong>em</strong>-se: ―Deve-se enten<strong>de</strong>r, com<br />

isso, práticas refletidas e voluntárias através das quais os homens <strong>não</strong> somente se fixam regras <strong>de</strong> conduta,<br />

como também procuram se transformar, modificar-se <strong>em</strong> seu ser singular e fazer <strong>de</strong> sua <strong>vida</strong> <strong>uma</strong> obra que seja<br />

portadora <strong>de</strong> certos valores estéticos e responda a certos critérios <strong>de</strong> estilo. Essas ‗artes da existência‘, essas<br />

‗técnicas <strong>de</strong> si‘, per<strong>de</strong>ram, s<strong>em</strong> dú<strong>vida</strong>, <strong>uma</strong> certa parte <strong>de</strong> sua importância e <strong>de</strong> sua autonomia quando, com o<br />

cristianismo, foram integradas no exercício <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r pastoral e, mais tar<strong>de</strong>, <strong>em</strong> práticas <strong>de</strong> tipo educativo,<br />

médico ou psicológico‖. (FOUCAULT, 2001, p. 15).<br />

6 Em seu estudo sobre a constituição do sexo <strong>em</strong> objeto <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, Michel Foucault, analisa sua superfície <strong>de</strong><br />

repercussão — a partir do século XVIII — <strong>em</strong> um regime or<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> saber sobre o indivíduo e seu corpo.<br />

Outra inquietação do filósofo que interessa a esse trabalho concerne aos mecanismos positivos,<br />

multiplicadores <strong>de</strong> discursos que faz<strong>em</strong> funcionar <strong>uma</strong> tecnologia complexa e positiva do sexo que se<br />

distingue tanto dos efeitos exclu<strong>de</strong>ntes da proibição, quanto da imag<strong>em</strong> do po<strong>de</strong>r-lei. A partir <strong>de</strong>sses novos<br />

procedimentos do po<strong>de</strong>r que funcionam mais pela normalização do que pela interdição, a seguinte<br />

compreensão se apresenta: ―O dispositivo <strong>de</strong> sexualida<strong>de</strong> t<strong>em</strong>, como razão <strong>de</strong> ser, <strong>não</strong> o reproduzir, mas o<br />

proliferar, inovar, anexar, inventar, penetrar nos corpos <strong>de</strong> maneira cada vez mais <strong>de</strong>talhada e controlar as<br />

populações <strong>de</strong> modo cada vez mais global‖. (FOUCAULT, 2010, p. 118)<br />

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