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Vol 13 - Nº 3

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Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />

passagem de sangue da direita para esquerda, em situações<br />

em que a pressão atrial direita supere a esquerda.<br />

O funcionamento deste mecanismo é fundamental<br />

na vida fetal, permitindo que o sangue oxigenado que<br />

vem da placenta pela veia cava inferior passe através<br />

do septo interatrial, diretamente para a circulação sistêmica,<br />

evitando os pulmões (colapsados nessa fase<br />

da vida).<br />

Com o nascimento, a expansão dos pulmões acarreta<br />

o aumento da pressão atrial esquerda, conseqüente<br />

ao incremento do retorno venoso pulmonar, empurrando<br />

o SP de encontro à face atrial esquerda do SS,<br />

levando à fusão dos septos e ao fechamento do FO,<br />

por volta do primeiro mês de vida.<br />

Contudo, um segmento da população não apresenta<br />

essa fusão entre os septos e o forame pode permanecer<br />

patente ao longo da vida, ou fechar-se inicialmente<br />

para tornar a abrir diante de situações de sobrecarga<br />

pressórica direita.<br />

INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA<br />

Em 1931, Patten 1 apresentou um estudo anatômico<br />

por faixas etárias, mostrando uma prevalência de FOP<br />

estimada em 50% até a idade de dois anos; 35% entre<br />

dois e vinte anos e, cerca de 25% da população geral<br />

acima de vinte anos. Em séries de autópsia, o forame<br />

pode permanecer aberto em cerca de 20 a 27,3% das<br />

pessoas 2 . Já, Lock 3 estima a prevalência de FOP em<br />

10% a 15%, na população adulta normal.<br />

Até o momento, parece consenso entre a maioria<br />

dos trabalhos de que cerca de um quarto da população<br />

geral é portadora de FOP.<br />

FOP COMO CAUSA DE EVENTOS EMBÓLICOS<br />

Cohnhein 4 , em 1887, fez a primeira descrição de<br />

FOP relacionada à embolia paradoxal, ao realizar a<br />

necropsia de uma mulher jovem que havia falecido<br />

em decorrência de AVC. Na ocasião, sugeriu que a<br />

causa do óbito fosse a passagem de um coágulo através<br />

do FOP, se alojando na circulação cerebral.<br />

Em 1900, Fawcett e Blachford 5 estabeleceram o<br />

forame oval como potencial canal anatômico entre os<br />

átrios direito e o esquerdo.<br />

FOP E ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL<br />

O termo AVCi se refere à interrupção do fluxo<br />

sangüíneo ao cérebro, resultando em lesão cerebral,<br />

freqüentemente acompanhada de alguma seqüela. Cerca<br />

de 75% a 80% dos AVCs são de origem isquêmica 6 .<br />

Um AVCi pode ser causado por diversos processos<br />

fisiopatológicos diferentes. A causa sugerida pode representar<br />

alteração de grandes artérias (como estenose<br />

de artérias carótidas internas), em 20 a 25% dos casos,<br />

de pequenas artérias provocando infarto lacunar, em<br />

20% e acidente cardioembólico (como fibrilação atrial),<br />

em 20 a 25%. Estes estudos também sugerem que<br />

nenhuma causa é encontrada em 30 a 40% dos pacientes<br />

(AVC criptogênico) 7 .<br />

Quando eram estudados pacientes abaixo dos 55<br />

anos, Cabanes et al. 8 encontraram AVCs criptogênicos<br />

(AVCc) em 64% dos casos.<br />

É estimado que a incidência anual de AVCs, nos<br />

EUA, seja de 750.000, com uma mortalidade de 27% 9 .<br />

Isso torna o AVC a terceira principal causa de morte,<br />

somente atrás das doenças cardíacas e câncer 6 .<br />

O tempo médio de sobrevida após um AVC é de<br />

7 anos, período no qual o paciente fica mais sujeito<br />

à recorrência do que a população geral 7 .<br />

Os AVCc, provavelmente, são provocados por diversos<br />

fatores diferentes, mas a imensa maioria deles apresenta<br />

um dado comum, que é a patência do forame oval 10 .<br />

A presença de FOP como facilitador desses eventos<br />

tem sido cada vez mais relatada pela maioria dos<br />

autores, principalmente no que diz respeito a AVC em<br />

pacientes jovens.<br />

Em 1988, Lechat et al. 11 , estudando uma população<br />

de 60 pacientes, todos abaixo de 55 anos, com AVCi<br />

e exame cardiológico normal, encontraram prevalência<br />

de FOP em 54% dos pacientes sem causa identificada<br />

do seu AVC e sem fatores de risco; 40% em pacientes<br />

sem causa identificada, mas com fatores de risco; 21%<br />

em pacientes com uma causa óbvia para o seu AVC;<br />

e somente 10% de prevalência de FOP no grupo<br />

controle.<br />

Estudando 61 pacientes, Steiner et al. 12 encontraram<br />

FOP em 45% dos pacientes com AVCi criptogênico e,<br />

somente em 23% dos pacientes com AVCi associado<br />

a outros fatores de risco (aterosclerose de grandes<br />

vasos, isquemia lacunar e embolia cardiogênica).<br />

Da mesma forma, Webster et al. <strong>13</strong> constataram<br />

prevalência de FOP de 50%, em pacientes com AVCi<br />

de origem inexplicada, contra 15% no grupo controle.<br />

No Brasil, apesar de serem raros os estudos epidemiológicos<br />

publicados sobre doenças cerebrovasculares,<br />

estas se constituem em uma das mais freqüentes<br />

causas de óbito no país 14 .<br />

Diversos estudos têm mostrado evidente aumento<br />

da prevalência de FOP em pacientes jovens com AVCi<br />

criptogênico. Contudo, essa relação de FOP e AVCi<br />

não tem sido demonstrada em pacientes idosos 15,16 .<br />

Vale lembrar que é muito difícil provar que o FOP<br />

seria realmente a fonte do êmbolo em determinados<br />

pacientes, uma vez que, quando este procura atendimento<br />

médico, o evento embólico já ocorreu. Com<br />

isso, mesmo que se demonstre a presença de FOP, o<br />

máximo que podemos fazer é pressupor que o mesmo<br />

186<br />

FChamie.p65 186<br />

9/6/2006, 17:43

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