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entreatos de uma vida não fascista - Grupo de Estudos em ...

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<strong>não</strong> reúne tudo que po<strong>de</strong> aparecer, através <strong>uma</strong> série secular <strong>de</strong> enunciados, <strong>em</strong> um<br />

ponto inicial que seria, ao mesmo t<strong>em</strong>po, começo, orig<strong>em</strong>, fundamento, sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />

axiomas, e a partir do qual as peripécias da história real só se <strong>de</strong>senrolariam <strong>de</strong><br />

maneira inteiramente necessária. O que ele <strong>de</strong>lineia é o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> regras que teve <strong>de</strong><br />

ser colocado <strong>em</strong> prática para que tal objeto se transformasse, tal enunciação nova<br />

aparecesse, tal conceito se elaborasse, metamorfoseado ou importado, tal estratégia<br />

fosse modificada – s<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> pertencer a esse mesmo discurso; e o que <strong>de</strong>lineia,<br />

também, é o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> regras que teve <strong>de</strong> ser <strong>em</strong>pregado para que <strong>uma</strong> mudança <strong>em</strong><br />

outros discursivos (<strong>em</strong> outras práticas, nas instituições, relações sociais, processos<br />

econômicos) pu<strong>de</strong>sse ser transcrita no interior <strong>de</strong> um discurso dado, constituindo<br />

assim um novo objeto, suscitando <strong>uma</strong> nova estratégia, dando lugar a novas<br />

enunciações ou novos conceitos. (FOUCAULT, 2004a, p. 83)<br />

Em seu estudo sobre o funcionamento da máquina <strong>de</strong> propaganda na gestão do<br />

monarca francês Luis XIV (1643-1715), o historiador Peter Burke <strong>em</strong>preen<strong>de</strong> um<br />

levantamento da produção iconográfica popular sobre o Rei Sol para i<strong>de</strong>ntificar suas<br />

representações sociais naquele t<strong>em</strong>po e probl<strong>em</strong>atizar as relações entre arte e po<strong>de</strong>r. Atento<br />

tanto à produção quanto ao consumo <strong>de</strong>ssas imagens projetadas e recebidas, o autor indica<br />

caminhos importantes para esse capítulo: ―Em outras palavras <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os estudar agora <strong>não</strong><br />

apenas ‗qu<strong>em</strong> diz o quê‘, mas também ‗para qu<strong>em</strong>‘ e ‗com que efeitos‘, refinando esta<br />

fórmula para levar <strong>em</strong> conta os processos <strong>de</strong> interpretação <strong>de</strong> mensagens‖. (BURKE, 2009, p.<br />

163)<br />

Enquanto o <strong>em</strong>penho <strong>em</strong> sublinhar a importância do monarca se traduz <strong>em</strong> um<br />

complexo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> produção da imag<strong>em</strong> real: insígnias, imagens, discursos dos séculos<br />

XVII e XVIII, a constatação, por parte <strong>de</strong> Peter Burke, <strong>de</strong> que a magnificência tinha <strong>uma</strong><br />

função política nesse processo <strong>de</strong> fabricação <strong>de</strong> entida<strong>de</strong> simbólica, permite a seguinte<br />

analogia: na construção do mito Pagu os processos pelos quais os discursos engendram<br />

estereótipos reca<strong>em</strong> no abuso das estilizações, equívocos à sua biografia.<br />

João Freire Filho (2004, p. 47) <strong>em</strong> seu estudo sobre a mídia, sobre o estereótipo e a<br />

representação das minorias argumenta que os estereótipos, a ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> outras categorias,<br />

atuam como <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> impor um sentido <strong>de</strong> organização ao mundo social; a diferença<br />

básica, apontada pelo autor, é que os estereótipos ambicionam impedir qualquer flexibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> pensamento na apreensão, avaliação ou comunicação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> realida<strong>de</strong> ou alterida<strong>de</strong>, <strong>em</strong><br />

prol da manutenção e da reprodução das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e exploração.<br />

Na esteira foucaultiana <strong>de</strong> <strong>de</strong>slindar as formações discursivas e i<strong>de</strong>ntificar na<br />

articulação entre o dizer e a produção <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>s, fatos históricos, as análises aqui<br />

promo<strong>vida</strong>s caminham <strong>em</strong> direção à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rearticulação <strong>de</strong>ssas representações<br />

fixas. Opondo-se à estética uniforme, misógina percebe-se que a articulação entre i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e<br />

corpo <strong>em</strong>preendida pelas séries escolhidas é perpassada pela noção absoluta <strong>de</strong> sexo. No<br />

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