29.06.2013 Views

construcción de ciudadanía en entornos de desigualda1

construcción de ciudadanía en entornos de desigualda1

construcción de ciudadanía en entornos de desigualda1

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A esfera pública <strong>de</strong>mocrática, como or<strong>de</strong>m simbólica relacional, é o espaço em<br />

que os sujeitos assim constituídos afirmam sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e trocam significados<br />

que dão s<strong>en</strong>tido e direção à suas ações. A igualda<strong>de</strong> requerida na esfera pública<br />

é politicam<strong>en</strong>te construída, já que na natureza humana o que <strong>en</strong>contramos é a<br />

difer<strong>en</strong>ça. (Ar<strong>en</strong>dt, 1993:227). 26<br />

A cidadania, hipótese jurídico-política igualitária inscrita como possibilida<strong>de</strong> na<br />

natureza do estado mo<strong>de</strong>rno, foi a mediação mais importante na reconstituição<br />

da totalida<strong>de</strong> (comunida<strong>de</strong>) necessária à integração social (Fleury, 1994:45) 27 .<br />

Tal mediação - juntam<strong>en</strong>te com o sistema <strong>de</strong> repres<strong>en</strong>tação - e as instituições<br />

a que <strong>de</strong>ram origem conformaram a <strong>en</strong>g<strong>en</strong>haria institucional <strong>de</strong>mocrática,<br />

materializando a emergência <strong>de</strong> uma esfera social que Habermas (1984:177) 28<br />

<strong>de</strong>nominou repolitizada, ou Estado-social, on<strong>de</strong> as instituições estatais e<br />

sociais se sintetizam em um único complexo indifer<strong>en</strong>ciado. Este f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>o<br />

nos remeteria à dissolução da divisão liberal público/privado, Estado/socieda<strong>de</strong><br />

civil.<br />

No <strong>en</strong>tanto, estas dicotomias só se superam, sem escamotear as<br />

difer<strong>en</strong>ciações se nos <strong>en</strong>caminhamos em direção à concepção <strong>de</strong> Estado<br />

ampliado (Buci-Gluksmann, 1980:98) 29 , já que esta não elu<strong>de</strong> a questão dos<br />

conflitos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> suas orig<strong>en</strong>s materiais, já que a hegemonia não só não<br />

exclui como requer a dominação e a coerção.<br />

Para além <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>terminantes materiais os processos <strong>de</strong> inclusão e <strong>de</strong><br />

exclusão fundam-se em uma dim<strong>en</strong>são simbólica, ou civilizatória. Por meio<br />

<strong>de</strong>sta, <strong>de</strong>finem-se e reproduzem-se as regras e rituais <strong>de</strong> inclusão/exclusão,<br />

em uma comunida<strong>de</strong> político/jurídica (<strong>de</strong> cidadãos), mas que é,<br />

fundam<strong>en</strong>talm<strong>en</strong>te, uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> s<strong>en</strong>tidos (Fleury 1998:82) 30 .<br />

A equalização político-jurídica alcançada com a aquisição do status da<br />

cidadania confere um fundam<strong>en</strong>to legítimo ao exercício do po<strong>de</strong>r, ao mesmo<br />

tempo em que nega as clivag<strong>en</strong>s sociais e os atores coletivos, absolutizando o<br />

indivíduo como o portador material dos direitos e <strong>de</strong>veres da cidadania.<br />

No <strong>en</strong>tanto, este efeito <strong>de</strong> obscurecim<strong>en</strong>to da dinâmica conflitiva em uma<br />

socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> classes é reposto a cada mom<strong>en</strong>to pela impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

concretização da igualda<strong>de</strong> pressuposta na cidadania, contradição que será o<br />

núcleo c<strong>en</strong>tral que anima a dinâmica social e reivindica uma nova<br />

institucionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática para o Estado.<br />

No <strong>en</strong>tanto, a cidadania, como qualquer outro sistema classificatório implica um<br />

critério <strong>de</strong> inclusão, que <strong>de</strong>ve ser visto também como um critério <strong>de</strong> exclusão,<br />

já que, os critérios que <strong>de</strong>finem a inclusão na comunida<strong>de</strong> política e <strong>de</strong> direitos<br />

são, ao mesmo tempo, aqueles que sancionam as normas <strong>de</strong> exclusão.<br />

26<br />

Ar<strong>en</strong>dt, Hannah (1993) – “A Condição Humana”, Editorial For<strong>en</strong>se Universitária, 6ta. Edição,<br />

São Paulo, pg. 31-34.<br />

27<br />

Fleury, Sonia (1994) - Estados sem Cidadãos, Ed. Fiocruz, Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

28<br />

Habermas, J. (1984) – Mudança Estrutural na Esfera Pública, Tempo universitário, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro.<br />

29<br />

Buci-Glucksman (1980) – Gramsci e o Estado, Paz e Terra, São Paulo.<br />

30<br />

Fleury, Sonia (1998) - "Política Social, Exclusión y Equidad <strong>en</strong> América Latina”, revista Nueva<br />

Sociedad, #156, Caracas<br />

11

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!