entreatos de uma vida não fascista - Grupo de Estudos em ...

1.4 Retrato de uma inimiga do DEOPS: perseguições misóginas
Outra série, lugar de produção e emergência de enunciados é viabilizada pela
Coleção Inventário DEOPS 14 , Cultura amordaçada: intelectuais e músicos sob a vigilância
do DEOPS, que em seu módulo VI, disponibiliza parte do acervo da polícia política de São
Paulo do período de 1930 a 1954 referente aos comunistas.
Dentre os prontuários nominais percebe-se uma linha de investigação que segundo
Álvaro Andreucci (2002, p. 16) se iniciava com a abertura dos autos nos quais eram
registradas atividades cotidianas do suspeito, os lugares frequentados como pontos de
encontro, pessoas de seu relacionamento, atividades profissionais, controle da sua
correspondência, livros de sua preferência
Essa repressão institucionalizada pelo Estado Brasileiro assumia o controle vigilante
da cultura que, tutelada pelo Estado, deveria ser higienizada em prol da preservação da
ideologia oficial. Andreucci demonstra como o governo getulista absorveu o programa nazista
de função educativa da arte para consolidação ideológica:
Fica evidente que a orientação adotada pelo Departamento de Imprensa e
Propaganda (DIP) havia se inspirado na Câmara da Cultura do Reich criado por
Goebbels. Baseado no modelo nazista, o DIP dividia-se em Divisão de Rádio,
Divisão de Cinema e Teatro, Divisão de Imprensa, Divulgação de Divulgação e
Divisão de Turismo. Além do mais prêmios também eram oferecidos aos artistas e
intelectuais, com o intuito de cooptá-los ao Estado Novo que pretendia aglutinar em
torno de si e do seu projeto político a produção cultural de sua época.
(ANDREUCCI, 2002, p. 19-20)
Essa inspiração nazista presente nas diretrizes getulistas também foi materializada
em um documento sobre a ―propaganda comunista pela arte‖ (1938) que acenava ao conceito
da Exposição de Arte Degenerada realizada em Munique em 1937. Esse documento está
anexado ao prontuário (1053) de Pagu e de outros artistas considerados revolucionários. Na
lista do diversos artistas e intelectuais que deveriam ser constantemente vigiados estavam
Patrícia Galvão, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Cândido Portinari, Laser Segall dentre
outros.
Investigada pela sua ligação com o Partido Comunista e alinhamento com as
ideologias internacionais de esquerda, Patrícia Galvão foi submetida a um regime de inspeção
14 Essa coleção é um instrumento de apoio aos pesquisadores interessados em usar o acervo da Polícia Política de
São Paulo como fonte para seus estudos. Ao mesmo tempo, essa coletânea abre espaço para a divulgação das
pesquisas desenvolvidas pelos alunos de graduação do Departamento de História/FFLCH da Universidade de
São Paulo que, como bolsistas FAPESP de Iniciação Científica, participam do Projeto Integrado Arquivo
/Universidade. (SOBRINHO, CARNEIRO, KOSSOY, 2002, p. 7)
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