entreatos de uma vida não fascista - Grupo de Estudos em ...
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Sobre a visão e construção masculina da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> das mulheres trabalhadoras,<br />
oscilando entre o papel <strong>de</strong> figuras passivas e frágeis, Margareth Rago (2008, p. 579) <strong>em</strong> seu<br />
texto sobre trabalho f<strong>em</strong>inino e sexualida<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>ncia a necessida<strong>de</strong> da historiografia se<br />
<strong>de</strong>bruçar sobre a percepção que essas mulheres tinham <strong>de</strong> suas condições social, sexual e<br />
individual. Nesse sentido, a autora avalia a narrativa <strong>de</strong> Pagu como pioneira nesse percurso:<br />
Pagu, Patrícia Galvão, ou ainda Mara Lobo, escritora f<strong>em</strong>inista e comunista dos<br />
anos 30, foi <strong>uma</strong> das poucas mulheres a <strong>de</strong>screver, no romance Parque industrial, a<br />
difícil <strong>vida</strong> das operárias <strong>de</strong> seu t<strong>em</strong>po: as longas jornadas <strong>de</strong> trabalho, os baixos<br />
salários, os maus tratos <strong>de</strong> patrões e, sobretudo, o contínuo assédio sexual (RAGO,<br />
2008, p. 578)<br />
Também sobre esse imaginário <strong>de</strong> participação f<strong>em</strong>inina no mundo do trabalho entre<br />
os anos <strong>de</strong> 1914 e 1940 está o trabalho <strong>de</strong> Susan K. Besse (1999). No que concerne ao<br />
governo Vargas a autora discute o projeto i<strong>de</strong>ológico que exigia a conciliação entre a<br />
<strong>de</strong>manda <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra f<strong>em</strong>inina, pelos <strong>em</strong>pregadores, a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> pelas<br />
mulheres e a necessida<strong>de</strong> social mais ampla <strong>de</strong> utilizar as mulheres e a família <strong>de</strong> maneira<br />
mais segura para as tarefas <strong>de</strong> reprodução social. Assim, o programa <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização e<br />
centralização política, e seu escopo <strong>de</strong> usurpar o po<strong>de</strong>r da oligarquia rural e, ao mesmo t<strong>em</strong>po,<br />
estabelecer o controle sobre as massas urbanas <strong>em</strong> ascensão, privilegiando s<strong>em</strong>pre o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong><br />
família como estratégia <strong>de</strong> manutenção da hierarquia social, institui um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> gêneros<br />
que mo<strong>de</strong>rniza a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>.<br />
Parque industrial percorre esse período <strong>de</strong> transição, on<strong>de</strong> a responsabilida<strong>de</strong> pelo<br />
controle e sujeição da classe operária urbana passa das fábricas para o Estado, on<strong>de</strong> o voto<br />
f<strong>em</strong>inino — aprovado pelo Congresso <strong>em</strong> 1932 — é <strong>de</strong>stinado somente às mulheres<br />
alfabetizadas. Sobre esse momento, Susan Besse argumenta que:<br />
Os <strong>em</strong>pregadores as recrutavam a<strong>vida</strong>mente para o setor <strong>de</strong> serviços da economia<br />
urbano-industrial <strong>em</strong> expansão, mas o código civil <strong>de</strong> 1916 <strong>de</strong>finia seu marido como<br />
cabeça do casal perante a lei, investido do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> autorizar ou proibir que ela<br />
seguisse <strong>uma</strong> carreira profissional. Além disso, como ela era encaminhada para<br />
trabalhos ―f<strong>em</strong>ininos‖ rotineiros e muito mal pagos, seu <strong>em</strong>prego antes<br />
supl<strong>em</strong>entava a renda familiar e promovia o <strong>de</strong>senvolvimento nacional do que lhe<br />
permitia alcançar a autonomia individual e auto-realização. Os homens avalizaram<br />
cautelosamente a mo<strong>de</strong>rnização da família e da <strong>vida</strong> sexual, mas o fizeram n<strong>uma</strong><br />
tentativa <strong>de</strong> conter o conflito e propor mudanças fundamentais na estrutura da<br />
organização familiar, e <strong>não</strong> para dar mais autonomia <strong>de</strong> ação a suas esposas.<br />
(BESSE, 1999, p. 11)<br />
visam inculcar certos valores e normas <strong>de</strong> comportamento através da repetição, o que implica,<br />
automaticamente; <strong>uma</strong> continuida<strong>de</strong> <strong>em</strong> relação ao passado. Aliás, s<strong>em</strong>pre que possível, tenta-se estabelecer<br />
continuida<strong>de</strong> com um passado histórico apropriado‖. (HOBSBAWM, 1997, p. 9)<br />
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