19.06.2013 Views

entreatos de uma vida não fascista - Grupo de Estudos em ...

entreatos de uma vida não fascista - Grupo de Estudos em ...

entreatos de uma vida não fascista - Grupo de Estudos em ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

silêncio dos marginalizados e seus dispositivos <strong>de</strong> controle no campo literário. Mediante essas<br />

análises, acredito que Parque industrial alcance certas inquietações sócio-literárias como a da<br />

representati<strong>vida</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> suas ressonâncias políticas, s<strong>em</strong> se tornar autoritário.<br />

Entre o enfoque militante e o registro da experiência das operárias pipocam<br />

interações concretas com um urbano múltiplo que rechaça a montag<strong>em</strong> estilizada dos espaços.<br />

Retomando as críticas <strong>de</strong> Dalcastagnè aos modos <strong>de</strong> representação do outro na narrativa<br />

brasileira cont<strong>em</strong>porânea, também questiono o romance <strong>em</strong> seus impasses <strong>de</strong> representação:<br />

suas pretensões <strong>de</strong> escrita legítima; seu repertório <strong>de</strong> vozes; sua assimilação das resistências.<br />

Longe <strong>de</strong> homogeneizar as performances dos habitantes do Brás, o enredo do<br />

romance incorre na correria <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>s da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, na presença da mobilida<strong>de</strong><br />

analítica. Sobre a questão da representati<strong>vida</strong><strong>de</strong> Dalcastagnè atenta que:<br />

O probl<strong>em</strong>a da representati<strong>vida</strong><strong>de</strong>, portanto, <strong>não</strong> se resume à honestida<strong>de</strong> na busca<br />

pelo olhar do outro ou ao respeito por suas peculiarida<strong>de</strong>s. Está <strong>em</strong> questão a<br />

diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> percepções do mundo, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do acesso à voz e <strong>não</strong> é suprida<br />

pela boa vonta<strong>de</strong> daqueles que monopolizam os lugares <strong>de</strong> fala. (DALCASTAGNÈ,<br />

2002, p. 34).<br />

Nesse processo <strong>de</strong> evocar o cotidiano nas fábricas, a prostituição, o imaginário<br />

tingido pelas propagandas nacionalistas <strong>de</strong> industrialização, os modos <strong>de</strong> subjetivação <strong>de</strong>ssas<br />

mulheres <strong>em</strong> zonas <strong>de</strong> conflitos urbanos como esteira das minhas análises do romance, retomo<br />

as discussões <strong>de</strong> Dominique Maingueneau sobre o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> se pensar na dimensão estética e<br />

histórica da obra literária como atreladas, <strong>não</strong> como campos opostos <strong>de</strong> reflexões.<br />

Na acepção <strong>de</strong>sse autor, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os tanto ―<strong>de</strong>sconfiar <strong>de</strong> qualquer concepção ingênua<br />

da interiorida<strong>de</strong> da obra‖ quanto da tomada unilateral que privilegie o autor ora como única<br />

fonte do sentido, ora como simples suporte <strong>de</strong> <strong>uma</strong> mentalida<strong>de</strong> coletiva:<br />

Nessa perspectiva, <strong>não</strong> se conceberá a obra como <strong>uma</strong> representação, um arranjo <strong>de</strong><br />

―conteúdos‖ que permitiria ―exprimir‖ <strong>de</strong> maneira mais ou menos <strong>de</strong>sviada<br />

i<strong>de</strong>ologias ou mentalida<strong>de</strong>s. As obras falam efetivamente do mundo, mas sua<br />

enunciação é parte integrante do mundo que pretensamente representam. Não há, por<br />

um lado, um universo <strong>de</strong> coisas e <strong>de</strong> ati<strong>vida</strong><strong>de</strong>s mudas, do outro representações<br />

literárias <strong>de</strong>stacadas <strong>de</strong>le que seriam <strong>uma</strong> imag<strong>em</strong> sua. (MAINGUENAU, 2001, p.<br />

19)<br />

A percepção <strong>de</strong> Mainguenau <strong>de</strong> que ―a obra é indissociável das instituições que a<br />

tornam possível‖ (2001) converge com os argumentos <strong>de</strong> Michel Foucault no que concerne ao<br />

aspecto essencial <strong>de</strong> inconclusão da interpretação, já que nada há <strong>de</strong> absolutamente primeiro a<br />

interpretar, cada signo é nele mesmo <strong>não</strong> a coisa que se oferece à interpretação, mas<br />

interpretação <strong>de</strong> outros signos. Como b<strong>em</strong> assinala o autor:<br />

Em oposição ao t<strong>em</strong>po dos signos, que é um t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> fracasso, e <strong>em</strong> oposição ao<br />

t<strong>em</strong>po da dialética, que apesar <strong>de</strong> tudo é linear, há um t<strong>em</strong>po da interpretação que é<br />

circular. Esse t<strong>em</strong>po é, certamente, obrigado a passar novamente por on<strong>de</strong> ele já<br />

48

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!