Vol 13 - Nº 3
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Selig FA e Godoy MF. Embolização Percutânea de Canais Colaterais Venosos Após Cirurgia de Glenn com Molas de Gianturco.<br />
Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 141-145.<br />
de maior repercussão, com insaturação periférica importante<br />
por roubo de fluxo do sistema cava superior<br />
para o inferior. A Figura 4 demonstra a embolização<br />
desta colateral veno-venosa, perto do local de sua<br />
origem na base da veia braquiocefálica. Houve melhora<br />
na saturação periférica de oxigênio nos três casos<br />
(Figura 5), na reavaliação 24 horas após a oclusão<br />
percutânea. O ecocardiograma transtorácico com microbolhas<br />
foi negativo, confirmando o sucesso dos três<br />
procedimentos. Não houve modificações nas pressões<br />
TABELA 3<br />
Molas utilizadas para embolização<br />
Paciente Tamanho Número de molas<br />
1 38 x 8 x 8 1<br />
38 x 5 x 3 2<br />
2 35 x 3 x 2 2<br />
4 35 x 5 x 3 2<br />
Figura 4 - Resultado pós-embolização. A: Veia inominada; B: Fluxo<br />
pela cirurgia de Glenn; C: Canal colateral venoso, ocluído por<br />
molas de Gianturco.<br />
Figura 5 - Saturação periférica de oxigênio antes e depois das<br />
embolizações.<br />
médias da veia cava superior, artérias pulmonares ou<br />
capilares pulmonares após as oclusões.<br />
Não houve intercorrências maiores ou menores<br />
durante os cateterismos cardíacos.<br />
DISCUSSÃO<br />
O princípio fisiológico da cirurgia de Glenn é<br />
promover um fluxo pulmonar efetivo, controlado e<br />
contínuo dentro de um sistema com baixa pressão,<br />
ajudando ainda a diminuir a sobrecarga volumétrica<br />
do coração univentricular. Se este sistema não tiver<br />
obstruções, a pressão nas artérias pulmonares deve<br />
ser igual a do sistema cava superior, enquanto a pressão<br />
na veia cava inferior deve ser igual a do átrio<br />
direito (e a do átrio esquerdo, na presença de comunicação<br />
interatrial não-restritiva). Desta maneira, a presença<br />
de uma pressão média maior na veia cava superior em<br />
relação à veia pulmonar e, conseqüentemente, a existência<br />
de um gradiente de pressão transpulmonar é que<br />
permite ao organismo vencer a resistência vascular do<br />
pulmão. Habitualmente, este gradiente é inferior a<br />
10 mmHg. Valores mais elevados, geralmente, denotam<br />
um aumento da resistência vascular pulmonar e constitui-se<br />
em fator de risco para complementação para<br />
cirurgia tipo Fontan.<br />
Ainda não está claro porque alguns pacientes desenvolvem<br />
estes canais venosos e outros não. Estes vasos<br />
podem ser resultantes da dilatação ou reabertura de<br />
formações vasculares preexistentes secundárias a alterações<br />
hemodinâmicas desfavoráveis no circuito venoso,<br />
resultando na redução do fluxo sangüíneo pulmonar<br />
efetivo 9 . Tais alterações hemodinâmicas podem decorrer<br />
de uma série de problemas, a saber: coarctação<br />
da aorta, estenose subaórtica (por comunicações<br />
interventriculares restritivas em situações de discordância<br />
ventrículo-arterial), disfunção sistólica ou diastólica da<br />
câmara principal, insuficiência ou estenose da valva<br />
atrioventricular sistêmica, estenoses de veias pulmonares,<br />
aumento da resistência vascular pulmonar,<br />
estenoses de artérias pulmonares e obstruções na<br />
anastomose de Glenn.<br />
Levando em consideração que a maior parte destas<br />
colaterais pode ser simplesmente o desenvolvimento<br />
de conexões venosas que já existiam, a angiografia préoperatória<br />
com oclusão com um balão pode ser útil. A<br />
evolução clínica de alguns pacientes após a cirurgia<br />
pode refletir a recanalização destes vasos, podendo ser<br />
uma resposta aguda ou crônica a aumentos de pressão<br />
do sistema cavopulmonar. Durante a oclusão com cateterbalão,<br />
este mimetiza as possíveis elevações da pressão<br />
na veia cava superior, sendo então especialmente importante<br />
para avaliação no período pós-operatório.<br />
Alguns autores argumentam que estas fenestrações<br />
naturais poderiam funcionar como via de escape para<br />
altas pressões venosas. Porém, o desenvolvimento destas<br />
colaterais venosas ocorre às custas de aumento da<br />
cianose, aparecendo de maneira insidiosa e com conse-<br />
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