29.06.2013 Views

construcción de ciudadanía en entornos de desigualda1

construcción de ciudadanía en entornos de desigualda1

construcción de ciudadanía en entornos de desigualda1

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

a afirmar que, ao contrário do círculo virtuoso <strong>de</strong> incorporação dos direitos<br />

cidadãos <strong>de</strong>scrito por Marshall (1967) 23 ao analizar o caso inglês, a <strong>de</strong>mocracia<br />

na América Latina continua restringindo o pot<strong>en</strong>cial da sociedad civil.<br />

Sem dúvidas, não há evidências, teóricas ou históricas, consist<strong>en</strong>tes para indicar<br />

que a construção da cidadania na região <strong>de</strong>verá passar, primeiram<strong>en</strong>te, por<br />

assegurar os direitos civis, construindo <strong>de</strong>mocracias formais, para <strong>de</strong>pois<br />

<strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tar o problema distributivo, assegurando os direitos sociais.<br />

Ao contrário, a questão social foi e continua a ser o lugar <strong>de</strong> constituição <strong>de</strong><br />

atores sociais que buscam inserir na ar<strong>en</strong>a política suas necessida<strong>de</strong>s,<br />

transformadas politicam<strong>en</strong>te em <strong>de</strong>mandas. Da mesma forma, é através das<br />

políticas sociais que o Estado interpela os cidadãos, resignificando os conteúdos<br />

conflitivos por meio <strong>de</strong> tecnologias apropriadas, <strong>de</strong>spolitizando as <strong>de</strong>mandas a<br />

ele dirigidas e, finalm<strong>en</strong>te, re<strong>de</strong>finidindo o significado da cidadania.<br />

A <strong>de</strong>smontagem, nos anos rec<strong>en</strong>tes, dos aparatos <strong>de</strong> política social construídos<br />

durante o período <strong>de</strong> vigência do pacto corporativo - as reformas sociais -<br />

<strong>en</strong>contraram uma aceitação na América Latina sem prece<strong>de</strong>ntes em outras<br />

socieda<strong>de</strong>s. Este f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>o é <strong>de</strong>vido a fatores como a i<strong>de</strong>ntificação dos<br />

b<strong>en</strong>efícios como privilégios, a burocratização e o cli<strong>en</strong>telismo como práticas<br />

predominantes, para não m<strong>en</strong>cionar a corrupção e a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r<br />

com este aparato às novas <strong>de</strong>mandas cidadãs.<br />

As <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong>mocráticas canalizaram as reivindicações <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> um<br />

novo padrão <strong>de</strong> políticas sociais, liberto da tutela da condição <strong>de</strong> trabalho, para<br />

associar-se universalm<strong>en</strong>te à condição <strong>de</strong> cidadania. Em alguns países, estas<br />

<strong>de</strong>mandas plasmaram-se na legislação constitucional das emerg<strong>en</strong>tes<br />

<strong>de</strong>mocracias, em sistemas universais, <strong>de</strong>sc<strong>en</strong>tralizados e participativos <strong>de</strong><br />

políticas sociais.<br />

No <strong>en</strong>tanto, a crise fiscal do Estado, o predomínio da ori<strong>en</strong>tação liberal e das<br />

ori<strong>en</strong>tações das agências internacionais em prol das políticas sociais focalizadas<br />

e o refluxo dos movim<strong>en</strong>tos sociais reivindicativos foram sufici<strong>en</strong>tes para<br />

conformar, nos anos rec<strong>en</strong>tes, um novo padrão <strong>de</strong> política social para a região.<br />

Este padrão caracteriza-se pela segm<strong>en</strong>tação das políticas sociais <strong>de</strong> acordo ao<br />

po<strong>de</strong>r aquisito <strong>de</strong> cada grupo, <strong>de</strong> tal forma que são <strong>de</strong>s<strong>en</strong>hados sistemas duais<br />

<strong>de</strong> serviços sociais, públicos para os pobres e <strong>de</strong> mercado para aqueles que<br />

po<strong>de</strong>m pagar por isto. A não existência <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> <strong>en</strong>tre<br />

ricos e pobres acarreta um <strong>en</strong>orme peso para o Estado, que tem que arcar com<br />

os custos da pobreza.<br />

Como conseqüência, assistimos à ruptura da solidarieda<strong>de</strong> forjada no período<br />

populista <strong>en</strong>tre as camadas médias e a população mais pobre. Ao mesmo<br />

tempo, a transcrição <strong>de</strong>sta segm<strong>en</strong>tação das políticas sociais em condições<br />

difer<strong>en</strong>ciadas <strong>de</strong> cidadania, implica a reificação da separação <strong>en</strong>tre direitos<br />

sociais para os que têm recursos (no populismo os recursos eram sobretudo<br />

políticos e agora são financeiros) e b<strong>en</strong>efícios sociais, porém sem atribuição <strong>de</strong><br />

direitos, para os pobres.<br />

A <strong>de</strong>terioração das condições <strong>de</strong> vida das camadas médias, a instabilida<strong>de</strong> do<br />

mercado <strong>de</strong> trabalho, a incapacida<strong>de</strong> das políticas assist<strong>en</strong>ciais focalizadas para<br />

23 Marshall, T.H. Cidadania, Classe Social e Status. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Zahar Editores, 1967<br />

9

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!