Vol 13 - Nº 3
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Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): <strong>13</strong>9-140.<br />
Pedra CAC. A Cardiologia Intervencionista para Cardiopatias Congênitas e Estruturais no Brasil: de Onde Viemos, Onde Estamos,<br />
para Onde Vamos. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): <strong>13</strong>9-140.<br />
A Cardiologia Intervencionista para Cardiopatias<br />
Congênitas e Estruturais no Brasil: de Onde<br />
Viemos, Onde Estamos, para Onde Vamos<br />
Editorial<br />
Carlos A. C. Pedra 1<br />
Acardiologia intervencionista para cardiopatias congênitas<br />
e estruturais teve início em meados dos<br />
anos 50, no México, onde Rubio Alvarez introduziu<br />
um método percutâneo de valvoplastia pulmonar,<br />
utilizando uma sonda uretral. Curiosamente, tal técnica<br />
não teve aceitação global. Em meados dos anos 60, o<br />
genial Dr. William Rashkind revolucionou o prognóstico<br />
dos recém-nascidos portadores de transposição completa<br />
das grandes artérias, praticando a atrioseptostomia com<br />
cateter-balão. Entretanto, foi apenas no início dos anos<br />
80, após o sucesso da angioplastia coronária, que os<br />
balões ganharam maior força e espaço no tratamento<br />
de inúmeras cardiopatias congênitas, incluindo as estenoses<br />
pulmonar e aórtica, a coarctação da aorta, a<br />
estenose das artérias pulmonares, entre outras. Essa<br />
era do balão foi introduzida em nosso meio pelo nosso<br />
querido Dr. Valmir Fontes, quem trouxe na mala (e do<br />
próprio bolso!) alguns cateteres dos Estados Unidos,<br />
para serem utilizados em seu laboratório de hemodinâmica.<br />
Esta fase pioneira logo progrediu, abrindo<br />
espaço para a chegada de alguns dispositivos de oclusão<br />
(ex: “umbrella” de Rashkind) e dos stents intravasculares.<br />
Quase todos os autores dos (excelentes) artigos<br />
de revisão deste número especial da nossa revista<br />
iniciaram suas atividades intervencionistas nesta época.<br />
Este pequeno grupo de médicos brasileiros, mesmo<br />
trabalhando em locais distantes e sob condições totalmente<br />
diferentes, logo percebeu que ninguém possuía<br />
um número suficiente de pacientes para ter a pretensão<br />
de estabelecer condutas definitivas. Estabeleceu-se, assim,<br />
um diálogo constante, amigável e frutífero entre as<br />
diversas equipes distribuídas por diferentes estados do<br />
Brasil. Na era da medicina baseada em evidências, é<br />
importante lembrar que na cardiologia pediátrica (clínica,<br />
cirúrgica ou intervencionista) são escassos na literatura<br />
os trabalhos prospectivos, randomizados e com grande<br />
número de pacientes. Ou seja, trabalhamos com uma<br />
metodologia científica longe do ideal. Nem por isto<br />
deixamos de progredir e os resultados intervencionistas<br />
e cirúrgicos cada vez melhores são provas inequívocas<br />
de tal afirmação. A nossa melhor evidência científica,<br />
geralmente, é derivada de trabalhos prospectivos observacionais,<br />
nos quais fatores de risco para desfechos<br />
desfavoráveis são identificados. Posteriormente, estes<br />
fatores são neutralizados em experiências subseqüentes,<br />
levando à melhoria progressiva dos resultados. Em<br />
outras palavras, aprendemos com nossos próprios<br />
“erros”, corrigindo diariamente a rota que leva ao nosso<br />
destino final, que é proporcionar o que há de melhor<br />
para o nosso paciente. Tal prática fica facilitada quanto<br />
maior for a coesão e a harmonia de uma equipe ou<br />
um grupo. E, talvez, estas sejam as maiores virtudes<br />
deste seleto grupo de intervencionistas brasileiros que<br />
se dedicam ao tratamento das cardiopatias congênitas<br />
e estruturais.<br />
Vivemos um momento mágico em nossa prática<br />
médica. Muitos são os defeitos estruturais que podem<br />
ser abordados com segurança e eficácia utilizando<br />
técnicas percutâneas. Basicamente, dois fatores contribuíram<br />
para que isto fosse possível. O primeiro se<br />
remete ao interesse de algumas (corajosas) empresas<br />
em desenvolver materiais específicos para o tratamento<br />
de tais cardiopatias. A AGA Medical Corporation (fabricante<br />
das próteses Amplatzer) e a NuMed (fabricante<br />
de inúmeros cateteres-balão e stents) são exemplos<br />
bem sucedidos de tais investimentos. O segundo fator<br />
se refere à maior difusão e troca de conhecimentos<br />
médicos, propiciadas por um mundo mais globalizado.<br />
Sem dúvida, a Internet e o advento de congressos<br />
intervencionistas específicos da nossa subespecialidade<br />
contribuíram para esta observação. Neste sentido, destacam-se<br />
o Congresso PICS (Pediatric Interventional<br />
Cardiology Symposium) organizado pelo Dr. Zyad Hijazi,<br />
de Chicago e os congressos da nossa sociedade e da<br />
SOLACI em nosso meio. Os artigos contidos neste<br />
1<br />
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP.<br />
Correspondência: Dr. Carlos A. C. Pedra. Chefe da Seção Médica de Intervenções em Cardiopatias Congênitas - Instituto Dante Pazzanese<br />
de Cardiologia. Av. Dr. Dante Pazzanese, 500. CEP 04012-180 - Tel.: (11) 5085-4114 • Fax: (11) 5085-4196<br />
e-mail: cacpedra@uol.com.br ou carlosacpedra@hotmail.com<br />
Recebido em: 09/05/2006 • Aceito em: 10/05/2006<br />
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Pedra CAC. A Cardiologia Intervencionista para Cardiopatias Congênitas e Estruturais no Brasil: de Onde Viemos, Onde Estamos,<br />
para Onde Vamos. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): <strong>13</strong>9-140.<br />
número refletem o momento em que estamos: o estabelecimento<br />
definitivo da abordagem percutânea como<br />
método de eleição para pacientes selecionados com<br />
comunicação interatrial, persistência do canal arterial<br />
e estenoses das artérias pulmonares; a alternativa intervencionista<br />
para pacientes com coarctação da aorta e<br />
forame oval patente com passado de acidente vascular<br />
cerebral criptogênico; a experiência inicial na oclusão<br />
da comunicação interventricular perimembranosa com<br />
a prótese Amplatzer e o uso das técnicas percutâneas<br />
no salvamento de pacientes portadores de doenças<br />
graves e complexas como a hipoplasia do coração<br />
esquerdo e alguns casos de atresia pulmonar dependente<br />
do fluxo do canal arterial.<br />
Somos nós mesmos que traçamos o nosso futuro.<br />
Há muito trabalho pela frente, que deve ser encarado<br />
com uma mescla de prudência, coragem, perseverança,<br />
criatividade e rigor científico. O implante percutâneo<br />
valvar, apesar de já ser uma realidade em um pequeno<br />
número de pacientes selecionados, ainda não se<br />
aplica à totalidade dos casos que o necessitam. Os<br />
dispositivos intracardíacos e as endopróteses intravasculares<br />
terão características biodegradáveis ou reabsorvíveis,<br />
ampliando o leque de indicações de tais materiais.<br />
A terapêutica gênica guiada pelo cateter, em fase<br />
ainda experimental, poderá tornar-se realidade em um<br />
futuro próximo. Cada vez mais necessitamos de trabalhos<br />
multicêntricos, prospectivos e com grande número<br />
de pacientes, para que possamos comparar as diversas<br />
técnicas intervencionistas e estas com as cirúrgicas.<br />
Se depender dos grupos representados neste número<br />
(e de outros que infelizmente não puderam participar<br />
por questões de espaço), tais tarefas estarão ao alcance<br />
das nossas mãos! Espero que o leitor adquira novos<br />
conhecimentos sobre os temas específicos de cada<br />
artigo e desfrute a leitura!<br />
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Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 141-145.<br />
Selig FA e Godoy MF. Embolização Percutânea de Canais Colaterais Venosos Após Cirurgia de Glenn com Molas de Gianturco.<br />
Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 141-145.<br />
Artigo Original<br />
Embolização Percutânea de Canais Colaterais Venosos<br />
após Cirurgia de Glenn com Molas de Gianturco<br />
Fábio Augusto Selig 1 , Moacir Fernandes de Godoy 1<br />
RESUMO<br />
Os pacientes portadores de cardiopatias congênitas cianogênicas<br />
com fisiologia univentricular são tratados com cirurgias<br />
paliativas, entre elas a cavopulmonar bidirecional ou<br />
Cirurgia de Glenn. Uma das complicações descritas na<br />
literatura relacionadas a este procedimento é a reabertura<br />
ou dilatação de canais colaterais venosos preexistentes,<br />
propiciando o roubo de fluxo sangüíneo pulmonar, reduzindo<br />
a saturação periférica de oxigênio e piorando a qualidade<br />
de vida destes pacientes. A existência dos canais pode ser<br />
suspeitada por métodos simples não-invasivos, como medida<br />
da saturação periférica de oxigênio ou ecocardiograma<br />
transtorácico bidimensional com injeção de microbolhas,<br />
sendo os pacientes encaminhados para o laboratório de<br />
hemodinâmica para confirmação diagnóstica ou embolização<br />
terapêutica. Revisamos, neste artigo, os casos de Cirurgia<br />
de Glenn realizados no serviço e que foram direcionados<br />
para avaliação hemodinâmica, analisando a presença e<br />
características dos canais venosos encontrados e descrevendo<br />
suas oclusões e resultados.<br />
DESCRITORES: Cirurgia cavopulmonar bidirecional. Embolização<br />
terapêutica. Cardiopatias congênitas.<br />
SUMMARY<br />
Percutaneous Embolization of Venous Collateral Channels<br />
after Glenn Anastomosis With Gianturco Coils<br />
Cyanogen congenital heart diseases with univentricular<br />
physiology are treated with paliative surgeries, as bidirectional<br />
cavopulmonary (Glenn) shunts. One possible complication<br />
of this surgery is the reopening or dilation of venous collateral<br />
channels, reducing the amont of effective pulmonary blood<br />
flow, lowering oxygen peripheric saturation and worsening<br />
patient's quality of life. The presence of these channels<br />
may be suspected through simple, non-invasive methods<br />
such as measuring pulse oximetry or by microbubble contrast<br />
echocardiography, with patients referred to hemodynamic<br />
laboratory for therapeutic embolization. This article reviews<br />
all Glenn shunts carried out in our service that were referred<br />
for hemodynamic evaluation, describes the presence and<br />
characteristics of these venous channels as well as its<br />
occlusion and results.<br />
DESCRIPTORS: Bidirectional cavopulmonary shunt. Embolization,<br />
therapeutic. Heart defects, congenital.<br />
1<br />
Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Hospital<br />
Universitário Evangélico de Curitiba, PR.<br />
2<br />
Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Hospital<br />
de Base – Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, SP.<br />
Correspondência: Dr. Fábio Augusto Selig. Hospital Universitário<br />
Evangélico de Curitiba - Setor de Hemodinâmica - Alameda Augusto<br />
Stellfeld, 1908 - 4º andar - Curitiba, PR - CEP 80730-150<br />
Tel.: (41) 3240-5000<br />
E-mail: cardiopediatria@terra.com.br<br />
Recebido em 26/12/2005 • Aceito em: 06/01/2006<br />
Os pacientes portadores de cardiopatias congênitas<br />
com fisiologia univentricular são, em sua<br />
maioria, encaminhados para cirurgias paliativas,<br />
na tentativa de se estabelecer um fluxo pulmonar<br />
contínuo e adequado às necessidades metabólicas do<br />
organismo. Uma destas cirurgias foi idealizada por<br />
Carlon et al. 1 e difundida por Glenn 2 , sendo conhecida<br />
mais tarde por anastomose cavopulmonar bidirecional 3<br />
ou cirurgia de Glenn bidirecional. Esta cirurgia consiste<br />
na anastomose término-lateral da veia cava superior<br />
com a artéria pulmonar direita, tornando o fluxo sangüíneo<br />
dos pulmões passivo e menos dependente da<br />
contratilidade cardíaca, mas diretamente relacionado<br />
ao gradiente de pressão transpulmonar e à pressão<br />
negativa intratorácica.<br />
Dentre as complicações associadas à cirurgia de<br />
Glenn bidirecional, a mais conhecida na literatura é o<br />
desenvolvimento de conexões fistulosas, tanto artériovenosas<br />
pulmonares 4 quanto veno-venosas 5 , estas últimas<br />
também conhecidas por canais colaterais venosos.<br />
Com etiologias diferentes, as conexões fistulosas têm<br />
em comum a possibilidade de redução da saturação<br />
periférica de oxigênio, piora da qualidade de vida do<br />
paciente e o aumento da mobi-mortalidade de outros<br />
procedimentos cirúrgicos cardíacos ou não 6 . Portanto,<br />
a piora clínica pós-operatória de alguns pacientes pode<br />
estar relacionada com a dilatação ou reabertura de<br />
canais venosos preexistentes secundárias a alterações<br />
hemodinâmicas da circulação pulmonar, resultando<br />
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Selig FA e Godoy MF. Embolização Percutânea de Canais Colaterais Venosos Após Cirurgia de Glenn com Molas de Gianturco.<br />
Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 141-145.<br />
na redução do seu fluxo sangüíneo efetivo e/ou levando<br />
ao shunt direito-esquerdo.<br />
Atualmente, a utilização de métodos simples, como<br />
o acompanhamento da saturação periférica de oxigênio<br />
e o ecocardiograma bidimensional com microbolhas,<br />
pode sugerir a existência de conexões fistulosas 7 , sendo<br />
o paciente encaminhado ao laboratório de hemodinâmica<br />
para confirmar a presença desta complicação e<br />
para possível embolização terapêutica. A angiografia<br />
realizada com oclusão do lúmen da veia cava superior<br />
por cateter-balão tipo Berman aumenta a sensibilidade<br />
para detecção destes canais venosos presentes<br />
anteriormente à Cirurgia de Glenn 8 .<br />
Descrevemos, aqui, três casos de pacientes portadores<br />
de canais colaterais venosos originados no sistema<br />
da cava superior para a circulação venosa sistêmica,<br />
submetidos em nosso serviço à embolização com molas<br />
(coils) de Gianturco, com objetivo de melhorar a saturação<br />
periférica de oxigênio e sua qualidade de vida.<br />
MÉTODO<br />
Os pacientes submetidos à cirurgia de Glenn bidirecional<br />
iniciaram acompanhamento ambulatorial no<br />
Hospital de Base da Faculdade de Medicina de São<br />
José do Rio Preto (FAMERP) após a alta hospitalar,<br />
sendo realizados avaliações clínicas e exames complementares<br />
conforme a necessidade. Realizou-se, por<br />
ocasião dos retornos, a medida da saturação periférica<br />
de oxigênio por meio de oxímetro de pulso. Nos pacientes<br />
submetidos à avaliação pós-operatória complementar<br />
por ecocardiograma transtorácico (ETT) bidimensional<br />
com Doppler colorido, foram obtidos acessos<br />
venosos no segmento corporal superior (membros<br />
superiores, cabeça ou pescoço). Para preparação do<br />
contraste com microbolhas, juntou-se 9ml de água<br />
destilada com 1ml de ar ambiente em uma seringa, a<br />
qual, após agitação, teve seu conteúdo injetado no<br />
acesso venoso. Considerou-se teste positivo quando<br />
se verificou a rápida (dentro de três ciclos cardíacos)<br />
presença de microbolhas no interior do átrio direito<br />
ou esquerdo após a injeção.<br />
Foram submetidos a cateterismo cardíaco, no Serviço<br />
de Hemodinâmica Pediátrica do Hospital de Base,<br />
para avaliação complementar, todos os pacientes com<br />
piora referida da classe funcional, se comparados os<br />
períodos pós-operatório imediato e tardio (queixa de<br />
aumento progressivo do cansaço), redução progressiva<br />
da saturação periférica de oxigênio para menos de<br />
80% e com teste de microbolhas positivo ao ecocardiograma.<br />
Na ocasião, procedeu-se à coleta de dados<br />
manométricos, cálculos de fluxos e resistências pulmonares<br />
pelo método de Fick e angiografias seletivas em<br />
veia cava superior, veia braquiocefálica (ou veia cava<br />
superior esquerda, quando presente) e artérias pulmonares.<br />
Foram considerados canais colaterais venosos de<br />
importante repercussão aqueles visibilizados sem a<br />
necessidade da angiografia sensibilizada por oclusão<br />
com cateter-balão, independentemente de seu tamanho,<br />
e na subseqüente detecção de grande quantidade de<br />
contraste radiológico nos átrios direito (principalmente)<br />
ou esquerdo. Nestes casos, procedeu-se à embolização<br />
das colaterais com molas de Gianturco, sendo realizadas<br />
novas angiografias para se confirmar as oclusões.<br />
Todos pacientes submetidos à embolização foram<br />
reavaliados após 24 horas do procedimento, com realização<br />
de novo ecocardiograma transtorácico com microbolhas<br />
e medida da saturação periférica de oxigênio.<br />
RESULTADOS<br />
Foram realizadas 24 cirurgias de Glenn bidirecional,<br />
no Serviço de Cardiologia Pediátrica, de fevereiro de<br />
2003 à março de 2005. Oito (33%) pacientes faleceram<br />
nos períodos pós-operatório imediato ou tardio<br />
(após a alta hospitalar).<br />
Dos pacientes em seguimento ambulatorial, foram<br />
encaminhados ao laboratório de hemodinâmica, entre<br />
abril de 2004 e agosto de 2005, quatro pacientes que<br />
cumpriram os critérios de inclusão deste estudo. Os<br />
diagnósticos correspondentes a estes pacientes estão<br />
dispostos na Tabela 1. Nenhum paciente era portador<br />
de isomerismo atrial direito ou esquerdo.<br />
A mediana da idade na ocasião do cateterismo foi<br />
de 30 (18-48) meses. A mediana do tempo decorrido<br />
entre as datas da cirurgia cavopulmonar bidirecional<br />
e da avaliação hemodinâmica foi de 16 (6-31) meses.<br />
A Figura 1 demonstra a veia cava superior conectada<br />
TABELA 1<br />
Diagnósticos dos pacientes encaminhados ao Laboratório de Hemodinâmica<br />
Paciente Conexão AV Ventrículo Principal Conexão VA Valva Pulmonar<br />
1 DVE Direito Concordante AP<br />
2 DVE Direito Discordante ESVP<br />
3 DVE Esquerdo Concordante ESVP<br />
4 DVE Esquerdo Discordante AP<br />
DVE= Dupla Via de Entrada; AV= Átrio-Ventricular; VA= Ventrículo-Arterial; AP= Atresia Pulmonar; ESVP= Estenose Subvalvar.<br />
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à artéria pulmonar direita (cirurgia de Glenn). Nota-se<br />
a presença de um pequeno canal venoso por angiografia<br />
simples (sem oclusão com cateter-balão), sem opacificação<br />
do átrio direito ou esquerdo. Nenhum paciente<br />
apresentava sinais angiográficos de fístulas artério-venosas<br />
pulmonares.<br />
Não se detectou gradiente de pressão entre a veia<br />
cava superior e as artérias pulmonares nos pacientes<br />
estudados, excluindo-se possíveis obstruções ao nível<br />
das anastomoses cirúrgicas (Tabela 2). As pressões<br />
médias no sistema da veia cava superior variaram<br />
entre 14 e 19 mmHg, sendo o maior gradiente transpulmonar<br />
encontrado igual a 8 mmHg (paciente 1).<br />
Figura 1 - Injeção em veia inominada, demonstrando a cirurgia de<br />
Glenn. A: Veia inominada; B: Veia cava superior; C: Artéria pulmonar;<br />
D: Canal colateral venoso.<br />
TABELA 2<br />
Pressões médias (em mmHg) antes das oclusões<br />
com molas<br />
Paciente VCI VCS AP CP<br />
1 11 19 19 11<br />
2 11 15 15 11<br />
3 10 14 14 10<br />
4 10 16 16 14<br />
VCI= Veia Cava Inferior; VCS= Veia Cava Superior; AP=<br />
Artérias Pulmonares; CP= Capilar Pulmonar.<br />
Os quatro pacientes avaliados apresentavam canais<br />
colaterais venosos em diferentes posições e tamanhos,<br />
mas todos tinham origem na base da veia braquiocefálica,<br />
do lado esquerdo (Figura 2). Estes canais, interconectados<br />
pela rede de colaterais da veia hemi-ázigo<br />
e plexo para-vertebral, comunicavam o sistema da<br />
cava superior - ligado à artéria pulmonar - com o<br />
sistema da cava inferior - ainda conectado ao átrio<br />
direito (Figura 3). Nos casos um e três, o canal venoso<br />
ainda dava origem, em sua porção inicial (próxima à<br />
veia braquiocefálica), a uma colateral pequena (menor<br />
que 1mm) em cada paciente, com trajeto pericárdico<br />
e desembocadura nos respectivos seios coronários.<br />
Em nenhum havia conexão com as veias pulmonares.<br />
Apenas o paciente 3 não preencheu os critérios<br />
adotados para indicação de embolização, sendo os<br />
outros submetidos à oclusão percutânea com molas<br />
(Cook ® Embolization Coil). O número de molas utilizado,<br />
bem como seu tamanho, estão dispostos na Tabela 3.<br />
Dentre os três pacientes submetidos à embolização,<br />
o de número um era o que apresentava canais venosos<br />
Figura 2 - Canal colateral com origem no sistema cava superior.<br />
A: Veia inominada; B: Canal venoso colateral para sistema cava<br />
inferior (veia hemi-ázigus).<br />
Figura 3 - Conexão fistulosa com sistema cava inferior. A: Veias<br />
para-vertebrais; B: Veia cava inferior; C: Átrio direito.<br />
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de maior repercussão, com insaturação periférica importante<br />
por roubo de fluxo do sistema cava superior<br />
para o inferior. A Figura 4 demonstra a embolização<br />
desta colateral veno-venosa, perto do local de sua<br />
origem na base da veia braquiocefálica. Houve melhora<br />
na saturação periférica de oxigênio nos três casos<br />
(Figura 5), na reavaliação 24 horas após a oclusão<br />
percutânea. O ecocardiograma transtorácico com microbolhas<br />
foi negativo, confirmando o sucesso dos três<br />
procedimentos. Não houve modificações nas pressões<br />
TABELA 3<br />
Molas utilizadas para embolização<br />
Paciente Tamanho Número de molas<br />
1 38 x 8 x 8 1<br />
38 x 5 x 3 2<br />
2 35 x 3 x 2 2<br />
4 35 x 5 x 3 2<br />
Figura 4 - Resultado pós-embolização. A: Veia inominada; B: Fluxo<br />
pela cirurgia de Glenn; C: Canal colateral venoso, ocluído por<br />
molas de Gianturco.<br />
Figura 5 - Saturação periférica de oxigênio antes e depois das<br />
embolizações.<br />
médias da veia cava superior, artérias pulmonares ou<br />
capilares pulmonares após as oclusões.<br />
Não houve intercorrências maiores ou menores<br />
durante os cateterismos cardíacos.<br />
DISCUSSÃO<br />
O princípio fisiológico da cirurgia de Glenn é<br />
promover um fluxo pulmonar efetivo, controlado e<br />
contínuo dentro de um sistema com baixa pressão,<br />
ajudando ainda a diminuir a sobrecarga volumétrica<br />
do coração univentricular. Se este sistema não tiver<br />
obstruções, a pressão nas artérias pulmonares deve<br />
ser igual a do sistema cava superior, enquanto a pressão<br />
na veia cava inferior deve ser igual a do átrio<br />
direito (e a do átrio esquerdo, na presença de comunicação<br />
interatrial não-restritiva). Desta maneira, a presença<br />
de uma pressão média maior na veia cava superior em<br />
relação à veia pulmonar e, conseqüentemente, a existência<br />
de um gradiente de pressão transpulmonar é que<br />
permite ao organismo vencer a resistência vascular do<br />
pulmão. Habitualmente, este gradiente é inferior a<br />
10 mmHg. Valores mais elevados, geralmente, denotam<br />
um aumento da resistência vascular pulmonar e constitui-se<br />
em fator de risco para complementação para<br />
cirurgia tipo Fontan.<br />
Ainda não está claro porque alguns pacientes desenvolvem<br />
estes canais venosos e outros não. Estes vasos<br />
podem ser resultantes da dilatação ou reabertura de<br />
formações vasculares preexistentes secundárias a alterações<br />
hemodinâmicas desfavoráveis no circuito venoso,<br />
resultando na redução do fluxo sangüíneo pulmonar<br />
efetivo 9 . Tais alterações hemodinâmicas podem decorrer<br />
de uma série de problemas, a saber: coarctação<br />
da aorta, estenose subaórtica (por comunicações<br />
interventriculares restritivas em situações de discordância<br />
ventrículo-arterial), disfunção sistólica ou diastólica da<br />
câmara principal, insuficiência ou estenose da valva<br />
atrioventricular sistêmica, estenoses de veias pulmonares,<br />
aumento da resistência vascular pulmonar,<br />
estenoses de artérias pulmonares e obstruções na<br />
anastomose de Glenn.<br />
Levando em consideração que a maior parte destas<br />
colaterais pode ser simplesmente o desenvolvimento<br />
de conexões venosas que já existiam, a angiografia préoperatória<br />
com oclusão com um balão pode ser útil. A<br />
evolução clínica de alguns pacientes após a cirurgia<br />
pode refletir a recanalização destes vasos, podendo ser<br />
uma resposta aguda ou crônica a aumentos de pressão<br />
do sistema cavopulmonar. Durante a oclusão com cateterbalão,<br />
este mimetiza as possíveis elevações da pressão<br />
na veia cava superior, sendo então especialmente importante<br />
para avaliação no período pós-operatório.<br />
Alguns autores argumentam que estas fenestrações<br />
naturais poderiam funcionar como via de escape para<br />
altas pressões venosas. Porém, o desenvolvimento destas<br />
colaterais venosas ocorre às custas de aumento da<br />
cianose, aparecendo de maneira insidiosa e com conse-<br />
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qüências clínicas importantes 10 . Não há também na<br />
literatura correlação significativa entre o aparecimento<br />
dos canais com fatores angiográficos, hemodinâmicos,<br />
cirúrgicos, morfológicos ou demográficos 11 .<br />
Todos pacientes deste estudo tiveram suas veias<br />
ázigos ligadas durante a conexão cavopulmonar, como<br />
de costume. Infelizmente, não houve possibilidade de<br />
resgatar dados dos cateterismos pré-operatórios. Considerou-se<br />
que os canais venosos eram funcionalmente<br />
importantes quando havia repercussão clínica (cansaço<br />
e piora progressiva da cianose), ecocardiograma com<br />
microbolhas positivo e se, mesmo sem a angiografia<br />
seletiva ou oclusão com balão, houve enchimento dos<br />
canais venosos pelo contraste radiológico e, seqüencialmente,<br />
dos átrios direito ou esquerdo. O diâmetro máximo<br />
do canal descompressivo não foi utilizado como o<br />
critério de diferenciação entre vasos significativos e nãosignificativos,<br />
pois muitos deles eram tortuosos e variavam<br />
entre áreas de dilatação e constrição. Esta evolução<br />
clínica ocorreu em quatro (25%) de 16 seguimentos<br />
pós-operatórios, valor próximo ao de alguns da literatura 12 .<br />
Após a embolização, estes pacientes tiveram melhora<br />
clínica da queixa de cansaço e da cianose, com aumento<br />
na saturação periférica de oxigênio e prova de microbolhas<br />
negativo ao ETT. Estes fatores comprovam que,<br />
ao se fechar os canais com repercussão, interrompese<br />
o roubo de fluxo do sistema cava superior (Glenn)<br />
para o cava inferior, permitindo que haja maior aporte<br />
de fluxo sangüíneo para os pulmões, conseqüentemente,<br />
melhorando a oxigenação sangüínea.<br />
A mediana de tempo entre a cirurgia de Glenn e<br />
o diagnóstico e embolização dos canais foi de 20,5<br />
meses. Optou-se pela oclusão percutânea dos canais<br />
nestes casos antes da cirurgia de Fontan, na tentativa<br />
de se melhorar a qualidade de vida dos pacientes até<br />
a reintervenção cirúrgica, além de poder propiciar melhores<br />
condições pré-operatórias pela melhora da cianose.<br />
Há, também, referências na literatura de reabertura<br />
dos canais colaterais após a cirurgia cavopulmonar<br />
total, com conexão direta ou indireta para as veias<br />
pulmonares e, conseqüentemente, para o ventrículo<br />
principal, o que propiciaria nova piora clínica pósoperatória<br />
<strong>13</strong>,14 .<br />
CONCLUSÃO<br />
A hipótese da presença de canais colaterais venosos<br />
pode ser levantada e comprovada nos diferentes<br />
estágios de correção de cardiopatias congênitas de<br />
fisiologia univentricular, por métodos clínicos e exames<br />
complementares. A embolização percutânea com molas<br />
de Gianturco destes canais é um método seguro e<br />
eficaz de tratamento daquela complicação, propiciando<br />
melhora clínica e na qualidade de vida dos pacientes.<br />
AGRADECIMENTOS<br />
Ao Dr. Carlos Augusto Pedra, do Instituto Dante<br />
Pazzanese de Cardiologia, pela importante colaboração<br />
no levantamento bibliográfico e elaboração do trabalho.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
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2003;<strong>13</strong>:424-30.<br />
145
Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 146-152.<br />
Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 146-152.<br />
Artigo Original<br />
Stents na Circulação Pulmonar<br />
Marcelo Sabedotti 1 , Janaína Huber 1 , Nívea Maria Oliveira Guimarães 1 , Raul I. Rossi Filho 1<br />
RESUMO<br />
O tratamento das estenoses da árvore pulmonar ganhou<br />
impulso com o desenvolvimento da técnica de angioplastia<br />
com balão sustentada por stent, já no início da década de<br />
noventa. As indicações foram sendo ampliadas com o ganho<br />
de experiência dos serviços envolvidos com o tratamento<br />
destes pacientes, bem como se tornou mais fácil sua utilização<br />
com a melhoria de qualidade dos materiais utilizados. O<br />
propósito deste artigo é fazer breve revisão sobre os tipos<br />
de lesões vasculares pulmonares passíveis de tratamento<br />
intervencionista, bem como discutir indicações e aspectos<br />
técnicos do uso de stents em crianças com estenoses de<br />
ramos pulmonares. Os dados de literatura serão cotejados<br />
com nossa experiência com esta técnica em pacientes<br />
tratados no Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul.<br />
DESCRITORES: Artéria pulmonar, patologia. Estenose da<br />
valva pulmonar, terapia. Contenedores.<br />
SUMMARY<br />
Stents in Pulmonary Circulation<br />
The treatment for pulmonary artery stenosis was boosted<br />
with the introduction of stent-supported balloon angioplasty<br />
in the early nineties. Indications have been expanded with<br />
the experience gained from services involved while using<br />
the technique. Improved materials made available also<br />
made its use easier. The purpose of this article is to review<br />
the types of pulmonary vascular lesions that can be treated<br />
interventionally, as well as discuss indications and technical<br />
aspects for use in children with pulmonary branch stenosis.<br />
The experience gained from the technique used in patients<br />
at the Cardiology Institute in Rio Grande do Sul State will<br />
be compared with literature data.<br />
DESCRIPTORS: Pulmonary artery, pathology. Pulmonary<br />
valve stenosis, therapy. Stents.<br />
Aestenose de artéria pulmonar e ramos (EAPR)<br />
ocorre em 2 a 3% dos pacientes com cardiopatias<br />
congênitas, podendo ser isolada, em associação<br />
com outras doenças ou mesmo adquirida 1-5 . As doenças<br />
cardíacas congênitas associadas incluem estenose de<br />
valva pulmonar, comunicação interatrial, comunicação<br />
interventricular, persistência do ducto arterial e tetralogia<br />
de Fallot, entre outras. Além disso, a estenose da artéria<br />
pulmonar esquerda pode se desenvolver pelo fechamento<br />
do ducto arterioso, com ou sem outras má<br />
formações associadas, sugerindo que a invasão por<br />
tecido ductal, similarmente à coarctação de aorta, seja<br />
o mecanismo responsável 6 . Lesões adquiridas ocorrem<br />
com certa freqüência seguindo intervenções cirúrgicas<br />
reparativas ou paliativas, entre elas shunts sistêmicopulmonares,<br />
bandagem pulmonar, cirurgias para unifocalização<br />
da suplência pulmonar na presença de atresia<br />
pulmonar com septo aberto, correção de transposição<br />
de grandes vasos e paliações em pacientes com ventrículo<br />
único.<br />
1<br />
Serviço de Cardiologia Intervencionista em Cardiopatias Congênitas<br />
do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul, RS.<br />
Correspondência: Raul I. Rossi Filho. Av. Dr. Nilo Peçanha, 396/1003<br />
- Porto Alegre, RS - CEP 90470-000<br />
E-mail: rrossi.voy@terra.com.br<br />
Recebido em: 14/02/2006 • Aceito em: 03/03/2006<br />
Quanto à localização, a EAPR pode ser dividida<br />
em quatro tipos 7 (Figura 1):<br />
• Tipo I: constrição simples com variado comprimento,<br />
confinada ao tronco e ramos pulmonares<br />
direito e esquerdo;<br />
• Tipo II: estenose na bifurcação da artéria pulmonar,<br />
com envolvimento da parte distal do tronco<br />
da artéria pulmonar e origem dos ramos direito<br />
e esquerdo, podendo ser localizada ou de um<br />
longo segmento;<br />
• Tipo III: estenose de múltiplas artérias pulmonares<br />
segmentares no seu óstio, com dilatação pósestenótica<br />
proeminente e tronco e ramos pulmonares<br />
proximais normais;<br />
• Tipo IV: múltiplas estenoses envolvendo segmentos<br />
periféricos e artérias pulmonares centrais.<br />
O tratamento de estenose ou hipoplasia de artéria<br />
pulmonar com balão tem resultados variados na literatura,<br />
com a média de sucesso entre 50% e 60% 1-5 .<br />
As indicações de angioplastia são sumarizadas no<br />
Quadro 1.<br />
A falha na angioplastia isolada, assim como acontece<br />
na circulação coronariana, se deve principalmente<br />
146
Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 146-152.<br />
de escolha para estenose ou hipoplasia de artéria e<br />
ramos pulmonares 6-30 . Vale a pena comentar que o<br />
tratamento cirúrgico para estenose de artéria pulmonar<br />
tem resultados desanimadores, principalmente pelas<br />
dificuldades técnicas da cirurgia em ramos pequenos<br />
e em pacientes de baixo peso, bem como pela alta<br />
prevalência de reestenose cicatricial.<br />
Entretanto, existem certas lesões, como a estenose<br />
pulmonar supravalvar e da bifurcação da artéria pulmonar,<br />
nas quais, levando-se em conta as características<br />
do paciente (tamanho ou doença associada), pode-se<br />
dar preferência ao tratamento cirúrgico. Em situações<br />
de alto risco para o desenvolvimento de estenose de<br />
artéria pulmonar pós-operatória, tais como recém-nascidos<br />
de baixo peso com ramos pulmonares hipoplásicos<br />
após procedimento conotruncal, após ligação ductal e<br />
arteriotomia pulmonar em qualquer sítio, o tratamento<br />
combinado de cirurgia e stents parece ser a melhor<br />
escolha 29,30 .<br />
O objetivo deste trabalho é descrever, sumariamente,<br />
a técnica para implante de stents na circulação<br />
pulmonar, mostrar a nossa experiência com a angioplastia<br />
nesta doença arterial e revisar os principais artigos<br />
publicados sobre o assunto.<br />
MÉTODO<br />
Figura 1 - Tipos de estenose pulmonar. Compilado de Gay et al. 7 .<br />
QUADRO 1<br />
Indicações de angioplastia de artéria pulmonar<br />
1) Estenose central discreta ou subsegmentar da artéria<br />
pulmonar com:<br />
• Hipertensão do ventrículo direito<br />
• Assimetria do fluxo pulmonar<br />
2) Hipoplasia generalizada das artérias pulmonares com:<br />
• Hipertensão do ventrículo direito<br />
• Assimetria do fluxo pulmonar<br />
3) Estenose, hipoplasia ou distorção da artéria pulmonar<br />
em pacientes com paliação para ventrículo único<br />
Adaptado de Trivedi et al. 29 .<br />
ao recuo elástico após a dilatação 1-5 . Desta hipótese<br />
surgiu a idéia de que o tratamento com stents seria<br />
uma opção melhor, fato comprovado por estudos realizados<br />
em vários centros e que documentaram a efetividade<br />
desta prática na circulação pulmonar. A angioplastia<br />
pulmonar suportada por stents é hoje o tratamento<br />
A via de acesso mais utilizada para intervenção<br />
nas artérias pulmonares são as veias femorais, mas<br />
pode também ser realizada pelas veias subclávia e<br />
jugular interna ou, ainda, pelas artérias femorais, em<br />
pacientes com shunts sistêmico-pulmonares. Após obtenção<br />
de acesso venoso, um cateter pigtail é posicionado<br />
na aorta para monitorizar a pressão arterial. As medidas<br />
hemodinâmicas do lado direito são realizadas e a<br />
magnitude e localização dos gradientes nas artérias<br />
pulmonares são determinadas, idealmente com cateter<br />
de furo terminal. Arteriografias pulmonares são obtidas<br />
seletivamente em projeções ântero-posterior e lateral,<br />
com a obliqüidade necessária para perfilar adequadamente<br />
a lesão a ser tratada.<br />
A intervenção, em nossa opinião, deve ser sempre<br />
realizada sob anestesia geral, sendo o paciente anticoagulado<br />
com 100u/kg de heparina, mantendo um TCA<br />
de 200s a 250s. Cefazolina profilática é administrada<br />
antes da intervenção e mantida por 24 horas. Todos<br />
pacientes recebem ácido acetilsalicílico antes do procedimento<br />
e após por, pelo menos, 12 meses.<br />
Em alguns pacientes, a lesão é pré-dilatada com<br />
balão antes do implante do stent. Isso permite a determinação<br />
da expansibilidade do balão e previsão da<br />
eventual eficácia do método. Também serve para determinar<br />
o melhor diâmetro, comprimento e localização<br />
do stent.<br />
Em estenoses não críticas, a dilatação primária é<br />
aconselhável, pois o local de menor diâmetro serve<br />
para “ancorar” o stent, durante a inflação do balão.<br />
147
Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 146-152.<br />
O stent é manualmente de diâmetro montado sobre<br />
um balão de diâmetro apropriado. Uma bainha longa<br />
(Mullins) é utilizada para proteger o stent enquanto se<br />
ultrapassa a lesão. Duas técnicas podem ser utilizadas.<br />
Na primeira, a bainha longa é posicionada através da<br />
lesão e o stent montado sobre o balão é avançado<br />
através da bainha. Na segunda técnica, o stent montado<br />
é avançado até a parte distal da bainha, fora do<br />
paciente, e o sistema é avançado sobre a guia. A<br />
última técnica tem duas vantagens; ela elimina o problema<br />
de avançar o stent sobre os kinks que podem se<br />
desenvolver no caminho e permite o uso de bainhas<br />
menores, vital em lactentes pequenos. O tamanho da<br />
bainha pode variar de 7F a 12F, dependendo do stent<br />
utilizado, sendo que para sua escolha, deve-se tomar<br />
a medida do shaft do balão e adicionar-se 2F. Quando<br />
o stent está adequadamente posicionado, o que é<br />
visualizado através de injeções manuais de contraste,<br />
a bainha é tracionada e o balão expandido. As medidas<br />
hemodinâmicas e as angiografias são repetidas após a<br />
liberação do stent.<br />
RESULTADOS<br />
Entre junho de 1996 e novembro de 2002, 75<br />
stents foram implantados em 66 pacientes, no Instituto<br />
de Cardiologia do Rio Grande do Sul. A idade média<br />
foi de 7 anos (0,1 a 20 anos). A grande maioria dos<br />
pacientes (93,9%) havia sido submetida a cirurgia prévia,<br />
sendo que em 63,6% a cirurgia fora realizada no local<br />
da lesão. As características do procedimento e das doenças<br />
associadas estão sumarizadas nas Tabelas 1 e 2.<br />
Estão incluídos, neste grupo de pacientes, stents<br />
isolados para os ramos (Figura 2), stents telescopados,<br />
implantes bilaterais seqüenciais e tratamento da bifurcação<br />
pela técnica de kissing stents. A grande maioria<br />
TABELA 1<br />
Características do procedimento,<br />
casuística do Instituto de Cardiologia do RS<br />
Ramo pulmonar esquerdo 43 (56,9%)<br />
Ramo pulmonar direito 11 (<strong>13</strong>,8%)<br />
Dois ramos pulmonares 7 (8,6%)<br />
Kissing stents 6 (6,9%)<br />
Dois stents no ramo pulmonar esquerdo 2 (3,4%)<br />
Dois stents no ramo pulmonar direito 1 (1,7%)<br />
Anastomose entre AD e AP 2 (3,4%)<br />
Tubo entre VD e AP 1 (1,7%)<br />
Via saída VD 2 (3,4%)<br />
Stent sobre stent fraturado 1 (1,7%)<br />
Cirurgia prévia 62 (93,9%)<br />
Cirurgia prévia no local da lesão 47 (63,6%)<br />
AD: Átrio direito; AP: Artéria pulmonar; VD: Ventrículo direito.<br />
dos pacientes recebeu stents passíveis de redilatação<br />
futura até tamanho compatível com a idade adulta<br />
(Figura 3), embora vários lactentes pequenos, em situação<br />
de urgência ou pelo seu pequeno tamanho e com<br />
risco de perda de leito vascular pulmonar, tenham<br />
sido submetidos ao implante de stents pré-montados,<br />
que terão que ser retirados cirurgicamente no futuro.<br />
Um grupo interessante desta população é a dos<br />
seis pacientes em pós-operatório imediato de cirurgia<br />
de Fontan, acompanhada de estenose grave pós-ampliação<br />
de ramo pulmonar. Essas crianças, pelas características<br />
deste tipo de circulação, encontravam-se criticamente<br />
doentes e foram tratadas com reperfusão pulmonar<br />
com stent, horas após a operação (Figuras 4 e 5).<br />
Se observarmos a complexidade anatômica da circulação<br />
pulmonar do grupo estudado e o estado clínico<br />
de muitos dos pacientes, chega a ser surpreendente<br />
o pequeno número de complicações ocorridas.<br />
Ocorreram dois casos de embolização do stent<br />
para artérias pulmonares mais distais, sendo que em<br />
um deles foi realizada cirurgia para retirada do stent<br />
e realização de plastia no ramo pulmonar. No outro<br />
paciente, o stent foi deixado na artéria do lobo inferior<br />
esquerdo, sem complicações tardias. Houve uma fratura<br />
de stent em lactente com estenose de ramo esquerdo<br />
e em pós-operatório de cirurgia de Glenn, sendo necessário<br />
implante de um novo stent através dele. Houve<br />
um caso de edema agudo de pulmão ipsilateral ao<br />
ramo em que foi implantado o stent, provavelmente<br />
por lesão tipo reperfusão, que melhorou com 48 horas<br />
de ventilação mecânica.<br />
TABELA 2<br />
Doenças associadas, casuística do<br />
Instituto de Cardiologia do RS<br />
Tetralogia de Fallot 24 (36,3%)<br />
Atresia pulmonar com CIV 9 (<strong>13</strong>,6%)<br />
Transposição de grandes vasos 8 (12,1%)<br />
Estenose de ramos pulmonares isolada 5 (7,6%)<br />
Atresia tricúspide 4 (6,0%)<br />
Dupla via de entrada para VE 4 (6,0%)<br />
Atresia pulmonar com septo íntegro 3 (4,5%)<br />
Truncus arteriosus 2 (3,0%)<br />
Dupla via de saída VD 2 (3,0%)<br />
Estenose supravalvar aórtica 1 (1,5%)<br />
Dupla via de entrada para VE com 1 (1,5%)<br />
valva AV comum<br />
CIV 2 (3,0%)<br />
CIV e coarctação de aorta 1 (1,5%)<br />
CIV: Comunicação interventricular; VE: Ventrículo esquerdo;<br />
VD: Ventrículo direito; AV: atrioventricular.<br />
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Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 146-152.<br />
Figura 2 - Seqüência de imagens do implante de stent de 30 mm em lesão ostial do ramo direito.<br />
Figura 3 - Resultado imediato de dilatação suportada por stent do ramo esquerdo. A paciente pesava 8 kg e já havia sido submetida à ampliação<br />
cirúrgica do local, bem como à dilatação com balão.<br />
O tempo médio de seguimento deste grupo de<br />
pacientes foi de 45 meses (4 a 156 meses), sendo que<br />
neste período 54,5% dos pacientes permaneceram assintomáticos<br />
ou pouco sintomáticos, 6% foram a óbito e<br />
4,6% estão aguardando implante de stent no outro<br />
ramo pulmonar. Houve perda de seguimento de 24,2%<br />
dos pacientes. Quanto aos quatro óbitos, 2 ocorreram<br />
no período imediato após o implante do stent devido<br />
à urgência do caso e instabilidade hemodinâmica antes<br />
do procedimento (ambos pacientes em pós-operatório<br />
imediato de Fontan, com oclusão subtotal do ramo<br />
esquerdo), um após cirurgia de Fontan (18 meses após<br />
o implante do stent) e um durante cirurgia de unifocalização<br />
de colaterais sistêmico-pulmonares.<br />
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Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 146-152.<br />
Figura 4 - Paciente em período pós-operatório imediato de cirurgia de Fontan, com oclusão aguda do ramo esquerdo. A seqüência mostra que,<br />
após perfuração da estenose, a lesão foi pré-dilatada com balão de ACTP. Imediatamente após, balão de alta pressão com stent refaz a perfusão<br />
do pulmão esquerdo.<br />
Figura 5 - Suboclusão do ramo pulmonar direito, excluindo hemodinamicamente o pulmão esquerdo em paciente submetida à cirugia de Glenn.<br />
O implante de stent curto permitiu adequada reperfusão, sem ocasionar distorção do ramo.<br />
DISCUSSÃO<br />
Angioplastia de artéria pulmonar e ramos com<br />
stent foi primeiramente estudada em animais 8,9 . Em<br />
1988, Mullins et al. 8 descreveram os resultados imediatos<br />
e a curto prazo de <strong>13</strong> tentativas de implante de stents<br />
expandidos com balão na circulação pulmonar normal<br />
de cães. Onze stents foram implantados com sucesso,<br />
enquanto que os outros embolizaram para o leito distal.<br />
O seguimento angiográfico foi realizado entre 2 e 9<br />
meses, mostrando a patência dos stents. A avaliação<br />
histológica de 4 artérias pulmonares deste estudo documentou<br />
a cobertura neointimal total dos stents, não<br />
havendo relato de trombose pulmonar. Mais recentemente,<br />
stents expandidos com balão foram testados<br />
em modelos animais de estenose de artéria pulmonar<br />
10,11 . Em 1991, Benson et al. 10 utilizaram stents expandidos<br />
com balão (Palmaz P-308; Johnson & Johnson,<br />
Warren, NJ) na artéria pulmonar esquerda de 9 porcos<br />
com estenose de artéria pulmonar criada cirurgicamente.<br />
O seguimento angiográfico foi realizado entre 3 semanas<br />
e 4 meses e não foi observado reestenose, trombose,<br />
formação aneurismática ou oclusão de ramos pulmo-<br />
150
Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 146-152.<br />
nares laterais. A avaliação histológica, realizada em<br />
média 3 meses após o implante, mostrou uma cobertura<br />
total da malha do stent pela neoíntima.<br />
Uma situação que deve ser considerada em crianças,<br />
quando pensamos em utilizar stents na circulação pulmonar,<br />
é o crescimento corporal. Em 1996, Mendelshon<br />
et al. 12 estudaram a exeqüibilidade e a efetividade da<br />
redilatação dos stents em um modelo experimental de<br />
estenose da artéria pulmonar esquerda. Seis cães entre<br />
3 e 4 meses foram submetidos ao implante de stent<br />
(Palmaz P-308), utilizando um balão de 8 a 10mm de<br />
diâmetro, no sítio de uma estenose de artéria pulmonar<br />
cirurgicamente criada. Após 4 meses do implante dos<br />
stents, quando o peso dos animais aumentou em média<br />
54%, os stents foram redilatados com balão 12mm.<br />
Novo estudo angiográfico realizado 1 mês após a redilatação<br />
dos 4 animais mostrou uma camada neoíntima<br />
preservada sem reestenose, formação aneurismática<br />
ou trombose.<br />
A maioria dos estudos clínicos também utilizou<br />
os stents Palmaz P-308 ou P-204 <strong>13</strong>-20 . Em 1991, O’Laughlin<br />
et al. <strong>13</strong> descreveram os resultados imediatos e a<br />
curto prazo de 31 implantes de stent, em 23 pacientes<br />
com estenose de artéria pulmonar. O diâmetro da<br />
artéria tratada aumentou de 4,6 para 10,9mm, em<br />
média e o gradiente translesão caiu, em média, de 51<br />
para 16mmHg. Cintilografia de perfusão pulmonar foi<br />
realizada, antes e após o procedimento, em 11 pacientes,<br />
evidenciando um aumento médio da perfusão do pulmão<br />
ipsilateral de 26% para 48%. O seguimento angiográfico<br />
foi realizado em 6 pacientes, entre 3 e 9 meses após<br />
o procedimento, demonstrando nenhuma trombose,<br />
reestenose ou formação aneurismática. Em 1993, o<br />
mesmo autor coordenou um estudo multicêntrico de<br />
implante de stents na população pediátrica 16 . Em 85<br />
pacientes, foram implantados 121 stents Palmaz, sendo<br />
80 na circulação pulmonar. Os pacientes tinham idade<br />
entre 1,2 e 36 anos e o diagnóstico mais comum foi<br />
reparo no pós-operatório de tetralogia de Fallot. O<br />
estudo demonstrou uma substancial melhora dos resultados<br />
em relação a estudos similares que utilizaram<br />
somente balão. Nesta série, os stents resultaram em<br />
um aumento no diâmetro da artéria pulmonar de 4,6<br />
a 11,3mm em média, com imediata melhora hemodinâmica<br />
e queda na pressão sistólica do ventrículo<br />
direito. O seguimento angiográfico foi realizado em 25<br />
pacientes em 8 meses. Reestenose foi diagnosticada<br />
em 1 paciente e ocorreu em um pequeno segmento<br />
da artéria pulmonar direita entre dois stents. Em 2001,<br />
McMahon et al. 21 publicaram um estudo sobre a incidência<br />
e fatores de risco para reestenose intra-stent<br />
em doenças cardíacas congênitas. Entre os 220 pacientes<br />
com seguimento angiográfico médio de 3,8 anos, 67<br />
foram redilatados por crescimento da criança e somente<br />
9 por reestenose. Não foi relatada nenhuma complicação<br />
por ocasião da reintervenção. Em 2002, Zahn<br />
et al. 30 estudaram a segurança e eficácia da angioplastia<br />
no pós-operatório imediato de correção de cardiopatias<br />
congênitas. Neste estudo, 62 pacientes com idade entre<br />
2 e 11 anos foram submetidos a 66 cateterismos, entre<br />
0 e 42 dias do pós-operatório (média de 9 dias),<br />
sendo que em 35 casos foram realizados 50 procedimentos<br />
intervencionistas. O sucesso de colocação de stent<br />
foi de 87%, sendo que angioplastia com envolvimento<br />
do sítio de sutura cirúrgica foi realizada em 26 pacientes,<br />
sem qualquer relato de complicação.<br />
CONCLUSÃO<br />
Estudos experimentais e clínicos de vários centros,<br />
bem como nossa experiência institucional, demonstram<br />
que o implante de stents na circulação pulmonar<br />
é o tratamento mais efetivo para estenose ou hipoplasia<br />
de artéria e ramos pulmonares.<br />
Cuidado especial deve ser tomado frente à decisão<br />
de implantar stents em pacientes pequenos, pois será<br />
necessária redilatação futura, procedimento habitualmente<br />
associado a alto grau de dificuldade técnica. Por outro<br />
lado, é melhor termos que lidar com um caso difícil no<br />
futuro, mas que tenha artéria aberta para ser tratada.<br />
O desenvolvimento de novos materiais, como os<br />
stents biodegradáveis x dilatáveis de 4 a 18 mm, pode<br />
aumentar a indicação e a margem de segurança para<br />
este grupo de pacientes.<br />
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Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 153-166.<br />
Neves J, et al. Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 153-166.<br />
Artigo de Revisão<br />
Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta<br />
Juliana Neves 1 , Vinícius Fraga 1 , Roberto Silva 1 , Carlo B. Pilla 1,2 , César A. Esteves 1 ,<br />
Sérgio L. N. Braga 1 , Gilberto Nunes 1,2 , Valmir F. Fontes 1 , Carlos A. C. Pedra 1<br />
RESUMO<br />
A correção cirúrgica sempre foi a terapêutica de escolha<br />
para a coarctação da aorta, uma das cardiopatias congênitas<br />
mais freqüentes. Como uma forma de tratamento menos<br />
invasiva, a aortoplastia com balão surgiu como alternativa<br />
à cirurgia, mas não atingiu ampla aceitação devido aos<br />
índices de reestenose secundária ao recolhimento vascular<br />
e discussões sobre possíveis lesões à parede vascular, resultando<br />
em formação de aneurismas. Para lidar com estes problemas,<br />
os stents endovasculares foram adicionados às possibilidades<br />
terapêuticas desta má formação. Os resultados a<br />
curto e médio prazo são encorajadores, com baixas taxas<br />
de reestenose e complicações. Neste artigo, os autores<br />
revisam as principais evidências atuais do implante de<br />
stent para a coarctação da aorta, apresentam sua própria<br />
experiência e discutem as futuras possibilidades nesta área.<br />
DESCRITORES: Coartação aórtica. Conectores. Angioplastia<br />
com balão. Cardiopatias congênitas.<br />
SUMMARY<br />
The Use of Stents in the Treatment of<br />
Coarctation of the Aorta<br />
Surgery has been the traditional treatment for native coarctation<br />
of the aorta, one of the most common cardiovascular<br />
congenital malformations. As a less invasive mode of treatment,<br />
balloon aortoplasty has emerged as an alternative to surgery<br />
but has not gained universal acceptance due to its rates of<br />
restenosis secondary to vessel recoil and concerns over<br />
aortic wall injury resulting in aneurysm formation. To overcome<br />
these problems, endovascular stents were introduced in<br />
the management of this condition. The early and mid term<br />
results are encouraging, with low rates of restenosis and<br />
complications. In this paper, the authors review the current<br />
available evidence on coarctation stenting, present their<br />
own experience and discuss future trends in this area.<br />
DESCRIPTORS: Aortic coarctation. Stents. Angioplasty, balloon.<br />
Heart defects, congenital.<br />
Acoarctação da aorta (CoA) é responsável por 6-<br />
8% dos nascidos-vivos com cardiopatia congênita<br />
1,2 . Naqueles pacientes que se apresentam após<br />
a infância, a lesão caracteriza-se por um estreitamento<br />
localizado e excêntrico da aorta descendente proximal,<br />
próximo à extremidade aórtica do canal arterial ou<br />
ligamento arterioso 3-6 (Figura 1). Sua principal conseqüência<br />
hemodinâmica é a obstrução ao fluxo sangüíneo,<br />
o que determina aumento da pós-carga do ventrículo<br />
esquerdo, assim como hipertensão nos vasos da cabeça<br />
e pescoço.<br />
Se não tratada, a CoA tem mau prognóstico, com<br />
a maioria dos pacientes morrendo antes dos 40 anos<br />
de vida devido a insuficiência cardíaca, endocardite<br />
bacteriana, acidente vascular cerebral e doença coronariana<br />
precoce 7,8 . O tratamento cirúrgico tradicionalmente<br />
é a opção terapêutica escolhida, com relatos de<br />
1<br />
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP.<br />
2<br />
Hospital São Francisco, Santa Casa de Porto Alegre, RS.<br />
Correspondência: Carlos A. C. Pedra. Instituto Dante Pazzanese de<br />
Cardiologia. Av. Dr. Dante Pazzanese, 500 - São Paulo, SP, Brasil -<br />
CEP 04012-180 - Tel.: (11) 5085-4114 - E-mail: carlosacpedra@hotmail.com<br />
Recebido em: 01/02/2006 • Aceito em: 24/02/2006<br />
boa evolução a longo prazo 5,8,9 . Embora a correção<br />
cirúrgica melhore a história natural da doença e auxilie<br />
no controle da hipertensão, há morbidade imediata<br />
significativa devido a dor no pós-operatório, sangramento<br />
e hipertensão paradoxal 5 , particularmente na população<br />
adulta. Além disto, reestenose e formação de aneurismas<br />
têm sido descritas no seguimento, com índices variáveis 8 .<br />
O desejo de reduzir a morbi-mortalidade associada<br />
ao procedimento cirúrgico motivou as primeiras<br />
tentativas de terapia percutânea para a CoA. A primeira<br />
dilatação com balão da CoA post mortem foi descrita<br />
por Sos et al. 10 , em 1979. Desde então, vários estudos<br />
descreveram os resultados da aortoplastia com balão<br />
na CoA nativa e pós-cirúrgica 11-19 . Embora resultados<br />
imediatos satisfatórios tenham sido relatados, receios<br />
sobre a evolução em longo prazo persistiram, incluindo<br />
os riscos para recorrência da coarctação, formação de<br />
aneurisma e dissecção aórtica 11,20-22 . Os stents foram<br />
introduzidos, no início da década de 90, como terapia<br />
adjunta à aortoplastia com balão para tentar solucionar<br />
estes problemas 23,24 . Neste artigo, os autores revisam a<br />
literatura atual disponível sobre o implante de stent<br />
para a CoA, relatam sua própria experiência e discutem<br />
as futuras tendências nesta área.<br />
153
Neves J, et al. Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 153-166.<br />
Figura 1 - Coarctação da aorta em paciente adolescente. O arco<br />
e o istmo têm diâmetro conservado. A lesão é localizada e notase<br />
prateleira posterior conferindo um aspecto assimétrico à lesão.<br />
STENTS<br />
Os stents são implantes tubulares feitos de ligas<br />
metálicas (aço inoxidável 316 L, cobalto, platina, titânio,<br />
titânio-níquel), biocompatíveis e resistentes à corrosão e<br />
fraturas. Atuam primariamente evitando o colapso vascular,<br />
funcionando como suporte à parede do vaso 25-27 .<br />
No caso do stent balão-expansível, as forças radiais do<br />
balão são dispersas em áreas maiores, promovendo a<br />
aposição da íntima vascular à média durante o implante.<br />
Esse feito, provavelmente, minimiza a extensão das<br />
lesões vasculares, controlando pequenas dissecções e<br />
reduzindo o risco de formação de aneurismas 25-27 .<br />
O stent ideal deve ser flexível, ter baixo perfil e<br />
grande força radial. Bordas arredondadas são também<br />
desejadas para prevenir injúria da parede vascular e<br />
ruptura do balão. Deve ser longo o suficiente para<br />
cobrir a lesão (30-60 mm), altamente resistível a fraturas<br />
secundárias à fadiga, bem visível à fluoroscopia e sofrer<br />
encurtamento mínimo após a expansão 25,27 . Além do<br />
mais, deve ser expansível até 18-25 mm em diâmetro,<br />
tamanho normal da aorta ao nível do diafragma em<br />
adultos. Infelizmente, nenhum stent disponível atualmente<br />
no mercado tem todas estas características. Os stents<br />
balão-expansíveis são os mais utilizados para o tratamento<br />
da CoA. O mais comum deles, o Palmaz ® grande<br />
(30 mm) e extra-grande (40 e 50 mm), é composto de<br />
aço inoxidável (Cordis, Johnson & Johnson Interventions,<br />
NJ, USA). Têm força radial adequada e são altamente<br />
resistentes à fadiga. Entretanto, são extremamente rígidos,<br />
o que dificulta sua navegabilidade em vasos tortuosos,<br />
o que não chega a ser problemático nos casos de<br />
CoA. Além disto, apresentam encurtamento significativo<br />
e bordas pontiagudas, o que tem feito alguns<br />
pesquisadores explorarem novas endopróteses para o<br />
tratamento da CoA 25,27 . Uma delas é o stent Cheatham-<br />
Platinum ® - CP - (Numed, NY, USA) de liga de platina<br />
(90%) e iridium (10%), com estrutura arranjada em<br />
padrão de “zig-zag” 28,29 . Próteses com oito “zig-zags”<br />
são capazes de expandir até 25 mm se necessário, e<br />
aquelas com 34-45 mm de comprimento promovem<br />
cobertura adequada em casos de CoA. São compatíveis<br />
com ressonância magnética e mais visíveis à fluoroscopia.<br />
O CP tem encurtamento menor que o Palmaz após<br />
expansão (Figura 2), é discretamente mais flexível e<br />
possui bordas arredondadas. Embora experiências in<br />
vitro tenham sugerido boa força radial e ótima resistência<br />
à fadiga, a ocorrência de fraturas localizadas ou circunferenciais<br />
com este stent no seguimento tem sido<br />
bem documentada em ensaios clínicos 30,31 . Recentemente,<br />
os Palmaz ® grandes (série P8) foram substituídos<br />
pelo Genesis ® (Cordis, Johnson & Johnson Interventions,<br />
NJ, USA), que também vem sendo usado para tratamento<br />
da CoA 32 . São mais flexíveis devido ao seu desenho<br />
do sistema de articulações, embora existam discussões<br />
a respeito de sua força radial e resistência à fratura<br />
quando expandido aos grandes diâmetros da aorta.<br />
Outras endopróteses balão-expansíveis têm sido<br />
utilizadas para o tratamento da CoA. O Max LD ® (EV3,<br />
MN, USA), com 36 mm de comprimento, composto de<br />
aço inoxidável, tem desenho de células abertas, o que<br />
propicia maior flexibilidade e diminui o risco de oclusão<br />
de ramos adjacentes 25 . Quando expandido de forma<br />
estagiada, com balões de diâmetros progressivamente<br />
maiores, apresenta encurtamento mínimo. Entretanto,<br />
ainda não há seguimento a longo prazo deste stent,<br />
sendo questionada a sua resistência quando expandido<br />
a diâmetros de 20-25 mm na aorta. Além disto, balões<br />
de alto perfil (>9F) são necessários para sua liberação<br />
e, como não é altamente radiopaco, a proliferação<br />
neointimal não pode ser bem avaliada na evolução.<br />
Figura 2 - Na porção superior da figura, encontra-se o stent Palmaz<br />
4014 e na inferior, o stent CP. Após expansão dos stents até 20 mm,<br />
o encurtamento é visivelmente menor no stent CP. Ver texto para<br />
maiores detalhes.<br />
154
Neves J, et al. Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 153-166.<br />
Stents cobertos balão-expansíveis e auto-expansíveis<br />
também vêm sendo utilizados no manejo da CoA 30,31,33-35 .<br />
A cobertura pode ser de vários tipos e materiais (Dacron<br />
® , politetrafluoroetileno - PTFE). Sua função é excluir<br />
aneurismas ou dissecções e ocluir vasos adjacentes<br />
não desejados. O stent CP balão-expansível (Numed,<br />
NY, USA) é coberto com fina membrana expansível de<br />
ePTFE, aderida por fora ao stent por adesivos biodegradáveis<br />
29 (Figura 3). O stent de aço inoxidável autoexpansível<br />
Braile (Braile Biomédica, São José do Rio<br />
Preto, Brasil) também vem sendo utilizado pelos autores<br />
31,36,37 (Figura 3). Ambos são particularmente úteis<br />
nos seguintes casos:<br />
• Obstrução crítica, definida como diâmetro mínimo<br />
ao nível da CoA menor que 3 mm na angiografia;<br />
• CoA associada a atresia do lúmen aórtico (CoA<br />
em “fundo-cego”);<br />
• CoA associada a canal arterial patente;<br />
• CoA associada a alterações degenerativas da parede<br />
aórtica, sugeridas pela presença de aorta<br />
ascendente, descendente e/ou arco transverso<br />
aneurismáticos;<br />
• CoA em pacientes com idade acima de 30-40 anos;<br />
• Formação de aneurismas após implante de stents<br />
convencionais, detectados agudamente (como<br />
medida de “salvamento”) ou no seguimento;<br />
• Presença de fraturas circunferenciais em prótese<br />
implantada previamente na aorta, com desalinhamento<br />
entre as porções proximal e distal e/ou<br />
protrusão de partes do stent na parede aórtica<br />
detectados no seguimento em angiografias e/ou<br />
estudos por ressonância magnética ou tomografia<br />
computadorizada 31 .<br />
Como estas próteses cobertas necessitam de bainhas<br />
maiores para o implante e algumas não permitem<br />
expansões seqüenciais no seguimento (auto-expansíveis),<br />
sua aplicação em pacientes menores e em crescimento<br />
é limitada. Do ponto de vista de segurança, a principal<br />
preocupação no uso deste material na aorta é a oclusão<br />
de ramos colaterais, especialmente da artéria espinhal,<br />
Figura 3 - Nota-se, à esquerda, o stent CP coberto com Goretex<br />
e, à direita, a endoprótese da Braile. Ver texto para maior detalhamento.<br />
resultando em paraplegia ou paraparesia. Esta complicação<br />
é provavelmente rara quando o segmento coberto<br />
é curto e limitado à aorta torácica. Evitar o território<br />
aórtico abaixo da nona vértebra torácica é fundamental<br />
para minimizar o risco deste evento catastrófico, já que<br />
a artéria espinhal geralmente origina-se abaixo deste<br />
ponto. Adicionalmente, as próteses cobertas são menos<br />
toleradas que as convencionais quando ocorre migração<br />
distal. Deve-se, portanto, evitar seu implante em<br />
locais que podem obstruir a origem de vasos, como as<br />
artérias mesentéricas ou renais na aorta abdominal.<br />
ESTUDOS EXPERIMENTAIS COM STENTS NA<br />
AORTA<br />
Vários artigos reportaram o sucesso do uso de stents<br />
em estudos experimentais de CoA em animais 38-41 . Em<br />
indivíduos em crescimento, entretanto, há a preocupação<br />
de causar uma estenose adquirida devido ao diâmetro<br />
fixo da prótese. Neste sentido, a possibilidade<br />
de reexpansão do stent sem lesão significativa à parede<br />
vascular foi demonstrada em porcos 39,42 . Mendelsohn<br />
et al. 40 descreveram ruptura aórtica após a redilatação<br />
de stents, mas animais mais jovens foram utilizados<br />
neste estudo. Evitando-se o uso em pacientes jovens,<br />
o implante de stent em indivíduos adultos é atrativo,<br />
já que é improvável que novas intervenções sejam<br />
necessárias no seguimento.<br />
INDICAÇÕES NA PRÁTICA CLÍNICA<br />
Em pacientes com CoA nativa ou recorrente, é<br />
geralmente aceito que o alívio da obstrução está indicado<br />
na presença de gradiente entre membros superiores<br />
e inferiores de mais de 20 mmHg 3 . Entretanto, alguns<br />
autores sugerem que mesmo obstruções mais discretas,<br />
com gradientes sistólicos menores que 20 mmHg, devam<br />
ser eliminados para evitar disfunção ventricular esquerda<br />
tardia e insuficiência cardíaca 43,44 . Justifica-se tal conduta<br />
especialmente quando há hipertensão arterial sistêmica<br />
em repouso ou resposta pressórica anormal ao exercício<br />
ou disfunção ventricular já instalada.<br />
Em muitos centros, o tratamento cirúrgico continua<br />
sendo a terapêutica de escolha para a CoA nativa,<br />
especialmente em pacientes abaixo de 1 ano de idade 5 .<br />
A aortoplastia com balão para CoA nativa é objeto de<br />
debate e sua aplicação depende de preferências institucionais.<br />
Na re-coarctação pós-cirúrgica, a aplicação<br />
desta técnica é de escolha e não traz controvérsias 45,46 .<br />
O uso dos stents como próteses endovasculares<br />
vem ganhando aceitação progressiva, principalmente<br />
em pacientes adultos, já que soluciona o problema da<br />
re-estenose devido ao recolhimento vascular e, teoricamente,<br />
minimiza os riscos de ruptura aórtica aguda<br />
ou formação de aneurisma causada por lesão da parede<br />
vascular. Além do mais, sabe-se que aortoplastia com<br />
balão isoladamente apresenta evolução subótima em<br />
pacientes com condições anatômicas desfavoráveis,<br />
incluindo casos de estreitamento tubular longo, hipo-<br />
155
Neves J, et al. Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 153-166.<br />
plasia do istmo aórtico e obstrução leve, onde o uso<br />
de stents, indubitavelmente, oferece melhor evolução<br />
em termos de redução de gradiente e incidência de<br />
obstrução residual ou recorrente 47 . Portanto, os stents<br />
para CoA devem ser considerados uma alternativa à<br />
aortoplastia com balão primariamente em adolescentes<br />
e adultos, com vários padrões anatômicos de CoA<br />
nativa ou pós-operatória. Nestes pacientes, a possibilidade<br />
de causar uma lesão fixa não é problemática e<br />
os riscos de trauma vascular decorrentes do uso de<br />
bainhas maiores, necessárias à liberação das próteses,<br />
são menores. Há uma tendência atual em tratar pacientes<br />
mais jovens com CoA, assim que eles atinjam peso<br />
acima de 25 kg (geralmente após 7-8 anos de idade) 48 .<br />
Certos pacientes com hipoplasia de arco aórtico também<br />
podem se beneficiar do implante de stent nesta<br />
localização 49,50 . Vários relatos clínicos iniciais têm<br />
demonstrado a viabilidade, segurança e efetividade<br />
imediata e em médio prazo desta técnica, em pacientes<br />
com CoA nativa e recorrente 24,28,30,43,47,50-57 . Até o<br />
momento, nenhum ensaio clínico controlado foi publicado<br />
comparando as diferentes formas de tratamento<br />
(cirurgia, aortoplastia com balão e implante de stent)<br />
para CoA em diversas faixas etárias. No entanto, esta<br />
evolução de uma forma de tratamento para outra, como<br />
observada em outras áreas da medicina, não foi baseada<br />
em ensaios controlados. A evidência é amplamente,<br />
se não apenas, derivada de estudos observacionais<br />
longitudinais 58 .<br />
TÉCNICA DE IMPLANTE<br />
A técnica de implante de stents (Figuras 4 a 6) na<br />
aorta tem progressivamente evoluído desde sua descrição<br />
Figura 4 - Aortografias em perfil esquerdo (A) e em oblíqua anterior direita com discreta angulação caudal (B). Um cateter Berman angiográfico<br />
foi posicionado no arco por via anterógrada, depois de punção transeptal. A coarctação é localizada e mede menos que 3 mm, em seu menor<br />
diâmetro. O istmo tem dimensões conservadas (20 mm). Em C, um cateter-balão de 8 mm de diâmetro é utilizado para pré-dilatação da lesão.<br />
Figura 5 - Em A, nota-se um stent CP coberto sendo posicionado no local da lesão. Em B e C, os balões internos e externos do cateterbalão<br />
BIB são insuflados seqüencialmente.<br />
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Neves J, et al. Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 153-166.<br />
no início dos anos 90. O procedimento é geralmente<br />
realizado sob anestesia geral ou sedação profunda.<br />
Após se estabelecer acesso arterial femoral, um segundo<br />
acesso vascular (artéria braquial/radial ou veia femoral)<br />
também pode ser obtido para angiografias repetidas<br />
no arco aórtico (via artéria braquial/radial ou após<br />
punção septal), a fim de auxiliar no posicionamento<br />
correto da prótese durante a liberação (Figura 4) 30,51 .<br />
Heparina (100-150 U/kg; máx 10.000 UI) é administrada<br />
endovenosamente. Após cateterismo esquerdo convencional,<br />
são obtidas aortografias nas projeções oblíqua<br />
esquerda, perfil esquerdo (Figura 4) e oblíqua anterior<br />
direita com angulação caudal. As medidas dos diâmetros<br />
do arco transverso, istmo aórtico, dilatação pósestenótica<br />
e aorta descendente ao nível do diafragma<br />
são obtidas. Um guia rígido e longo (260-300 cm) é<br />
cuidadosamente passado através da lesão e posicionado<br />
na aorta ascendente ou na artéria subclávia direita ou<br />
esquerda, dependendo da angulação da lesão.<br />
Em pacientes com atresia do lúmen aórtico (CoA em<br />
“fundo-cego”), a distância entre as extremidades distal e<br />
proximal da aorta é visibilizada por injeções simultâneas<br />
de contraste no arco aórtico e na aorta descendente<br />
abaixo do local da CoA 31 . Um cateter terapêutico de<br />
coronária com furo terminal é posicionado no “bico”<br />
proximal da extremidade superior da aorta, via artéria<br />
subclávia direita ou esquerda. O segmento atrético é,<br />
então, cruzado ou perfurado, utilizando a extremidade<br />
maleável (para atresia funcional) ou rígida (atresia anatômica)<br />
de um guia de coronária (0,014”) 31 ou (teoricamente)<br />
auxiliado por um cateter de radiofreqüência. Para monitorizar<br />
a perfuração e/ou o avanço do guia, é usado um<br />
adaptador “em Y”, para permitir injeções manuais de<br />
contraste por meio do cateter. Após a perfuração, a<br />
extremidade maleável do guia é laçada na aorta descendente,<br />
para otimizar o suporte. Um balão de angioplastia<br />
coronária é avançado através do cateter terapêutico sobre<br />
o guia para pré-dilatar a lesão, o que possibilita subseqüentes<br />
trocas de guias e cateteres, para posterior liberação<br />
do stent via artéria femoral.<br />
O comprimento da prótese selecionada deve cobrir<br />
totalmente a lesão, que geralmente é localizada. Lesões<br />
segmentares podem necessitar de stents mais longos<br />
ou sobrepostos. O diâmetro do balão escolhido deve<br />
ser igual ao do istmo ao nível da origem da artéria<br />
subclávia esquerda, não excedendo o diâmetro da<br />
aorta descendente ao nível do diafragma 30,51 . Próteses<br />
balão-expansíveis devem ser montadas sobre o balão.<br />
Um pouco de contraste é usado para umedecer o<br />
balão antes de posicionar o stent sobre ele, aumentando<br />
sua aderência. Durante a montagem, um guia é<br />
deixado dentro o balão, a fim de retificar o sistema e<br />
evitar danos ao balão pela estrutura do stent. Com o<br />
stent CP coberto, esta manobra e a introdução do<br />
stent na bainha longa exigem cuidado extra. Deve-se<br />
evitar umedecer a camada de ePTFE em todas as etapas<br />
para manter sua forma original ao redor da prótese e,<br />
adicionalmente, usar uma “bainha cortada” 1-2 F menor<br />
que a bainha longa para protegê-lo durante o avanço<br />
pela válvula hemostática 31 .<br />
Cateteres-balão convencionais ou o balloon-in-balloon<br />
- BIB ® (Numed Inc., NY, USA) podem ser utilizados<br />
para liberar o stent, de acordo com a experiência do<br />
operador. O balão BIB é composto de dois balões montados<br />
um dentro do outro no mesmo cateter (Figura 7).<br />
O balão interno tem menor perfil, é menos complacente<br />
e expande à metade do balão externo, sendo 1 cm<br />
mais curto 28,29 . Em geral, são empregados balões 0,5 a<br />
1 cm mais longos que a prótese. Isto diz respeito ao<br />
Figura 6 - Em A, nota-se o aspecto angiográfico após esvaziamento do cateter-balão BIB. O stent ainda não está completamente aposto às<br />
paredes do vaso. Em B e C, um cateter-balão de menor comprimento foi utilizado para ajustar as extremidades do stents de forma a melhor<br />
apor as hastes à parede vascular. O resultado final é observado em C.<br />
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Neves J, et al. Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 153-166.<br />
Figura 7 - Cateter-balão BIB. Ver texto para maior detalhamento.<br />
balão externo quando se utiliza o balão BIB. Embora<br />
alguns especialistas prefiram o uso de balão único,<br />
outros advogam que esse método pode exacerbar o<br />
fenômeno de flutuação que comumente ocorre durante<br />
a liberação de stents, fazendo com que a prótese deslize<br />
e sofra migração 28,29 . O balão BIB foi desenvolvido<br />
para minimizar estes problemas, permitindo uma liberação<br />
mais controlada 28,29 .<br />
Para aperfeiçoar o posicionamento do stent e minimizar<br />
o risco de migração com o uso de balões convencionais,<br />
Marshall et al. 43 advogam discreta insuflação<br />
da porção distal do balão, enquanto a porção<br />
proximal da unidade balão-stent ainda está dentro da<br />
bainha longa. Esta manobra é seguida de retração da<br />
bainha e expansão das porções média e proximal do<br />
balão (Figura 8). O uso de pré-dilatação da lesão é<br />
controverso, já que foi associado à maior incidência<br />
de formação de aneurisma ou dissecção intimal em<br />
estudo multicêntrico recente 59 . Entretanto, na presença<br />
de lesão crítica, o local da CoA pode ser pré-dilatado,<br />
usando balões de diâmetros pequenos ou moderados<br />
(6-8 mm), para permitir a passagem da bainha longa<br />
(Figura 4). O perfil da bainha necessário para o implante<br />
do stent depende do perfil do cateter-balão,<br />
sendo geralmente 1-3 F maior que o perfil da bainha<br />
recomendada para o cateter-balão. Geralmente, bainhas<br />
longas de 9 a 14 F (Cook Cardiology, IN, USA)<br />
são usadas para a liberação de stents. A seguir, o stent<br />
montado sobre o balão é avançado pela válvula hemostática<br />
da bainha até sua ponta distal. A bainha é,<br />
então, tracionada lentamente para expor o stent na luz<br />
vascular. Através do braço lateral da bainha durante<br />
a retração ou, preferencialmente, via um segundo cateter<br />
angiográfico posicionado no arco aórtico, angiografias<br />
repetidas são realizadas para garantir o posicionamento<br />
correto do stent antes da liberação (Figura 4). Quando<br />
o balão BIB é utilizado, o balão interno é insuflado<br />
inicialmente e, se necessário, o stent pode ser reposicionado<br />
antes da insuflação do balão externo (Figura 5).<br />
Se a CoA é localizada imediatamente abaixo da artéria<br />
subclávia, o stent é liberado com o menor grau de<br />
acavalgamento possível através do óstio arterial. Entretanto,<br />
a cobertura completa da artéria subclávia esquerda<br />
ou direita (quando existe origem anômala da última)<br />
não tem sido relacionada a qualquer evento adverso.<br />
Alguns advogam o uso de manobras para diminuir<br />
a freqüência cardíaca e/ou reduzir o volume de ejeção<br />
Figura 8 - Técnica para expansão estagiada do stent. Paciente de 48 anos com coarctação da aorta grave e sinais de fragilidade arterial<br />
caracterizada pela presença de valva aórtica bicúspide, aneurisma da aorta ascendente e ectasia da aorta descendente. No painel esquerdo,<br />
nota-se o aspecto da lesão: a coarctação é grave e o istmo é muito curto. Nos painéis centrais, nota-se a extremidade distal do stent sendo<br />
insuflada, enquanto metade do balão encontra-se ainda dentro da bainha longa. Após esta ser totalmente puxada, a parte proximal do balão<br />
é, então, insuflada, deixando-se a parte central do stent subexpandida. No painel direito, nota-se o aspecto final após o implante com<br />
incremento significativo do diâmetro da lesão. Entretanto, gradiente residual de 10-15 mmHg persistiu. Este paciente foi submetido a novo<br />
cateterismo, após 8 meses, quando a parte central do stent foi dilatada, com desaparecimento do gradiente local.<br />
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Neves J, et al. Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 153-166.<br />
para otimizar o posicionamento do stent durante a<br />
insuflação do balão, como a administração de altas<br />
doses de adenosina ou marca-passo ventricular em<br />
altas freqüências 60,61 . Com o uso do balão BIB, estas<br />
manobras se tornam, provavelmente, desnecessárias e<br />
devem ser reservadas para pacientes submetidos à<br />
dilatação com balão para estenose aórtica grave, a fim<br />
de evitar a “dança” do balão através do anel valvar<br />
aórtico durante a valvoplastia, o que induz regurgitação<br />
aórtica devido à lesão dos folhetos 62 .<br />
Para pacientes com lesões críticas tem sido recomendada<br />
a dilatação com stent de forma estagiada,<br />
objetivando-se atingir 50-75% do diâmetro final no<br />
primeiro procedimento 33,57,63 . Esta estratégia evita um<br />
aumento abrupto e excessivo do diâmetro no local da<br />
CoA, o que poderia resultar em dissecção da parede<br />
aórtica, ruptura ou formação de aneurisma. Isto pode<br />
ser especialmente verdadeiro em pacientes com marcadores<br />
de fragilidade da parede aórtica, tais como<br />
valva aórtica bicúspide, aneurisma de aorta ascendente<br />
ou descendente e idade avançada 64-67 , nos quais o<br />
uso de stents cobertos também é recomendado 31 .<br />
Há duas técnicas para realizar a dilatação estagiada.<br />
A primeira envolve o uso de balão para liberação do<br />
stent com diâmetro subestimado (comparado ao tamanho<br />
do istmo) no procedimento inicial e realizando a<br />
dilatação completa depois de 6 a 12 meses em outro<br />
procedimento 57,63 . Com esta técnica, o stent subexpandido<br />
é seguro apenas no local da coarctação e pode<br />
não ficar totalmente estável, aumentando o risco de<br />
migração inadvertida e posicionamento inadequado,<br />
especialmente se novas manipulações para dilatar as<br />
extremidades forem tentadas 30 . A segunda técnica, e<br />
provavelmente melhor, é insuflar apenas as porções<br />
proximal e distal de um balão de tamanho apropriado<br />
(de acordo com o tamanho do istmo). Com isto, deixase<br />
o centro do stent mais estreitado, subexpandido,<br />
ficando o stent em um formato de ampulheta 33 . Para<br />
atingir este objetivo, a manobra proposta por Marshall<br />
et al. 43 , usando um balão convencional, pode ser necessária<br />
(Figura 8). É importante notar que o emprego<br />
do balão BIB com o uso do balão interno exclui a<br />
aplicação desta última técnica estagiada. Em geral, a<br />
dilatação completa imediata do stent pode ser realizada<br />
de forma segura em pacientes sem obstrução crítica<br />
e sem marcadores de fragilidade da parede aórtica 30,51 .<br />
A maioria destes pacientes requer apenas uma ou<br />
duas insuflações para liberação do stent. Embora alguns<br />
advoguem o ajuste das extremidades do stent (Figura<br />
6) para otimizar a endotelização 50 , é pouco provável<br />
que a aposição completa da prótese na região pósestenótica<br />
seja alcançada em todos os pacientes usando<br />
stents expansíveis até 25 mm, como o Palmaz extragrande<br />
e o CP. Se o objetivo do implante de stent na<br />
CoA é o alívio do gradiente, este é alcançado a despeito<br />
da completa aposição do stent na região pós-estenótica<br />
e melhor aparência no resultado angiográfico 30 .<br />
Deve-se ter cuidado especial ao manipular cateteres<br />
e guias na área recentemente dilatada. Novas medidas<br />
de pressão e aortografias devem ser realizadas imediatamente<br />
após o implante do stent. Cefazolina ® (20 mg/<br />
kg; máx 2g) é administrada durante o procedimento e<br />
em intervalos de 8h (total de 3 doses). A heparina<br />
administrada é parcialmente neutralizada com protamina<br />
se o tempo de tromboplastina ativada (TTPa) for maior<br />
que 200s (isto pode não ser realizado rotineiramente<br />
em alguns centros pediátricos) e a hemostasia obtida<br />
por compressão manual. Os pacientes são, então, acordados<br />
e transferidos à unidade de recuperação para<br />
observação clínica de rotina. Geralmente, a alta hospitalar<br />
ocorre no dia seguinte, com os pacientes sendo<br />
orientados para usar aspirina (2-5 mg/kg/dia; máx:<br />
300 mg) e evitar esportes de contato por 6 meses.<br />
Radiografia de tórax, eletrocardiograma e ecocardiograma<br />
são realizados antes da alta e agendados após<br />
1 a 3 meses, 6 meses, 12 meses e anualmente a partir<br />
deste momento, juntamente com a consulta clínica.<br />
Devido à possibilidade de formação tardia de aneurismas<br />
após implante de stent na CoA, um seguimento utilizando<br />
técnicas de imagem é obrigatório em todos os pacientes<br />
59 . Para isso, um novo cateterismo, ressonância<br />
magnética ou tomografia computadorizada devem ser<br />
agendados entre 6 a 12 meses após o procedimento<br />
e, provavelmente, em algum momento do seguimento<br />
a médio e longo prazo.<br />
RESULTADOS NAS INSTITUIÇÕES DOS AUTORES<br />
De setembro de 1995 a abril de 2005, 70 pacientes<br />
(47 do sexo masculino) foram submetidos a implante<br />
de stent para tratamento de CoA nas instituições dos<br />
autores. A média de idade e peso foi de 21,5±10,8<br />
anos (variação: 3-57) e 57,6±16,7 kg (variação: 12-<br />
88), respectivamente. Dos pacientes, 64 tinham lesões<br />
nativas e 6 recorrentes, incluindo quatro após cirurgia<br />
e dois após prévia dilatação com balão; 23 pacientes<br />
não tinham co-morbidade associada, enquanto 31 possuíam<br />
valva aórtica bicúspide (dois com estenoses<br />
graves que foram dilatadas com balão), quatro apresentavam<br />
canais arteriais pequenos, dois, pequenas CIVs<br />
musculares e dez, lesões mistas associadas, incluindo<br />
regurgitação aórtica ou mitral significativas após transplante<br />
cardíaco (um), troca de valva aórtica (dois) e<br />
doença arterial coronariana aguardando cirurgia de<br />
revascularização (um). Em uma paciente, o procedimento<br />
foi realizado no terceiro trimestre da gestação. Em 67<br />
pacientes, a CoA estava localizada no istmo aórtico,<br />
enquanto que em três pacientes localizava-se na porção<br />
distal do arco aórtico, proximal à origem da artéria<br />
subclávia esquerda. Em três pacientes, havia CoA longa<br />
e tubular, enquanto nos 67 restantes a lesão era focal.<br />
Em 20 pacientes, a CoA foi pré-dilatada usando<br />
balões de 3-8 mm. Os balões utilizados para liberação<br />
inicial do stent foram: BIB em 46 pacientes, Cordis em<br />
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12, Z-Med TM em 2 e outros balões nos 10 restantes. O<br />
diâmetro médio do balão utilizado foi 16,3±3,5 mm,<br />
o que corresponde a 4,1±2,9 vezes o diâmetro da<br />
lesão. Seis tipos de stent foram utilizados incluindo o<br />
Palmaz extra-grande (P 4014) em 27 pacientes, CP<br />
descoberto em 20, Gênesis em 9, CP coberto em 7,<br />
Max LD em 5 e Palmaz grande em 2. Em dois pacientes,<br />
ocorreu migração imediata do stent, um, após escorregar<br />
sobre um balão Z-Med com o mesmo comprimento<br />
do stent e outro, após tentativa de ajustar as extremidades<br />
de um stent subexpandido inicialmente. Os stents<br />
perdidos foram implantados na aorta descendente, sem<br />
efeitos adversos e seguidos de novo implante de stent.<br />
Não ocorreu ruptura de balão. Ao final, todos os pacientes<br />
tiveram stents implantados com sucesso no<br />
local de obstrução. Em 12 pacientes, todo o stent ou<br />
parte dele cavalgou a origem da artéria subclávia esquerda<br />
e, em 1, a artéria subclávia direita anômala. Em 4<br />
pacientes, anormalidades da parede aórtica, incluindo<br />
aneurismas e dissecções, foram observadas logo após<br />
o implante do stent. Em um destes quatro pacientes,<br />
ocorreu formação de aneurisma após migração do<br />
stent, necessitando de um enxerto com stent autoexpansível<br />
(Braile Biomédica, São José do Rio Preto,<br />
Brasil) para excluí-lo. Lesão da artéria femoral ou ilíaca<br />
necessitando cirurgia foi observada em dois pacientes.<br />
Nenhum paciente apresentou complicação vascular<br />
cerebral.<br />
conforme descrição anterior. Estas fraturas foram circunferenciais<br />
em três pacientes (um CP e dois Genesis),<br />
requerendo implante de stent coberto em um segundo<br />
procedimento (Figura 10). Anormalidades da parede<br />
aórtica foram observadas em seis pacientes no seguimento,<br />
dois dos quais inicialmente apresentaram linhas<br />
de dissecção que progrediram para formação de pequenos<br />
aneurismas. Dois destes seis pacientes necessitaram<br />
implante de stent coberto em um segundo procedimento<br />
devido a grandes aneurismas, que mediram<br />
O diâmetro do local da CoA aumentou de 5,4±2,9<br />
para 15,6±3,4 mm (p
Neves J, et al. Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 153-166.<br />
mais que 50% do diâmetro da aorta descendente ao<br />
nível do diafragma (Figura 11). Os quatro restantes<br />
foram considerados como portadores de aneurismas<br />
discretos, sendo seguidos clinicamente. Cinco destes<br />
seis pacientes possuíam possíveis marcadores de fragilidade<br />
de parede aórtica, tais como idade avançada<br />
(> 30 anos), aorta ascendente aneurismática, valva<br />
aórtica bicúspide necessitando troca por prótese metálica<br />
e gravidez. Migração tardia do stent ocorreu em dois<br />
pacientes. Em um deles, o stent (P 4014) ainda estava<br />
cobrindo o local da CoA, demonstrando apenas uma<br />
discreta migração distal, embora associada à formação<br />
de pequeno aneurisma. Não foi indicada qualquer<br />
intervenção para este paciente que tinha 25 anos de<br />
idade e aorta ascendente aneurismática e importante<br />
dilatação pós-estenótica, medindo mais de 40 mm em<br />
diâmetro. No outro paciente, o stent (Genesis 2910<br />
implantado sobre um balão de 12 mm) migrou para a<br />
aorta descendente abdominal, necessitando implante<br />
de novo stent na CoA. Este paciente tinha 11 anos de<br />
idade e o istmo media 11 mm.<br />
Nenhum paciente necessitou de intervenção cirúrgica<br />
no seguimento. Entretanto, sete pacientes necessitaram<br />
de um segundo procedimento percutâneo, incluindo<br />
redilatação do stent em três pacientes, como<br />
parte de abordagem estagiada e implante de novo<br />
stent devido a fraturas, migração ou formação de aneurismas<br />
nos seis pacientes restantes.<br />
Figura 11 - Paciente de 50 anos, previamente submetido a duas<br />
cirurgias cardíacas para troca valvar aórtica por prótese metálica<br />
devido à disfunção de valva aórtica bicúspide. Havia aneurisma da<br />
aorta ascendente e ectasia da aorta descendente. Implantou-se<br />
stent CP recoberto, com ótimo aspecto angiográfico final (painéis<br />
superiores). Em cateterismo de controle realizado após 1 ano,<br />
notou-se a formação de grande aneurisma ao redor do stent, que<br />
foi excluído com o uso da endoprótese Braile (painéis inferiores).<br />
RESULTADOS NA LITERATURA E DISCUSSÃO<br />
Os relatos de seguimento imediatos e em médio<br />
prazo do implante de stents para CoA são encorajadores.<br />
Os resultados iniciais mostraram quase ou completa<br />
resolução do gradiente de pressão na maioria dos<br />
pacientes 24,28,30,43,47,50-57 , sendo melhores que dilatação<br />
com balão isolada. No seguimento em médio prazo,<br />
o alívio do gradiente persistiu na maioria dos pacientes<br />
em todas as séries publicadas 24,28,30,43,47,50-57 . Embora<br />
em alguns estudos graus variáveis de crescimento neointimal<br />
dentro do stent tenham sido detectados na<br />
angiografia e/ou ultra-som intravascular, apenas aqueles<br />
pacientes mais jovens (especialmente crianças) parecem<br />
estar sob risco de reestenose, necessitando de<br />
reintervenção. Como o lúmen vascular é grande na<br />
aorta do adulto, uma proliferação intra-stent leve, geralmente,<br />
não resulta em obstrução significativa ao<br />
fluxo e geração de gradiente local. Por outro lado, um<br />
stent expandido de forma subótima no primeiro procedimento<br />
ou recolhimento do stent têm sido considerados<br />
causas de gradiente significativo no local de CoA<br />
no seguimento. Estes casos têm sido manejados com<br />
sucesso com expansão sucessiva do stent 54-57 . A esse<br />
respeito, a redilatação do stent tem sido relatada como<br />
necessária em até 30% dos pacientes durante o seguimento<br />
em um estudo 57 . Após o implante do stent, a<br />
hipertensão nos membros superiores melhora e há<br />
redução da necessidade de medicações. Nas séries<br />
recentemente publicadas pelos autores foi possível interromper<br />
o uso de medicações em dois terços de 21<br />
pacientes e diminuir a dose nos pacientes restantes 30 .<br />
Ledesma et al. 56 reportaram melhora no controle dos<br />
níveis tencionais em todos os pacientes da sua série,<br />
permitindo a suspensão das medicações em 30 de 53<br />
pacientes. Resultados similares foram relatados por<br />
outros investigadores, demonstrando claros benefícios<br />
no manejo da hipertensão arterial após o implante de<br />
stents para CoA 50-52,54,55,57 . Embora o teste ergométrico<br />
tenha sido utilizado em algumas séries para avaliar a<br />
hipertensão induzida por exercício, o valor desse teste<br />
foi questionado recentemente 68 . Aumento da rigidez e<br />
diminuição da reserva de relaxamento vascular nos<br />
vasos do segmento superior do corpo foram implicados<br />
na etiologia da hipertensão em repouso e durante<br />
exercício após o reparo cirúrgico 69-71 . Pacientes com<br />
grau leve de obstrução podem se beneficiar do implante<br />
de stent, diminuindo as altas pressões de enchimento<br />
ventricular e preservando as funções sistólica e diastólica<br />
do ventrículo esquerdo em longo prazo 43,44 . Neste cenário<br />
clínico, é importante lembrar que cirurgia não é<br />
geralmente considerada e a angioplastia com balão<br />
isolada tem resultados desapontadores.<br />
O procedimento é geralmente seguro, embora complicações<br />
possam ocorrer 72 . A taxa de mortalidade é<br />
provavelmente menor que 1-2%, mesmo levantando a<br />
hipótese que casos fatais não são comumente relatados.<br />
Grandes dissecções vasculares ou ruptura aórtica<br />
durante a liberação do stent são as principais causas<br />
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Neves J, et al. Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 153-166.<br />
deste evento catastrófico 73,74 . Outras complicações<br />
podem ser subdivididas em dois grupos: técnicas e<br />
clínicas. Entre as primeiras, o posicionamento inadequado<br />
do stent durante o implante e a migração precoce<br />
ou tardia podem ocorrer em até 11% dos pacientes 57 .<br />
As principais causas são deslizamento do stent ou<br />
ruptura do balão durante o implante. Geralmente os<br />
stents perdidos são subexpandidos e migram distalmente<br />
para a aorta descendente. Enquanto o guia estiver<br />
através do stent, é possível trazê-lo gentilmente com<br />
um balão e expandi-lo numa localização segura na<br />
aorta descendente, sem qualquer efeito clínico adverso<br />
para o paciente. Entretanto, infarto do miocárdio foi<br />
observado durante tentativa prolongada de reposicionar<br />
um stent mal posicionado no arco aórtico devido à<br />
ruptura de balão em uma das séries 50 . Apesar de haver<br />
poucos dados científicos a este respeito, acredita-se<br />
que o uso do balão BIB ajude a prevenir o deslocamento<br />
do stent e seu mau posicionamento, já que a insuflação<br />
inicial do balão interno ocorre do centro para as extremidades,<br />
minimizando o fenômeno de flutuação 30 . Isto<br />
também pode diminuir as chances de ruptura do balão<br />
28,29 . A migração tardia verdadeira do stent é provavelmente<br />
rara. Os autores acreditam que os casos observados<br />
na própria experiência relatada acima possam ter<br />
ocorrido precocemente após o implante, mas só foram<br />
reconhecidos tardiamente, no seguimento por imagem.<br />
Isto enfatiza a necessidade de se obter radiografias do<br />
tórax de alta qualidade antes da alta hospitalar.<br />
Outra complicação técnica que pode ocorrer é a<br />
fratura do stent, a qual raramente é observada durante<br />
o implante ou no primeiro dia após o procedimento<br />
(Luís Carlos Simões, comunicação pessoal). A ocorrência<br />
de fraturas com o stent CP no seguimento foi recentemente<br />
bem documentada pelos autores 30,31 . Apesar de<br />
que uma fratura localizada entre duas fileiras seja provavelmente<br />
benigna, com implicações clínicas limitadas,<br />
uma fratura circunferencial (vista em alguns pacientes)<br />
pode resultar em embolização dos fragmentos e<br />
conseqüências imprevisíveis. Se a fratura ocorre após<br />
a endotelização do implante endovascular não se observa<br />
qualquer mudança na posição do stent no seguimento<br />
tardio (Figura 10). Aprimoramentos no processo<br />
de soldagem usando ouro foram empregados pelo<br />
fabricante para solucionar este problema. Fraturas longitudinais<br />
com o Palmaz grande implantado nas artérias<br />
pulmonares são raras 75 . Fraturas não foram documentadas<br />
com o Palmaz extra-grande na aorta, provavelmente<br />
porque a malha metálica deste stent é mais<br />
espessa. Como observado na experiência dos autores,<br />
as fraturas circunferenciais também podem ocorrer com<br />
o Gênesis, quando expandido a diâmetros maiores na<br />
aorta. Da mesma forma, há alguma preocupação a respeito<br />
da resistência à fadiga do stent Max LD em longo prazo.<br />
Mais pacientes e períodos mais longos de seguimento<br />
irão esclarecer estas questões. Devido ao fato de que<br />
uma fratura circunferencial associada à protrusão da<br />
estrutura do stent na parede aórtica pode, teoricamente,<br />
aumentar o risco de perfuração da parede aórtica, devese<br />
considerar a liberação de um stent coberto dentro<br />
do implante anterior 31 (Figura 10).<br />
Complicações clínicas podem envolver o local de<br />
acesso e incluem sangramento, formação de hematoma<br />
e perda de pulso, necessitando terapia medicamentosa,<br />
hemotransfusão ou cirurgia. Hemotórax agudo<br />
após a liberação de stent foi observado e é devido<br />
provavelmente ao estiramento e dissecção em colaterais<br />
maiores adjacentes ao local da CoA (William Torres,<br />
comunicação pessoal). Mesmo utilizando endopróteses<br />
cobertas, as chances de formação de aneurisma no<br />
local da CoA não foram completamente eliminadas<br />
(Figura 11) 31 . Tais aneurismas ocorrem em até 11%<br />
dos pacientes, incluindo o seguimento a curto e médio<br />
prazo 24,50,51,53,56 . Diferenças nas taxas de formação de<br />
aneurismas nas diferentes séries podem ser parcialmente<br />
explicadas pela falta de unanimidade no que diz respeito<br />
à definição desta lesão. Contudo, várias formas de<br />
anormalidades da parede aórtica podem ser encontradas<br />
após o implante de stent e são provavelmente<br />
mais comuns nos pacientes de alto risco, com marcadores<br />
de fragilidade da parede aórtica, tais como idade<br />
avançada, aorta aneurismática e valva aórtica bicúspide 31 .<br />
Na experiência já descrita acima pelos autores, a formação<br />
tardia de aneurisma também foi observada em<br />
uma paciente que realizou o procedimento durante a<br />
gravidez. Especulamos que a ação de hormônios estrogênios<br />
possa ter aumentado a fragilidade vascular na<br />
parede aórtica e propiciado o aparecimento desta lesão.<br />
Provavelmente estes pacientes de alto risco deveriam<br />
ser submetidos a implante de stent coberto no procedimento<br />
inicial, com aplicação da abordagem estagiada,<br />
seguindo a técnica descrita por Ewert et al. 33 . A história<br />
natural completa destas anormalidades é desconhecida,<br />
embora o seguimento por imagem seriado sugira<br />
estabilização ou mesmo resolução em alguns casos<br />
24,50,51,53,56 . Infelizmente, dados de imagem detalhados<br />
são freqüentemente incompletos na literatura, tornando<br />
difícil realizar conclusões precisas. Por outro<br />
lado, os pacientes que fazem exames de imagem seriados<br />
no seguimento são provavelmente aqueles que tiveram<br />
alguma forma de complicação da parede aórtica<br />
ou que tenham marcadores de fragilidade da parede<br />
aórtica. Se isto pode induzir a viéses e superestimar a<br />
prevalência de aneurismas no seguimento não se sabe.<br />
Assim sendo, ao se detectar aumento progressivo da<br />
área aneurismática em exames de imagem seriados,<br />
atingindo mais de 50% da aorta ao nível do diafragma,<br />
as alternativas terapêuticas são: ressecção cirúrgica,<br />
embolização com molas através da estrutura do stent 76<br />
e implante de stent coberto (Figura 11). Neste sentido,<br />
foi sugerido que o uso do stent coberto auto-expansível<br />
para a exclusão do aneurisma é provavelmente mais<br />
seguro que a prótese balão-expansível, evitando, assim,<br />
trauma local adicional causado pela força radial do<br />
balão, a qual poderia causar progressão do aneurisma<br />
e ruptura 31 .<br />
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Neves J, et al. Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 153-166.<br />
Ainda há pouca informação sobre a possibilidade<br />
do implante primário de stent promoveria melhores<br />
resultados que a aortoplastia em pacientes com CoA.<br />
Zabal et al. 47 observaram que o implante de stent foi<br />
superior à aortoplastia em adultos com hipoplasia do<br />
istmo aórtico ou com lesões longas e tubulares. Por<br />
outro lado, os mesmos autores observaram que as<br />
duas técnicas promovem evoluções clínicas semelhantes<br />
em pacientes com lesões localizadas e gradiente residual<br />
menor que 10 mmHg após aortoplastia com balão.<br />
Eles recomendaram que o implante de stent fique restrito<br />
apenas àqueles pacientes com anatomia de base desfavorável<br />
ou com gradiente residual após aortoplastia<br />
superior a 10 mmHg em lesões localizadas. O nosso<br />
grupo comparou a evolução do implante de stent e da<br />
aortoplastia com balão em adolescentes e adultos,<br />
com lesões não-operadas e focais. Embora os desfechos<br />
clínicos tenham sido satisfatórios e similares com as<br />
duas técnicas, o implante de stent apresentou melhores<br />
resultados no que diz respeito a alívio da estenose e<br />
minimização do risco imediato de anormalidades na<br />
parede aórtica 30 . Adicionalmente, o implante de stent<br />
foi associado a resultados mais previsíveis e uniformes,<br />
o que pode possuir implicações importantes nesta<br />
população específica. Embora gradientes residuais menores<br />
que 20 mmHg tenham sido considerados satisfatórios<br />
para os pacientes tratados de CoA, não há<br />
dados contundentes demonstrando que a redução do<br />
gradiente abaixo de um limite pré-definido confere<br />
benefícios sustentados 77 . Especula-se que mesmo estenoses<br />
residuais leves associadas a gradientes baixos<br />
podem aumentar o risco de eventos cardiovasculares,<br />
tais como hipertensão persistente, acidente vascular<br />
cerebral, doença arterial coronariana precoce e implicações<br />
negativas na função ventricular 43,77 . A esse respeito,<br />
aumento da massa ventricular com hipertrofia e<br />
alterações das funções sistólica e diastólica têm sido<br />
documentados em pacientes operados de CoA com<br />
gradiente residual baixos 78-82 . Na visão dos autores, os<br />
pacientes mais velhos com CoA não-tratada representam<br />
um subgrupo particular sob risco de desenvolver<br />
tais complicações. É neste contexto que deve ser enfatizada<br />
a abolição do gradiente observado após implante<br />
de stent. Em outras palavras, os autores acreditam que<br />
é de suma importância promover os melhores resultados<br />
em termos de alívio de gradiente nestes pacientes,<br />
ou seja, implante de stent.<br />
Não se sabe se pacientes com mais de 30-40<br />
anos, com sinais de doença aórtica (relacionada à<br />
CoA propriamente dita, aterosclerose associada ou envelhecimento)<br />
podem se beneficiar da cirurgia ao invés<br />
do implante de stent, devido ao aumento teórico do<br />
risco de complicações da parede aórtica. Embora os<br />
stents cobertos sejam úteis no manejo de alguns destes<br />
pacientes, refinamentos na técnica de liberação (possivelmente<br />
dilatação estagiada) e/ou no desenho dos<br />
stent ainda são necessários para eliminar este risco 31 .<br />
Maior número de pacientes e seguimento mais longo<br />
são necessários para obtenção de conclusões mais<br />
fortes neste cenário clínico.<br />
Também é desconhecida a conseqüência em longo<br />
prazo da exposição do ventrículo esquerdo, artérias<br />
coronárias e arco aórtico a um aumento da impedância<br />
secundário à reduzida elasticidade no segmento com<br />
stent. Apesar desta consideração teórica, documentouse<br />
preservação da complacência aórtica em modelos<br />
animais após o implante de stent 83 .<br />
Finalmente, um grande esforço deve ser empregado,<br />
visando à realização de estudo clínico multicêntrico,<br />
prospectivo e (preferencialmente) randomizado, incluindo<br />
os braços da cirurgia e da aortoplastia, para definir<br />
a melhor forma de tratamento para CoA em pacientes<br />
acima de 8 anos de idade. A esse respeito, o Congenital<br />
Cardiovascular Interventional Study Consortium liderado<br />
pelo Dr. Thomas Forbes, do Children’s Hospital<br />
de Detroit, tem coletado dados de várias instituições<br />
nos EUA, Europa e América Latina para responder a<br />
esta questão 59,72 .<br />
CONCLUSÕES<br />
O implante de stent para CoA nativa ou póscirúrgica<br />
é hoje aceito como alternativa para o tratamento<br />
cirúrgico ou aortoplastia com balão em adolescentes<br />
e adultos. É uma técnica segura e eficaz, associada<br />
a bons resultados a curto e médio prazo e baixa incidência<br />
de complicações. A taxa de reestenose e talvez<br />
de formação de aneurismas é mais baixa quando comparada<br />
à aortoplastia com balão isolada. O implante<br />
de stent em crianças maiores (7-10 anos) é possível,<br />
embora os riscos de lesão vascular e da necessidade<br />
de dilatações subseqüentes precisem ser avaliados de<br />
forma individualizada em cada instituição.<br />
Baseados nas evidências disponíveis, os autores<br />
recomendam que o implante rotineiro de stent para<br />
CoA nativa ou pós-cirúrgica deva ser limitado a crianças<br />
mais velhas (> 7-8 anos), adolescentes e adultos.<br />
Em crianças pequenas, a aortoplastia com balão continua<br />
a ser uma terapêutica alternativa segura e eficaz<br />
à cirurgia, exceto para aquelas que se apresentam<br />
precocemente (< 6-12 meses de vida) e/ou com anatomia<br />
desfavorável. Mais estudos com metodologia adequada<br />
são necessários para esclarecer se o implante<br />
de stent é definitivamente superior à cirurgia e à aortoplastia<br />
com balão, nas diferentes faixas etárias.<br />
PERSPECTIVAS FUTURAS<br />
Com a miniaturização dos dispositivos e o advento<br />
dos stents biodegradáveis, as limitações atuais do uso<br />
destas próteses intravasculares em crianças pequenas<br />
podem desaparecer em um futuro próximo. Ajustes no<br />
desenho dos stents e nas técnicas de implante devem<br />
melhorar a evolução em longo prazo, especialmente<br />
nos pacientes com marcadores de fragilidade da parede<br />
aórtica.<br />
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Neves J, et al. Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 153-166.<br />
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Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 167-175.<br />
Simões LC, et al. Uso de Stents no Neonato com Cardiopatia Congênita. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 167-175.<br />
Uso de Stents no Neonato com<br />
Cardiopatia Congênita<br />
Artigo de Revisão<br />
Luiz Carlos Simões 1 , Flávio Neves 1 , José Geraldo Ataíde 1 , Francisco Alvin L. Lopes 1 ,<br />
Paulo Sérgio Oliveira 1<br />
RESUMO<br />
A manutenção da patência ductal, nos neonatos com cardiopatias<br />
congênitas ducto-dependentes, é essencial até que<br />
uma cirurgia corretiva ou paliativa seja realizada. Nos<br />
últimos anos, foram descritas muitas técnicas para manter<br />
a patência ductal de forma não cirúrgica. Uma destas<br />
técnicas descritas é estabilizar o ducto com a aplicação de<br />
stents intravasculares. Os stents poderiam ser utilizados<br />
tanto para estabilizar o ducto nas cardiopatias com circulação<br />
sistêmica ducto-dependente como na hipoplasia do coração<br />
esquerdo ou para manter o fluxo pulmonar em lesões obstrutivas<br />
ao fluxo pulmonar. Os stents auto-expansíveis teriam<br />
maior aplicação na estabilização do ducto em casos como<br />
na hipoplasia do coração esquerdo, enquanto os stents<br />
expansíveis com balão seriam mais indicados nos casos<br />
com fluxo pulmonar ducto-dependente.<br />
DESCRITORES: Cardiopatias congênitas. Persistência do<br />
conduto arterioso. Contenedores. Cateterismo cardíaco.<br />
SUMMARY<br />
The Use of Stents in Neonates with Congenital<br />
Cardiopathy<br />
The arterial ductal patency in neonates with ductal dependent<br />
congenital heart disease is essential until corrective or<br />
palliative surgery can be undertaken. Recently numerous<br />
non-surgical attempts have been described to preserve<br />
arterial duct patency. One such technique was to preserve<br />
arterial ductal patency with intravascular stents. The use of<br />
stents may serve to provide systemic blood flow, as in the<br />
case of hypoplastic left heart syndrome (HLHS) or pulmonary<br />
blood flow as in the case of obstructive right sided lesions.<br />
Self expandable stents are used for the stabilization of<br />
arterial ductus in HLHS, while balloon expandable stents<br />
are more suitable for ductal patency in patients with ductal<br />
dependent pulmonary flow.<br />
DESCRIPTORS: Heart defects, congenital. Ductus arteriosus,<br />
patent. Stents. Heart catheterization.<br />
Nos neonatos com circulação sistêmica ou pulmonar<br />
ducto–dependente, o tratamento convencional<br />
paliativo inicial consiste na infusão de<br />
prostaglandina E1(PgE1) 1 . Quando o fluxo pulmonar é<br />
ducto-dependente, a criação cirúrgica de um shunt<br />
sistêmico-pulmonar (ducto artificial) é convencional,<br />
sempre que a cirurgia corretiva não seja possível. As<br />
complicações relacionadas à criação cirúrgica de um<br />
shunt sistêmico-pulmonar incluem: quilotórax, paralisia<br />
frênica ou do vago, oclusão imediata ou tardia do<br />
shunt e estenose, oclusão, ou crescimento não uniforme<br />
das artérias pulmonares.<br />
As aderências torácicas conseqüentes à operação<br />
1<br />
Serviço de Cardiologia da Criança e do Adolescente. Instituto<br />
Nacional de Cardiologia de Laranjeiras RJ MS.<br />
Correspondência: Dr. Luiz Carlos N. Simões. Serviço de Cardiologia<br />
da Criança e do Adolescente. Instituto Nacional de Cardiologia de<br />
Laranjeiras. Rua das Laranjeiras, 374 - 4º andar - Rio de Janeiro<br />
- RJ • e-mail: lucasim@ism.com.br<br />
Recebido em: 31/01/2006 • Aceito em: 24/02/2006<br />
também podem trazer maiores dificuldades às cirurgias<br />
subseqüentes 2 .<br />
Quando a circulação sistêmica é ducto-dependente,<br />
após se estabilizar o ducto com a infusão de PgE1, a<br />
cirurgia para correção biventricular, univentricular ou<br />
transplante cardíaco é decidida por características anatômicas<br />
e por políticas institucionais. Caso se tenha a<br />
opção para o transplante cardíaco, o intervalo de tempo<br />
até o transplante pode demorar meses.<br />
Quando a opção é a correção univentricular (cirurgia<br />
de Norwood), devemos considerar que os resultados<br />
imediatos não são uniformes na literatura.<br />
Atualmente, muitas lesões vasculares são tratadas<br />
percutaneamente e técnicas endovasculares são utilizadas<br />
rotineiramente neste cenário 3,4 .<br />
Estabilizar o ducto arterioso por meio da aplicação<br />
endovascular de stents poderia, então, se tornar uma<br />
opção terapêutica como em outras lesões cardiovasculares<br />
congênitas que atualmente são tratadas por<br />
técnicas hemodinâmicas.<br />
167
Simões LC, et al. Uso de Stents no Neonato com Cardiopatia Congênita. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 167-175.<br />
Em 1991, Moore et al. 5 e Coe et al. 6 publicaram<br />
os primeiros trabalhos experimentais com o uso de<br />
stents intravasculares para manutenção do ducto arterioso<br />
em animais, mas até hoje sua aplicação em substituição<br />
às técnicas cirúrgicas convencionais existentes<br />
continua em debate, em parte devido aos bons resultados<br />
cirúrgicos com as técnicas utilizadas, principalmente<br />
nas cardiopatias com fluxo pulmonar dependente do<br />
ducto arterioso e, por outro lado, pelos resultados<br />
iniciais pouco animadores com a aplicação de stents<br />
no ducto arterioso 7-9 .<br />
Assim sendo, as dificuldades técnicas apresentadas<br />
nas primeiras séries publicadas, somadas a uma<br />
evolução totalmente não previsível da neo-íntima dentro<br />
do stent (excessivo crescimento intimal), mesmo nos<br />
casos de sucesso inicial do implante do stent, fez com<br />
que vários investigadores fossem críticos de sua aplicação<br />
em neonatos com cardiopatias dependentes do<br />
ducto arterioso.<br />
As tentativas iniciais para aplicação de stents no<br />
ducto arterioso utilizaram uma geração de stents rígidos,<br />
não revestidos e relativamente volumosos, bem como<br />
guias, balões e bainhas excessivamente rígidos, que<br />
resultavam, com freqüência, em complicações como<br />
piora hemodinâmica, cianose, sangramento, ruptura<br />
de vasos, espasmo ductal, prolapso do tecido ductal<br />
ou mesmo trombose aguda. Adicionalmente, uma incompleta<br />
cobertura do ducto, freqüentemente, resultava<br />
em sua constrição, com inadequado fluxo pulmonar<br />
dentro de horas ou dias após o implante do stent.<br />
Lições a partir destes problemas levaram à especulação<br />
de que a cobertura de todo o comprimento do<br />
ducto arterioso com os modernos stents de baixo perfil,<br />
flexíveis e pré-montados com estrutura de células pequenas,<br />
poderia evitar parte destes problemas.<br />
Entretanto, não existem, até o momento, stents<br />
aprovados para o uso clínico ou em investigação que<br />
sejam manufaturados especificamente para aplicação<br />
na população pediátrica com má formações cardiovasculares<br />
congênitas. Assim, o emprego de stents autoexpansíveis<br />
ou expansíveis com balão, no tratamento<br />
da maioria das lesões congênitas cardiovasculares ou<br />
em seqüelas de seu tratamento inicial (cirúrgico ou<br />
hemodinâmico intervencionista), representa uma adaptação<br />
à finalidade para qual estes foram desenvolvidos.<br />
Na busca de justificativas para as falhas do procedimento<br />
de estabilização ductal com stents, muitos<br />
investigadores revisaram a anatomia e fisiologia ductal<br />
como estrutura única e suas diferentes características<br />
anatômicas, histológicas e fisiológicas em relação às<br />
demais estruturas vasculares existentes às quais se aplicam<br />
rotineiramente os stents.<br />
A aplicação de stents sobre ao ducto arterioso<br />
teria, assim, diferentes mecanismos de resposta e com<br />
referenciais distintos das demais lesões vasculares para<br />
as quais estes foram manufaturados.<br />
O ducto arterioso é único quando comparado a<br />
outras estruturas vasculares.<br />
Embora a média dos grandes vasos seja composta<br />
basicamente de tecido elástico, a do ducto arterioso é<br />
composta principalmente de fibras musculares. Na<br />
camada média do ducto arterioso, as fibras musculares<br />
se dispõem de forma espiral, cilíndrica e em direções<br />
opostas, circundando-o por completo. A íntima é mais<br />
espessa que nas artérias contíguas (aorta e pulmonar)<br />
e consiste primariamente de uma camada endotelial e<br />
tecido conectivo frouxo. O comportamento a estímulos<br />
das células da parede ductal é também peculiar, não<br />
tendo semelhança com nenhum outro vaso. A reatividade<br />
e o fechamento anatômico do ducto requerem<br />
que células endoteliais luminais fixas e células musculares<br />
lisas migrem e formem coxins na íntima, os quais<br />
eventualmente coalescem e ocluem o vaso. Este processo<br />
migratório requer a presença de receptores múltiplos<br />
– integrinas. No período pré-natal, as células endoteliais<br />
e musculares perdem muitos destes receptores. Entretanto,<br />
ambos os tipos celulares mudam seu fenótipo<br />
no período neonatal imediato e passam a se expressar<br />
com repertório completo de integrinas, o que facilita<br />
o remodelamento fisiológico. Assim, o remodelamento<br />
vascular do ducto é provavelmente diferente do observado<br />
em artérias e veias próximas que sejam submetidas<br />
a uma injúria traumática. Por outro lado, a resposta<br />
à injúria pode ser diferente nas doenças com fluxo<br />
sistêmico-dependente em relação às com fluxo pulmonar<br />
dependente do ducto arterioso.<br />
Nos neonatos, entre as características do stent<br />
ideal devemos incluir um sistema de liberação de muito<br />
baixo perfil, excelente flexibilidade (antes e após sua<br />
liberação), mínimo encurtamento (3%) e uma variedade<br />
de dimensões e comprimentos para que possa ser<br />
aplicado com sucesso na área selecionada, além das<br />
características já clássicas de um stent ideal.<br />
Constituem-se em características ideais conhecidas<br />
para um stent:<br />
1. Ter compatibilidade biológica (ser pouco trombogênico<br />
e com escasso ou nenhum crescimento<br />
intimal);<br />
2. Ser visível à radioscopia;<br />
3. Ter baixo perfil (bordas suaves e pouco traumáticas);<br />
4. Ter grande força radial;<br />
5. Ser construído com células amplas (não ideal<br />
para a aplicação no ducto arterioso);<br />
6. Ser resistência à fadiga e à corrosão;<br />
7. Possibilitar nova dilatação (para adaptar-se ao<br />
crescimento do vaso).<br />
A experiência recente com a aplicação de stents<br />
em neonatos resume-se, em sua quase totalidade, ao<br />
168
Simões LC, et al. Uso de Stents no Neonato com Cardiopatia Congênita. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 167-175.<br />
uso dos expansíveis com balão desenhados para tratamento<br />
da doença arterial coronária e, recentemente,<br />
ao uso dos auto-expansíveis utilizados para tratamento<br />
de vasos de calibre médio como artérias renais, abandonando<br />
as técnicas iniciais de stents montados em<br />
balões.<br />
SELEÇÃO DOS PACIENTES<br />
A utilização de stents em neonatos com cardiopatias<br />
congênitas tem duas indicações principais:<br />
1. Manter o fluxo sangüíneo sistêmico em cardiopatias<br />
com fluxo sistêmico ducto-dependente:<br />
síndrome de hipoplasia do coração esquerdo,<br />
cardiopatias complexas com atresia ou hipoplasia<br />
importante da aorta ascendente;<br />
2. Manter o fluxo sangüíneo pulmonar em casos<br />
de obstrução importante ou total ao fluxo pulmonar<br />
em cardiopatias como a atresia pulmonar<br />
com septo íntegro, atresia tricúspide, formas complexas<br />
de atresia pulmonar com comunicação<br />
interventricular.<br />
Mais recentemente, os stents têm sido utilizados<br />
em outras situações no neonato com cardiopatias congênitas,<br />
além de sua aplicação no ducto arterioso, com<br />
a finalidade principal de ser um “procedimento ponte”<br />
para uma cirurgia em melhores condições clínicas.<br />
1. Ampliar a região infundíbulo-valvar, em casos<br />
complexos de tetralogia de Fallot, com importante<br />
hipoplasia do infundíbulo e anel;<br />
2. Desobstrução de vasos com compressão extrínseca,<br />
como em casos de drenagem anômala<br />
total mista das veias pulmonares supracardíaca<br />
obstrutiva;<br />
3. Obstrução aguda na anastomose sistêmica pulmonar<br />
por estenose entre a artéria subclávia e o<br />
tubo sintético implantado entre o vaso sistêmico<br />
e a artéria pulmonar.<br />
ducto é por demais tortuoso, enquanto a anatomia<br />
usualmente vista em pacientes com hipoplasia do coração<br />
esquerdo tende a ser, em origem e morfologia,<br />
muito similar ao ducto arterioso normal (Figura 1).<br />
Em algumas doenças, somente é possível acessar<br />
o ducto arterioso por uma via arterial e, nestas ocasiões,<br />
freqüentemente, ocorrem complicações vasculares como<br />
a trombose do vaso e sangramento excessivo. Nosso<br />
protocolo inclui, por essa razão, somente os casos em<br />
que o ducto possa ser acessado por via venosa (atresia<br />
pulmonar com comunicação interventricular, conexão<br />
atrioventricular univentricular ou em casos de atresia<br />
pulmonar com septo íntegro após a perfuração valvar<br />
com radiofreqüência).<br />
Assim sendo, implante do stent no ducto arterioso<br />
é proposto como uma alternativa não cirúrgica, oferecendo<br />
a potencial vantagem de eliminar as cirurgias<br />
complexas no período neonatal imediato 10-16 .<br />
O ecocardiograma é realizado para confirmar o<br />
diagnóstico do defeito cardíaco de base e para definir<br />
a permeabilidade do ducto e morfologia do mesmo.<br />
No momento do cateterismo, a angiografia é realizada<br />
em todos os pacientes para demonstrar a morfologia<br />
ductal de forma mais precisa.<br />
A anatomia do ducto arterioso angiográfica pode ser<br />
definida pela aortografia por oclusão, usando um cateter-balão<br />
angiográfico, ou por angiogramas seletivos diretamente<br />
próximo ao ducto utilizando cateteres 4F (cobra,<br />
Judkins direito ou cateteres Amplatzer modificados).<br />
Em pacientes nos quais o ducto é tortuoso, posições<br />
angiográficas com sitting up com inclinação crâniocaudal<br />
ou laid back view (tubo de raios-X frontal angulado<br />
caudalmente) são utilizadas com angulações individuais<br />
para delinear o ducto arterioso sem superposição entre<br />
ele e os grandes vasos (Figura 2).<br />
1. PACIENTES COM CIRCULAÇÃO PULMONAR<br />
DUCTO-DEPENDENTE<br />
Em nossa instituição, o protocolo para aplicação<br />
do stent no ducto arterioso de neonatos com cardiopatias<br />
e fluxo pulmonar ducto-dependente inclui os pacientes<br />
nos quais o tratamento cirúrgico foi considerado mais<br />
complexo e de maior risco com a anastomose sistêmicopulmonar<br />
cirúrgica convencional.<br />
Acreditamos que a colocação de stents em neonatos<br />
com cardiopatias com fluxo pulmonar ducto-dependente<br />
é mais difícil que nos doentes com cardiopatias sistêmicas<br />
ducto-dependentes; já que em neonatos com fluxo<br />
pulmonar ducto-dependente este difere substancialmente<br />
em sua origem aórtica, em sua morfologia e no local<br />
do implantação nas artérias pulmonares, quando comparado<br />
ao ducto arterioso normal. Com freqüência, o<br />
A B C<br />
Figura 1 - Diferentes origens e morfologias do ducto arterioso. A:<br />
O ducto arterioso origina-se da aorta descendente torácica e tem<br />
sua morfologia muito semelhante ao ducto normal. B e C: A origem<br />
do ducto desloca-se em direção ao arco aórtico, modificando seu<br />
ângulo normal com a aorta e ficando mais perpendicular. Freqüentemente<br />
é tortuoso e mais longo que o ducto da figura 1A. Modificado de<br />
Schneider et al. 10 .<br />
169
Simões LC, et al. Uso de Stents no Neonato com Cardiopatia Congênita. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 167-175.<br />
estenose residual devido a um incompleto stenting do<br />
ducto arterioso.<br />
Em caso de estenose residual, um stent adicional<br />
é implantado com a finalidade de cobrir-se totalmente<br />
o ducto. Protusão do stent para dentro da aorta ou da<br />
artéria pulmonar é avaliada pelo aortograma final. Após<br />
o implante do stent, a infusão de heparina é continuada<br />
(10 U/kg/h, para as primeiras 48 horas e 5 U/kg/h,<br />
nos próximos dois dias).<br />
No seguimento, os pacientes recebem drogas antiplaquetárias,<br />
administradas oralmente (2-3 mg/kg dia<br />
de ácido acetilsalicílico).<br />
Figura 2 - Angiografia com tubo de raios-X frontal angulado caudalmente,<br />
demonstrando a anatomia do ducto arterioso em paciente com<br />
atresia pulmonar em cardiopatia complexa. Observa-se a tortuosidade<br />
do ducto arterioso e seu implante na origem das artérias pulmonares<br />
direita e esquerda, aspectos que dificultam o implante do stent.<br />
Com o uso da angiografia e de calibradores digitais,<br />
a anatomia, as medidas do maior comprimento e<br />
o mínimo diâmetro do ducto arterioso são obtidos<br />
com êxito.<br />
Como afirmado anteriormente, o implante do stent<br />
no ducto arterioso necessita de várias abordagens devido<br />
a sua origem e morfologia variáveis, como também<br />
da anatomia da cardiopatia congênita base.<br />
Nos pacientes em que a colocação do stent se faz<br />
por via femoral e através do trato de saída do ventrículo<br />
direito, ela deve ser feita preferencialmente como um<br />
procedimento adicional, alguns dias após o procedimento<br />
inicial de perfuração e valvoplastia pulmonar com<br />
balão. Como a indicação de estabilizarmos o ducto<br />
arterioso se faz pela presença de hipóxia, por morfologia<br />
ventricular desfavorável para manter um débito pulmonar<br />
adequado, estes neonatos se encontram em infusão<br />
de PgE1.<br />
Assim, após entrarmos na artéria pulmonar com<br />
um cateter de furo terminal, uma guia 0,014 é posicionada<br />
na aorta descendente via ducto arterioso e, sobre<br />
a guia, um cateter-guia é posicionado próximo ao<br />
extremo pulmonar do ducto arterioso. Em seguida, o<br />
stent é avançado para dentro do ducto arterioso. O<br />
stent deve recobrir todo o comprimento ductal, principalmente<br />
o extremo pulmonar, local freqüente de estenose<br />
residual por constrição do tecido ductal após a<br />
suspensão da PgE1.<br />
Ao final do procedimento, repete-se a angiografia<br />
em todos os pacientes, para confirmar a posição do<br />
stent e se excluir a possibilidade de existência de<br />
O segundo grupo de pacientes inclui os casos<br />
complexos de atresia pulmonar, como anteriormente<br />
definimos em nosso protocolo. Após sondarmos a<br />
aorta ascendente via ventrículo (atresia pulmonar com<br />
comunicação interventricular ou conexão atrioventricular<br />
univentricular) e definirmos a anatomia ductal e<br />
das artérias pulmonares, o ducto é sondado utilizando<br />
um cateter 4F (cobra, Judkins direito ou Pig Tail cortado,<br />
dependendo da angulação formada do ducto arterioso<br />
em sua origem arterial sistêmica). Com uma guia<br />
0,014, sondamos a artéria pulmonar evitando uma<br />
excessiva manipulação e trauma da região ductal, o<br />
que poderia causar possível espasmo ductal.<br />
Em seguida e sobre a guia 0,014, um cateter-guia<br />
5F Judkins direito é posicionado na aorta, próximo à<br />
origem do ducto, quando, então, realizamos o implante<br />
do stent já definido previamente pela morfologia e<br />
dimensões ductais. Após o implante e antes da retirada<br />
do cateter-guia, nova aortografia é realizada, avaliando<br />
o correto posicionamento do stent e a necessidade<br />
de um segundo stent para cobrir-se totalmente o tecido<br />
ductal (Figura 3).<br />
Em recém-nascidos com peso corporal entre 1500<br />
e 2000g, com artérias pulmonares pequenas e quociente<br />
de McGoon menor que 1-5, a cirurgia para a anastomose<br />
sistêmico-pulmonar apresenta, com freqüência, dificuldades<br />
técnicas em sua execução 17 .<br />
Apesar de não termos experiência neste grupo<br />
especial de recém-nascidos com implante do stent<br />
ductal, esta técnica pode ser uma atrativa alternativa<br />
para a cirurgia de shunt sistêmico-pulmonar.<br />
A proliferação da íntima, até o momento pouco<br />
previsível e controlável, poderá reduzir o fluxo pulmonar,<br />
necessitando a redilatação do stent, com adicional<br />
exposição à radiação, para se manter o paciente em<br />
condições ótimas 18 . A experiência animal é limitada,<br />
mas indica que a proliferação neointimal intensa ocorre<br />
dentro de 14 meses após o implante.<br />
O aumento da cianose poderá ser uma indicação<br />
para novo cateterismo com vistas à redilatação. Entretanto,<br />
no momento, a literatura orienta repetir o cateterismo<br />
três a seis meses após o implante do stent<br />
170
Simões LC, et al. Uso de Stents no Neonato com Cardiopatia Congênita. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 167-175.<br />
A B C<br />
D E F<br />
Figura 3 - Estudo angiográfico de paciente com atresia pulmonar e comunicação interventricular, ducto arterioso bilateral nutrindo as artérias<br />
pulmonares hilares e ausência das artérias pulmonares intrapericárdicas. Os ductos direito e esquerdo foram estabilizados com stents expandidos<br />
com balão e a aorta sondada desde o ventrículo direito.<br />
como rotina, para evitar uma indesejável oclusão completa<br />
do stent.<br />
2. PACIENTES COM CIRCULAÇÃO SISTÊMICA<br />
DUCTO-DEPENDENTE<br />
Os recém-nascidos com cardiopatias congênitas e<br />
circulação sistêmica ducto-dependente também recebem<br />
a infusão de PgE1 para manter a permeabilidade<br />
ductal. Em alguns pacientes, particularmente na presença<br />
de choque cardiogênico, este tratamento farmacológico<br />
poderá ser inefetivo e a permeabilidade ductal<br />
só poderá ser conseguida pelo implante do stent no<br />
ducto arterioso 19 .<br />
O prognóstico limitado dos pacientes com síndrome<br />
de hipoplasia do coração esquerdo (SHCE) é causado,<br />
até agora, pela alta mortalidade durante a fase I do<br />
procedimento de Norwood.<br />
Adicionalmente, um significativo número de pacientes<br />
morre no período entre a primeira e segunda fases<br />
do procedimento 20 .<br />
Os pacientes com SHCE também têm mortalidade<br />
alta enquanto aguardam o transplante cardíaco e podem<br />
também serem excluídos da lista de espera para o<br />
transplante devido à alta resistência pulmonar, muitas<br />
vezes fixa após o sexto mês de vida.<br />
Recentemente, relatos com aplicação de stent no<br />
ducto arterioso em pacientes com SHCE demonstraram<br />
a aplicabilidade desta técnica em cardiopatias complexas<br />
com a circulação sistêmica ducto-dependente 21 .<br />
O stent do ducto pode ser combinado com a<br />
bandagem das artérias pulmonares e uma septectomia<br />
atrial, se necessária. Esta paliação da SHCE foi descrita<br />
pela primeira vez por Gibbs et al. 11 e, sendo uma<br />
proposta tecnicamente factível, oferece uma opção para<br />
paliar efetivamente o paciente com SHCE. Entretanto,<br />
aflorou a questão se esta é uma razoável alternativa<br />
para estes pacientes. A morfologia ductal nas cardiopatias<br />
com circulação ducto-dependente é muito semelhante<br />
à morfologia ductal normal. Com freqüência, o<br />
diferencial são as dimensões do ducto, que tem um<br />
tamanho, geralmente, duas vezes maior que o ducto<br />
arterioso nas cardiopatias pulmonares ducto-dependentes.<br />
O stent selecionado deve ter, então, dimensões<br />
bem maiores que os stents coronários normalmente<br />
utilizados. Os melhores stents, em nossa experiência,<br />
para este grupo de pacientes, são os auto-expansíveis.<br />
171
Simões LC, et al. Uso de Stents no Neonato com Cardiopatia Congênita. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 167-175.<br />
São stents de tamanho médio de 8 mm e com comprimento<br />
entre 1,5 e 2,0 cm. Para evitar o deslocamento<br />
em direção à aorta descendente, por não existir<br />
um local de constrição que possa mantê-los fixos,<br />
sempre optamos por cobrir, além de todo o ducto<br />
arterioso, as regiões da artéria pulmonar e aorta próximas<br />
ao ducto arterioso.<br />
A definição ductal é obtida com aortografia em<br />
projeção oblíqua ou perfil esquerdo e as dimensões<br />
do ducto são mensuradas. Uma guia é posicionada na<br />
aorta descendente via ducto arterioso e o stent recobrindo<br />
todo o ducto arterioso é posicionado (Figura<br />
4). O mínimo de contraste deve ser utilizado para<br />
evitar-se o comprometimento da já pobre perfusão<br />
coronária com contraste.<br />
A heparina, nas doses já descritas como rotina<br />
para o implante de stents em cardiopatias com circulação<br />
pulmonar ducto-dependente, é iniciada e, em<br />
48 horas, a bandagem eletiva da artéria pulmonar é<br />
realizada 22,23 . Após a cirurgia, inicia-se a rotina com<br />
drogas antiplaquetárias.<br />
3. APLICAÇÃO DE STENTS EM NEONATOS<br />
COM CARDIOPATIAS CONGÊNITAS QUE NÃO<br />
NO DUCTO ARTERIOSO<br />
Este constitui um grupo pouco uniforme de pacientes.<br />
Algumas indicações decorreram da gravidade<br />
apresentada pelo paciente com choque cardiogênico,<br />
distúrbios metabólicos ou hematológicos que tornavam<br />
de alto risco a indicação de um procedimento<br />
cirúrgico. Uma outra indicação foi o implante em via<br />
de saída do ventrículo direito, em forma complexa de<br />
tetralogia de Fallot (uma forma complexa de tetralogia<br />
de Fallot com desconexão da artéria pulmonar esquerda<br />
da artéria pulmonar principal). O ramo esquerdo<br />
era nutrido por um grande vaso (Colateral? Ducto<br />
arterioso?) e as artérias pulmonar principal e direita se<br />
originavam do ventrículo direito que apresentava importante<br />
hipoplasia infundíbulo valvar pulmonar (Figura<br />
5). As artérias pulmonares principal e direita mediam<br />
15 mm. Foi implantado um stent na via de saída do<br />
ventrículo direito e os controles posteriores demonstraram<br />
crescimento da artéria pulmonar principal e<br />
direita. Em um segundo tempo, alguns meses após, a<br />
A B C<br />
D E F<br />
Figura 4 - Paciente com hipoplasia mitro-aórtica. A: Aortografia com oclusão em projeção oblíqua esquerda. Observa-se o amplo ducto arterioso<br />
e a importante hipoplasia da aorta ascendente, transversa e ístmica. B, C, D e E: Após posicionarmos um guia de troca em aorta descendente<br />
torácica, o stent auto-expansível foi posicionado e liberado cobrindo todo o ducto arterioso. F: O stent cobre todo o ducto arterioso, estando<br />
bem adaptado à região aórtica, que se continua ao mesmo.<br />
172
Simões LC, et al. Uso de Stents no Neonato com Cardiopatia Congênita. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 167-175.<br />
A B C<br />
D<br />
Figura 5 - Tetralogia de Fallot neonatal. A: Ventriculografia direita demonstrando a grave estenose infundíbulo valvar pulmonar, com importante<br />
hipoplasia da artéria pulmonar principal. B, C: Seqüência demonstrando o implante do stent no infundíbulo e valva pulmonar. D: Ventriculografia<br />
com o melhor fluxo anterógrado para a artéria pulmonar direita conseguido com o implante do stent. A artéria pulmonar esquerda é nutrida<br />
por amplo ducto arterioso. E: Reestudo dois meses após o implante, onde se observa desenvolvimento da artéria pulmonar direita, o que permitiu<br />
a unifocalização com a artéria pulmonar esquerda.<br />
E<br />
árvore pulmonar foi unifocalizada com realização de<br />
uma anastomose sistêmico-pulmonar para o pulmão<br />
direito e ligadura cirúrgica do vaso que nutria a artéria<br />
pulmonar esquerda.<br />
As estenoses que ocorrem no pós-operatório imediato<br />
das anastomoses sistêmico-pulmonares também<br />
podem ser tratadas com aplicação de stents, evitando<br />
a necessidade de um novo procedimento cirúrgico<br />
(Figura 6).<br />
CONCLUSÕES<br />
Nossa experiência inicial sugere que o implante<br />
de stents em neonatos com cardiopatias congênitas<br />
pode ser considerado uma alternativa a técnicas cirúrgicas<br />
convencionais ou um “procedimento ponte” para<br />
uma cirurgia paliativa ou corretiva em melhores condições<br />
hemodinâmicas e metabólicas.<br />
O implante de stent em um grupo selecionado de<br />
pacientes não tem o risco de complicações importantes<br />
e a distorção das estruturas e dos vasos próximos<br />
ao qual é aplicado normalmente não é observada.<br />
Estes últimos aspectos contrastam com a experiência<br />
dos shunts cirúrgicos.<br />
O tempo da cirurgia definitiva pode ser otimizado<br />
como na paliação cirúrgica.<br />
Na cirurgia definitiva, a ligadura do stent não tem<br />
apresentado problemas específicos, mas sua retirada e<br />
necessidade de reconstrução do vaso nos casos de<br />
SHCE têm sido relatadas como um procedimento longo<br />
e tecnicamente difícil.<br />
Desenvolvimentos futuros na tecnologia dos stents,<br />
por exemplo, stents mais flexíveis, podem aumentar o<br />
espectro das opções paliativas para aumento do fluxo<br />
pulmonar em circulações pulmonares ducto-dependentes,<br />
principalmente em ductos muito tortuosos.<br />
Entretanto, uma experiência maior com esta tecnologia<br />
é necessária antes de estabelecer-se como paliação<br />
nos defeitos cardíacos congênitos ou mesmo como “procedimento<br />
ponte” para cirurgias definitivas ou paliativas.<br />
173
Simões LC, et al. Uso de Stents no Neonato com Cardiopatia Congênita. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 167-175.<br />
A B C<br />
D E F<br />
Figura 6 - Neonato com atresia pulmonar e comunicação interventricular evoluindo com hipoxemia após a realização de anastomose sistêmicopulmonar.<br />
A: Observa-se a estenose na artéria subclávia direita no local do implante da anastomose sistêmico-pulmonar (seta). B, C, D e E:<br />
Seqüência demonstrando o implante de stent. F: Após implante, observa-se desaparecimento da estenose entre a artéria subclávia direita e<br />
o tubo de PTFE.<br />
Apesar das grandes melhorias com a operação de<br />
Norwood e suas modificações, assim como os avanços<br />
no manejo dos cuidados intensivos, os pacientes<br />
com SHCE permanecem com risco significativo de mortalidade<br />
cirúrgica e não cirúrgica, enquanto esperam<br />
as fases adicionais do estadiamento do procedimento<br />
de Norwood.<br />
Nos pacientes com SHCE, o implante de stents e<br />
subseqüente bandagem bilateral das artérias pulmonares<br />
permitem a oportunidade de combinar o primeiro<br />
e segundo estágio da cirurgia de Norwood ainda no<br />
período neonatal ou retardar o transplante. No caso<br />
da estratégia reconstrutiva, o procedimento paliativo<br />
com necessidade de bypass cardiopulmonar pode ser<br />
evitado no período neonatal.<br />
A colocação do stent no ducto arterioso e posterior<br />
bandagem da artéria pulmonar expande a estratégia<br />
cirúrgica nos recém-nascidos com lesões múltiplas obstrutivas<br />
do coração esquerdo. Em particular, a hipoplasia<br />
moderada do coração esquerdo ou valvas esquerdas<br />
pode maturar com o tempo e permitir o reparo biventricular<br />
após alguns meses. Para estes pacientes esta<br />
tecnologia é considerada um “procedimento ponte”.<br />
O mesmo pode ser aplicado para neonatos com<br />
desordens não cardíacas, com risco relevante de sobrevida,<br />
permitindo que o reparo cardíaco seja realizado<br />
posteriormente.<br />
A experiência a ser conseguida com a aplicação<br />
de stents nas cardiopatias ducto-dependentes terá em<br />
seus resultados futuros o impacto de novas estratégias<br />
de implante e do desenvolvimento de novas tecnologias<br />
(stents absorvíveis e mais flexíveis) e, sem dúvida, constitui,<br />
no momento, uma das fronteiras do tratamento<br />
intervencionista em defeitos congênitos, assim como<br />
em um passado recente o foi o fechamento hemodinâmico<br />
de defeitos septais intracardíacos.<br />
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Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 176-184.<br />
Pilla CB, Nogueira AJS. Manejo Híbrido da Síndrome da Hipoplasia do Ventrículo Esquerdo. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />
176-184.<br />
Artigo de Revisão<br />
Manejo Híbrido da Síndrome da Hipoplasia<br />
do Ventrículo Esquerdo<br />
Carlo B. Pilla 1 , Aldemir J. S. Nogueira 2<br />
RESUMO<br />
Os autores descrevem, neste artigo de revisão, a abordagem<br />
híbrida, envolvendo técnicas intervencionistas e cirúrgicas,<br />
para o manejo da síndrome da hipoplasia do ventrículo<br />
esquerdo. São discutidos detalhes da técnica combinada<br />
como alternativa ao tratamento cirúrgico tradicional, bem<br />
como resultados imediatos e em curto prazo descritos na<br />
literatura e na instituição dos autores, com ênfase na primeira<br />
fase e no seguimento clínico posterior.<br />
DESCRITORES: Síndrome do coração esquerdo hipoplásico,<br />
cirurgia. Procedimentos cirúrgicos cardíacos, métodos. Cardiopatias<br />
congênitas.<br />
SUMMARY<br />
Hybrid Management of Left Ventricle<br />
Hypoplasia Syndrome<br />
In this review article, the authors describe the hybrid approach<br />
through interventional and surgical techniques for the management<br />
of left ventricle hypoplasia syndrome. Details of a<br />
combined technique as an alternative for the traditional surgery<br />
treatment are discused, as well as immediate and short term<br />
results described in literature and at the authors’ institution,<br />
focusing phase 1 and subsequent clinical follow-up.<br />
DESCRIPTORS: Hypoplastic left heart syndrome, surgery.<br />
Cardiac surgical procedures, methods. Heart defects, congenital.<br />
Asíndrome da hipoplasia do ventrículo esquerdo<br />
(SHVE) é uma cardiopatia congênita cianótica grave<br />
relativamente comum, sendo a décima em prevalência<br />
entre todas as cardiopatias congênitas, respondendo<br />
por cerca de 3% do total 1 . A história natural<br />
resulta em óbito na totalidade dos casos, a grande<br />
maioria no período neonatal. Seu tratamento geralmente<br />
envolve três opções: (1) correção cirúrgica, (2)<br />
transplante cardíaco ou (3) conduta expectante e conforto<br />
à família.<br />
A correção cirúrgica da SHVE prevê uma reconstrução<br />
em estágios, sendo que o primeiro (também conhecido<br />
como cirurgia de Norwood) é geralmente empregado<br />
no período neonatal e os seguintes com 6 meses<br />
(anastomose cavopulmonar bidirecional) e ao redor<br />
dos 2 anos (anastomose cavopulmonar total), conforme<br />
protocolos individuais de cada instituição 2 . O objetivo<br />
final é criar uma separação entre as circulações<br />
1<br />
Serviço de Cardiologia Pediátrica do Complexo Hospitalar da<br />
Santa Casa de Porto Alegre; Porto Alegre, RS.<br />
2<br />
Serviço de Cirurgia Cardíaca Pediátrica do Complexo Hospitalar<br />
da Santa Casa de Porto Alegre; Porto Alegre, RS.<br />
Correspondência: Carlo B. Pilla. Cardiologia Pediátrica. Hospital da<br />
Criança Santo Antônio. Av. Independência, 155 - Porto Alegre, RS<br />
- CEP 90035-074 • e-mail: cbpilla@hotmail.com<br />
Recebido em: 14/02/2006 • Aceito em: 03/03/2006<br />
pulmonar e sistêmica, resultando em alívio da cianose,<br />
redução da sobrecarga de volume sobre o ventrículo<br />
principal e permitindo débito cardíaco adequado, sem<br />
aumento significativo da pressão venosa central.<br />
A terapia cirúrgica da SHVE sofreu avanços consideráveis<br />
no manejo pré, trans e pós-operatórios, nas<br />
últimas duas décadas; entretanto, os resultados permanecem<br />
pobres na maioria das instituições. Um estudo<br />
multicêntrico na América do Norte 3 , utilizando dados<br />
coletados pela Congenital Heart Surgeons Society, descreveu<br />
os desfechos da correção cirúrgica para SHVE.<br />
Este trabalho mostrou que a sobrevida imediata após<br />
a cirurgia de Norwood é de 72%, sendo adicionada<br />
uma mortalidade de 12%, no período entre esta cirurgia<br />
e o estágio 2. Após a realização dos estágios 2 e 3,<br />
a sobrevida total da coorte inicial é de apenas 50% 3 .<br />
O sucesso do transplante cardíaco depende da<br />
disponibilidade de órgãos para transplante. No período<br />
neonatal, a disponibilidade de corações para transplante<br />
é reconhecidamente pequena, resultando em<br />
elevada mortalidade na lista de espera 4 .<br />
A abordagem híbrida foi idealizada com o propósito<br />
de reduzir a morbi-mortalidade associada ao tratamento<br />
cirúrgico convencional, ao possibilitar postergar<br />
uma cirurgia cardíaca de grande porte para além<br />
do período neonatal. Adicionalmente, permite aumen-<br />
176<br />
CarloPilla.p65 176<br />
9/6/2006, 17:44
Pilla CB, Nogueira AJS. Manejo Híbrido da Síndrome da Hipoplasia do Ventrículo Esquerdo. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />
176-184.<br />
tar a segurança e, conseqüentemente, o tempo de<br />
espera para o aparecimento de doadores de coração,<br />
se a opção de tratamento for transplante cardíaco. Em<br />
casos selecionados, pode contribuir para a migração<br />
de manejo cirúrgico univentricular para biventricular,<br />
ao permitir o crescimento de estruturas como ventrículo<br />
e arco aórtico.<br />
A abordagem híbrida para SHVE prevê a cooperação<br />
entre cirurgiões e intervencionistas em uma seqüência<br />
de procedimentos e permite incorporar avanços<br />
recentes na tecnologia de materiais e técnicas intervencionistas<br />
e cirúrgicas. Este artigo de revisão tem<br />
por objetivo descrever a técnica de abordagem híbrida<br />
para SHVE, com ênfase no estágio 1. Adicionalmente,<br />
serão descritos e comentados os resultados<br />
imediatos e em curto prazo da instituição dos autores<br />
e os relatados na literatura por outros grupos.<br />
TÉCNICA<br />
A abordagem híbrida da SHVE adotada na instituição<br />
dos autores consiste em uma cirurgia cardíaca<br />
com circulação extracorpórea (que incorpora aspectos<br />
dos estágios 1, 2 e 3 tradicionais), precedida e<br />
seguida de dois procedimentos combinados menos<br />
invasivos e sem circulação extracorpórea, de acordo<br />
com descrito por Galantowicz e Cheatham 5 .<br />
Estágio 1<br />
O estágio 1 da abordagem híbrida para SHVE<br />
varia discretamente entre instituições 5-8 . Os objetivos<br />
da intervenção neste momento são prover fluxo sistêmico<br />
sem obstrução através do canal arterial, facilitar o retorno<br />
venoso pulmonar através de uma ampla comunicação<br />
interatrial (CIA) e balancear os fluxos sistêmico e pulmonar<br />
através da limitação do último. Esta intervenção<br />
é habitualmente realizada no período neonatal e pode<br />
ser efetuada na sala de hemodinâmica, com padrões<br />
de esterilização de bloco cirúrgico ou no próprio bloco<br />
cirúrgico, com auxílio de um braço “C” móvel para<br />
fluoroscopia.<br />
Após estabilização clínica com prostaglandina<br />
(PGE1) intravenosa e ajuste clínico do balanço de<br />
fluxos nas circulações sistêmica e pulmonar, na unidade<br />
de tratamento intensivo, o paciente é encaminhado ao<br />
procedimento no bloco cirúrgico ou sala de hemodinâmica.<br />
Se houver CIA restritiva, após início da anestesia<br />
geral, procede-se à atriosseptostomia com cateter-balão<br />
(procedimento de Rashkind), sob visualização fluoroscópica<br />
ou ecocardiográfica transtorácica. Não havendo<br />
necessidade de realização de atriosseptostomia com<br />
balão, o procedimento segue a rotina cirúrgica, com<br />
técnica anestésica endovenosa total (midazolan, fentanil<br />
e pancurônio) em associação com isofluorano; monitorização<br />
com eletrocardiograma, pressão arterial invasiva<br />
através de cateter em artéria radial e pressão venosa<br />
central através de cateter introduzido por punção de<br />
uma das veias femorais. É importante a presença de<br />
dois acessos arteriais invasivos para monitorização<br />
pressórica, sendo um deles em membro superior direito<br />
e outro em aorta abdominal (acesso umbilical) ou<br />
membro inferior. A partir deste momento, a infusão de<br />
PGE1 é interrompida, de modo a induzir certa constrição<br />
do canal arterial e permitir maior estabilização do stent<br />
após o seu implante. Iniciamos com toracotomia transesternal<br />
e exposição adequada de ambos os ramos<br />
pulmonares e do canal arterial, em seu trajeto após a<br />
origem dos ramos pulmonares. É importante que se<br />
inicie pela bandagem dos ramos, porque ao controlar<br />
o fluxo pulmonar há melhora significativa da perfusão<br />
sistêmica, propiciando estabilidade hemodinâmica que<br />
facilitará os procedimentos subseqüentes; outro motivo<br />
é prevenir dificuldade de abordagem do ramo pulmonar<br />
esquerdo, se o stent já estiver posicionado no canal<br />
arterial. As bandagens são confeccionadas com cintas<br />
de tubo siliconizado (Silastic ® ), posicionadas na origem<br />
de cada ramo; iniciamos pelo ramo esquerdo e monitoramos<br />
o diâmetro da restrição através da melhora da<br />
pressão arterial sistêmica e da queda da saturação pela<br />
oximetria de pulso. Em nossa observação, o diâmetro<br />
final adequado tem variado entre 3 e 3,5 mm (Figura 1).<br />
Após esta etapa, faz-se uma “bolsa” no tronco<br />
pulmonar, logo acima do plano valvar. Esta localização<br />
é importante, pois facilita o posicionamento adequado<br />
do stent posteriormente. Neste local, insere-se<br />
um introdutor percutâneo, cortado manualmente, com<br />
cerca de 2 cm de comprimento. Neste momento, o<br />
paciente recebe heparina endovenosa em bolus, na<br />
dose de 100 unidades/kg. Realizam-se, então, angio-<br />
Figura 1 - Aspecto das bandagens em ramos pulmonares após a sua<br />
confecção e ajuste.<br />
177<br />
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grafias através do “braço lateral” do introdutor, habitualmente<br />
em oblíqua anterior esquerda 45-60°, com<br />
o intuito de visualizar o canal arterial, as bandagens<br />
nas artérias pulmonares, o fluxo reverso para o arco<br />
aórtico e a presença de coarctação associada (Figura<br />
2). A partir daí, procede-se ao implante do stent no<br />
canal arterial. Nossa preferência é utilizar stent expansível<br />
por balão, por sermos mais familiarizados com este<br />
tipo de prótese; outras instituições utilizam tanto stents<br />
auto-expansíveis como balão-expansíveis. Após a realização<br />
das angiografias através do introdutor no tronco<br />
pulmonar, insere-se um cateter diagnóstico Judkins<br />
direita 5 Fr, com um fio-guia hidrofílico 0,035 polegadas,<br />
150 cm de comprimento, com ponta angulada<br />
(Glidewire, Terumo Corp, Tokyo, Japão). Com a ajuda<br />
do fio-guia, o canal arterial é canulado e, a seguir, a<br />
aorta descendente. Após avançar o cateter por sobre<br />
o fio-guia até o nível da aorta abdominal, troca-se o<br />
fio-guia por outro de 0,035 polegadas, 150 cm de<br />
comprimento, ponta J ou reta, standard (Cordis Corp,<br />
Miami, EUA). Desta forma, retira-se o cateter diagnóstico<br />
e deixa-se o fio-guia com a ponta na aorta abdominal.<br />
Sobre este fio-guia, insere-se um stent periférico,<br />
montado sobre um cateter-balão over-the-wire que<br />
permita a passagem de fio-guia 0,035 polegadas. Nossa<br />
preferência é por stent Palmaz Genesis (Cordis Corp,<br />
Miami, EUA), habitualmente com 19 mm de extensão,<br />
montado em cateter-balão Opta (Cordis Corp, Miami,<br />
EUA), com diâmetros que costumam variar entre 9 e<br />
10 mm. Outra opção adequada é stent Bridge Assurant<br />
(Medtronic, Inc., Minneapolis, EUA), com 20 mm de<br />
extensão. Alternativamente, pode-se usar um stent alone,<br />
montado manualmente sobre um cateter-balão periférico.<br />
Neste caso, nossas preferências são o cateter-balão<br />
Powerflex (Cordis Corp, Miami, EUA) 9 ou 10 mm de<br />
diâmetro e 2 cm de comprimento e stent Palmaz Genesis<br />
XD (Cordis Corp, Miami, EUA) 19 mm ou Double Strut<br />
LD (EV3, St Paul, EUA) 16 mm de comprimento. O<br />
diâmetro do balão é determinado pelo peso do paciente<br />
( 3 kg = 10 mm), não sendo feitas rotineiramente<br />
medidas do calibre e comprimento do canal<br />
arterial. O posicionamento do stent baseia-se em injeções<br />
teste de contraste pelo “braço lateral” do introdutor,<br />
bem como pela posição dos marcadores radiopacos<br />
das bandagens das artérias pulmonares (Figura 3). Em<br />
casos em que há coarctação da aorta associada, prefere-se<br />
posicionar o stent mais distalmente, de modo<br />
que avance na aorta descendente. Após a insuflação<br />
do cateter-balão, costuma-se observar instabilidade hemodinâmica<br />
transitória, com queda na pressão arterial<br />
e saturação de oxigênio (SATO 2<br />
), bem como se notam,<br />
comumente, alterações na repolarização ventricular,<br />
sugestivas de isquemia miocárdica aguda. Este período<br />
geralmente tem duração de 1 a 5 minutos. Após<br />
este “período de adaptação”, realiza-se nova angiografia<br />
(Figura 4), avalia-se subjetivamente (visualmente) a função<br />
contrátil do ventrículo direito e verifica-se o gradiente<br />
entre a artéria do membro superior direito e a do<br />
membro inferior. Havendo manutenção de sinais de<br />
isquemia miocárdica no eletrocardiograma, redução<br />
na função contrátil ventricular direita e gradiente picoa-pico<br />
maior do que 20 mmHg, sem haver sinais angiográficos<br />
de estreitamento no trajeto do stent ou próximo<br />
às suas extremidades, poder-se-á considerar dilatar<br />
as células do stent que estão “cavalgando” o arco<br />
aórtico. Esta manobra idealmente é realizada via retró-<br />
Figura 2 - Angiografia após bandagens das artérias pulmonares e<br />
pré-implante de stent.<br />
Figura 3 - Posicionamento do stent no canal arterial.<br />
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artérias pulmonares e manutenção da função contrátil<br />
ventricular direita.<br />
Durante as consultas, é importante a avaliação da<br />
SATO 2<br />
, do esforço ventilatório e verificação de pulsos.<br />
O ecocardiograma deve ser utilizado de forma liberal<br />
e direcionado para a avaliação dos seguintes tópicos:<br />
1. Stent no canal arterial: verificação de sinais obstrutivos;<br />
2. Septo interatrial: avaliação da comunicação interatrial;<br />
3. Artérias pulmonares: avaliação do grau de obstrução<br />
ocasionado pelas bandagens cirúrgicas;<br />
4. Função ventricular direita;<br />
Figura 4 - Angiografia imediatamente após o implante do stent.<br />
grada, através de acesso arterial femoral e possui o<br />
objetivo de aumentar o fluxo retrógrado para o arco<br />
aórtico e artérias coronárias. Neste caso, utiliza-se cateterbalão<br />
coronário com 3-4 mm de diâmetro. Não havendo<br />
êxito e no caso de não haver fluxo anterógrado para<br />
a aorta ascendente (atresia aórtica ou mitral), pode-se<br />
considerar a interposição de um conduto cirúrgico<br />
(shunt) entre o tronco pulmonar e a artéria inominada<br />
para auxiliar a perfusão coronariana, desta forma, contribuindo<br />
para evitar a disfunção ventricular direita 9 .<br />
Após estas etapas, o paciente é encaminhado à<br />
unidade de tratamento intensivo e o manejo pós-operatório<br />
é baseado na modulação da resistência vascular<br />
sistêmica. Como de hábito, são recomendadas profilaxia<br />
de endocardite bacteriana e utilização de antiagregante<br />
plaquetário (ácido acetilsalicílico 5 mg/kg/dia) após o<br />
restabelecimento de alimentação via oral. Neste ínterim,<br />
o paciente recebe heparina endovenosa em infusão<br />
contínua, suficiente para prolongar em 1,5 vez o tempo<br />
de referência de tromboplastina tecidual ativada.<br />
Seguimento após o estágio 1<br />
O período entre os estágios 1 e 2 é sujeito a<br />
diversas complicações, devendo ser acompanhado com<br />
revisões regulares e freqüentes.<br />
Nosso protocolo de seguimento inclui revisões<br />
freqüentes (a cada 1-3 semanas), a fim de detectar,<br />
precocemente, anormalidades desenvolvidas ao longo<br />
do tempo. São pré-requisitos chave para manutenção<br />
de adequada hemodinâmica, neste período, a presença<br />
de ampla CIA, fluxo irrestrito através do canal arterial<br />
e do arco aórtico, adequada restrição de fluxo nas<br />
5. Regurgitação tricúspide: marcador precoce de<br />
disfunção ventricular e de potencial mau prognóstico.<br />
Está possivelmente relacionado diretamente<br />
à insuficiência coronariana secundária a<br />
fluxo retrógrado reduzido no canal arterial. Este,<br />
por sua vez, é habitualmente relacionado à obstrução<br />
no canal arterial (stent).<br />
Com estas medidas, pensamos ser possível reduzir<br />
a morbi-mortalidade inerente a este período crítico e<br />
incrementar a chance de sucesso da cirurgia (estágio 2).<br />
Estágio 2<br />
O estágio 2 consiste na remoção do stent do<br />
canal arterial e da bandagem dos ramos pulmonares,<br />
reparo do arco aórtico e dos ramos pulmonares, secção<br />
da diminuta aorta ascendente e reimplante da mesma<br />
no tronco pulmonar, anastomose do tronco pulmonar<br />
ao arco aórtico, atriosseptectomia, anastomose cavopulmonar<br />
modificada para facilitar a complementação com<br />
anastomose cavopulmonar total (Fontan) percutânea<br />
no estágio 3. Todos os procedimentos são realizados<br />
com o paciente em circulação extracorpórea com períodos<br />
breves de pinçamento aórtico com monitorização<br />
online de saturação venosa. As modificações do hemi-<br />
Fontan tradicional incluem: a colocação de um marcador<br />
radiopaco na junção da cava inferior com o átrio<br />
direito e outro na bolsa da junção entre a veia cava<br />
superior e o átrio direito para orientar o posicionamento<br />
do stent coberto por ocasião do estágio 3 percutâneo.<br />
Estágio 3<br />
O estágio 3 é a finalização da anastomose cavopulmonar,<br />
com a incorporação do retorno venoso proveniente<br />
da veia cava inferior (anastomose cavopulmonar<br />
total). Trata-se de procedimento percutâneo, realizado<br />
na sala de hemodinâmica, e resumidamente consiste<br />
na interposição de um stent recoberto com PTFE<br />
entre a veia cava inferior e a superior, por dentro do<br />
átrio direito. O posicionamento e a ancoragem do stent<br />
são assegurados pelos marcadores radiopacos, em veia<br />
cava superior e pelo anel de Gore-Tex ® , na junção da<br />
179<br />
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veia cava inferior e átrio direito, acima da veia hepática<br />
média. Acredita-se que o crescimento somático do paciente<br />
não induzirá a problemas relacionados ao calibre e<br />
comprimento do stent, à medida que se faz analogia<br />
com achados em estudos observacionais que estudaram<br />
o seguimento clínico de pacientes submetidos à<br />
anastomose cavopulmonar extracardíaca.<br />
RESULTADOS IMEDIATOS E EM CURTO PRAZO<br />
Experiência dos autores<br />
A abordagem híbrida para SHVE em nossa instituição<br />
teve início em agosto de 2005. No período de<br />
agosto de 2005 a janeiro de 2006, seis pacientes (4 M:<br />
2 F; 3 (2-12) dias de vida) portadores de SHVE foram<br />
submetidos à abordagem híbrida como alternativa à<br />
cirurgia de Norwood. Um paciente tinha diagnóstico<br />
pré-natal e foi encaminhado imediatamente após o<br />
parto à unidade de tratamento intensivo; os demais<br />
foram encaminhados por suspeita clínica de cardiopatia<br />
congênita. Quase todos os pacientes (cinco) apresentavam<br />
anatomia de atresia mitral e aórtica, não tendo<br />
sido evidenciada presença de fluxo anterógrado pela<br />
aorta ascendente neste grupo; outro paciente possuía<br />
estenose mitral e aórtica graves, combinadas com hipoplasia<br />
moderada do ventrículo esquerdo e importante<br />
redução da função contrátil do mesmo.<br />
Os pacientes foram manejados de forma habitual<br />
para SHVE, incluindo uso de PGE1 intravenosa, ventilação<br />
mecânica com hipercapnia permissiva (se saturação<br />
de oxigênio acima de 90%) e modulação da resistência<br />
vascular sistêmica com drogas vasoativas, se<br />
necessário. Todos os procedimentos foram realizados<br />
em bloco cirúrgico, com auxílio de equipamento de<br />
fluoroscopia portátil com braço em “C”. As características<br />
dos pacientes e detalhes principais dos procedimentos<br />
estão descritos nas Tabelas 1 e 2.<br />
Todos os pacientes foram manejados conforme<br />
protocolo exposto anteriormente; três pacientes necessitaram<br />
realizar atriosseptostomia simultânea ao implante<br />
de stent ductal e bandagem das artérias pulmonares.<br />
A atriosseptostomia foi realizada da forma habitual<br />
(punção femoral) em dois pacientes e de forma “peratrial”,<br />
em outro (Figura 5). Nos dois pacientes com<br />
acesso femoral, utilizou-se cateter de atriosseptostomia<br />
TABELA 1<br />
Características dos pacientes<br />
Idade (dias) Peso (kg) Sexo<br />
Paciente 1 03 3,8 M<br />
Paciente 2 02 0,3 F<br />
Paciente 3 03 2,9 M<br />
Paciente 4 12 1,5 M<br />
Paciente 5 04 2,7 M<br />
Paciente 6 10 2,3 F<br />
Mediana (variação) 3,5 (2-12) 2,8 (1,5-3,8) 4M: 2F<br />
Figura 5 - Acesso “peratrial” para atriosseptostomia com balão.<br />
TABELA 2<br />
Características dos procedimentos<br />
Introdutor Balão/stent Gradiente Ao Sat O 2<br />
pós PAM pós<br />
(Fr) A - D pós-stent (%) (mmHg)<br />
Paciente 1 7 Opta 10 mm PG Large 19 mm 10 80 50<br />
Paciente 2 7 Opta 9 mm PG Large 19 mm 15 82 40<br />
Paciente 3 7 Opta 10 mm PG Large 19 mm 25 79 52<br />
Paciente 4 7 Amiia 7 mm PG Medium 18 mm 15 84 32<br />
Paciente 5 9 Powerflex 9 mm DSLD 16 mm Não medido 82 38<br />
Paciente 6 6 Medtronic 8 mm Bridge Assurant 20 mm 5 65 48<br />
PG= Palmaz Genesis; DSLD= Double Strut Large Diameter; Sat O 2<br />
= saturação de oxigênio pela hemoglobina; PAM= pressão<br />
arterial média.<br />
180<br />
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Pilla CB, Nogueira AJS. Manejo Híbrido da Síndrome da Hipoplasia do Ventrículo Esquerdo. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />
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6 F, com balão de 14 mm de diâmetro (Medtronic,<br />
Inc. Minneapolis, EUA). No outro paciente, optou-se<br />
por acesso “peratrial”, devido às condições particulares<br />
deste paciente (prematuro de baixo peso) dificultarem<br />
o acesso vascular femoral. Neste paciente, utilizouse<br />
cateter de atriosseptostomia 5F, com balão 9,5 mm<br />
de diâmetro (NuMED, Inc, Hopkinton, EUA). Nenhum<br />
paciente necessitou intervenção simultânea para incremento<br />
de fluxo retrógrado no arco aórtico (conduto<br />
cirúrgico entre o tronco pulmonar e o braquiocefálico<br />
ou dilatação de células do stent ductal). Três pacientes<br />
apresentaram óbito intra-hospitalar: dois deles faleceram<br />
no 1º dia de pós-operatório; um era prematuro de<br />
baixo peso (1,5 kg), com doença de membrana hialina<br />
associada e havia tratado septicemia bacteriana prévia<br />
ao procedimento; seu óbito foi atribuído à hemorragia<br />
intracraniana massiva logo após o procedimento (paciente<br />
4). Outro paciente faleceu 46 dias após o procedimento,<br />
tendo apresentado evolução clínica complicada<br />
por 3 septicemias (2 bacterianas e 1 fúngica), insuficiência<br />
renal (necessitando diálise peritoneal prolongada)<br />
e falência de múltiplos órgãos. Neste período, houve<br />
instabilidade hemodinâmica apenas em momentos isolados,<br />
usualmente relacionados com recrudescência<br />
infecciosa (paciente 3). Finalmente, o paciente 6 faleceu<br />
nas primeiras horas de pós-operatório por disfunção<br />
ventricular direita, provavelmente secundária à má perfusão<br />
coronariana. Este paciente apresentava fluxo anterógrado<br />
para a aorta ascendente e possuía arco aórtico<br />
relativamente bem desenvolvido em relação aos demais<br />
(diâmetro médio de 6 mm). Não havia sinais de hipofluxo<br />
retrógrado no arco aórtico após o implante do stent e<br />
não houve instabilidade hemodinâmica significativa<br />
imediatamente após o implante. A CIA necessitou ser<br />
ampliada por atriosseptostomia prévia ao procedimento,<br />
com CIA de diâmetro final de 5 mm, com fluxo<br />
laminar e ausência de gradiente interatrial apreciável<br />
pelo ecocardiograma. Este paciente desenvolveu hipoxemia<br />
(SATO 2<br />
65%) e retenção de gás carbônico, com<br />
resultante acidose mista nas primeiras horas, e subseqüentemente<br />
melhoraram. Entretanto, apresentou sempre<br />
necessidade de inotrópicos em doses elevadas e parâmetros<br />
elevados de ventilação mecânica. Dosagem<br />
elevada de troponina com seis horas de pós-operatório<br />
demonstrou injúria miocárdica em atividade.<br />
Outro paciente (paciente 5) permanece em recuperação<br />
hospitalar devido à necessidade de reintervenção<br />
com 20 dias de pós-operatório por constrição ductal<br />
em área não coberta inicialmente pelo stent (Figura 6).<br />
Houve necessidade de implante de stent adicional de<br />
forma telescopada, a fim de garantir o envolvimento<br />
de toda a extensão do canal arterial (Figura 7). Adicionalmente,<br />
percebeu-se que a bandagem da artéria pulmonar<br />
esquerda está mais “frouxa”, permitindo hiperfluxo<br />
à esquerda. Este paciente tem plano de incrementar<br />
vasodilatação periférica e uso de diurético para tentar<br />
evitar reajuste cirúrgico da bandagem. Os outros dois<br />
estão em seguimento ambulatorial; o paciente 1 está<br />
em seguimento há 5 meses, tendo realizado dois cateterismos<br />
cardíacos e diversos ecocardiogramas no período.<br />
Apresentou redução progressiva das dimensões<br />
da CIA, motivando a realização de duas atriosseptostomias<br />
com balão, dilatações com balão estático e<br />
implante de stent em septo interatrial. Infelizmente este<br />
último ocorreu sem sucesso, presumivelmente por parede<br />
septal muito complacente e sem capacidade de<br />
estabilizar o stent (Figuras 8 A, B e C). Os procedimen-<br />
Figura 6 - Constrição de região ductal não coberta pelo stent.<br />
Figura 7 - Angiografia após o implante de stent adicional no canal<br />
arterial.<br />
181<br />
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Figura 8 - A: Cateter-balão e stent posicionados no septo interatrial; B: Migração do stent para o átrio direito e C: Sepultamento do stent<br />
na veia cava inferior.<br />
tos foram realizados com 1 mês e 4 meses de seguimento.<br />
Ao final, persiste CIA restritiva, com gradiente<br />
instantâneo máximo interatrial (estimado pelo ecocardiograma)<br />
de 12 mmHg. Como o paciente não apresenta<br />
edema pulmonar no controle radiológico, tem<br />
SATO 2<br />
entre 68-72%, é levemente taquipnéico e apresenta<br />
adequado ganho pondero-estatural, optou-se por<br />
não intervir novamente no septo interatrial até a realização<br />
do estágio 2 (em breve). O paciente 2 necessitou<br />
atriosseptostomia com balão, dois meses e meio<br />
após o procedimento híbrido, apresentando melhora<br />
imediata do gradiente transseptal, incremento da oxigenação<br />
sistêmica e resolução do edema pulmonar.<br />
Não foi necessário ajuste posterior das bandagens das<br />
artérias pulmonares em ambos pacientes em seguimento<br />
clínico. O paciente 1 foi estudado com cintilografia<br />
perfusional pulmonar aos 3 meses de seguimento, apresentando<br />
perfusão simétrica entre os pulmões (PE 47%;<br />
PD 53%). Em ambos pacientes, também não foi necessária<br />
nova dilatação do stent ductal por re-estenose,<br />
bem como dilatação de células do stent por baixo<br />
fluxo retrógrado no arco aórtico durante o seguimento<br />
clínico. Não houve aparecimento ou progressão do<br />
grau de insuficiência tricúspide, bem como de disfunção<br />
contrátil ventricular direita. Ambos recebem digoxina,<br />
furosemide e ácido acetilsalicílico.<br />
Experiência relatada na literatura<br />
A evidência disponível na literatura relativa ao<br />
estágio 1 da abordagem híbrida para SHVE consiste<br />
de séries de casos isoladas e estão resumidas na Tabela<br />
3. Gibbs et al. 10 demonstraram pela primeira vez a<br />
possibilidade técnica de se realizar o estágio 1 híbrido,<br />
em quatro pacientes portadores de SHVE. Após alguns<br />
anos, Michel-Behnke et al. 6,7 publicaram a sua experiência<br />
em manejo híbrido de SHVE e variantes. Após uma<br />
experiência inicial com 11 pacientes, os autores descrevem<br />
a casuística total com 20 pacientes. A mortalidade<br />
imediata foi de 2 (10%) pacientes; adicionalmente<br />
mais 2 pacientes faleceram após o estágio 1,<br />
enquanto aguardavam na lista para transplante cardíaco.<br />
Dez pacientes foram submetidos ao estágio 2 cirúrgico,<br />
com mortalidade imediata de 10% (1 paciente).<br />
Dois pacientes permanecem no período interestágios<br />
TABELA 3<br />
Experiência em abordagem híbrida para SHVE (estágio 1)<br />
Ref N Stent Mort Seg clínico Proc adicionais Mort<br />
imediata<br />
interestágios<br />
Gibbs et al. 10 , 1993 4 Balão-expansível 50% 5-16 semanas Não Não<br />
Michel-Behnke et al. 6 , 20 Balão-expansível 10% 57-174 dias Redil ou stent adicional; 10%<br />
2003 AST; angiop pulmonar<br />
Galantowicz et al 5 , 29 Balão e 17% 2,5-7 meses AST 10%<br />
2005 auto-expansível<br />
Lim et al. 8 , 2005 5 Auto-expansível 0% ? Não 40%<br />
Bacha et al. 11 , 2006 14 Auto-expansível 21% 3-6 meses AST, revisão BAP 14%<br />
AST= atriosseptostomia com balão, dilatação com balão estático precedida ou não de dilatação com balão com lâminas, implante<br />
de stent em septo interatrial; BAP= bandagens das artérias pulmonares.<br />
182<br />
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Pilla CB, Nogueira AJS. Manejo Híbrido da Síndrome da Hipoplasia do Ventrículo Esquerdo. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />
176-184.<br />
e outros dois sofreram reparo biventricular. Os autores<br />
concluíram que a abordagem híbrida possibilita que a<br />
reconstrução aórtica seja realizada após o período<br />
neonatal, permite melhores condições para os pacientes<br />
na lista de espera para transplante cardíaco e proporciona<br />
uma chance de recuperação de circulação biventricular<br />
em casos selecionados. Galantowicz e Cheatham<br />
5 publicaram, recentemente, sua experiência com<br />
o desenvolvimento de uma estratégia híbrida para o<br />
manejo da SHVE. Estes autores descrevem a sua experiência<br />
e as modificações na estratégia assistencial,<br />
resultado de observações feitas ao longo do tempo.<br />
Vinte e nove pacientes portadores de SHVE foram<br />
submetidos à terapia híbrida. Destes, cinco (17%) faleceram<br />
na mesma internação hospitalar do estágio 1.<br />
Adicionalmente, três pacientes faleceram no período<br />
interestágios. As causas de mortalidade imediata foram<br />
falência de múltiplos órgãos, disfunção ventricular e<br />
septicemia; as de mortalidade tardia estiveram relacionadas<br />
diretamente a procedimentos adicionais em dois<br />
pacientes (atriosseptostomia; avulsão de veia pulmonar<br />
e arritmias) ou ocorreu por motivos desconhecidos<br />
(morte súbita; um paciente). Dos oito pacientes que<br />
faleceram antes do estágio 2, seis haviam sido tratados<br />
antes do estabelecimento de rotina de tratamento e de<br />
acompanhamento, o que ocorreu após os primeiros<br />
12 pacientes, demonstrando a existência de uma curva<br />
de aprendizado e enfatizando a importância de acompanhamento<br />
clínico rigoroso entre os estágios. Lim et<br />
al. 8 descreveram sua experiência de estratégia em manejo<br />
de SHVE, a qual reservou a abordagem híbrida para<br />
pacientes considerados de “alto-risco” (baseado em<br />
fatores de risco anatômicos, funcionais e clínicos).<br />
Desta forma, os autores relataram uma série de 5 casos<br />
manejados com a terapêutica híbrida e compararam<br />
estes a 10 pacientes de “baixo risco” que foram operados<br />
(cirurgia de Norwood/Sano) e 7 pacientes de “alto<br />
risco” também submetidos à cirurgia. A mortalidade<br />
imediata foi zero no grupo híbrido, em comparação a<br />
10% e 71%, nos pacientes cirúrgicos com baixo e alto<br />
risco, respectivamente. Porém, no período interestágios,<br />
dois pacientes do grupo híbrido faleceram (disfunção<br />
miocárdica e morte súbita), reforçando a periculosidade<br />
deste período. Não obstante, os autores sugerem que<br />
a abordagem híbrida possa ser mais adequada que a<br />
cirúrgica nos pacientes considerados de “alto risco”.<br />
Mais recentemente, Bacha et al. 11 publicaram a sua experiência<br />
com estágio 1 híbrido para neonatos de alto<br />
risco com SHVE. Os autores descrevem uma série consecutiva<br />
de 14 casos, nos quais a mortalidade imediata<br />
foi de 22% (3 casos). Adicionalmente, mais 2 pacientes<br />
faleceram no período interestágios. As causas de óbito<br />
no período logo após o procedimento foram embolização<br />
sistêmica do stent ductal, disfunção miocárdica e infecção;<br />
enquanto que, no período interestágios, foram coarctação<br />
pré-ductal (hipofluxo retrógrado no arco aórtico)<br />
e oclusão de stent em septo interatrial. Houve necessidade<br />
de revisão cirúrgica das bandagens de artérias<br />
pulmonares nos primeiros pacientes. Sete dos quatorze<br />
pacientes necessitaram intervenções no septo interatrial<br />
(stent). Os autores concluem que o estágio 1 híbrido<br />
pode ser uma alternativa em pacientes de alto risco e<br />
aconselham a monitorização do desenvolvimento de<br />
estreitamento pré-ductal em pacientes com ausência de<br />
fluxo anterógrado pela aorta ascendente.<br />
DISCUSSÃO<br />
A abordagem híbrida para o manejo da SHVE<br />
vem sendo progressivamente mais descrita e, portanto,<br />
mais conhecida, à medida que um maior número de<br />
serviços tem demonstrado interesse na sua aplicação.<br />
Trata-se de uma maneira interessante de postergar uma<br />
cirurgia cardíaca de grande porte para além do período<br />
neonatal, teoricamente permitindo maior chance<br />
de recuperação do paciente. Beneficia-se da integração<br />
de habilidades do intervencionista e do cirurgião cardíaco<br />
e, ao mesmo tempo, incorpora avanços recentes<br />
na tecnologia de materiais. Sua aplicação em serviços<br />
com resultados cirúrgicos reconhecidamente bons é<br />
questionável, porém, infelizmente, estes locais são<br />
poucos no mundo. Para a realidade brasileira, carente<br />
de dados a respeito de resultados cirúrgicos em SHVE,<br />
parece ser uma opção viável e poderá auxiliar na<br />
redução da mortalidade nesta má formação congênita.<br />
Após esta experiência inicial, pudemos observar que<br />
alguns pontos críticos merecem maior atenção, dentre<br />
estes a manutenção de ampla comunicação interatrial<br />
(seja através de atriosseptostomias com balão, dilatação<br />
com balão estático ou implante de stent em septo<br />
interatrial), verificação regular da função contrátil do<br />
ventrículo direito, ausência de tolerância de gradiente<br />
pressórico no canal arterial (com baixo limiar para<br />
reintervenção e redilatação do stent e/ou implante de<br />
stent adicional) e monitorização do fluxo pulmonar<br />
(através de radiografias de tórax e cintilografias perfusionais<br />
pulmonares). O implante de stent no septo<br />
interatrial merece atenção à medida que a espessura<br />
mínima e o grau de complacência do septo que permita<br />
adequada estabilização do stent são difíceis de<br />
determinar claramente; a manutenção de adequada<br />
perfusão coronariana retrógrada é vital e existem fenômenos<br />
pós-operatórios imediatos relacionados à perfusão<br />
miocárdica que ainda desconhecemos.<br />
Estamos certos de que a manutenção de uma<br />
situação hemodinâmica favorável durante o período<br />
interestágios é essencial para o sucesso do estágio 2,<br />
este considerado uma cirurgia de grande porte. Desta<br />
forma, sugere-se fortemente a adoção de rotinas rigorosas<br />
de procedimento e de manejo/acompanhamento<br />
e a eleição de centros regionais de atendimento especializado<br />
a estes pacientes.<br />
AGRADECIMENTOS<br />
Os autores gostariam de agradecer aos Drs. Nicasio<br />
H. Tanaka e Nilton R. Delatorre, pela contribuição<br />
ativa no planejamento e atendimento destes pacientes<br />
183<br />
CarloPilla.p65 183<br />
9/6/2006, 17:44
Pilla CB, Nogueira AJS. Manejo Híbrido da Síndrome da Hipoplasia do Ventrículo Esquerdo. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />
176-184.<br />
na sala cirúrgica. Aos intensivistas pediátricos do Hospital<br />
da Criança Santo Antônio, por sua assistência de<br />
excepcional qualidade e pelo comprometimento com<br />
o bom atendimento ao paciente. Aos demais integrantes<br />
do Serviço de Cardiologia Pediátrica, pela compreensão<br />
e apoio no período de recuperação e seguimento<br />
clínico. E, finalmente, aos pais dos pacientes que permitiram<br />
o emprego desta nova técnica, como forma de<br />
minimizar o sofrimento de seus filhos.<br />
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184<br />
CarloPilla.p65 184<br />
9/6/2006, 17:44
Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />
Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />
Artigo de Revisão<br />
Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente<br />
Francisco Chamié 1,2,3 , Daniel Chamié 4 , Sérgio Ramos 2 , João Carlos Tress 5 , Rosaura Victer 6,7<br />
RESUMO<br />
O forame oval patente (FOP) é uma condição muito prevalente<br />
na população geral, e tem sido demonstrada sua associação<br />
com diversas condições patológicas, a saber: embolias paradoxais<br />
sistêmicas – acidentes vasculares cerebrais (AVC), ataques<br />
isquêmicos transitórios (AIT), infarto agudo do miocárdio<br />
(IAM), embolias para circulação mesentérica, renal, de<br />
membros inferiores, etc – enxaqueca, síndromes descompressivas<br />
em mergulhadores e síndrome de ortodeoxia-platipnéia.<br />
No presente texto, revisamos sua morfogênese, analisamos<br />
de forma detalhada sua relação com acidentes vasculares<br />
encefálicos e enxaqueca na atualidade, além do papel do<br />
aneurisma do septo interatrial (ASA) e sua relação com o<br />
forame. Descrevemos os métodos disponíveis para diagnóstico,<br />
e fazemos uma breve revisão histórica do fechamento<br />
percutâneo do forame oval, descrevendo desde as primeiras<br />
próteses utilizadas até as mais recentemente desenvolvidas.<br />
Apresentamos a técnica de fechamento percutâneo utilizada<br />
por nosso grupo e comparamos os resultados com as diferentes<br />
formas de tratamento.<br />
DESCRITORES: Defeitos do septo interatrial. Acidente cerebrovascular.<br />
Enxaqueca.<br />
SUMMARY<br />
Percutaneous Closure of Patent Foramen Ovale<br />
Patent foramen ovale is a highly prevalent condition in the<br />
general population and has been associated to a number<br />
of major pathologic conditions, such as: systemic paradoxical<br />
embolism (encephalic vascular accidents, transient ischemic<br />
attacks, acute myocardial infarction, mesenteric, renal and<br />
lower limbs embolism, etc.) migraine, decompression illness<br />
in divers, and orthodeoxia-platypnea syndrome. The present<br />
paper focuses patent foramen ovale morphogenesis, makes<br />
a detailed review of related encephalic vascular accidents<br />
and migraine in our days, and discusses the role of interatrial<br />
septal aneurysm and how it is associated to the foramen.<br />
The diagnosis methods available are described. The authors<br />
present a brief historic review of percutaneous closure of<br />
foramen ovale, and describe from the first prostheses used<br />
up to the most recent developments. The authors also present<br />
the percutaneous closure technique used by the team and<br />
compare results with the different treatment options.<br />
DESCRIPTORS: Heart septal defects, atrial. Cerebrovascular<br />
accident. Migraine.<br />
Oforame oval patente (FOP) é uma condição bastante<br />
prevalente e tem sido relacionado à ocorrência<br />
de alguns eventos clínicos de relevância.<br />
Atualmente, já é bem conhecida sua correlação com<br />
acidentes vasculares cerebrais isquêmicos (AVCi) e enxaqueca<br />
com aura (MA+). Além disso, estuda-se também<br />
sua relação com síndromes descompressivas em mergulhadores,<br />
hipoxemia refratária em indivíduos com infarto<br />
de ventrículo direito ou doença pulmonar grave, pla-<br />
1<br />
Hospital dos Servidores do Estado MS-RJ, Rio de Janeiro, RJ.<br />
2<br />
CARPE – Cardiologia Pediátrica e Fetal, Rio de Janeiro, RJ.<br />
3<br />
Hospital CardioBarra, Rio de Janeiro, RJ.<br />
4<br />
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP.<br />
5<br />
Hospital de Clínicas de Niterói, Niterói, RJ.<br />
6<br />
Hospital PROCORDIS, Niterói, RJ.<br />
7<br />
Universidade Federal Fluminense/UFF, Niterói, RJ.<br />
Correspondência: Francisco Chamié. Rua <strong>Vol</strong>untários da Pátria, 445<br />
- Sala 905. Centro Médico Botafogo. Botafogo, Rio de Janeiro, RJ.<br />
CEP 22270-000. Tel.: (21) 2539-3100 - Fax: (21) 2537-1264<br />
E-mail: fchamie@pobox.com<br />
Recebido em: 09/01/2006 • Aceito em: 27/01/2006<br />
tipnéia-ortodeoxia, ou mesmo aumentando o risco de<br />
complicações em cirurgias neurológicas ou de grande<br />
porte (cirurgias de fossa posterior, bariátricas, etc).<br />
MORFOGÊNESE E ETIOLOGIA DO FORAME<br />
OVAL (FO)<br />
Durante a embriogênese, a cavidade atrial primitiva<br />
vai ser dividida em átrios direito e esquerdo pelo<br />
desenvolvimento do septo interatrial.<br />
O septum primum (SP) desce da parede atrial dorsocefálica<br />
em direção ao coxim endocárdico atrioventricular,<br />
à esquerda do seio venoso, mantendo em sua<br />
porção caudal um orifício, o ostium primum (OP).<br />
Quando ocorre a fusão dessas estruturas, surge novo<br />
orifício no SP, o ostium secundum (OS).<br />
O septum secundum (SS) surge da parede ventrocefálica<br />
atrial, à direita do SP. Este septo cresce em<br />
direção caudal para recobrir o OS, formando o bordo<br />
superior da fossa oval. Esta fenda, situada caudalmente<br />
em relação ao SS e, cranialmente ao SP, forma uma<br />
espécie de válvula, que abre a fossa oval e permite a<br />
185<br />
FChamie.p65 185<br />
9/6/2006, 17:43
Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />
passagem de sangue da direita para esquerda, em situações<br />
em que a pressão atrial direita supere a esquerda.<br />
O funcionamento deste mecanismo é fundamental<br />
na vida fetal, permitindo que o sangue oxigenado que<br />
vem da placenta pela veia cava inferior passe através<br />
do septo interatrial, diretamente para a circulação sistêmica,<br />
evitando os pulmões (colapsados nessa fase<br />
da vida).<br />
Com o nascimento, a expansão dos pulmões acarreta<br />
o aumento da pressão atrial esquerda, conseqüente<br />
ao incremento do retorno venoso pulmonar, empurrando<br />
o SP de encontro à face atrial esquerda do SS,<br />
levando à fusão dos septos e ao fechamento do FO,<br />
por volta do primeiro mês de vida.<br />
Contudo, um segmento da população não apresenta<br />
essa fusão entre os septos e o forame pode permanecer<br />
patente ao longo da vida, ou fechar-se inicialmente<br />
para tornar a abrir diante de situações de sobrecarga<br />
pressórica direita.<br />
INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA<br />
Em 1931, Patten 1 apresentou um estudo anatômico<br />
por faixas etárias, mostrando uma prevalência de FOP<br />
estimada em 50% até a idade de dois anos; 35% entre<br />
dois e vinte anos e, cerca de 25% da população geral<br />
acima de vinte anos. Em séries de autópsia, o forame<br />
pode permanecer aberto em cerca de 20 a 27,3% das<br />
pessoas 2 . Já, Lock 3 estima a prevalência de FOP em<br />
10% a 15%, na população adulta normal.<br />
Até o momento, parece consenso entre a maioria<br />
dos trabalhos de que cerca de um quarto da população<br />
geral é portadora de FOP.<br />
FOP COMO CAUSA DE EVENTOS EMBÓLICOS<br />
Cohnhein 4 , em 1887, fez a primeira descrição de<br />
FOP relacionada à embolia paradoxal, ao realizar a<br />
necropsia de uma mulher jovem que havia falecido<br />
em decorrência de AVC. Na ocasião, sugeriu que a<br />
causa do óbito fosse a passagem de um coágulo através<br />
do FOP, se alojando na circulação cerebral.<br />
Em 1900, Fawcett e Blachford 5 estabeleceram o<br />
forame oval como potencial canal anatômico entre os<br />
átrios direito e o esquerdo.<br />
FOP E ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL<br />
O termo AVCi se refere à interrupção do fluxo<br />
sangüíneo ao cérebro, resultando em lesão cerebral,<br />
freqüentemente acompanhada de alguma seqüela. Cerca<br />
de 75% a 80% dos AVCs são de origem isquêmica 6 .<br />
Um AVCi pode ser causado por diversos processos<br />
fisiopatológicos diferentes. A causa sugerida pode representar<br />
alteração de grandes artérias (como estenose<br />
de artérias carótidas internas), em 20 a 25% dos casos,<br />
de pequenas artérias provocando infarto lacunar, em<br />
20% e acidente cardioembólico (como fibrilação atrial),<br />
em 20 a 25%. Estes estudos também sugerem que<br />
nenhuma causa é encontrada em 30 a 40% dos pacientes<br />
(AVC criptogênico) 7 .<br />
Quando eram estudados pacientes abaixo dos 55<br />
anos, Cabanes et al. 8 encontraram AVCs criptogênicos<br />
(AVCc) em 64% dos casos.<br />
É estimado que a incidência anual de AVCs, nos<br />
EUA, seja de 750.000, com uma mortalidade de 27% 9 .<br />
Isso torna o AVC a terceira principal causa de morte,<br />
somente atrás das doenças cardíacas e câncer 6 .<br />
O tempo médio de sobrevida após um AVC é de<br />
7 anos, período no qual o paciente fica mais sujeito<br />
à recorrência do que a população geral 7 .<br />
Os AVCc, provavelmente, são provocados por diversos<br />
fatores diferentes, mas a imensa maioria deles apresenta<br />
um dado comum, que é a patência do forame oval 10 .<br />
A presença de FOP como facilitador desses eventos<br />
tem sido cada vez mais relatada pela maioria dos<br />
autores, principalmente no que diz respeito a AVC em<br />
pacientes jovens.<br />
Em 1988, Lechat et al. 11 , estudando uma população<br />
de 60 pacientes, todos abaixo de 55 anos, com AVCi<br />
e exame cardiológico normal, encontraram prevalência<br />
de FOP em 54% dos pacientes sem causa identificada<br />
do seu AVC e sem fatores de risco; 40% em pacientes<br />
sem causa identificada, mas com fatores de risco; 21%<br />
em pacientes com uma causa óbvia para o seu AVC;<br />
e somente 10% de prevalência de FOP no grupo<br />
controle.<br />
Estudando 61 pacientes, Steiner et al. 12 encontraram<br />
FOP em 45% dos pacientes com AVCi criptogênico e,<br />
somente em 23% dos pacientes com AVCi associado<br />
a outros fatores de risco (aterosclerose de grandes<br />
vasos, isquemia lacunar e embolia cardiogênica).<br />
Da mesma forma, Webster et al. <strong>13</strong> constataram<br />
prevalência de FOP de 50%, em pacientes com AVCi<br />
de origem inexplicada, contra 15% no grupo controle.<br />
No Brasil, apesar de serem raros os estudos epidemiológicos<br />
publicados sobre doenças cerebrovasculares,<br />
estas se constituem em uma das mais freqüentes<br />
causas de óbito no país 14 .<br />
Diversos estudos têm mostrado evidente aumento<br />
da prevalência de FOP em pacientes jovens com AVCi<br />
criptogênico. Contudo, essa relação de FOP e AVCi<br />
não tem sido demonstrada em pacientes idosos 15,16 .<br />
Vale lembrar que é muito difícil provar que o FOP<br />
seria realmente a fonte do êmbolo em determinados<br />
pacientes, uma vez que, quando este procura atendimento<br />
médico, o evento embólico já ocorreu. Com<br />
isso, mesmo que se demonstre a presença de FOP, o<br />
máximo que podemos fazer é pressupor que o mesmo<br />
186<br />
FChamie.p65 186<br />
9/6/2006, 17:43
Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />
estaria envolvido como facilitador do fenômeno embólico,<br />
após todas as outras causas possíveis terem sido<br />
excluídas.<br />
Bridges et al. 17 postulam que se o AVCi devido a<br />
embolia paradoxal se assemelha a outros AVCi cardioembólicos,<br />
então também seriam propensos a carrrearem<br />
um alto risco de recorrência. Em concordância, Sievert<br />
et al. 15 afirmam que pacientes com um primeiro evento<br />
embólico presumivelmente causado por FOP portariam<br />
um risco aumentado de sofrerem eventos recorrentes<br />
e citam o Lausanne study, onde a taxa de recorrência<br />
anual foi de 1,9% para AVCi, 1,9% para ataque isquêmico<br />
transitório (AIT) e 3,8% para a combinação de<br />
AVCi/AIT, independente do tratamento com antiagregantes<br />
plaquetários ou anticoagulantes 18 .<br />
Windecker et al. 19 também relatam que pacientes<br />
com FOP e embolia paradoxal estariam sob risco aumentado<br />
de tromboembolismo recorrente, com uma taxa<br />
combinada de AVC e AIT de 3,4% a 3,8% por ano.<br />
Mas et al. 20 acompanharam longitudinalmente 581<br />
pacientes de 18 a 55 anos de idade, que tinham<br />
sofrido um AVCi criptogênico. Todos foram medicados<br />
com aspirina. Após 4 anos, o risco de AVC recorrente<br />
foi de 2,3% entre os que tinham FOP isolado, 15,2%<br />
entre os que tinham FOP e ASA e, 4,2% entre os que<br />
não tinham nenhuma das duas anormalidades. Importante<br />
ressaltar que não houve recorrência de eventos<br />
entre os pacientes que tinham ASA isolado.<br />
Esses resultados chamam, indubitavelmente, a atenção<br />
para o FOP como um dos principais fatores envolvidos<br />
na fisiopatogênese do AVCi de origem desconhecida,<br />
principalmente em adultos jovens, em quem a<br />
associação de outras etiologias é menos prevalente.<br />
FOP E ENXAQUECA<br />
Segundo o critério da International Headache Society,<br />
são reconhecidos dois tipos de enxaqueca: a enxaqueca<br />
sem aura ou enxaqueca comum (MA-) e a enxaqueca<br />
clássica, acompanhada dos sintomas da aura (MA+) 21 .<br />
A enxaqueca comum é mais freqüente, acometendo<br />
75% dos pacientes, enquanto que a enxaqueca<br />
clássica ocorre em 33% dos casos. A superposição se<br />
explica porque até 33% dos pacientes têm ambos os<br />
tipos de ataques durante a vida.<br />
A enxaqueca é um transtorno social importante,<br />
uma vez que 5% da população geral têm até 18 dias<br />
de enxaqueca por ano, interferindo com, ou mesmo<br />
impedindo, o desempenho normal das atividades diárias.<br />
Nos EUA, pelo menos 2,5 milhões de pessoas<br />
têm um dia de enxaqueca por semana 22 .<br />
A enxaqueca acomete pessoas jovens, com o pico<br />
de incidência entre 25 e 40 anos. Em pessoas abaixo<br />
de 40 anos, a enxaqueca é 350 vezes mais freqüente<br />
do que o AVC, enquanto que a incidência de AVC<br />
aumenta exponencialmente com a idade. Enxaqueca<br />
com aura pode ser o único fator de risco para AVC em<br />
mulheres abaixo de 35 anos, principalmente naquelas<br />
em uso de contraceptivos orais ou tabagistas 23 .<br />
Tem sido reportado que cefaléias migranosas, tipo<br />
enxaqueca, são freqüentemente relatadas em condições<br />
predispondo a AVCs, e estão presentes em até 34%<br />
dos ataques isquêmicos (57% em vértebro-basilares) 24 .<br />
Portadores de enxaqueca com aura têm maior<br />
incidência de FOP. Em pacientes portadores de eventos<br />
cerebrovasculares, Mas et al. 20 detectaram uma incidência<br />
maior de enxaqueca nos que apresentavam defeitos<br />
do septo atrial (27,4%), do que nos que tinham o<br />
septo íntegro (<strong>13</strong>,5%) - p
Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />
tados estarão disponíveis no início de 2006, o que<br />
certamente trará mais subsídios para a indicação de<br />
fechamento do FOP na enxaqueca.<br />
OUTRAS CONDIÇÕES CLÍNICAS ASSOCIADAS<br />
AO FOP<br />
Síndrome descompressiva em mergulhadores<br />
Embora embolia paradoxal através de FOP tenha<br />
sido descrita em 1877 4 e a embolia gasosa paradoxal<br />
em 1979 32 , os primeiros relatos de uma possível relação<br />
entre a síndrome de descompressão e a patência do<br />
forame oval datam somente de 1989 33 .<br />
O mergulho envolve um risco para lesões neurológicas<br />
causadas por doença de descompressão: embolia<br />
gasosa arterial, anóxia, e aos efeitos tóxicos das altas<br />
pressões parciais dos gases inalados 34,35 . A síndrome<br />
descompressiva relacionada ao forame é causada, presumivelmente,<br />
por bolhas de nitrogênio passando através<br />
do septo interatrial 36 .<br />
Em 1986, Wilmshurst et al. 37 sugeriram que a comunicação<br />
interatrial e o FOP pudessem ser importantes<br />
na etiologia da embolia gasosa arterial em mergulhadores.<br />
Tem sido mostrado que síndrome descompressiva<br />
(SDC) causa mais freqüentemente lesões cerebrais em<br />
mergulhadores que possuem forame patente do que<br />
em indivíduos sãos 6,36 . Ainda, é relatada uma prevalência<br />
aumentada de complicações, mesmo na ausência de<br />
SDC reconhecida 16 . Alguns estudos retrospectivos têm<br />
confirmado esta informação. Num estudo de Knauth et<br />
al. 38 , em 1997, foi utilizado o Doppler transcraniano<br />
para detectar a presença de shunt direita-esquerda em<br />
87 mergulhadores. Múltiplas lesões cerebrais visualizadas<br />
à ressonância magnética ocorreram exclusivamente<br />
naqueles com grande shunt direita-esquerda, o que<br />
se presumiu seria causado por um forame oval patente.<br />
Germonpré et al. 39 , utilizando o ecocardiograma<br />
transesofágico (ETE) com contraste, demonstraram uma<br />
prevalência de FOP de 59,9% em mergulhadores com<br />
síndrome descompressiva contra 36,1% em controles,<br />
fornecendo uma OR de 5,6.<br />
Schwerzmann et al. 35 também estudaram a prevalência<br />
de sintomas de descompressão e lesões cerebrais<br />
isquêmicas e sua relação com FOP. A população estudada<br />
foi de 52 mergulhadores num grupo, e 52 indivíduos<br />
não mergulhadores no grupo controle. Os resultados<br />
mostraram que apenas o ato de mergulhar, independente<br />
da presença do FOP, está relacionado com um<br />
aumento de 5 vezes na incidência de lesões cerebrais<br />
isquêmicas, quando comparado com pessoas que não<br />
mergulham. Contudo, mergulhadores portadores de<br />
FOP têm aumento de 4,5 vezes nos eventos de descompressão<br />
e de 2 vezes mais lesões cerebrais isquêmicas<br />
que os mergulhadores sem FOP.<br />
De acordo, Cantais et al. 40 , utilizando o Doppler<br />
transcraniano, demonstraram uma prevalência de FOP<br />
de 58,4% nos mergulhadores que sofreram síndrome<br />
descompressiva, contra 24,8% em controles não comparados,<br />
fornecendo uma OR de 4,3.<br />
Mais recentemente, Torti et al. 41 , também com o<br />
uso do ETE com contraste, mostraram uma prevalência<br />
de 64% de FOP nos mergulhadores com SDC contra<br />
25,7% nos controles, com uma OR de 4,8.<br />
Esses resultados têm, concordantemente, revelado<br />
uma maior incidência de complicações neurológicas<br />
em mergulhadores portadores de forame oval patente<br />
que sofrem SDC e sugerem que a pesquisa sistemática<br />
e o fechamento do defeito septal possa ser uma recomendação<br />
definitiva num futuro próximo.<br />
Síndrome Platipnéia-Ortodeoxia (SPO)<br />
É uma síndrome rara e peculiar. Sua primeira descrição<br />
foi feita, em 1949, por Burchell et al. 42 .<br />
É mais freqüentemente observada em idosos e se<br />
caracteriza por dispnéia e cianose (desaturação arterial)<br />
quando se adota a posição ortostática, melhorando<br />
ao adotar-se a posição supina. O reconhecimento dessa<br />
síndrome requer um alto nível de suspeição clínica e<br />
é estabelecido pela análise de amostras de gasometria<br />
arterial em posições ortostática e supina, mostrando<br />
queda da saturação de O 2<br />
na amostra colhida em<br />
ortostatismo. Várias entidades clínicas têm sido associadas<br />
a esta síndrome, envolvendo acometimento de<br />
diversos órgãos (Quadro 1).<br />
Embora a fisiopatologia precisa da desaturação<br />
arterial ortostática ainda não tenha sido completamente<br />
elucidada, um pré-requisito necessário é a presença<br />
de shunt direita-esquerda (D-E). De acordo com isso,<br />
a classificação etiológica da síndrome de platipnéiaortodeoxia<br />
é baseada na localização do shunt:<br />
Quadro 1<br />
Entidades clínicas associadas à<br />
Síndrome de Platipnéia-Ortodeoxia<br />
Causas Cardíacas<br />
FOP, CIA, ASA, derrame pericárdico, dilatação da<br />
raiz da aorta, valva de Eustáquio persistente,<br />
pericardite constrictiva<br />
Causas Pulmonares<br />
Enfisema, fístulas arteriovenosas, pneumectomia,<br />
embolia pulmonar<br />
Causas Gastrointestinais<br />
Síndrome hepatopulmonar<br />
Causas Músculo-esqueléticas<br />
Deficiência da musculatura abdominal, cifo-escoliose<br />
Causas Neurológicas<br />
Disfunção autonômica<br />
188<br />
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Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />
1. Intracardíaco – FOP, CIA, aneurisma septal perfurado;<br />
2. Vascular pulmonar – fístulas artério-venosas pulmonares;<br />
3. Shunts intra-parenquimatosos pulmonares – áreas<br />
de baixa relação ventilação/perfusão.<br />
A associação etiológica mais comum é com um<br />
shunt interatrial direita-esquerda, estabelecido por meio<br />
de um FOP.<br />
Pacientes com shunt direita-esquerda sintomáticos<br />
são usualmente dispnéicos, independentemente da posição<br />
adotada. Contudo, defeitos intracardíacos podem<br />
ser anatomicamente pequenos e clinicamente silenciosos.<br />
Em alguns desses casos, o defeito pode ser fisicamente<br />
estirado pela posição ortostática, permitindo<br />
maior passagem de sangue, causando sinais e sintomas<br />
clínicos. Essa consideração tem sido proposta como o<br />
mecanismo pelo qual o shunt intracardíaco pelo FOP,<br />
CIA ou ASA pode causar a SPO.<br />
Entretanto, a desoxigenação arterial só será sintomática<br />
se grande quantidade de sangue desaturado<br />
passar do coração direito para o esquerdo. Sob condições<br />
fisiológicas normais, a pressão atrial esquerda é<br />
maior que a direita, impedindo este fenômeno. Nos<br />
casos de pressão elevada das cavidades direitas, como<br />
na hipertensão arterial pulmonar, é gerada uma força<br />
que permite a ocorrência do shunt D-E. Um portador<br />
de FOP clinicamente silencioso pode manifestar SPO<br />
em casos de embolia pulmonar.<br />
Algumas vezes, uma anatomia e fisiologia intratorácica<br />
alteradas, com pressões pulmonares normais,<br />
permitem a passagem de sangue do AD para o AE,<br />
contra uma pressão atrial esquerda maior (pneumectomia,<br />
diminuição na complacência do VD pós-infarto,<br />
pericardite constrictiva, valva de Eustáquio proeminente,<br />
dilatação da raiz da aorta).<br />
Nem todos os casos de platipnéia-ortodeoxia têm<br />
uma única causa. Na maioria das vezes vários mecanismos<br />
potenciais combinados levam à síndrome 43 .<br />
estimavam sua prevalência em 0,08% a 1,2%, enquanto<br />
que com o advento do ETE, a prevalência aumentou<br />
para entre 2% a 10% dos pacientes com FOP 45 . Sievert<br />
et al. 15 descrevem uma incidência de 0,3% a 7,9% em<br />
indivíduos sadios.<br />
Inicialmente, considerava-se o aneurisma de septo<br />
atrial como fator de risco independente para eventos<br />
embólicos, incluindo AVCi, AIT e embolia sistêmica.<br />
Entretanto, o Stroke Prevention Assessment of Risk in<br />
a Community (SPARC) Study 46 identificou o ASA como<br />
apenas um fator potencializador do risco, na presença<br />
de um forame patente. De fato, essa relação tem sido<br />
descrita em alguns estudos, que mostram que 28% a<br />
58% dos pacientes com AVCi criptogênicos têm uma<br />
combinação de FOP e ASA 15 .<br />
Mügge et al. 47 definem ASA como um afastamento<br />
do SP da linha média de pelo menos 10mm em direção<br />
a qualquer um dos dois átrios. Nosso grupo utiliza<br />
esta classificação com a variação discriminada abaixo:<br />
• Tipo A: O ASA se protrude da linha média somente<br />
para o átrio direito;<br />
• Tipo B: O ASA se protrude da linha média somente<br />
para o átrio esquerdo;<br />
• Tipo C: O movimento do ASA é bidirecional<br />
para ambos os átrios.<br />
DIAGNÓSTICO DO FOP<br />
A melhor maneira de se visualizar o forame oval<br />
é através do ETE ou do ecococardiograma intracardíaco<br />
(EIC). O ETT tem uma sensibilidade mais baixa, principalmente<br />
em adultos.<br />
O ETE permite a perfeita visualização da anatomia<br />
do forame, seu diâmetro e comprimento (Figura 2).<br />
Além da correta visualização do FO, é necessário<br />
também avaliar sua patência, demonstrando a passagem<br />
de fluxo da direita para a esquerda como possível<br />
FOP E ANEURISMA DO SEPTO ATRIAL<br />
O aneurisma do septo atrial (ASA), geralmente, é<br />
encontrado em associação com defeitos septais atriais<br />
(CIA e FOP) e sua presença deve ser encarada como<br />
um preditor da comunicação interatrial. A prevalência<br />
de FOP em pacientes com ASA varia de 50-80% 44 .<br />
O ASA é uma expansão do SP, delgado e redundante<br />
na região da fossa oval, que se prolapsa para o<br />
átrio direito, átrio esquerdo ou ambos. Seu primeiro<br />
relato, em 1856, foi feito por Rokitansky (Figura 1).<br />
Com a melhora na eficácia dos métodos diagnósticos<br />
disponíveis, a taxa de detecção dos ASA vem aumentando.<br />
Estudos com ecocardiograma transtorácico (ETT)<br />
Figura 1 - Aneurisma do septo atrial. Note-se a grande excursão<br />
do septum primum em direção ao átrio direito (tipo A).<br />
189<br />
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Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />
Figura 2 - Em A, visualiza-se o forame oval, podendo-se analisar toda a sua morfologia (comprimento x abertura). Em B, durante a fase 3<br />
(liberação) da manobra de Valsalva, observa-se a abertura da extremidade cefálica do forame.<br />
facilitador de fenômeno emboligênico. O color Doppler<br />
não é capaz de demonstrar com segurança esse fluxo.<br />
Para isto, lançamos mão do “Teste de Bolhas”, realizado<br />
através de uma injeção periférica de solução produtora<br />
de microbolhas, que são facilmente visualizadas<br />
ao eco bidimensional (por exemplo, solução salina<br />
agitada). Nosso grupo utiliza uma mistura de solução<br />
salina com 1ml de sangue do paciente e uma ampola<br />
de Cefalotina aerada, capaz de produzir bolhas de<br />
excelente qualidade e de longa duração, permitindo a<br />
adequada visualização da passagem pelo forame.<br />
É importante assinalar que o fluxo da veia cava<br />
inferior é naturalmente dirigido para o forame oval por<br />
uma estrutura existente no átrio direito (a crista dividens)<br />
e se choca com o da veia cava superior, afastando<br />
este último da entrada do forame (Figura 3). Isto pode<br />
explicar a maior incidência de resultados falso-negativos<br />
quando se realiza a injeção por uma veia do<br />
braço. Desta forma, a rigor, o exame só deve ser<br />
Figura 3 - Teste de bolhas com a injeção efetuada por uma veia do<br />
braço. Observa-se a imagem negativa provocada pelo sangue da veia<br />
cava inferior, afastando o sangue da veia cava superior do forame.<br />
considerado negativo se não houver a passagem de<br />
bolhas da direita para esquerda, em injeção feita por<br />
uma veia da perna e durante a fase 3 da manobra de<br />
Valsalva (Figura 4).<br />
Resultados falso-positivos podem ocorrer em presença<br />
de fístulas artério-venosas, ou de outras comunicações<br />
interatriais pequenas, principalmente próximas à<br />
veia cava inferior que, pela localização, não são detectadas<br />
pelo ETE, limitação não compartilhada pelo EIC.<br />
Ultimamente, alguns autores vêm utilizando o<br />
Doppler transcraniano (DTC) para a detecção de FOP<br />
em pacientes ambulatoriais. Embora esse método seja<br />
bastante sensível, é pouco específico quando comparado<br />
ao ETE ou EIC.<br />
OPÇÕES TERAPÊUTICAS<br />
A melhor maneira de se tratar os pacientes com<br />
AVC criptogênico e que são portadores de FOP ainda<br />
está sob discussão.<br />
Abordagens disponíveis consistem no tratamento<br />
medicamentoso (com antiagregantes plaquetários e anticoagulantes),<br />
no fechamento cirúrgico do FOP, ou<br />
mais recentemente no seu fechamento percutâneo transcateter<br />
com o uso de dispositivos de oclusão 16,44,48-50 .<br />
Até o momento, não foi realizado nenhum estudo<br />
randomizado dividindo os pacientes com AVC criptogênico<br />
e FOP, nas diversas modalidades terapêuticas<br />
disponíveis 49 . Portanto, a tomada da decisão terapêutica<br />
continua a critério do médico assistente e do<br />
desejo do paciente e, para isso, é necessário o conhecimento<br />
das várias opções, suas indicações, taxas de<br />
sucesso e insucesso, bem como as complicações. Abaixo,<br />
apresentamos um breve resumo das diferentes modalidades<br />
terapêuticas para a prevenção secundária<br />
de eventos cerebrovasculares, em pacientes portadores<br />
de FOP.<br />
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Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />
Figura 4 - Teste de bolhas realizado durante procedimento de fechamento com injeção em veia do braço (A) e, imediatamente a seguir, por<br />
veia da perna (B), mostrando a pequena passagem de bolhas pelo forame de átrio direito para átrio esquerdo quando pelo braço, comparandose<br />
com a quantidade significativamente maior na injeção pela perna.<br />
Tratamento Medicamentoso<br />
Tradicionalmente, as substâncias mais utilizadas<br />
são a aspirina ou a warfarina sódica. Não existem<br />
muitos dados sobre o uso dos tienopiridínicos (ticlopidina<br />
e clopidogrel) como terapia primária ou adjunta<br />
à aspirina, ficando, geralmente, reservados para os<br />
casos de alergia ou intolerância à aspirina.<br />
O tratamento medicamentoso tem um risco de<br />
eventos embólicos recorrentes de 2,3 a 14,4% por<br />
ano. A taxa de recorrência anual para AVC e ocorrência<br />
de morte é de 1,2 a 7,2% por ano 48 .<br />
Num estudo retrospectivo de 90 pacientes menores<br />
de 60 anos, com isquemia cerebral, 52 tinham FOP.<br />
Aqueles que receberam aspirina ou nenhum tratamento<br />
tiveram uma taxa de recorrência de eventos neurológicos<br />
quase 3 vezes maior que os que usaram warfarina 51 .<br />
A comparação entre aspirina e nenhum tratamento<br />
não foi possível pelo pequeno número de pacientes<br />
nos dois grupos. Além disso, o estudo fica sujeito a<br />
críticas, uma vez que a escolha do tratamento ficava<br />
a critério do médico assistente, houve um grande crossover<br />
entre os grupos e a definição dos desfechos, que<br />
eram múltiplos, não foi cega.<br />
Os investigadores do estudo PICSS (PFO In Cryptogenic<br />
Stroke Study) randomizaram 630 pacientes que<br />
haviam sofrido AVCi (42,1% criptogênicos) para tratamento<br />
com aspirina ou warfarina sódica, acompanhando-os<br />
por 2 anos. Não encontraram diferenças significativas<br />
entre as duas modalidades de tratamento com<br />
relação às taxas de recorrência de AVC ou morte, na<br />
população total estudada com FOP (16,5% para warfarina<br />
versus <strong>13</strong>,2% para aspirina, p=0,49), embora<br />
tenha havido uma tendência à superioridade da warfarina<br />
no subgrupo de pacientes com AVC criptogênico e<br />
FOP (9,5% para warfarina versus 17,9% para aspirina,<br />
p=0,28). A incidência de sangramentos maiores (intracerebrais,<br />
subaracnóide, subdural, epidural ou qualquer<br />
outro sangramento que necessitasse transfusão) não<br />
apresentou diferença significativa entre warfarina e<br />
aspirina (1,78 versus 1,91 eventos/100 pacientes-ano).<br />
Entretanto, o grupo da warfarina teve maior incidência<br />
de sangramentos menores (22,9 versus 8,66 eventos/<br />
100 pacientes-ano) 50 .<br />
Tratamento Cirúrgico<br />
A abordagem tradicional de fechamento mecânico<br />
do FOP é a cirurgia, por meio de toracotomia. Séries<br />
de relatos de casos são pequenas, mas as taxas de<br />
AVC pós-operatório variam de 0 a 3,5% em dois anos 49 ,<br />
com um risco combinado de AVC/AIT podendo chegar<br />
a 19,5%, no primeiro ano 6 .<br />
A cirurgia pode ser realizada com um risco baixo 48 ,<br />
uma vez que a mortalidade associada com o fechamento<br />
de um defeito do septo atrial, não complicado, é estimada<br />
em torno de 1,5% 49 . Outros riscos perioperatórios<br />
incluem fibrilação atrial, derrame pericárdico e necessidade<br />
de reoperação por causa de sangramento 49 .<br />
Homma et al. 52 relataram os resultados de 28 pacientes<br />
submetidos ao fechamento do FOP. O tempo<br />
médio de permanência hospitalar foi de 7,8 ± 3,8<br />
dias. Dezoito por cento dos pacientes desenvolveram<br />
síndrome pós-cardiotomia. Ocorreram 4 eventos neurológicos<br />
recorrentes durante um seguimento médio de<br />
19 meses.<br />
Devuyst et al. 53 não relataram qualquer evento<br />
neurológico recorrente num acompanhamento de 2<br />
anos após o fechamento cirúrgico do FOP, apesar da<br />
existência de shunt residual em 4 pacientes dos 30<br />
submetidos ao tratamento.<br />
No trabalho de Dearani et al. 54 , dos 91 pacientes<br />
191<br />
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Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />
submetidos ao fechamento cirúrgico do FOP, ocorreram<br />
8 eventos neurológicos recorrentes, num seguimento<br />
médio de 2 anos. Seis (6,6%) pacientes apresentaram<br />
derrame pericárdico, 4 dos quais necessitaram drenagem.<br />
Sangramento pós-operatório ocorreu em 3,3%<br />
dos pacientes e, um doente apresentou infecção superficial<br />
da ferida operatória. A permanência hospitalar<br />
foi de 5,7 ± 3,0 dias.<br />
Atualmente, o fechamento cirúrgico do FOP é raramente<br />
realizado por causa da morbi-mortalidade de<br />
uma cirurgia cardíaca 48 .<br />
Tratamento Percutâneo Transcateter<br />
A primeira tentativa de fechamento de um defeito<br />
septal por cateter, remonta a 1976 com Mills e King 55 ,<br />
que idealizaram uma prótese de duplo disco com<br />
mecanismo de fixação por um parafuso. Essa prótese<br />
foi abandonada, e nos anos 80, surgiu a prótese Clamshell<br />
Occluder, desenvolvida por Rashkind 49 . Esta prótese<br />
foi utilizada em quase 900 pacientes no início<br />
dos anos 90. Contudo, foi retirada dos ensaios clínicos<br />
em 1991, por causa de freqüentes (até 84%) fraturas<br />
de um ou mais braços de metal dos umbrellas, dentro<br />
do primeiro ano após o implante 56 .<br />
O Clamshell Occluder foi modificado por Lock,<br />
utilizando metal não ferroso, no CardioSEAL e, posteriormente,<br />
no StarFLEX. Estes dispositivos eram utilizados<br />
para o fechamento das comunicações interatriais (CIA),<br />
mas logo se tornou óbvia a ampliação de seu uso para<br />
o fechamento do FOP.<br />
O primeiro fechamento percutâneo de forame oval<br />
só foi descrito por Bridges et al. 17 , em 1992, utilizando<br />
a Clamshell Occluder em 36 pacientes após embolia<br />
paradoxal presumida.<br />
A partir de então, o uso da técnica de oclusão<br />
percutânea tem se tornado mais popular, representando<br />
procedimento de rotina em muitos centros.<br />
Novas próteses foram desenvolvidas e, apenas na<br />
década de 90, houve o desenvolvimento de dispositivos<br />
dedicados ao fechamento do FOP. A primeira foi<br />
o Amplatzer PFO Occluder, com o primeiro implante<br />
tendo sido realizado pelo seu criador, o Dr. Kurt Amplatz,<br />
em 10 de setembro de 1997. Posteriormente, foi criado<br />
o PFO Star e, mais recentemente, o Helex Septal Occluder<br />
6,56 . Todas as próteses mencionadas foram desenvolvidas<br />
inicialmente para o fechamento das CIA, passando<br />
a serem utilizadas também para a oclusão dos FOP.<br />
Apenas o Amplatzer Septal Occluder tem uma versão<br />
dedicada ao fechamento do FOP (Amplatzer PFO<br />
Occluder).<br />
Gerações mais modernas de dispositivos foram<br />
desenvolvidas nos últimos anos, ainda não disponíveis<br />
no mercado nacional. Um dispositivo com sistema de<br />
fixação, de comprimento variável e discos com muito<br />
pouco metal, capaz de se adaptar a qualquer tipo de<br />
forame e mais adequado aos túneis longos, está presente<br />
na Premere Septal Occluder.<br />
Novas variações sobre o desenho da Cardia/Intrasept,<br />
que apresenta o disco formado por uma matriz<br />
de colágeno com maior potencial de endotelização, é<br />
o atrativo da BioStar.<br />
Um conceito muito mais atraente e engenhoso,<br />
capaz de promover o fechamento do forame pela soldadura<br />
do SP sobre o SS com a utilização de radiofreqüência,<br />
sem o uso de qualquer prótese, é a proposta<br />
do PFX Closure System.<br />
No Quadro 2, fazemos um breve resumo dos<br />
tipos mais utilizados de dispositivos para tratamento<br />
do FOP.<br />
Atualmente, as mais usadas são: a CardioSEAL/<br />
StarFLEX, Helex e Amplatzer, as duas últimas com taxas<br />
de oclusão completa girando em torno de 95% em 6<br />
meses 15 .<br />
As taxas de oclusão eficaz do FOP, definida como<br />
ausência ou presença de shunt trivial, após o implante,<br />
têm variado de 63 a 100%. Uma redução progressiva<br />
na incidência de shunt residual, dentro dos primeiros<br />
2 anos após o implante, tem sido relatada, com rara<br />
necessidade de nova intervenção cirúrgica ou percutânea<br />
para correção do shunt residual. Além disso, recorrência<br />
de eventos neurológicos ou embolia periférica<br />
tem variado de 0 a 3,8% por ano. Como a maioria<br />
destes episódios recorrentes ocorre dentro do primeiro<br />
ano do implante do dispositivo de oclusão, um regime<br />
antiagregante plaquetário ou anticoagulante mais intenso<br />
pode ser necessário durante este período vulnerável 44 .<br />
Complicações podem ocorrer durante o implante<br />
da prótese, incluindo complicações no acesso venoso,<br />
embolia gasosa através da bainha transeptal, embolização<br />
da prótese e perfuração da parede atrial, com<br />
formação de derrame pericárdico e tamponamento cardíaco.<br />
Após o implante, outras complicações podem<br />
ocorrer, como embolia da prótese, endocardite bacteriana,<br />
fratura e deformação de seus discos e, formação<br />
de trombos em sua superfície. A complicação mais<br />
freqüentemente relatada durante o implante é a embolia<br />
do dispositivo. Os riscos de deslocamento, embolização<br />
ou má posição variam de 1,4 a 20% 44 .<br />
Berger et al. 57 relataram sua experiência com o<br />
Amplatzer Septal Occluder em 200 pacientes, 68 dos<br />
quais tinham FOP. Eles obtiveram fechamento completo<br />
do defeito em todos os pacientes com FOP, sem efeitos<br />
adverso neste grupo.<br />
Wahl et al. 58 relataram, em 2001, 55 casos de<br />
uma coorte de 152 pacientes consecutivos, onde o<br />
Amplatzer Septal Occluder (10 ASD; 45 PFO) foi usado<br />
para fechamento do FOP. Em um paciente, que tinha<br />
um grande ASA, o dispositivo embolizou para artéria<br />
pulmonar, de onde foi retirado percutaneamente. Seis<br />
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Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />
Prótese<br />
QUADRO 2<br />
Dispositivos para Fechamento do FOP<br />
Comentários<br />
CardioSEAL Septal Occluder<br />
Redesenhada a partir do Clamshell Occluder para prevenir fratura dos braços,<br />
(NMT Medical, Boston, MA) melhorar as taxas de oclusão completa e facilidade de uso. Consiste de 2<br />
discos retangulares, cada um possuindo 4 braços de metal, fornecendo suporte<br />
ao duplo umbrella. Cada braço tem 2 articulações para melhorar a<br />
flexibilidade e desgaste do metal. Os discos são recobertos com poliéster. Os<br />
centros dos umbrellas são conectados. Pode ser implantada em bainhas 11F<br />
e está disponível em tamanhos até 38mm. Recebeu aprovação do FDA para<br />
tratamento do FOP em 2000.<br />
StarFLEX Septal Occluder<br />
(NMT Medical, Boston, MA)<br />
Nova versão da CardioSEAL, sendo estruturalmente idêntica, tem um sistema<br />
adicional de microeixos de nitinol, que conectam a ponta distal de cada braço<br />
com o seu oposto. Esse sistema permite auto-centralização da prótese após<br />
implante. Além disso, os microeixos fornecem uma maior fixação dos discos<br />
ao septo, permitindo o uso de um perfil menor, sendo útil em defeitos complexos.<br />
Pode ser introduzida numa bainha 10F e também existe uma versão com<br />
6 braços, com diâmetros de 38 e 43mm.<br />
Amplatzer PFO Occluder<br />
(AGA Medical Corp.,<br />
Golden Valley, Minnesota)<br />
O Amplatzer PFO Occluder é similar ao Amplatzer ASD, mas o disco do AD é<br />
maior que o do AE (exceto na prótese de 18mm) e o mecanismo de centralização<br />
é diferente, não necessitando do corpo central. Tem um diâmetro menor,<br />
permitindo movimentação livre de cada disco. Disponível em três tamanhos:<br />
18, 25 e 35 mm.<br />
Helex Occluder<br />
(Gore Medical, Flagstaff, Ar)<br />
Premere PFO Closure System<br />
(Velocimed, Inc., Minneapolis)<br />
É um dispositivo com uma forma em espiral peculiar. Consiste de um fio helicoidal<br />
de nitinol, com retalho de e-PTFE que forma 2 discos conectados no<br />
centro. Disponível nos tamanhos 15, 20, 25, 30 e 35 mm. Vem com um<br />
sistema de entrega 9F. O desenho em espiral fornece um perfil muito baixo<br />
após o implante. Outro aspecto único é que o sistema de liberação possui<br />
uma corda de segurança fixada ao dispositivo, permitindo a recuperação da<br />
prótese em qualquer ponto do procedimento, mesmo após liberada do cateter<br />
de entrega.<br />
É um dispositivo de duplo braço com forma de âncora auto-expansível. As<br />
âncoras são feitas de nitinol. As âncoras do lado direito são envolvidas por<br />
duas camadas de tecido de poliéster. Uma corda central flexível, trançada em<br />
poliéster, passa pelo centro das âncoras, mantendo-as unidas. As âncoras<br />
podem ser recuperadas e reposicionadas. Após a liberação, elas são travadas<br />
juntas e a corda central cortada. A distância entre as duas âncoras é variável,<br />
dependendo do comprimento do túnel do FOP, sendo uma ótima opção para<br />
forames com túneis longos. Está disponível nos tamanhos: 15, 20 e 25 mm.<br />
PFO-Star Occluder<br />
(CARDIA, Inc., Burnsville)<br />
Também disponível em 3 tamanhos: 25, 30 e 35 mm. Sua armação de nitinol<br />
é recoberta por uma membrana de polyvinyl alcoólico (Ivalon). Sua característica<br />
mais interessante é possuir os discos conectados ao eixo central por um<br />
mecanismo que permite a sua angulação, podendo se adaptar com mais<br />
facilidade à anatomia do forame. Introduzida através de bainhas transeptais<br />
10 a 12F, a prótese pode ser removida antes e depois da liberação.<br />
193<br />
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Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />
pacientes (3 ASD e 3 PFO) apresentaram shunt residual,<br />
com 2 deles evoluindo com embolia recorrente num<br />
seguimento cumulativo de 37 anos. Em 11 pacientes,<br />
foram implantadas as próteses CardioSEAL e StarFLEX,<br />
sem qualquer complicação. Somente um paciente teve<br />
shunt residual. Os autores encontraram uma correlação<br />
significativamente estatística (p=0,02) entre embolia recorrente<br />
e shunt residual.<br />
Onorato et al. 59 , no período de 1999 a 2002,<br />
realizaram a oclusão do FOP em 256 pacientes, com<br />
248 Amplatzer PFO, 4 Helex e 4 PFO Star. Num seguimento<br />
médio de 19 meses, a taxa de oclusão total foi<br />
de 98,1%, sem eventos embólicos recorrentes.<br />
Bayard et al. 48 relatam sua experiência com fechamento<br />
de FOP em 700 pacientes, 257 dos quais tinham<br />
ASA. Os seguintes dispositivos foram implantados: 19<br />
Angelwings, 10 ASDOS, 26 Sideris, 23 CardioSEAL,<br />
229 Amplatzer PFO, 202 Helex e 191 StarFLEX. Todos<br />
os implantes foram bem sucedidos. Com os novos<br />
dispositivos (Amplatzer, Helex e StarFLEX = 622), num<br />
seguimento de 5 meses a 6 anos, a mortalidade foi de<br />
0,7%, necessidade de cirurgia, 0,7%, AVC recorrente,<br />
1% e AIT recorrente, 0,9%. Houve 1 tamponamento<br />
pericárdico e 2 embolizações da prótese. Ocorreram<br />
6 trombos no dispositivo, todos nos primeiros 2 meses<br />
de seguimento.<br />
Até o momento, são raros os trabalhos que comparam<br />
a eficácia e os resultados dos diversos tipos de<br />
dispositivo disponíveis.<br />
Khairy et al. 60 realizaram uma meta-análise de 16<br />
trabalhos, de 1985 a 2003, com o objetivo de comparar<br />
os resultados do tratamento medicamentoso com<br />
a modalidade intervencionista para a prevenção secundária<br />
de eventos cerebrovasculares recorrentes em pacientes<br />
com FOP. De um lado, foram analisados 6<br />
trabalhos, englobando 896 pacientes, que utilizaram<br />
o tratamento medicamentoso clássico com aspirina<br />
(em doses de 250, 300 e 325mg) e, anticoagulação<br />
Figura 5 - Angiografia seletiva em OAE, delimitando o túnel do<br />
forame oval, com dimensões habituais, mostrando abertura na porção<br />
cefálica com passagem de material de contraste de átrio direito<br />
para átrio esquerdo.<br />
com warfarina (com faixas de INR de 1,4-2,8, 20-3,0<br />
e 3,0-4,0). Numa minoria dos pacientes foi usado o<br />
clopidogrel ou ticlopidina. No outro grupo, foram analisados<br />
10 trabalhos, compreendendo <strong>13</strong>55 pacientes,<br />
e foram utilizadas todas as próteses disponíveis. As<br />
taxas de eventos tromboembólicos recorrentes em 1<br />
ano foram de 0% a 4,9% no fechamento percutâneo,<br />
contra 3,8% a 12,0% no tratamento medicamentoso.<br />
Técnica de fechamento<br />
O procedimento é realizado em sala de hemodinâmica,<br />
e monitorado através da ecocardiografia transesofágica.<br />
Inicialmente, puncionamos duplamente a<br />
veia femoral colocando duas bainhas curtas e realizamos<br />
um cateterismo direito e esquerdo com registro<br />
de pressão pulmonar. Em seguida, fazemos uma injeção<br />
no próprio forame, de forma a delinear completamente<br />
o túnel (Figura 5). Cruzamos o septo (com auxílio de<br />
um guia hidrofílico, quando necessário), posicionando<br />
o cateter na veia pulmonar superior esquerda. Por<br />
dentro dele, fixamos um guia de troca, rígido, por<br />
sobre o qual introduzimos a bainha longa, de calibre<br />
adequado à prótese a ser empregada, posicionandoa<br />
em AE.<br />
Escolhemos o dispositivo de oclusão baseados no<br />
comprimento e na abertura não provocada do forame,<br />
avaliados no ETE e na angiografia. A prótese, enroscada<br />
no cabo de entrega, é tracionada para dentro do carregador<br />
próprio, de onde é transferida através da bainha<br />
longa por dentro do defeito, até o átrio esquerdo. Lá,<br />
é exteriorizado o disco distal. O conjunto prótese-bainha<br />
é recuado de encontro ao septo e, mantendo-se a tensão<br />
adequada no sistema, exteriorizamos o disco proximal<br />
no AD. Neste ponto, com a prótese ainda presa ao<br />
cabo de entrega, realizamos um teste de bolhas pelo<br />
cateter colocado na outra bainha curta. Se não há passagem<br />
de bolhas, a prótese é destacada do cabo de entrega e<br />
novo teste de bolhas é realizado. Se persistir negativo,<br />
o procedimento é encerrado (Figura 6).<br />
No seguimento, o paciente é orientado a usar<br />
aspirina e clopidogrel por um mês, mantendo apenas<br />
a aspirina até o sexto mês pós-procedimento, quando<br />
a prótese deverá estar completamente endotelizada. É<br />
feito controle com ETT, no primeiro e terceiro meses<br />
após o fechamento. No sexto mês, novo ETE é realizado<br />
e, quando não há shunt residual, a aspirina é<br />
descontinuada (Figura 7). Os pacientes são orientados<br />
a manter profilaxia para endocardite infecciosa pelos<br />
seis primeiros meses após o procedimento.<br />
O procedimento não deverá ser realizado na presença<br />
de trombos, massas ou vegetações intracardíacas,<br />
de bacteremia, ou em pacientes incapazes de tomar<br />
anticoagulante ou antiagregantes plaquetários.<br />
Na nossa prática diária, temos dado preferência às<br />
próteses de Helex e Amplatzer pela praticidade do seu<br />
uso e pelos bons resultados apresentados.<br />
194<br />
FChamie.p65 194<br />
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Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />
Figura 6 - Fluoroscopia durante o implante, mostrando em A, prótese de Helex e em B, uma prótese de Amplatzer já liberadas e em boa posição.<br />
Figura 7 - Ecotransesofágico, após 6 meses do implante, mostrando em A uma prótese de Helex e em B uma prótese de Amplatzer, ambas<br />
sem shunt residual.<br />
DISCUSSÃO<br />
Ainda hoje, permanece, para alguns autores, a controvérsia<br />
sobre a relação do FOP com os eventos embólicos<br />
(principalmente AVCi em jovens), apesar da massa<br />
de evidências existentes na literatura. Certamente, isso<br />
é devido ao fato do fenômeno embólico não ser visualizado<br />
diretamente e o diagnóstico costumar ser retrospectivo<br />
e dedutivo por exclusão. É preciso que não haja<br />
uma causa determinada para o evento, que o forame<br />
seja corretamente diagnosticado e que a possibilidade<br />
de embolia paradoxal seja considerada.<br />
Outro fator de dificuldade reside no fato de que,<br />
muitas vezes, o evento embólico possa ser multifatorial,<br />
como, por exemplo, a coexistência de trombofilia associada<br />
ao FOP.<br />
A identificação do FOP, em nosso meio, ainda<br />
não tem sido corretamente realizada em vários serviços<br />
de bom nível e não é infreqüente sermos chamados<br />
para realizar a oclusão percutânea de defeitos que<br />
estão completamente fechados. A falta de padronização<br />
do método, as diferentes maneiras de se produzir as<br />
bolhas e a condução do teste de forma inadequada<br />
têm sido responsáveis por inúmeros casos falso-positivos,<br />
criando expectativas indevidas aos pacientes e<br />
falso-negativos, privando doentes do tratamento mais<br />
adequado para o seu caso.<br />
O tratamento convencional para os AVCi com FOP<br />
é medicamentoso, com o uso de antiagregantes plaquetários<br />
ou anticoagulantes. Alguns pacientes têm contraindicação<br />
para o seu uso, alguns recusam a medicação<br />
pelas limitações impostas ao seu estilo de vida e aproximadamente<br />
15% apresentam recorrência de eventos,<br />
mesmo com o correto tratamento medicamentoso.<br />
Outras opções intervencionistas são o fechamento<br />
percutâneo com próteses ou cirúrgico do defeito. Até<br />
195<br />
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Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />
o momento, no entanto, não existem estudos randomizados<br />
comparando estas diferentes opções terapêuticas<br />
pela dificuldade da randomização, que não é aceita<br />
com facilidade pelos pacientes, nem pelos médicos<br />
assistentes.<br />
A correção cirúrgica, em princípio, apresenta maior<br />
índice de morbidade relativa ao procedimento, do que<br />
o fechamento transcateter. Além do que, a técnica cirúrgica<br />
convencional preconiza o fechamento do forame<br />
pelo átrio direito, seja por sutura direta das bordas,<br />
seja pela colocação de um retalho, deixando algumas<br />
vezes um túnel aberto no átrio esquerdo, potencialmente<br />
trombogênico, com o conseqüente risco de embolização<br />
pós-operatória, criando eventos residuais.<br />
O fechamento percutâneo, apesar de ser um procedimento<br />
tecnicamente fácil, exige uma curva de aprendizado<br />
que não deve ser menosprezada. Para os pacientes<br />
é importante que o procedimento seja simples e seguro,<br />
com risco tendendo a zero.<br />
O fechamento percutâneo deve sempre preceder<br />
o fechamento cirúrgico, pois não torna a cirurgia mais<br />
difícil caso não seja bem sucedido.<br />
Até o momento, os estudos realizados comparando<br />
o fechamento percutâneo com o tratamento convencional<br />
(medicamentoso) favorecem a oclusão.<br />
Com várias próteses de última geração no mercado,<br />
mais estudos se fazem necessários para definir o melhor<br />
tipo de dispositivo no fechamento percutâneo do forame<br />
oval.<br />
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198-205.<br />
Artigo de Revisão<br />
Fechamento Percutâneo de Comunicação<br />
Interatrial com Prótese Amplatzer<br />
Edmundo Clarindo Oliveira 1,2,3,4,5,6,7 , Helder M. Paupério 2,3,4,5,6,7,8 , Ivan Ferreira de Freitas 6,9 ,<br />
Gustavo Lobato Adjuto 3,10 , Tamara Katina 3,11,12 , Marcelo M. Paupério <strong>13</strong> , Andréia A. C. Oliveira <strong>13</strong><br />
RESUMO<br />
O fechamento percutâneo das comunicações interatriais<br />
(CIA) tipo ostium secundum (OS) tem se tornado o procedimento<br />
de escolha pelo alto índice de sucesso e baixa morbimortalidade.O<br />
aperfeiçoamento dos materiais existentes e<br />
o surgimento de outros têm permitido a realização desse<br />
procedimento com sucesso, mesmo em CIAs grandes e<br />
complexas. A prótese Amplatzer, introduzida no mercado<br />
em 1996, tem sido a mais empregada em todo mundo, pela<br />
facilidade no manuseio e por permitir o fechamento de<br />
CIAs grandes, o que não ocorria com as outras próteses<br />
disponíveis. Entretanto, em algumas situações, o procedimento<br />
torna-se mais difícil, como nos casos de comunicações<br />
maiores que 30mm de diâmetro, ausência da veia cava<br />
inferior, bordas muito finas, grande aneurisma do septo<br />
interatrial, septo multifenestrado, hipertensão pulmonar grave,<br />
disfunção do ventrículo esquerdo, comunicações múltiplas<br />
e válvula de Eustáquio exuberante. O sucesso do procedimento<br />
depende do conhecimento dessas particularidades, dos<br />
critérios para a indicação, da identificação e tratamento<br />
precoce das complicações e da interação intervencionista,<br />
ecocardiografista, anestesista e cirurgião cardíaco. Essa<br />
revisão visa discutir o fechamento de CIA OS com a prótese<br />
Amplatzer, em situações habituais e especiais.<br />
DESCRITORES: Defeitos do septo interatrial. Cateterismo<br />
cardíaco. Próteses e implantes. Cardiopatias congênitas.<br />
SUMMARY<br />
Percutaneous Atrial Septal Defect Closure<br />
with Amplatzer Device<br />
Percutaneous closure of secundum atrial septal defect (ASD)<br />
has become the first choice due to high success and low<br />
morbi-mortality level. Improved materials and the development<br />
of new others have allowed the closure of even large and<br />
complex atrial septal defects. The Amplatzer septal occluder<br />
developed in 1996 has been the device most used due to<br />
ease of manipulation, high success level, and the possibility<br />
to close large ASD - not possible with other devices. However,<br />
at times the procedure may be pose difficulties, as in<br />
ASD with larger than 30mm diameter, thin rims, absence<br />
of inferior vena cava, septal aneurysm and multi-fenestration,<br />
serious pulmonary hypertension, left ventricle dysfunction,<br />
multiple communications and redundant Eustachian valve.<br />
Procedure success depends on the awareness of these particularities,<br />
on indication criteria, on recognition and treatment<br />
of the complications, and on the interaction between interventionist,<br />
echocardiographist, cardiac surgeon, and anesthesiologist.<br />
This review intends to discuss percutaneous closure of<br />
secundum ASD with Amplatzer device, in usual and special<br />
situations.<br />
DESCRIPTORS: Heart septal defects, atrial. Heart catheterization.<br />
Prostheses and implants. Heart defects, congenital.<br />
1<br />
Fundação Hospitalar de Minas Gerais.<br />
2<br />
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais<br />
(HC-UFMG).<br />
3<br />
Hospital Vera Cruz.<br />
4<br />
Hospital Felício Rocho.<br />
5<br />
Hospital Mater-Dei.<br />
6<br />
Hospital Luxemburgo.<br />
7<br />
Hospital Socor.<br />
8<br />
Hospital Vila da Serra.<br />
9<br />
Hospital São José de Belo Horizonte.<br />
10<br />
Santa Casa de Belo Horizonte.<br />
11<br />
Hospital do IPSEMG.<br />
12<br />
Hospital Life Center.<br />
<strong>13</strong><br />
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).<br />
Correspondência: Edmundo Clarindo Oliveira. R. Teodomiro Cruz, 65/<br />
102 - Novo São Lucas, Belo Horizonte, MG - CEP 30240-530<br />
Tel.: (31) 3283-4092 - Fax: (31) 3337-9988, 9<strong>13</strong>28831<br />
E-mail: clarindo@pib.com.br<br />
Recebido em: 27/12/2005 • Aceito em: 24/01/2006<br />
Em 1959, poucos anos após o primeiro tratamento<br />
cirúrgico de comunicação interatrial (CIA), realizado<br />
em 1951, Hufmagel e Gillespie 1 relataram o<br />
primeiro implante de prótese para fechamento dessa<br />
cardiopatia congênita por toracotomia. Vários anos se<br />
seguiram, até que, em 1974, o primeiro caso de fechamento<br />
percutâneo de CIA fosse realizado, com sucesso,<br />
por King e Mills 2 . Em 1983, Rashkind 3 desenvolveu<br />
a prótese que leva seu nome. A necessidade de<br />
introdutores muito calibrosos, como o 23F, e o surgimento<br />
de outras próteses mais eficientes fizeram com<br />
que a Rashkind e suas precedentes deixassem de ser<br />
utilizadas, ressaltando-se, entretanto, o fato destas terem<br />
sido fundamentais para despertar o interesse dos pesquisadores<br />
por essa forma de tratamento. Posteriormente,<br />
vários tipos de próteses foram desenvolvidos, incluin-<br />
198
Oliveira EC, et al. Fechamento Percutâneo de Comunicação Interatrial com Prótese Amplatzer. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />
198-205.<br />
do o surgimento da Amplatzer 4 (1996), permitindo o<br />
fechamento de CIAs grandes, com segurança e alto<br />
índice de sucesso.<br />
SELEÇÃO DE PACIENTES<br />
As CIAs próximas a estruturas nobres, como as de<br />
seio venoso, ostium primum e seio coronário, não<br />
podem ser fechadas pela via percutânea. As indicações<br />
para o fechamento de CIA são as mesmas da<br />
indicação cirúrgica. CIAs pequenas (menores que 5mm)<br />
e sem repercussão clínica não têm indicação para<br />
fechamento, exceto na presença de provável embolia<br />
paradoxal, como acontece nas indicações para fechamento<br />
de forame oval. A maioria das CIAs tipo ostium<br />
secundum, que correspondem a 2/3 das CIAs, pode<br />
ser fechada por via percutânea. Uma distância maior<br />
que 4mm entre as valvas atrioventriculares, a veia<br />
cava superior (VCS), a veia pulmonar superior direita<br />
e o seio coronário torna o procedimento viável e<br />
seguro. Uma distância de 2 a 3mm do seio coronário<br />
é aceitável, desde que seu orifício seja suficientemente<br />
largo para não interferir com o fluxo. A presença da<br />
borda anterior (aórtica) não é indispensável 5 .<br />
(com orientação pelo ecocardiograma) e liberam-se o<br />
colo e, em seguida, o disco em AD. Antes de liberar<br />
a prótese, deve-se checar sua posição, em vários cortes,<br />
pelo ecocardiograma. A angiografia antes e depois do<br />
procedimento e manobras para checar a firmeza da<br />
fixação da prótese são medidas opcionais. Em nossa<br />
prática, não temos realizado angiografias de rotina,<br />
sendo o procedimento orientado pelo ecocardiograma.<br />
Algumas vezes, principalmente em CIAs grandes,<br />
a prótese adota uma posição oblíqua (Figura 1) e não<br />
paralela ao septo, atravessando a CIA. A liberação de<br />
parte do colo em AE e a abertura parcial do disco em<br />
veia pulmonar, geralmente, melhoram o posicionamento<br />
da prótese, permitindo seu implante com segurança.<br />
Outras vezes, mesmo com essas manobras, a prótese<br />
continua se posicionando obliquamente ao ser recuada.<br />
Nesses casos, a mudança do posicionamento inicial<br />
em veia pulmonar superior esquerda (VPSE) para<br />
outras veias pulmonares ou o uso de cateter-balão 7<br />
(Figura 2), introduzido através de outra punção veno-<br />
AVALIAÇÃO DO TAMANHO DA PRÓTESE<br />
A recomendação clássica para escolha do tamanho<br />
da prótese é de que esta seja aproximadamente 2mm<br />
maior ou menor que o tamanho da CIA distendida por<br />
balão (medidas coerentes entre ecocardiograma e fluoroscopia).<br />
Alguns profissionais sugerem que essa medida<br />
não é necessária, escolhendo o tamanho da prótese<br />
com base apenas no tamanho regular da CIA, verificado<br />
pelo ecocardiograma 6 acrescido de 4mm. Nos casos de<br />
CIAs grandes (maiores que 30mm de diâmetro) ou associadas<br />
a aneurisma, é aconselhável usar prótese 3 a<br />
4mm maior que o diâmetro distendido. Em nossa opinião,<br />
o tamanho distendido é o melhor parâmetro para<br />
a opção e torna o procedimento mais seguro.<br />
Figura 1 - Prótese mal posicionada em CIA grande.<br />
VARIAÇÕES TÉCNICAS<br />
O material desenvolvido para o fechamento percutâneo<br />
de CIA é direcionado para o procedimento<br />
via veias femorais. A CIA pode ser ultrapassada por<br />
vários tipos de cateteres posicionados em veia pulmonar<br />
superior esquerda. Em seguida, com ajuda de fioguia<br />
longo, posiciona-se uma bainha longa e com<br />
diâmetro compatível com o tamanho da prótese selecionada.<br />
A colocação de bainha em átrio esquerdo (AE)<br />
apresenta risco de embolia aérea, principalmente para<br />
artéria coronária direita, devendo-se tomar cuidado<br />
para evitar essa complicação. A retirada do introdutor<br />
na junção da veia cava inferior (VCI) com átrio direito<br />
(AD), aguardando-se o retorno de sangue antes da<br />
introdução da bainha em AE, diminui o risco de embolia,<br />
sendo por isso recomendada por muitos autores. Após<br />
o bom posicionamento da bainha em AE, a prótese é<br />
introduzida fixa em um kit, abrindo-se o primeiro disco<br />
em AE; puxa-se, então, a prótese até o septo interatrial<br />
Figura 2 - Prótese posicionada com auxílio de cateter-balão.<br />
199
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198-205.<br />
sa, com o objetivo de manter a prótese paralela ao<br />
septo quando recuada, têm apresentado sucesso. Na<br />
impossibilidade de utilizar a veia femoral por ausência<br />
congênita ou obstrução adquirida da VCI, a VCS 8 ou<br />
as veias hepáticas poderão ser usadas. Quando se<br />
utiliza a VCS através de suas tributárias, nem sempre<br />
é fácil conseguir a liberação da prótese, principalmente<br />
em CIAs grandes. Para o fechamento de forame oval<br />
ou de CIAs pequenas, o procedimento pode ser realizado<br />
sem dificuldades. Quando utilizada a VCS através<br />
de suas tributárias, o direcionamento da bainha<br />
para veia pulmonar inferior esquerda é quase reto e<br />
evita dobras. Caso seja necessário o posicionamento<br />
em veias pulmonares superiores, a utilização de cateteres<br />
como Lehmann ou Sones dentro da bainha longa<br />
facilita o procedimento e diminui a possibilidade de<br />
dobras. Entretanto, como o risco de dobras continua,<br />
a disponibilidade de bainhas mais resistentes facilita o<br />
procedimento. Sugerimos que esse acesso venoso seja<br />
tentado antes da utilização da punção transhepática,<br />
em casos de impossibilidade de utilização da VCI. A<br />
punção transhepática, adotada há vários anos pelos<br />
radiologistas intervencionistas, como opção em casos<br />
de impossibilidade de utilizar a VCI ou de crianças<br />
muito pequenas para as quais se faz necessário o uso<br />
de bainhas calibrosas, tem sido pouco utilizada pelos<br />
cardiologistas intervencionistas, principalmente em<br />
nosso meio. A punção é relativamente simples e segura,<br />
com pequenas variações técnicas.<br />
A punção pode ser feita orientada por ultra-sonografia<br />
abdominal ou pela inserção de cateter em uma<br />
veia hepática através da VCS; essas medidas, entretanto,<br />
não são indispensáveis. Várias técnicas têm sido<br />
descritas para a punção:<br />
1) Inserir a agulha na parte alta do terço inferior do<br />
fígado ou a meia distância entre o diafragma e a<br />
borda inferior do fígado, guiando-a por fluoroscopia<br />
ou ultra-som, ao nível da linha axilar anterior 9 .<br />
Progredir a inserção da agulha, paralelamente ao<br />
piso da sala, até aproximadamente 2 cm da coluna<br />
vertebral. Retirar o estilete da agulha, puxando-o<br />
lentamente, enquanto se injeta pequena quantidade<br />
de contraste. Após certificação de que se está<br />
dentro da veia hepática, introduzir fio-guia, dilatador<br />
e bainha e seguir as etapas habituais para a realização<br />
do cateterismo e da intervenção 10,11 (Figura 3).<br />
2) Punção ao nível da linha axilar média abaixo das<br />
costelas, direcionando-se levemente a agulha, nos<br />
sentidos posterior e superior, em direção à coluna<br />
12,<strong>13</strong> . Deve-se ter o cuidado de evitar punção da<br />
vesícula biliar. Em seguida, proceder às etapas descritas<br />
anteriormente.<br />
3) Semelhante à anterior, fazendo-se a punção ao<br />
nível da linha axilar anterior.<br />
A maioria dos autores recomenda a retirada lenta<br />
do cateter com pequenas injeções de contraste e, quando<br />
fora da veia hepática, a colocação de molas ou Gelfoam<br />
para evitar sangramento. Outros apenas mantêm o<br />
paciente em decúbito lateral direito por duas horas e<br />
repouso no leito por 12 horas. Em pacientes com<br />
pressão venosa alta, o risco de sangramento é aumentado,<br />
devendo-se utilizar molas ou Gelfoam, conforme<br />
descrito anteriormente. É comum os pacientes se queixarem<br />
de dor abdominal e no ombro nas primeiras 24<br />
horas após o procedimento, sendo necessário medicálos.<br />
Independente da técnica utilizada, é aconselhável<br />
retirar todos os sistemas e checar se a prótese está<br />
bem fixa ao sistema liberador, após cinco tentativas de<br />
implante da prótese sem êxito.<br />
ECOCARDIOGRAMA<br />
A correta interpretação do ecocardiograma é fundamental<br />
para a seleção dos candidatos ao fechamento<br />
percutâneo de CIA tipo ostium secundum e para a<br />
realização do procedimento. O exame deve ser feito de<br />
forma completa, procurando-se anomalias associadas,<br />
especialmente presença de mais de uma CIA e de retorno<br />
venoso pulmonar. A medida do diâmetro distendido<br />
da CIA é importante, sendo a identificação de suas<br />
bordas facilitada com o uso de solução salina agitada.<br />
A distância entre as bordas da CIA e as estruturas<br />
vizinhas deve ser medida cuidadosamente; sugere-se<br />
que as bordas tenham mais de 4mm, excetuando-se a<br />
ântero-superior, cuja presença não é necessária, podendo<br />
ser a prótese implantada sem ela.<br />
• A borda ântero-superior compreende a distância<br />
entre a margem anterior da CIA e a parede externa<br />
da aorta mais próxima do defeito septal;<br />
Figura 3 - Punção de veia hepática confirmada à fluoroscopia.<br />
200
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198-205.<br />
• A borda ínfero-anterior vai da margem inferior do<br />
defeito ao centro do anel tricúspide (plano subcostal<br />
4 câmaras ao 2-D ou horizontal no ecocardiograma<br />
transesofágico);<br />
• A borda súpero-posterior (ou superior) é medida<br />
da margem superior da CIA ao ponto médio do<br />
orifício de entrada da VCS no AD (plano subcostal<br />
eixo curto no 2-D ou vertical no ecocardiograma<br />
transesofágico);<br />
• A borda ínfero-posterior (ou inferior) é a distância<br />
da margem inferior do defeito ao ponto médio do<br />
orifício de entrada da VCI no AD (plano subcostal<br />
eixo curto no 2-D ou vertical no ecocardiograma<br />
transesofágico).<br />
REALIZAÇÃO DO PROCEDIMENTO<br />
SEM FLUOROSCOPIA<br />
O fechamento percutâneo de CIA pode ser realizado<br />
apenas pelo ecocardiograma transtorácico ou<br />
transesofágico, sem ajuda da fluoroscopia. As medidas<br />
das pressões e o cálculo de shunt podem ser feitos<br />
posicionando-se o cateter em artéria pulmonar guiado<br />
pelo ecocardiograma, assim como seu posicionamento<br />
em veia pulmonar e as etapas clássicas para a realização<br />
do procedimento. Em casos especiais, como durante<br />
a gravidez, esse método pode ser preferido. Segundo<br />
Ewert e Berger 14 , o fechamento de CIA e de forame<br />
oval pode ser realizado com segurança em muitos<br />
pacientes, guiado apenas pelo ecocardiograma.<br />
IDADE IDEAL<br />
Alguns autores defendem o fechamento precoce<br />
das CIAs para evitar a sobrecarga crônica do ventrículo<br />
direito (VD) ou pela possibilidade de aumento da CIA.<br />
Segundo Harper et al. 15 , como a CIA e a distância de<br />
suas bordas em relação às estruturas vizinhas tendem<br />
a crescer proporcionalmente ao crescimento da superfície<br />
corporal, o procedimento é facilitado se realizado<br />
mais tarde; por isso sua equipe tem optado por executar<br />
a intervenção quando a criança atinge cerca de 5<br />
anos de idade e peso em torno de 20kg. Em virtude<br />
de usarmos sonda de adulto para a realização do<br />
ecocardiograma transesofágico, também temos preferido<br />
fazer o procedimento em crianças que já tenham<br />
completado 5 anos; entretanto, quando há grande sobrecarga<br />
de volume do VD, interferindo com o desenvolvimento<br />
pondo-estatural, temos ocasionalmente antecipado<br />
a intervenção em crianças com peso entre 15<br />
e 20kg.<br />
e o risco de embolização é maior. Em tais situações,<br />
sugere-se liberar parcialmente o colo em AE e usar prótese<br />
3 a 4mm maior que o diâmetro distendido da CIA. A<br />
análise cuidadosa da anatomia da CIA e de sua relação<br />
com as estruturas vizinhas e a certificação de que a<br />
prótese está bem fixa, antes de sua liberação, diminuem<br />
os riscos e aumentam o sucesso do procedimento.<br />
CIAs múltiplas 17<br />
Na presença de duas ou mais comunicações interatriais,<br />
deve-se verificar se há tecido suficiente entre<br />
elas para acomodar mais de uma prótese. Quando há<br />
bordas adequadas entre as comunicações, recomenda-se<br />
liberar primeiro a prótese menor e, em seguida,<br />
a maior. Em caso de escasso tecido entre elas, podese<br />
tentar, com balão, transformá-las em uma só CIA 18<br />
e usar uma prótese suficientemente grande para cobrir<br />
todo o orifício criado, ainda que permaneça pequeno<br />
shunt residual sem importância clínica. Nos casos de<br />
comunicações próximas, mas sem tecido suficiente<br />
entre elas para acomodar duas ou mais próteses, e na<br />
impossibilidade de transformá-las em uma única CIA,<br />
pode-se utilizar uma prótese superdimensionada para<br />
tentar cobrir o orifício o máximo possível. Nos casos<br />
de CIAs múltiplas, é necessário usar balões concomitantes<br />
para avaliar detalhadamente os diâmetros e<br />
selecionar a(s) prótese(s) adequada(s) para cada caso.<br />
Aneurisma/fenestração 19<br />
Na presença de CIA associada a aneurisma, o ideal<br />
é fechá-la fazendo-se um “sanduíche” do mesmo.<br />
Quando a CIA é pequena (diâmetro distendido menor<br />
que 20mm), a utilização de próteses maiores, usadas<br />
para o fechamento de forame oval, geralmente é a<br />
melhor escolha. Na presença de mais de uma CIA, a<br />
associação de uma prótese de forame oval permeável<br />
(FOP) com outra de CIA facilita o envolvimento do<br />
aneurisma de ambos os lados, o que se faz, respectivamente,<br />
pelo maior diâmetro do disco do FOP à direita<br />
e pelo do disco da prótese da CIA maior à esquerda.<br />
PROBLEMAS ESPECIAIS<br />
CIAs grandes 16<br />
Em CIAs grandes (maiores que 30mm de diâmetro),<br />
principalmente quando associadas com bordas finas (Figura<br />
4), a liberação da prótese pode se tornar mais difícil<br />
Figura 4 - CIA grande, com bordas finas.<br />
201
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198-205.<br />
Disfunção diastólica<br />
A disfunção diastólica, mais freqüente em pacientes<br />
idosos portadores de insuficiência coronariana e<br />
miocardiopatias hipertróficas ou restritivas, pode aumentar<br />
o risco do procedimento. Nesses pacientes, o aumento<br />
do retorno venoso pulmonar para o ventrículo esquerdo<br />
após a eliminação da fuga para o AE pode ocasionar<br />
aumento súbito da pressão capilar pulmonar e edema<br />
pulmonar. O fechamento da CIA nesses casos deve<br />
ser precedido de oclusão temporária da CIA com balão<br />
por 15 a 30 minutos, enquanto se mede a pressão<br />
capilar pulmonar. Na presença de aumento da pressão<br />
capilar pulmonar acima de 18mmHg ou de aumento da<br />
relação pressão diastólica final e pressão sistólica de<br />
ventrículo esquerdo, recomenda-se deixar fenestração<br />
na prótese 20 , para evitar essa grave complicação.<br />
Hipertensão pulmonar 21<br />
Hipertensão pulmonar (HP) grave é incomum em<br />
pacientes portadores de CIA, principalmente naqueles<br />
abaixo de 30 anos de idade. Em casos de presença de<br />
HP grave em que haja dúvida quanto à reversibilidade<br />
da resistência pulmonar e do grau de hiperfluxo pulmonar,<br />
são necessários testes para avaliação da vasoreatividade<br />
pulmonar. Os testes são realizados principalmente<br />
com óxido nítrico e oxigênio a 100%. Evidências<br />
claras de diminuição da resistência pulmonar e<br />
aumento do fluxo pulmonar para mais de 1,8 vezes<br />
em relação ao sistêmico após o emprego dessas substâncias<br />
justificam o fechamento de CIA. Outra medida é<br />
o fechamento temporário de CIA com balão, evitandose<br />
interferência com o retorno venoso sistêmico. A<br />
diminuição da pressão pulmonar, ausência de aumento<br />
da pressão em AD e aumento do débito sistêmico<br />
após oclusão do defeito são evidências favoráveis ao<br />
fechamento. No caso de persistirem dúvidas, o uso de<br />
prótese fenestrada é a melhor opção.<br />
ORIENTAÇÕES<br />
O uso de ácido acetilsalicílico na dose de 3 a<br />
5mg/kg/dia até a dose máxima de 200mg deve ser<br />
iniciado, segundo alguns autores, 48 a 72 horas antes<br />
do procedimento e, segundo outros, somente após a<br />
intervenção. Acreditamos que o início de sua administração<br />
antes do procedimento pode diminuir riscos de<br />
embolia. Assim que feita a punção venosa, administrase<br />
heparina na dose de 5 a 10.000U para adultos e<br />
de 100 a 200U/kg para crianças, com o objetivo de<br />
manter o tempo de coagulação ativado (TCA) acima<br />
de 200 segundos. Terminado o procedimento, a heparina<br />
não é neutralizada, exceto em situações especiais.<br />
ácido acetilsalicílico e profilaxia para endocardite devem<br />
ser mantidos por seis meses. Em casos de CIAs grandes<br />
(maiores que 30mm para adultos), alguns autores sugerem<br />
a associação de clopidogrel, na dose de 75mg para<br />
adultos e de 1 a 1,5mg/kg/dia para crianças, por um<br />
a dois meses. Nesses casos, atenção especial deve ser<br />
dada para a possibilidade de sangramento e equimoses.<br />
Os pacientes geralmente recebem alta no mesmo<br />
dia do procedimento ou no dia seguinte, estando aptos<br />
a retornar às aulas ou ao trabalho intelectual em três<br />
a quatro dias; atividades físicas competitivas podem<br />
ser liberadas após um mês do procedimento.<br />
COMPLICAÇÕES<br />
Algumas reações adversas são comuns após o<br />
uso de Amplatzer.<br />
Cefaléia 22<br />
A cefaléia de intensidade variável é a reação adversa<br />
mais freqüente. Algumas vezes, ela é de grande intensidade,<br />
semelhante à enxaqueca grave. A duração dos<br />
sintomas pode variar de dias até semanas. Em alguns<br />
pacientes de nossa série de 160 casos, a cefaléia permaneceu<br />
por 12 semanas. A fisiopatologia não está<br />
bem definida e parece estar relacionada ao aumento<br />
dos níveis séricos de níquel 23,24 . O tratamento é sintomático.<br />
Dois pacientes de nossa série apresentaram<br />
cefaléia intensa, refratária a dipirona e paracetamol, e<br />
tiveram alívio dos sintomas com associação de paracetamol<br />
e cafeína. Acreditamos que essa associação<br />
seja benéfica devido à semelhança dos sintomas com<br />
os de enxaqueca. Sintomas semelhantes à gripe, como<br />
mialgia, desânimo e febre, podem ser encontrados<br />
nos primeiros meses após o procedimento. Em um de<br />
nossos pacientes, observamos cefaléia intensa e temperatura<br />
acima de 38°C, com duração de 35 dias. Seu<br />
estado geral manteve-se bom, apesar de proteína C e<br />
velocidade de hemossedimentação muito elevadas (212<br />
e 120mm, respectivamente). Ecocardiograma, hemocultura<br />
e tomografia computadorizada de crânio e tórax<br />
nada evidenciaram. Tratar-se-ia de uma reação inflamatória<br />
intensa? Teria o paciente benefício com o uso de<br />
corticóide? Essas são perguntas ainda sem resposta.<br />
Arritmia<br />
Arritmias, principalmente supraventriculares 25 , podem<br />
surgir nas primeiras semanas após o procedimento,<br />
especialmente nos casos de CIAs grandes e em adultos.<br />
O tratamento medicamentoso ou a cardioversão<br />
elétrica estão indicados para as formas persistentes.<br />
Geralmente são transitórias, e a medicação pode ser<br />
suspensa após três meses. Há relatos de bloqueio<br />
atrioventricular, transitório e permanente, após implante<br />
de Amplatzer 26,27 .<br />
Embolia sistêmica<br />
Raramente ocorre embolia sistêmica durante o procedimento<br />
ou relacionada à formação de trombo na<br />
prótese 28,29 . Fatores que aumentem o risco devem ser<br />
identificados e eliminados, tais como válvula de Eustáquio<br />
30 e rede de Chiari exuberantes, que podem ficar<br />
em AE após o implante da prótese. O início do uso de<br />
ácido acetilsalicílico dois ou três dias antes do procedimento,<br />
o controle do TCA durante a intervenção e<br />
202
Oliveira EC, et al. Fechamento Percutâneo de Comunicação Interatrial com Prótese Amplatzer. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />
198-205.<br />
a associação de clopidogrel em casos de CIAs grandes<br />
são condutas que podem diminuir os riscos de embolia.<br />
Em três pacientes de nossa série, nos quais observamos<br />
quadro de disartria, hemiparesia e alterações<br />
visuais transitórias, não identificamos trombo na prótese<br />
ou em cavidades cardíacas, nem alteração à tomografia<br />
ou à ressonância magnética.<br />
Embolização da prótese 31,32<br />
A medida correta do diâmetro da CIA, a identificação<br />
de suas bordas e de sua relação com estruturas<br />
vizinhas, a correta escolha do tamanho da prótese e<br />
as manobras para verificação de seu bom posicionamento<br />
praticamente eliminam a possibilidade de embolia<br />
da prótese. Entretanto, algumas vezes poderá ocorrer<br />
tal embolização, mesmo após o cumprimento rigoroso<br />
dessas etapas. A Figura 5 mostra um dos nossos casos<br />
em que se verificou embolização para VD de uma<br />
prótese número 40, após duas horas de um implante<br />
considerado seguro. A paciente em questão inicialmente<br />
apresentou taquicardia ventricular intermitente e coincidente<br />
com o movimento da prótese para VD.<br />
Após embolização da prótese, a decisão de retirála<br />
no cateterismo ou de enviar o paciente para a<br />
cirurgia dependerá da experiência do Serviço, do material<br />
disponível e da localização da prótese. Quando<br />
se optar pela retirada da prótese no cateterismo cardíaco,<br />
sua fixação com outro cateter e o emprego de bainha<br />
2 a 4F maior que a previamente utilizada facilitam o<br />
procedimento. O caso descrito anteriormente foi encaminhado<br />
para a cirurgia, pois a prótese era grande e<br />
localizada em ventrículo direito e as manobras para<br />
tentar retirá-la apresentariam risco de lesão da valva<br />
tricúspide. Ocasionalmente, a embolização pode ocorrer<br />
dias ou meses após o implante.<br />
Figura 5 - Embolização de prótese número 40 para o VD.<br />
Perfurações 33,34<br />
Encontram-se na literatura relatos de alguns tipos<br />
de complicação após o fechamento percutâneo de<br />
CIA, entre os quais se incluem fístula aorta-AE e perfuração<br />
cardíaca, com manifestações clínicas variáveis<br />
e óbito. Ainda não está bem definida qual seria a<br />
opção mais segura nesses casos: se o sub ou o superdimensionamento<br />
da prótese. Em nosso Serviço, temos<br />
optado por próteses de tamanho suficiente para envolver<br />
a aorta, pela imagem ecocardiográfica.<br />
Sangramento<br />
Sangramento no local da punção pode ocorrer,<br />
principalmente em decorrência de punção acidental da<br />
artéria femoral. Nesses casos, deve-se dispensar tempo<br />
maior para a compressão local e monitorizar o paciente<br />
pela possibilidade de formação de pseudo-aneurisma.<br />
As manobras para introduzir a sonda do ecocardiograma<br />
transesofágico devem ser cuidadosas e delicadas<br />
para evitar lesão ou mesmo perfuração de esôfago<br />
e conseqüente sangramento digestivo. Lubrificação das<br />
sondas e manobras suaves e orientadas por visão direta<br />
através de laringoscópio diminuem esse risco.<br />
Comparação com a cirurgia 35-37<br />
O fechamento cirúrgico e o fechamento percutâneo<br />
de CIA apresentam resultados semelhantes quanto ao<br />
índice de fechamento completo (maior que 97%), à<br />
diminuição das câmaras direitas e à normalização da<br />
classe funcional. Evidenciam-se, porém, algumas diferenças<br />
importantes quando se comparam as duas técnicas.<br />
O fechamento cirúrgico de CIA tem sido realizado<br />
há mais de 50 anos, com diminuição progressiva da<br />
mortalidade, sendo esta menor que 1% nos últimos<br />
10 anos. Entretanto, a necessidade de circulação extracorpórea,<br />
de incisão cirúrgica, de manipulação do<br />
coração e do pulmão, de utilização de vários cateteres<br />
para monitorização e de permanência em unidade de<br />
terapia intensiva, entre outros fatores, tem mantido<br />
uma incidência alta de complicações, que podem ser<br />
leves, moderadas e graves. Complicações leves, como<br />
problemas gastrointestinais, infecção urinária, febre,<br />
derrame pleural e/ou pericárdico, atelectasia pulmonar<br />
e infecção da ferida cirúrgica, ocorrem em mais de<br />
70% dos pacientes. Complicações moderadas — pneumonia,<br />
derrame pleural e/ou pericárdico com necessidade<br />
de drenagem, taquicardia juncional e dissociação<br />
atrioventricular — ocorrem em mais de 10% dos pacientes.<br />
Entre as complicações graves encontram-se<br />
problemas neurológicos, sepse, insuficiência renal, sangramento<br />
requerendo reoperação, tamponamento cardíaco,<br />
síndrome pós-cardiotomia e bloqueio atrioventricular<br />
com necessidade de marca-passo definitivo.<br />
Além disso, a cicatriz cirúrgica é definitiva.<br />
Por sua vez, o fechamento percutâneo de CIA,<br />
iniciado há mais de 25 anos, difundiu-se amplamente<br />
203
Oliveira EC, et al. Fechamento Percutâneo de Comunicação Interatrial com Prótese Amplatzer. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />
198-205.<br />
nos últimos oito anos devido ao surgimento de novas<br />
próteses e à maior facilidade para seu implante, bem<br />
como à utilização de bainhas com diâmetros menores,<br />
apropriadas até mesmo para emprego em crianças.<br />
Entretanto, além de ainda não existir uma prótese ideal,<br />
verificam-se algumas complicações, entre as quais se<br />
incluem perfuração cardíaca, arritmias, embolias da<br />
prótese, manifestações clínicas relacionadas ao material<br />
da prótese ou de fundo imunológico, alto perfil para<br />
uso em crianças com CIAs grandes e tempo de seguimento<br />
relativamente curto, se comparado ao da cirurgia.<br />
Em contrapartida, a ausência de cicatriz, o tempo<br />
de internação curto, o retorno às atividades habituais<br />
em poucos dias e o fato de ser uma intervenção praticamente<br />
indolor, associados à melhora progressiva<br />
das próteses, fazem com que esse método seja, atualmente,<br />
o de escolha para fechamento de CIA tipo<br />
ostium secundum.<br />
RESULTADOS E SEGUIMENTO TARDIO 38-41<br />
O resultado do seguimento tardio dos pacientes<br />
submetidos a fechamento percutâneo de CIA tem sido<br />
excelente. O índice de fechamento completo de CIA<br />
sem shunt residual é próximo a 100%, após um ano<br />
do procedimento. Praticamente todos os pacientes estão<br />
em classe funcional I (NYHA), com normalização ou<br />
diminuição significativa das câmaras cardíacas direitas.<br />
A incidência de complicações tardias é muito baixa,<br />
associada a um alto índice de satisfação dos pacientes.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Os bons resultados, a baixa morbi-mortalidade e<br />
o alto índice de sucesso do procedimento e o alto<br />
grau de satisfação dos pacientes, associados a uma<br />
melhora progressiva dos materiais utilizados, fazem<br />
com que o fechamento percutâneo de CIA seja cada<br />
vez mais empregado. Entretanto, em virtude de a cirurgia<br />
cardíaca ser realizada com alto índice de sucesso<br />
e baixa mortalidade há vários anos, o método só se<br />
justifica se mantiver o mesmo índice de cura da cirurgia<br />
e apresentar menor morbidade e menos complicações.<br />
Para que esses objetivos sejam alcançados, regras rígidas<br />
devem ser seguidas:<br />
1) A indicação de fechamento percutâneo deve ser<br />
semelhante às indicações para a cirurgia, não se<br />
justificando realizá-lo, por ser método pouco invasivo,<br />
em CIAs muito pequenas ou sem qualquer<br />
repercussão ou complicação;<br />
2) O procedimento deve ser realizado em serviços<br />
preparados para a condução da intervenção e<br />
para tratamento imediato de possíveis complicações;<br />
3) Não se justifica a realização do método por pessoal<br />
não envolvido com a fisiopatologia da doença e<br />
que só o execute ocasionalmente;<br />
4) O fechamento de CIAs (principalmente das maiores<br />
que 30mm) associadas a aneurisma, multifenestradas<br />
e com válvula de Eustáquio e rede de Chiari exuberantes<br />
geralmente é trabalhoso, e o sucesso do<br />
procedimento só será obtido se conduzido por<br />
pessoal bem treinado e experiente;<br />
5) O procedimento pode apresentar complicações<br />
imediatas e tardias graves, devendo estas serem<br />
conhecidas e pesquisadas;<br />
6) Na presença de complicações, a decisão entre<br />
tratar o paciente no laboratório de hemodinâmica<br />
ou encaminhá-lo para a cirurgia deve ser criteriosa,<br />
evitando-se insistência desnecessária na sala de<br />
hemodinâmica ou passar do momento ideal para<br />
realização da intervenção.<br />
O tratamento de várias doenças cardíacas na sala<br />
de hemodinâmica tem sido possível devido à maior<br />
disponibilidade de materiais adequados e melhores.<br />
O fechamento percutâneo de CIA é um método que<br />
tende a ser cada vez mais adotado, com índice de<br />
sucesso progressivamente maior. Aos cardiologistas<br />
intervencionistas cabe usá-lo com prudência e responsabilidade.<br />
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205
Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />
Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />
Oclusão Percutânea da Persistência do<br />
Canal Arterial<br />
Artigo de Revisão<br />
Jorge Haddad 1 , Moysés de Oliveira Lima Filho 1 , Geraldo Luiz de Figueiredo 1 ,<br />
Hernando Eduardo Nazzetta 2 , Evandro César Vidal Osterne 3<br />
RESUMO<br />
Os autores apresentam uma breve revisão histórica da<br />
oclusão percutânea da persistência do canal arterial, descrevem<br />
os diferentes dispositivos utilizados e as técnicas de<br />
implante. Analisam os resultados das mais importantes séries<br />
publicadas, relatam a própria experiência e discutem a<br />
eleição do dispositivo apropriado, de acordo com a morfologia<br />
e diâmetro do ducto.<br />
DESCRITORES: Persistência do conduto arterioso. Cardiopatias<br />
congênitas. Cateterismo. Próteses e implantes.<br />
SUMMARY<br />
Percutaneous Occlusion of Patent Ductus Arteriosus<br />
The authors present a brief historical review of the percutaneous<br />
occlusion of patent ductus arteriosus, describe the<br />
different devices used in this procedure and the techniques<br />
to implant them. They also analyze the results of the most<br />
relevant publication series, report their own experience<br />
and discuss the appropriate device choice according to<br />
the diameter and morphology of the ductus.<br />
DESCRIPTORS: Ductus arteriosus, patent. Heart defects,<br />
congenital. Catheterization. Prostheses and implants.<br />
Apersistência do canal arterial é uma das cardiopatias<br />
congênitas mais freqüentes e corresponde<br />
aproximadamente a 10% do total das<br />
má-formações cardíacas. Desde a primeira abordagem<br />
cirúrgica realizada por Gross e Hubbard 1 , em 1938,<br />
esta modalidade de tratamento foi, por muitas décadas,<br />
a única disponível. A ligadura e/ou secção cirúrgica<br />
do ducto é um procedimento eficaz e de baixa morbidade,<br />
entretanto, foram descritas algumas complicações,<br />
como lesões do conduto torácico e do nervo<br />
laríngeo recurrente. Por outro lado, a cicatriz cirúrgica<br />
decorrente do procedimento constitui uma alteração<br />
estética importante, sobretudo no sexo feminino.<br />
Porstmann et al. 2 , em 1967, descreveram a primeira<br />
técnica de oclusão do canal arterial por cateterismo<br />
com a utilização de um tampão de Ivalon. As características<br />
técnicas do procedimento de oclusão limitaram<br />
1<br />
Hospital e Maternidade Celso Pierrô – Pontifícia Universidade<br />
Católica de Campinas, SP.<br />
2<br />
Hospital Santa Genoveva, Goiânia, GO.<br />
3<br />
Instituto do Coração de Taguatinga, Brasília, DF.<br />
Correspondência: Jorge Haddad. Hospital e Maternidade Celso Pierro<br />
- Pontifícia Universidade Católica. Hemodinâmica - Serviço de<br />
Radiologia. Av. John B. Dunlop s/n - Jd. Ipaussurama - Campus II<br />
- Campinas, SP - CEP <strong>13</strong>059-900 - Fone: (19) 3739-8565 / 8304<br />
Fax: (19) 3267-9675 • E-mail: haddad@netsite.com.br<br />
Recebido em: 04/01/2006 • Aceito em: 27/01/2006<br />
sua aplicação a crianças maiores e adultos, o que<br />
impediu sua difusão, apesar da obtenção de resultados<br />
satisfatórios.<br />
A prótese de Rashkind, introduzida em 1979 3 ,<br />
não foi aprovada pelo FDA (Food and Drug Administration),<br />
sendo utilizada somente por centros de investigação<br />
autorizados nos Estados Unidos e em um número<br />
limitado de serviços em outros países.<br />
A utilização dos coils de Gianturco, proposta por<br />
Cambier et al. 4 , obteve uma difusão rápida e ampla,<br />
em função do custo reduzido destes dispositivos e da<br />
alta eficácia para oclusão dos ductos arteriosos de<br />
pequeno calibre, que são os mais comuns, representando<br />
aproximadamente 75% do espectro total dos canais<br />
arteriais.<br />
O desenvolvimento de novos dispositivos tem permitido<br />
que praticamente todos os ductos sejam ocluídos<br />
com eficiência e segurança, sendo atualmente o tratamento<br />
de eleição desta cardiopatia.<br />
INDICAÇÃO DO TRATAMENTO PERCUTÂNEO<br />
A oclusão do canal arterial tem como objetivo a<br />
prevenção da insuficiência cardíaca, da doença vascular<br />
pulmonar obstrutiva e da endarterite bacteriana.<br />
Nos canais com repercussão hemodinâmica, demonstrada<br />
pelo aumento das cavidades esquerdas no<br />
206
Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />
estudo ecocardiográfico, há atualmente consenso quanto<br />
à indicação da oclusão percutânea.<br />
Nos canais sem repercussão hemodinâmica, e especialmente<br />
os denominados ductos silentes (sem sopro)<br />
que constituem um achado da ecocardiografia, há ainda<br />
discussão sobre a indicação da oclusão. Deve-se considerar<br />
que a ausculta de sopros suaves apresenta variação<br />
de acordo com o treinamento e a acuidade auditiva<br />
do examinador e também das condições de realização<br />
do exame físico. Alguns autores não indicam a oclusão<br />
deste tipo de ducto, argumentando a baixa incidência<br />
de complicações nestes casos 5 , entretanto, tem sido<br />
descrita a ocorrência de endarterite e aneurisma na sua<br />
história natural 6-8 . Atualmente, a evolução dos dispositivos<br />
e dos procedimentos de oclusão faz a relação riscobenefício<br />
pender a favor da indicação de oclusão de<br />
todos os canais, independentemente do calibre.<br />
A oclusão percutânea pode ser realizada de forma<br />
eletiva em todas as idades, sendo ideal o período préescolar,<br />
exceto na presença de insuficiência cardíaca<br />
e/ou baixo ganho pondo-estatural.<br />
Os prematuros, neonatos e lactentes de baixo peso<br />
(< 6 kg) representam uma limitação ao procedimento.<br />
A intervenção (cirúrgica ou percutânea), nesta idade,<br />
está indicada na presença de distúrbio respiratório<br />
e/ou insuficiência cardíaca decorrentes do hiperfluxo<br />
e não compensados com tratamento clínico. Nestes<br />
casos, existe o risco de provocar obstruções da aorta<br />
e da artéria pulmonar esquerda e lesões vasculares na<br />
vias de acesso, devido ao volume dos dispositivos e<br />
ao calibre dos sistemas introdutores, respectivamente.<br />
A maioria dos serviços indica o procedimento cirúrgico<br />
nesta faixa etária e os relatos de oclusão percutânea<br />
referem-se, geralmente, a ductos restritivos que foram<br />
ocluídos com pequenos coils 9-12 .<br />
As contra-indicações da oclusão percutânea são a<br />
doença vascular pulmonar oclusiva e as cardiopatias<br />
com circulação pulmonar ou sistêmica ducto-dependente.<br />
PRINCÍPIOS GERAIS DO PROCEDIMENTO<br />
DE OCLUSÃO<br />
O diagnóstico de persistência do canal arterial e<br />
da sua repercussão hemodinâmica é realizado mediante<br />
o estudo ecocardiográfico, dispensando o cateterismo<br />
diagnóstico, todavia, o estudo detalhado da morfologia<br />
e das dimensões do ducto visando à oclusão percutânea<br />
só é possível por meio da angiografia.<br />
A intervenção percutânea é realizada sob anestesia<br />
geral, exceto nos pacientes adultos. Após a obtenção<br />
do acesso vascular, deve-se realizar o estudo angiográfico<br />
do ducto com um cateter que possua marcas radiopacas,<br />
colocadas a distâncias conhecidas, com o objetivo de<br />
utilizá-las como fator de correção na mensuração dos<br />
calibres e do comprimento do canal. É importante<br />
ressaltar o cuidado de evitar qualquer estimulação do<br />
canal por guias metálicas ou cateteres, previamente à<br />
realização da(s) aortografia(s), devido ao risco de causar<br />
espasmo e induzir a erro na mensuração dos diâmetros<br />
do canal.<br />
Em geral, as projeções que melhor expõem a morfologia<br />
e dimensões do ducto são o perfil esquerdo e<br />
a oblíqua anterior direita (10-20°), porém, às vezes, é<br />
necessária a utilização de diferentes variáveis destas<br />
angulações para atingir este objetivo, como por exemplo,<br />
uma ligeira inclinação cranial do intensificador<br />
no perfil esquerdo.<br />
No estudo angiográfico, devem ser consideradas<br />
as medidas do diâmetro mínimo e do comprimento do<br />
ducto e, ainda, o diâmetro da ampola aórtica. A mensuração<br />
do diâmetro mínimo deve ser realizada na sístole,<br />
já que, na diástole, esta medida pode ser subestimada<br />
em até 30% <strong>13</strong> . Durante o implante, a posição adequada<br />
do dispositivo deve ser controlada, antes da liberação,<br />
com injeções de contraste na aorta, exceto quando se<br />
utilizam coils de Gianturco por via retrógrada.<br />
Após a liberação, é realizada uma aortografia de<br />
controle, geralmente com 15 minutos de intervalo,<br />
para comprovar a oclusão total ou determinar o grau<br />
de fluxo residual. Em todos os tipos de dispositivos, a<br />
presença de fluxo residual discreto (limitado à artéria<br />
pulmonar esquerda) é freqüente e a conduta deve ser<br />
expectante, já que este geralmente desaparece no primeiro<br />
ano de evolução. Quando a fuga residual é<br />
significativa, o ideal é substituir o dispositivo por outro<br />
de maior tamanho ou de diferente tipo ou implantar<br />
uma segunda unidade (especialmente coils).<br />
Durante o procedimento, é utilizada a cobertura<br />
antibacteriana com três doses de Cefazolina endovenosa,<br />
sendo a primeira infundida na sala de hemodinâmica<br />
e as outras duas, com 8 horas de intervalo. A profilaxia<br />
da endarterite é recomendada nos primeiros seis meses<br />
após o implante do dispositivo, e na presença de fluxo<br />
residual, até que ocorra a oclusão total do defeito.<br />
O controle ecocardiográfico após o implante é<br />
realizado antes da alta, com um, três, seis meses, um<br />
ano e a seguir anualmente.<br />
A presença de um pequeno pertuito residual, com<br />
fluxo de alta velocidade, pode desencadear hemólise<br />
que se manifesta por hematúria, anemia e aumento de<br />
bilirrubina e dehidrogenasa láctica 14-16 . A ocorrência<br />
da hemólise é rara, e pode se resolver espontaneamente<br />
pela redução progressiva da fuga, entretanto, devido<br />
ao risco de dano renal, alguns autores procedem a<br />
reintervenção imediata para ocluir totalmente o canal 17 .<br />
É necessário dispor, na sala de hemodinâmica, de<br />
sistemas de extração de corpo estranho, de diferentes<br />
tipos e medidas, para a retirada do dispositivo após<br />
uma eventual embolização. Nestes casos, a utilização<br />
de uma bainha, de calibre no mínimo 2 Fr maior que<br />
as utilizadas no implante, pode facilitar a extração.<br />
207
Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />
Nos casos de embolização, o dispositivo quase sempre<br />
se aloja na artéria pulmonar. A bainha de captura<br />
deve ser colocada no ramo pulmonar e o dispositivo<br />
capturado deve ser introduzido na bainha para evitar<br />
danos à valva tricúspide, durante a retirada.<br />
PRÓTESES E TÉCNICAS DE IMPLANTE<br />
Desde que Porstmann et al. 2 , em 1967, descreveram<br />
a primeira oclusão por cateterismo do canal arterial,<br />
diversos tipos de próteses e diferentes técnicas de<br />
implante para ocluir este vaso têm sido utilizados. A<br />
seguir, faremos uma breve revisão histórica e descreveremos<br />
os diferentes tipos de dispositivos e suas técnicas<br />
de implante.<br />
Tampão de Ivalon: este tampão, idealizado por<br />
Porstmann et al. 2 , era manualmente confeccionado durante<br />
o procedimento de oclusão, de acordo com as<br />
características anatômicas do canal. O implante era<br />
realizado por abordagem cirúrgica da artéria femoral,<br />
utilizando-se a via retrógrada. Após estabelecer uma<br />
alça artério-venosa, o dispositivo era introduzido com<br />
a utilização de uma bainha de grande calibre. O procedimento<br />
teve aplicação restrita a crianças maiores e<br />
adultos devido ao grande calibre do sistema introdutor.<br />
Apesar dos resultados satisfatórios, sua utilização limitou-se<br />
ao centro de origem e alguns serviços na Ásia.<br />
Double Umbrella de Rashkind: este dispositivo<br />
substituiu a prótese originalmente descrita em 1979,<br />
composta de uma estrutura metálica única, com ganchos<br />
de fixação 3 . A double umbrella de Rashkind era<br />
constituída por uma dupla estrutura metálica, revestida<br />
de Dacron, configurando um duplo guarda-chuva com<br />
as convexidades opostas e o implante no ducto arterioso<br />
era realizado de forma anterógrada 18 . Havia dois tamanhos<br />
de próteses, 12 e 17 mm, que eram implantados<br />
mediante bainhas 7 ou 11 Fr. Foi utilizada nas décadas<br />
de 80 e 90 do século passado e, posteriormente,<br />
foi retirada do mercado.<br />
Botalloccluder (BN-1; NTK SovECs, Moscow): desenvolvido<br />
em Moscou, em 1981, por Saveliev et al. 19 ,<br />
esta prótese é formada por uma malha de poliuretano<br />
montada em uma estrutura de aço inoxidável que<br />
configura um cone com uma coroa de ganchos (6 nos<br />
tamanhos menores e 8 nos maiores) que servem para<br />
fixação no ducto. No extremo pulmonar, um sistema<br />
de parafuso fixa o dispositivo a um cateter de transporte<br />
com guia metálica interna. Uma bainha tipo Mullins,<br />
um carregador cônico e um rotor para desparafusar e<br />
liberar o dispositivo completam o conjunto. Existem 4<br />
tamanhos: 8; 10; 12 e 14 mm na extremidade maior<br />
(aórtica) que requerem para o implante, que é realizado<br />
por via anterógrada, bainhas de 10; 12; 14 e 16 Fr,<br />
respectivamente. Devido à impossibilidade de reposicionamento<br />
ou de retirada de forma percutânea e ao<br />
grande calibre das bainhas introdutoras, sua utilização<br />
permaneceu restrita ao centro onde foi desenvolvido.<br />
Gianturco-Grifka Vascular Occlusion Device<br />
(GGVOD) - (Cook Cardiology, Bloomington, IN): idealizada<br />
para oclusão de vasos tubulares, esta prótese é<br />
formada por um saco de nylon, que posicionado no<br />
vaso, mediante a utilização de uma bainha 8 Fr, é<br />
preenchido com uma espira flexível de aço inoxidável<br />
de 0,025”, sendo posteriormente liberado (Figura 1A).<br />
A espira metálica pode ser retraída e o saco retirado,<br />
ou reposicionado antes da liberação. Encontra-se disponível<br />
nas medidas de 3, 5, 7 e 9 mm de diâmetro e<br />
a seleção do dispositivo obedece a duas regras:1ª)<br />
deve ter diâmetro 1,0 a 1,5 mm maior que o calibre<br />
do ducto e 2ª) o comprimento do canal deve ser 1,5<br />
a 2 vezes o diâmetro de saco <strong>13</strong> . O sistema de liberação<br />
apresenta uma certa dificuldade na sua utilização e,<br />
em caso de embolização, a retirada percutânea do<br />
dispositivo pode ser trabalhosa.<br />
Adjustable Buttoned Device (ABD) & Folding Plug<br />
Buttoned Device (FPBF) - (Custom Medical Devices,<br />
Athens, Greece): O ABD, idealizado por Sideris et<br />
al. 20 , é uma adaptação da prótese de oclusão de comunicação<br />
interatrial, na qual foi acrescentada uma<br />
segunda abotoadura, que permite ajustar a fixação ao<br />
comprimento do ducto. É formada por um oclusor,<br />
um contra-oclusor e um sistema de liberação constituído<br />
por uma bainha e um cateter de transporte. O cateter<br />
de transporte contém, no seu interior, uma guia metálica<br />
oca e uma corda de nylon laçada na abotoadura<br />
situada no centro do oclusor.<br />
O oclusor e o contra-oclusor são formados por<br />
um fio de aço inoxidável revestido de Teflon e uma<br />
placa de poliuretano. Em uma evolução posterior do<br />
ABD, foi acrescentado um tampão de poliuretano na<br />
face ductal do oclusor, com o objetivo de diminuir a<br />
incidência de shunt residual imediato e o novo dispositivo<br />
foi denominado FPBD (Figura 1B). O procedimento<br />
de implante é realizado por via anterógrada. Após<br />
a cateterização do ducto e colocação da bainha na<br />
aorta descendente, o conjunto oclusor-cateter de transporte-guia<br />
de liberação é avançado até a abertura do<br />
primeiro na aorta, sendo a seguir, puxado o sistema<br />
até ancorar o oclusor na ampola aórtica. Mantendose<br />
o oclusor tracionado, é retirado o cateter de transporte,<br />
carregado o contra-oclusor e inserido novamente o<br />
cateter de transporte na guia de liberação. Empurrando-se<br />
o cateter de transporte, avança-se o contra-oclusor<br />
até abotoá-lo no oclusor. Para liberar o dispositivo,<br />
retira-se o cateter de transporte e, em seguida, seccionase<br />
a alça de nylon na sua extremidade proximal e,<br />
finalmente, são retirados sucessivamente a guia metálica<br />
e o fio de nylon.<br />
Patch (Custom Medical Devices, Athens, Greece):<br />
também idealizado por Sideris et al. 21 , este dispositivo<br />
tem sido recentemente utilizado para oclusão de defeitos<br />
septais e ductos de grande calibre. É constituído<br />
por um retalho de poliuretano montado em um balão<br />
(Figura 1C). O sistema de liberação é igual ao descrito<br />
208
Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />
anteriormente. O dispositivo é introduzido por via anterógrada<br />
até aorta mediante uma bainha longa, o balão<br />
é insuflado até que atinja um diâmetro necessário para<br />
interromper o fluxo sangüíneo, e o conjunto ancorado<br />
na extremidade aórtica do ducto. O depósito de fibrina<br />
na superfície do patch determina a sua fixação definitiva<br />
aos bordos do defeito, ocluindo-o. A estabilidade<br />
do patch é avaliada por estudo ecocardiográfico ou<br />
fluoroscopia e, confirmando-se esta condição, o balão<br />
é esvaziado e o patch pode ser liberado do mesmo<br />
modo que o Buttoned Device. Este dispositivo tem a<br />
vantagem de não possuir estrutura metálica, porém,<br />
requer a manutenção do sistema introdutor-bainhabalão<br />
por um período de 48 horas, em que o paciente<br />
é mantido imobilizado ao leito, até o retorno ao laboratório<br />
de hemodinâmica para a retirada do balão. A<br />
permanência prolongada do conjunto balão-introdutor<br />
e o tempo de imobilização do paciente até a liberação<br />
do patch podem determinar restrições ao seu uso.<br />
Atualmente, investiga-se o acréscimo de uma cola biológica,<br />
na face de fixação do patch, que permitiria a<br />
retirada do sistema em 30 minutos, reduzindo o tempo<br />
de imobilização do paciente e facilitando a sua utilização.<br />
Coils de Gianturco (Cook Cardiology, Bloomignton,<br />
IN, USA): estes dispositivos foram produzidos para a<br />
oclusão de diversas estruturas vasculares e utilizados<br />
inicialmente para oclusão do canal arterial por Cambier<br />
et al. 4 , em 1992. Por sua relação custo-benefício, estes<br />
dispositivos tornaram-se, na atualidade, os mais utilizados<br />
na oclusão de canais pequenos (< 3 mm) e do tipo A.<br />
São constituídos por um fio de aço inoxidável<br />
com cerdas de dacron, aderidas em quase toda sua<br />
extensão, que possuem alto poder trombogênico (Figura<br />
1D). Existem coils de Gianturco com diferentes morfologias.<br />
Para a oclusão do canal arterial são utilizados<br />
os de forma helicoidal. Estes diferem na espessura do<br />
fio metálico, comprimento do coil esticado e diâmetro<br />
A B C<br />
D<br />
E<br />
F<br />
Figura 1 - Dispositivos atualmente utilizados na oclusão do canal arterial. A: Gianturco-Grifka Vascular Occlusion Device; B: Folding Patch<br />
Buttoned Device; C: Sideris’ Patch; D: Coils de Gianturco; E: Flipper Detachable Coil; F: Nit-Occlud; G: Amplatzer Duct Occlud.<br />
G<br />
209
Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />
das alças. As medidas dos coils são expressas no<br />
catálogo na seguinte ordem: espessura da guia metálica<br />
em polegadas, comprimento em centímetros e tamanho<br />
da alça em milímetros (ex: 0.038”–5–5). Habitualmente.<br />
os coils mais utilizados são os de 0.038” de espessura<br />
que, por apresentar maior retração elástica e resistência<br />
ao fluxo, diminuem a possibilidade de embolização.<br />
Os coils de 0.052” de espessura podem ser utilizados<br />
em canais de alto fluxo devido a sua maior resistência.<br />
Na seleção do coil, considera-se que o diâmetro da<br />
alça deve ser, pelo menos, 2 vezes o diâmetro mínimo<br />
do canal. O comprimento do coil deve permitir a<br />
formação de, no mínimo, três alças, entretanto, em<br />
canais com ampola aórtica adequada e comprimento<br />
favorável é preferível a utilização de coils com configuração<br />
de cinco alças. Como regra de fácil memorização,<br />
o primeiro número após as polegadas deve ser sempre<br />
igual ou maior que o segundo (ex: ”0.038”-5-5 ou<br />
”0.038”-8-5).<br />
O implante dos coils de 0.038” de espessura é<br />
rotineiramente realizado por via retrógrada, mediante<br />
um cateter de diâmetro luminal mínimo de 0.041”,<br />
que é previamente posicionado na artéria pulmonar<br />
com o auxílio de uma guia hidrofílica. Em geral, é<br />
utilizado um cateter Judkins de coronária direita 5 Fr,<br />
sendo necessário em casos excepcionais, devido à<br />
angulação do canal, o emprego de cateteres com outras<br />
morfologias. O coil encontra-se esticado em um tubo<br />
metálico que é introduzido na extremidade proximal<br />
do cateter e com o auxílio da parte rígida de uma guia<br />
teflonada de ”0.038”, o coil é transferido para o interior<br />
do cateter de Judkins. Na seqüência, é retirado o<br />
carregador, e a parte rígida da guia metálica é substituída<br />
pela extremidade flexível. A seguir, o coil é empurrado<br />
com a guia metálica até exteriorizar ¾ a uma<br />
alça na artéria pulmonar e, posteriormente, o conjunto<br />
é tracionado até ancorar esta alça na extremidade<br />
pulmonar do ducto. Esta posição é confirmada comparando-se<br />
a relação entre a alça e o extremo pulmonar<br />
do ducto, na imagem angiográfica prévia, com a sombra<br />
traqueal. Puxando-se delicadamente o conjunto, observa-se<br />
que a alça começa a se desfazer, o que comprova<br />
que a mesma encontra-se ancorada na extremidade<br />
pulmonar do ducto. Neste momento, a guia metálica<br />
é imobilizada e lentamente o cateter é retirado, expondo<br />
na aorta o restante do coil, que adota, imediatamente<br />
após a sua liberação, a configuração helicoidal, alojando-se<br />
o restante das alças na ampola aórtica. Em<br />
caso de persistência de fluxo residual significativo, um<br />
segundo coil, geralmente menor, pode ser implantado,<br />
manipulando-se cuidadosamente a guia hidrofílica<br />
e o cateter de liberação através do pertuíto remanescente<br />
no canal.<br />
A via anterógrada pode também ser utilizada como<br />
descrita por Hijazi et al. 11 , que primeiro realizam a<br />
abertura das alças aórtica e, após ancorar o coil na<br />
ampola, liberam a última alça na extremidade pulmonar<br />
do ducto.<br />
Várias técnicas são utilizadas com o objetivo de<br />
obter maior controle na liberação dos coils de Gianturco.<br />
Berdjis et al. 22 utilizaram um cateter-balão de orifício<br />
terminal (tipo wedge) para facilitar a liberação dos<br />
coils. No nosso meio, Esteves et al. 23 introduziram<br />
uma modificação técnica, na qual, primeiro cateterizam<br />
o ducto por via anterógrada, colocando uma guia<br />
hidrofílica na aorta descendente e, por meio desta, o<br />
cateter-balão é posicionado na artéria pulmonar. O<br />
coil é introduzido por via retrógrada e, após a abertura<br />
da primeira alça na extremidade pulmonar, o balão<br />
é insuflado e ancorado na alça, procedendo-se, a<br />
seguir, à liberação das alças aórticas. Na seqüência, é<br />
retirada a guia e desinsuflado o balão. A utilização do<br />
balão insuflado durante o procedimento imobiliza a<br />
alça pulmonar e, ao interromper o fluxo, aumenta a<br />
estabilidade do coil até que este adquira sua configuração<br />
final.<br />
Outra técnica semelhante é a descrita por Ing e<br />
Sommer 24 , que mediante um laço, seguram a alça pulmonar<br />
durante a liberação do coil por via retrógrada.<br />
Kuhn e Latson 25 utilizam a aplicação de calor para<br />
reduzir o diâmetro da extremidade distal do cateter,<br />
até permitir a passagem da guia 0.038” com considerável<br />
fricção. Esta manobra facilita o posicionamento das<br />
alças aórticas, sem risco do coil ser liberado pelo<br />
fluxo sangüíneo ou a movimentação do cateter.<br />
Os coils 0.052”, utilizados em canais de alto fluxo,<br />
são implantados com auxílio de um biótomo, de acordo<br />
com a técnica de Grifka et al. 26 . O canal arterial é<br />
cateterizado de forma anterógrada e, posteriormente,<br />
o cateter é substituído por uma bainha 4 Fr, com o<br />
auxílio de uma guia de troca. Um biotomo 3 Fr é<br />
passado por uma bainha 4 Fr cortada, com extensão<br />
suficiente para carregar o coil, o qual é empurrado<br />
para fora do carregador metálico, em sentido inverso<br />
ao da introdução no cateter, até expor a extremidade<br />
esférica. Prende-se esta com o biótomo e transpassase<br />
o coil para a bainha cortada, que funciona como<br />
carregador para atravessar a válvula hemostática e introduzir<br />
o conjunto biótomo-coil na bainha de liberação.<br />
O conjunto é empurrado até exteriorizar as alças distais<br />
do coil na aorta descendente. Neste momento, tracionase<br />
o sistema bainha-biótomo-coil até alojar as alças<br />
exteriorizadas na ampola aórtica e ancorá-las no ponto<br />
de constrição do ducto. A seguir, mantendo-se imóvel<br />
o biótomo, retira-se suavemente a bainha para expor<br />
a última alça na artéria pulmonar. Comprovado o adequado<br />
posicionamento, o coil é liberado abrindo-se o<br />
biótomo.<br />
Flipper Detachable Embolization Coil (Cook<br />
Cardiology, Bloomington, IN, USA): O conjunto, guia<br />
de entrega e coil de liberação controlada, é semelhante<br />
ao coil de Jackson, utilizado na Europa. O coil,<br />
confeccionado em aço inoxidável de 0.038”, é similar<br />
ao de Gianturco, porém o seu interior é oco, o que<br />
210
Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />
determina uma maior flexibilidade, apesar de ter a<br />
mesma espessura. As cerdas de Dacron são de menor<br />
espessura e comprimento (Figura 1E). Esta redução<br />
tem como objetivo evitar o enovelamento das cerdas<br />
proximais e distais e possibilitar a reintrodução do coil<br />
no cateter liberador. O coil é apresentado no interior<br />
de um carregador plástico transparente que permite<br />
realizar a conexão com a guia de entrega. A extremidade<br />
proximal do coil possui um sistema de encaixe<br />
em parafuso tipo fêmea, que se conecta à extremidade<br />
distal da guia de entrega, com a configuração de parafuso<br />
tipo macho. No interior da guia de entrega, de aço<br />
inoxidável recoberto com TFE, corre um mandril, que<br />
ao ser inserido dentro do coil, retifica-o e permite sua<br />
passagem para o cateter liberador. Na extremidade<br />
proximal da guia de entrega, encontra-se um rotor<br />
plástico utilizado para desparafusar e liberar o coil. Os<br />
diâmetros dos coils disponíveis são 3; 5; 6; e 8 mm<br />
e comprimentos de 3; 4; 5; 6; 8; 10 e 12 cm, que<br />
configuram 3 a 5 alças. Deve-se ressaltar que, devido<br />
à maior flexibilidade do coil, é recomendável selecionar<br />
uma unidade com diâmetro 2,5 a 3 vezes maior<br />
que o diâmetro mínimo do ducto e comprimento suficiente<br />
para configurar 5 alças.<br />
A técnica de implante preferencial é por via anterógrada,<br />
permitindo realizar controles angiográficos<br />
com o cateter arterial <strong>13</strong> .<br />
Deve-se utilizar um cateter 5 Fr de diâmetro luminal<br />
mínimo de 0.041”, que é posicionado na aorta através<br />
do ducto. A guia de entrega com o coil Flipper parafusado<br />
e esticado pelo mandril é transferido para o<br />
cateter e empurrado até quase a extremidade distal<br />
situada na aorta. Neste momento, retira-se o mandril,<br />
possibilitando que o coil, ao ser exteriorizado, adote<br />
sua configuração em alças. Empurra-se o guia de entrega<br />
até formar 4 alças na aorta e, a seguir, o conjunto é<br />
puxado suavemente para alojar estas alças na ampola<br />
aórtica e ancorá-las no ponto de menor lúmen do<br />
canal. Mantendo-se a guia metálica imóvel, o cateter<br />
é retirado delicadamente para configurar a alça pulmonar.<br />
É possível reposicionar o coil, introduzindo-o<br />
novamente no cateter, mediante tração da guia metálica.<br />
Obtida uma posição adequada, o coil é liberado<br />
por rotação anti-horária do rotor plástico, que está<br />
fixado no extremo proximal da guia de entrega. Caso<br />
o coil esteja em uma boa posição, porém ainda exista<br />
fluxo residual significativo, é recomendável a colocação<br />
de um segundo coil (geralmente de Gianturco) por via<br />
retrógrada, antes da liberação do Flipper.<br />
Detachable Embolization Coil (Cook Cardiology,<br />
Bloomington, IN, USA): Este coil difere do tipo Flipper<br />
por não ser oco, ter espessura de 0.035" e apresentar<br />
um sistema de fixação constituído por uma esfera na<br />
sua extremidade proximal, que se aloja na concavidade<br />
situada no extremo distal da guia de transporte.<br />
A técnica de implante é igual à empregada com<br />
os coils Flipper, entretanto, por apresentar menor espessura<br />
e, conseqüentemente, menor rigidez, seu uso é<br />
limitado a canais pequenos e de baixo fluxo.<br />
Duct Occlud - Nit Occlud (PFM Medical, Cologne,<br />
Germany): O Duct Occlud é um coil de liberação<br />
controlada, de aço inoxidável, que foi introduzido no<br />
mercado em 1993 27 . Algumas modificações da estrutura,<br />
da rigidez e do sistema de liberação deram origem<br />
ao modelo atual, denominado Nit Occlud, substituindo<br />
o modelo original. O Nit Occlud é um coil de nitinol<br />
sem fibras de Dacron, especialmente desenhado para<br />
a oclusão de canais arteriais de até 6 mm de diâmetro<br />
(Figura 1F). Os modelos “Flex” e “Medium” apresentam<br />
uma forma de duplo cone ou ampulheta, e o modelo<br />
“Stiff” possui morfologia cônica, sendo a espessura de<br />
0.035”, no primeiro e 0.038”, no outros dois. As alças<br />
distais, que se alojam na ampola aórtica, apresentam<br />
maior rigidez que as proximais, para evitar a sua passagem<br />
através do ducto durante o implante. O dispositivo<br />
já vem acoplado ao cabo de liberação que possui,<br />
na sua extremidade proximal, uma manopla plástica<br />
com roscas e uma trava de segurança. Nos modelos<br />
“Flex” e “Medium”, o dispositivo coil-cabo de liberação<br />
vem carregado em uma bainha de transporte curta,<br />
com um conector plástico em Y, na sua extremidade<br />
proximal e um acople tipo luer lock, na extremidade<br />
distal. Uma bainha longa de liberação, com marca<br />
radiopaca de ouro na extremidade distal, completa o<br />
conjunto. Nos modelos “Stiff”, o dispositivo coil-cabo<br />
de liberação vem carregado em uma bainha de liberação<br />
longa, sendo necessário o uso de uma bainha<br />
acessória 6 Fr ou maior.<br />
Os diâmetros (em mm) disponíveis são: Flex: 4x4;<br />
5x4; 6x5; Medium: 7x6; 9x6; 11x6; Stiff: 10x6; 12x6;<br />
14x6. O primeiro número refere-se ao diâmetro da<br />
alça distal (aórtica) e o segundo, ao diâmetro da porção<br />
central.<br />
A seleção do Nit Occlud está baseada nas seguintes<br />
considerações: o diâmetro da alça distal deve ser<br />
igual ou, no máximo, 1 mm maior que o diâmetro da<br />
ampola aórtica e, no mínimo, 3 a 4 mm maior que o<br />
diâmetro do ducto no seu ponto mais estreito 28 . Estes<br />
três modelos podem ser utilizados para ocluir todos<br />
os tipos de canal, exceto os do tipo B. Para este tipo<br />
de ducto existe um modelo especial denominado “Double<br />
Disk”, que possui dois discos do mesmo tamanho,<br />
conectados por uma porção central.<br />
Para realizar o implante utiliza-se a via anterógrada.<br />
O ducto é cateterizado desde a artéria pulmonar e<br />
com o auxílio de uma guia de troca, o cateter é substituído<br />
pela bainha de liberação, deixando sua extremidade<br />
distal na aorta descendente. O sistema coil-cabo<br />
liberador-bainha de transporte é purgado com solução<br />
fisiológica através da porta lateral do conector Y e a<br />
extremidade distal da bainha de transporte é acoplada<br />
na bainha de liberação. Após abrir a válvula hemostática<br />
do conector em Y, o coil é empurrado até expor a<br />
211
Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />
totalidade das alças distais na aorta descendente. Neste<br />
momento, observa-se, na radioscopia, que as alças<br />
distais “perdem“ a posição perpendicular ao eixo da<br />
bainha de liberação. O conjunto, do mesmo modo já<br />
descrito para os outros coils de liberação controlada,<br />
é tracionado suavemente até as alças distais se alojarem<br />
na ampola aórtica. Retirando-se suavemente a bainha<br />
de liberação e mantendo-se imóvel o cabo de liberação,<br />
a parte central é exposta no interior do ducto e<br />
as alças proximais na artéria pulmonar. Realiza-se, a<br />
seguir, uma aortografia e comprovada a posição adequada<br />
do coil e a ausência de fluxo residual significativo,<br />
procede-se à sua liberação. A liberação é realizada<br />
retirando-se a trava de segurança e acionando o sistema<br />
de roscas da manopla plástica. Quando é utilizado<br />
o modelo “Stiff”, a única diferença na técnica de implante<br />
é que a bainha de liberação, com o coil e o cabo de<br />
liberação pré-carregados, é introduzida na bainha acessória,<br />
6 F ou maior, previamente inserida de forma<br />
anterógrada até a aorta descendente.<br />
Amplatzer Duct Occluder (AGA Medical Corporation,<br />
Golden Valley, MN, USA): é uma prótese autoexpansível<br />
constituída por uma malha de fios de nitinol<br />
de 0.004” de espessura e morfologia semelhante a um<br />
cogumelo, apresentando um corpo cônico e uma saia<br />
de retenção na extremidade distal (Figura 1G). A parte<br />
cônica apresenta dimensão maior na extremidade distal<br />
junto à saia de retenção. No interior desta malha,<br />
encontram-se costurados retalhos de poliéster que aumentam<br />
o poder trombogênico do dispositivo. Na extremidade<br />
proximal, encontra-se soldado a laser um pino<br />
fêmea de aço inoxidável, onde é parafusado o cabo<br />
de liberação. As próteses estão disponíveis nas seguintes<br />
medidas: 5-4; 6-4; 8-6; 10-8; 12-10; 14-12 e 16-14 mm.<br />
Os números indicam os diâmetros do cone nas extremidades<br />
distal e proximal, respectivamente. O comprimento<br />
do dispositivo é de 5 mm no tamanho menor,<br />
7 mm nas duas medidas seguintes e 8 mm nos outros<br />
dispositivos. O diâmetro da saia de retenção excede o<br />
da extremidade distal em 4 mm no menor dispositivo,<br />
em 6 mm nas duas medidas seguintes e em 8 mm nos<br />
4 tamanhos maiores. Um cabo de liberação de aço<br />
inoxidável de 0.051” de espessura e com uma configuração<br />
em parafuso na sua extremidade distal, uma<br />
bainha tipo Mullins, um carregador e um rotor plástico<br />
completam o conjunto. O perfil da bainha de liberação,<br />
recomendado para o implante, varia de 5 Fr,<br />
para os dispositivos menores a 8 Fr, para os de maior<br />
diâmetro 29,30 .<br />
O implante do dispositivo é feito por via anterógrada,<br />
após cruzar o ducto com o cateter, este é substituído<br />
pela bainha de liberação, deixando sua extremidade<br />
distal na aorta descendente. O cabo de liberação<br />
é passado por dentro do carregador plástico e parafusado<br />
na extremidade proximal do dispositivo. Mediante<br />
tração do cabo, o dispositivo é introduzido no<br />
carregador, que é inserido na extremidade proximal<br />
da bainha. Empurrando-se o cabo de liberação, o<br />
dispositivo é avançado até a abertura da saia de retenção,<br />
na aorta descendente. Puxando-se o conjunto,<br />
aloja-se a saia na ampola aórtica. Mediante injeção de<br />
contraste é confirmada a posição adequada da saia de<br />
retenção e, mantendo-se o cabo levemente tracionado,<br />
puxa-se a bainha, liberando a parte cônica no interior<br />
do canal. Realizando-se uma nova aortografia, comprova-se<br />
a posição adequada do dispositivo e a ausência<br />
de fluxo residual significativo. A seguir, a prótese<br />
é liberada, girando-se, em sentido anti-horário, o rotor<br />
plástico fixado no cabo liberador.<br />
SELEÇÃO DO DISPOSITIVO<br />
A morfologia do ducto é extremamente variável,<br />
quase individual, entretanto, a classificação de Krichendo<br />
et al. 31 (Figura 2), que agrupa os ductos de acordo com<br />
a morfologia observada na angiografia em perfil esquerdo,<br />
é muito utilizada na seleção do dispositivo. Esta<br />
classificação agrupa os canais em cinco tipos: A: apresenta<br />
morfologia em funil ou cônica, com o ponto de<br />
maior contrição na extremidade pulmonar e uma ampola<br />
aórtica ampla e bem definida. B: curto, tipo janela,<br />
sem ampola aórtica e constrição na extremidade aórtica.<br />
C: tubular, sem constrições no seu percurso. D: canais<br />
longos com múltiplas constrições, tanto do lado aórtico,<br />
A-1 A-2 A-3<br />
B-1 B-2 B-3<br />
C D E<br />
Figura 2 - Classificação angiográfica dos tipos de canal arterial,<br />
segundo Krichenko et al. 31 (adaptado).<br />
212
Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />
como do lado pulmonar. D: de morfologia bizarra e,<br />
geralmente, com constrição do lado pulmonar e distante<br />
da sombra traqueal. Os tipos A e B são subdivididos<br />
em 1; 2; e 3, segundo a relação da constrição com a<br />
sombra traqueal. A prevalência é de 65%; 18%; 8%;<br />
4% e 6% para os tipos A; B; C; D; e E, respectivamente.<br />
Não existe um único dispositivo ideal para a oclusão<br />
de todos os tipos de ductos. A seleção deve ser individualizada,<br />
levando-se em consideração a morfologia,<br />
o diâmetro mínimo, o comprimento e os tamanhos<br />
disponíveis de cada modelo, assim como a melhor<br />
relação custo-benefício. A Tabela 1 resume os modelos<br />
de dispositivos disponíveis no nosso meio e que podem<br />
ser utilizados nos diferentes tipos de ductos da classificação<br />
de Krichenko et al. 31 . Em geral, os dispositivos<br />
mais utilizados para a oclusão percutânea do canal<br />
arterial são os coils de Gianturco e os de liberação<br />
controlada (Flipper e Nit Occlud). Os coils de Gianturco,<br />
devido a seu baixo custo e grande efetividade, são os<br />
preferidos para a oclusão de canais arteriais pequenos.<br />
Já para os canais um pouco mais calibrosos ou de alto<br />
fluxo, a utilização de coils de liberação controlada é<br />
mais vantajosa, devido à possibilidade de reposicionálos<br />
durante o procedimento de oclusão, reduzindo a<br />
ocorrência de embolizacão e de fluxo residual significativo.<br />
O Amplatzer Duct Occluder, devido ao seu<br />
custo elevado em relação ao coils, fica restrito a canais<br />
de grande calibre. Em alguns casos, como nos<br />
canais de tipo B, pode-se utilizar dispositivos desenhados<br />
para oclusão de outros defeitos, como por<br />
exemplo, as próteses de Amplatzer para comunicação<br />
interatrial ou interventricular muscular.<br />
RESULTADOS<br />
Os índices de sucesso na implantação e de oclusão<br />
total variam de acordo com o dispositivo e a técnica<br />
TABELA 1<br />
Dispositivos disponíveis no Brasil mais adequados<br />
para a oclusão dos diferentes tipos de ductus da<br />
classificação de Krichenko et al. 31<br />
Tipos de Ductus<br />
A<br />
B<br />
C<br />
D<br />
E<br />
Dispositivos disponíveis no Brasil<br />
Coils<br />
Nit Occlud<br />
Amplatzer Duct Occluder<br />
Double Disk Nit Occlud<br />
Amplatzer Devices<br />
Amplatzer Duct Occluder<br />
Nit Occlud<br />
Coils<br />
Double Disk Nit Occlud<br />
Coils<br />
Amplatzer Duct Occlud<br />
Nit Occlud<br />
utilizada, a morfologia e tamanho do canal e a experiência<br />
do operador. A seleção adequada do modelo e<br />
tamanho das próteses, de acordo com as características<br />
morfológicas e dimensões do ducto, é fundamental<br />
para a obtenção de um implante exitoso, oclusão total<br />
do canal e ausência de complicações.<br />
Analisaremos as principais séries publicadas com<br />
a utilização dos diferentes dispositivos e mencionaremos<br />
nossa experiência pessoal.<br />
Os resultados dos implantes do tampão de Ivalon<br />
e da Double Umbrella de Rashkind, atualmente não<br />
utilizados, merecem citação pelo seu valor histórico.<br />
Plug de Ivalon: As principais séries publicadas<br />
demonstraram a alta efetividade deste dispositivo. Sato<br />
et al. 32 , em 1991, relataram a oclusão total em 73 de<br />
74 pacientes. Schrader et al. 33 obtiveram sucesso no<br />
implante em 100 de 101 pacientes, com oclusão total,<br />
em 99 e fluxo residual mínimo, em um paciente. Houve<br />
duas embolizações tardias (2 e 7 semanas após o<br />
procedimento), sendo um dos pacientes submetido a<br />
um novo procedimento com um tampão maior e o<br />
outro submetido à cirurgia eletiva. Os resultados tardios<br />
da série de Wierny et al. 34 , constituída por 208 pacientes,<br />
revelaram oclusão total em 197 (94,7%).<br />
“Double Umbrella” de Rashkind: Os resultados<br />
que foram considerados satisfatórios na época de sua<br />
maior utilização são inadequados pelos padrões atuais,<br />
devido à incidência de fuga residual e complicações.<br />
Hosking et al. 35 relataram índices de 38%, 19% e 8%,<br />
aos 12, 24 e 40 meses, respectivamente. Outras séries<br />
também revelaram taxas relativamente elevadas de fuga<br />
residual, requerendo novos procedimentos 36,37 . Outras<br />
complicações como obstrução do ramo esquerdo de<br />
artéria pulmonar 38,39 , hemólise 40,41 e protrusão em aorta<br />
e artéria pulmonar 42 também foram relatadas. No nosso<br />
meio, Pedra et al. 43 realizaram uma série de 85 procedimentos<br />
com sucesso em 83 (97,6%). Em um paciente,<br />
houve embolização do dispositivo para artéria pulmonar,<br />
que foi retirado cirurgicamente e, em outro, o procedimento<br />
foi suspenso devido à posição inadequada<br />
da prótese. A incidência de fluxo residual imediato foi<br />
de 61,7% e de 17,1%, tardio. Em 1989, iniciamos<br />
nossa experiência na oclusão de defeitos cardíacos utilizando<br />
a prótese de Rashkind, em 3 pacientes. O sucesso<br />
no implante foi obtido em dois deles, observando-se<br />
oclusão total imediata em um e tardia no outro 44 .<br />
Botallo Occluder: Saveliev et al. 19 relataram a experiência<br />
com 273 pacientes e obtiveram oclusão completa<br />
imediata em 258 (95%). Houve 4% de complicações,<br />
como embolização ou posição inadequada do<br />
dispositivo, requerendo intervenção cirúrgica.<br />
GGVOD: Os relatos são limitados a séries pequenas<br />
que apresentaram bons resultados e podem justificar<br />
sua utilização em casos especiais. Grifka et al. <strong>13</strong> ,<br />
em uma série de 22 pacientes, obtiveram oclusão total<br />
2<strong>13</strong>
Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />
em 100%, sendo necessário reposicionar o dispositivo<br />
em 15/22 pacientes antes da liberação. Munayer-<br />
Calderon et al. 45 obtiveram oclusão total em 12 de <strong>13</strong><br />
pacientes abordados. Um dispositivo embolizou para<br />
aorta descendente e foi retirado de forma percutânea.<br />
Adjustable e Folding Patch Buttoned Devices: o<br />
registro internacional da utilização do dispositivo original<br />
revelou alto índice de sucesso no implante, porém,<br />
houve baixa incidência de oclusão total imediata. Esta<br />
alcançou níveis mais elevados com a incorporação do<br />
tampão interno. Rao et al. 46 , em um estudo multicêntrico<br />
com 284 pacientes, utilizando o modelo original, obtiveram<br />
sucesso no implante em 278 (98%). A incidência<br />
de fluxo residual imediata e com 1, 6, 12, e 24<br />
meses após o implante foi, respectivamente, de 40%,<br />
21%, 14%, 11% e 10%. Com a modificação descrita<br />
(FPBD), a incidência de oclusão total imediata foi de<br />
85% 47 . Entre 1991 a 2000, realizamos 35 procedimentos<br />
de oclusão do ducto arterioso com esta prótese<br />
(Figura 3). A idade média dos pacientes foi de 8 anos<br />
e o calibre do ducto variou de 2,5 a 6,0 (3,4) mm,<br />
sendo 23 do tipo A, 4 do tipo B, 6 do tipo C e 2 do<br />
tipo D. O dispositivo foi implantado com sucesso em<br />
34 pacientes (97%). Um paciente apresentou embolização<br />
da prótese para artéria pulmonar esquerda, que<br />
foi retirada cirurgicamente. O índice de oclusão total<br />
imediatamente após foi de 51% e, aos 12 meses, 90%.<br />
Dois pacientes foram submetidos a um novo procedimento,<br />
1 ano após o implante, devido à presença de<br />
fluxo residual de grau moderado. Foram utilizados<br />
coils de Gianturco, obtendo-se a oclusão total em<br />
ambos casos.<br />
Patch: a utilização deste dispositivo encontra-se<br />
ainda em fase de investigação clínica e requer estudos<br />
com maior número de casos e maior seguimento. Numa<br />
série inicial de 10 pacientes com canais de grande<br />
calibre (7 a 20 mm) submetidos a oclusão com o<br />
patch, o implante foi realizado com sucesso e oclusão<br />
total imediata obtida em 100% dos casos 48 .<br />
Coils de Gianturco: As diversas séries publicadas<br />
revelam índice médio de oclusão total imediato de<br />
80% e durante o seguimento de 90% a 95%, com<br />
taxas de embolização entre 8% e 11% 11,49-53 . O Registro<br />
Europeu 54 , com 1291 procedimentos em 1258 pacientes,<br />
demonstrou um índice de oclusão completa imediata<br />
em 59% e, após um ano, de 95%. Houve 10% de<br />
resultados insatisfatórios como: abandono do procedimento,<br />
fluxo residual com necessidade de um novo<br />
procedimento, hemólise persistente, embolizações, acelerações<br />
do fluxo em estruturas adjacentes e recanalização<br />
tardia. Os fatores mais freqüentes de insucesso<br />
foram os canais de diâmetros maiores e os de morfologia<br />
tubular. A ocorrência de recanalização tardia é excepcional<br />
54-57 . A série de Pedra et al. 43 com 260 pacientes,<br />
idade média de 5 anos e diâmetro mínimo do canal<br />
de 2,3 mm (1-5), dos quais 85% eram do tipo A,<br />
revela resultados excelentes, com taxa de sucesso no<br />
implante de 98% e oclusão tardia total de 97%. A<br />
incidência de embolização foi de 4% e ocorreu na<br />
presença de canais do tipo B ou com diâmetros mínimos<br />
maiores que 3,0 mm.<br />
Nossa experiência está constituída por 45 pacientes<br />
com ducto arterioso do tipo A, exceto 1 do tipo C.<br />
O diâmetro mínimo variou entre 1,3 a 3,5 (2,2) mm e<br />
a técnica utilizada foi a retrógrada em todos os casos,<br />
exceto em dois, nos quais foi utilizada a via anterógrada<br />
(Figura 4). O implante foi realizado com sucesso em<br />
42 pacientes (93%), com oclusão total imediata em<br />
76% e com um ano de seguimento em 100%. Em 3<br />
pacientes, houve embolização do dispositivo para artéria<br />
pulmonar, sendo retirado de forma percutânea em<br />
dois e, no terceiro, foi abandonado no ramo segmentar<br />
póstero-basal do pulmão direito. Neste caso, a angiografia<br />
não evidenciou limitação do fluxo e a cintilografia<br />
A B C<br />
Figura 3 - Oclusão de canal arterial com Folding Patch Buttoned Device. A: Canal arterial calibroso do tipo D; B: A imagem em OAD mostra<br />
o dispositivo abotoado antes da liberação. As setas indicam o botão do oclusor abotoado no contra-oclusor; C: Aortografia de controle,<br />
demonstrando ausência de fuga residual.<br />
214
Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />
A B C<br />
Figura 4 - Oclusão de ducto arterioso com coil de Gianturco. A: Canal arterial tipo A de 2 mm de diâmetro; B: Configuração helicoidal do<br />
coil com uma alça na artéria pulmonar e duas na ampola aórtica; C: Aortografia de controle, evidenciando oclusão total.<br />
de controle demonstrou perfusão normal nesse segmento.<br />
Nos três casos, o canal foi posteriormente ocluído<br />
com prótese de Sideris.<br />
Flipper e Detachable coils: Uzun et al. 56 , Tometzki<br />
et al. 58 e Kumar et al. 59 publicaram índices de oclusão<br />
tardia entre 92% e 98% e de embolização menores<br />
que 1%. A redução desta complicação, objetivo da<br />
utilização dos coils de liberação controlada, representa<br />
uma grande vantagem, entretanto, o seu custo mais<br />
elevado pode reduzir sua utilização.<br />
Utilizamos os “detachable coils” em 10 pacientes<br />
com ductos tipo A e diâmetros mínimos entre 2,3 a<br />
3,2 (2,7). O implante foi realizado com sucesso em<br />
100%, sendo utilizada a via anterógrada em 4 e a via<br />
retrógrada em 6. Um paciente apresentou fluxo residual<br />
significativo e foi implantado um segundo coil<br />
(Gianturco), antes da liberação do dispositivo de liberação<br />
controlada. Obteve-se oclusão total imediata em<br />
6 (60%) e tardia nos outros 4.<br />
Duct-Occlud – Nit-Occlud: os resultados dos estudos<br />
da fase I do FDA e multicêntrico do Reino Unido<br />
com o Duct Occlud foram satisfatórios, com índices<br />
de oclusão total de 94% e 91% e de embolização de<br />
0% e 9%, respectivamente 60,61 . O estudo clínico do<br />
FDA com o Nit-Occlud encontra-se, atualmente, na<br />
fase II e os resultados preliminares de 120 implantes<br />
revelam 95% de oclusão total, aos 6 meses e ausência<br />
de complicações significativas 62 . Celiker et al. 28 , em<br />
uma série de 26 pacientes, obtiveram sucesso no implante<br />
em 24 (93,3%) e oclusão total em 12% imediatamente<br />
após o implante, 71% nas primeiras 24 horas<br />
e 93% aos 6 meses; não houve complicações.<br />
Nossa casuística com o uso destes dispositivos é<br />
de 11 pacientes, 9 com Duct-Occlud e 3 com Nit-<br />
Occlud, portadores de ducto tipo A, com diâmetros<br />
mínimos de 2,8 a 3,7 (3,2) mm (Figura 5). O procedimento<br />
foi realizado com sucesso em 100%. Em um paciente,<br />
devido à posição instável, o Duct-Occlud foi retirado<br />
e substituído por outro de maior diâmetro. Houve<br />
oclusão total imediata em 8 (72%) e tardia em 100%.<br />
Amplatzer Duct Occluder: Numerosas séries têm<br />
demonstrado a eficiência e a segurança na utilização<br />
deste dispositivo, apresentando índices de sucesso no<br />
implante próximo a 100% e excepcional ocorrência<br />
de complicações maiores, tais como: obstruções par-<br />
A<br />
C<br />
Figura 5 - Oclusão de ducto arterioso com Nit-Occlud. A e B:<br />
Aortografias demonstrando canal arterial tipo A, com diâmetro<br />
mínimo de 3,7 mm e ampola aórtica de 11 mm; C: Dispositivo<br />
liberado com morfologia em duplo cone; D: Aortografia final com<br />
mínimo fluxo residual.<br />
B<br />
D<br />
215
Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />
ciais de aorta e ramo esquerdo de artéria pulmonar,<br />
embolização e hemólise 29,43,63-65 . Em geral, a incidência<br />
de fluxo residual imediato é muito freqüente, entretanto,<br />
a maioria é de grau discreto, através da malha central<br />
da prótese e desaparece durante o seguimento. Assim,<br />
nas primeiras 24 horas, observa-se oclusão total em<br />
aproximadamente 80% dos pacientes e, na quase totalidade,<br />
entre seis meses e um ano. Dois estudos merecem<br />
destaque por serem multicêntricos, com grande<br />
número de pacientes. O estudo clínico internacional,<br />
com 316 pacientes, obteve sucesso no implante em<br />
97% e índices de oclusão total de 56%, 76%, 94% e<br />
100%, imediato, um dia, seis meses e um ano de<br />
seguimento, respectivamente 30 . A única complicação<br />
grave descrita, neste estudo, foi a embolização do<br />
dispositivo para aorta descendente, com necrose mesentérica<br />
e evolução a óbito. No estudo clínico do FDA,<br />
com 439 pacientes, o sucesso no implante foi de<br />
99%, com oclusão total em 76%, 89% e 100% dos<br />
casos, na angiografia final do procedimento, um dia e<br />
1 ano de seguimento, respectivamente. Ocorreram duas<br />
complicações maiores por obstrução parcial do ramo<br />
esquerdo de artéria pulmonar 66 .<br />
As próteses de Amplatzer para oclusão de comunicações<br />
interatriais ou interventriculares musculares, com<br />
duplo disco, foram utilizadas com sucesso em casos<br />
excepcionais de ducto com hipertensão pulmonar ou<br />
do tipo B. O emprego da prótese angulada, na qual o<br />
corpo não é perpendicular ao disco de retenção,<br />
encontra-se ainda em fase experimental e poderá reduzir<br />
a possibilidade de protrusão na luz aórtica.<br />
Em 8 pacientes, com ducto de diâmetros de 3,8-<br />
4,5 (4,15) mm, sendo 6 do tipo A e 2 do tipo C,<br />
implantamos a prótese com sucesso em todos os casos<br />
(Figura 6). Cinco (62,5%) pacientes apresentaram oclusão<br />
total na angiografia de controle e, em três, existia mínimo<br />
fluxo através da prótese. O ecocardiograma de controle<br />
após 24 horas evidenciou oclusão total em todos.<br />
O desenvolvimento ao longo dos anos dos diversos<br />
dispositivos permite, atualmente, a oclusão de praticamente<br />
todos os canais arteriais, independentemente<br />
de sua morfologia e calibre, com índices de sucesso<br />
no implante e oclusão total em quase 100% dos casos.<br />
Os canais do tipo A e diâmetro mínimo menor que<br />
3,0 mm, que representam a grande maioria dos canais<br />
arteriais, podem ser ocluídos com segurança e eficiência,<br />
com os coils de Gianturco e os de liberação controlada.<br />
Outros dispositivos, Nit-Occlud e Amplatzer Duct<br />
Occlud, de custo mais elevado, devem ser reservados<br />
para canais com outras morfologias e diâmetros maiores.<br />
Os prematuros e lactentes de baixo peso ainda<br />
constituem uma limitação para a oclusão percutânea.<br />
Esta restrição deve-se, principalmente, ao risco de obstruções<br />
aórtica e pulmonar e lesões vasculares provocadas<br />
pelo volume dos dispositivos e calibres dos<br />
sistemas de liberação. Os avanços tecnológicos devem<br />
superar estas limitações, beneficiando os pacientes desta<br />
faixa etária.<br />
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A B C<br />
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C: Ausência de fluxo residual na aortografia, quinze minutos após o implante.<br />
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Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 219-230.<br />
Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />
219-230.<br />
Artigo de Revisão<br />
Fechamento Percutâneo das Comunicações<br />
Interventriculares Perimembranosas<br />
Roberto Silva 1 , Vinícius Fraga 1 , Juliana Neves 1 , Simone F. Pedra 1 , Sérgio L. N. Braga 1 ,<br />
Sérgio C. Pontes Jr. 1 , César A. Esteves 1 , Ana Luisa Guerra 1 , M. Virgínia T. Santana 1 ,<br />
Valmir F. Fontes 1 , Carlos A. C. Pedra 1<br />
RESUMO<br />
A comunicação interventricular perimembranosa isolada é<br />
uma das má formações congênitas cardíacas mais comuns.<br />
Embora o tratamento cirúrgico venha sendo realizado com<br />
baixo risco, fatores como fluxo residual, bloqueio atrioventricular,<br />
síndrome pós-pericardiotomia e arritmias podem<br />
complicar o procedimento. Além disto, uma internação<br />
mais prolongada e a ocorrência de cicatriz cirúrgica são<br />
inevitáveis. Em tese, o tratamento percutâneo deste tipo de<br />
defeito poderia minimizar estas complicações. Recentemente,<br />
um dispositivo especificamente desenhado para o fechamento<br />
percutâneo das comunicações interventriculares perimembranosas<br />
derivado da linhagem Amplatzer (AGA Medical Corporation,<br />
MN, EUA) foi desenvolvido. A experiência inicial<br />
com esta prótese-dispositivo foi animadora, com alta taxa<br />
de fechamento do defeito e com incidência limitada de<br />
complicações no seguimento de médio prazo. Neste artigo,<br />
os autores fazem uma revisão do uso atual deste dispositivo.<br />
DESCRITORES: Defeitos do septo interventricular, terapia.<br />
Próteses e implantes. Radiografia intervencionista.<br />
SUMMARY<br />
Percutaneous Closure of Perimembranous<br />
Ventricular Defects<br />
The isolated perimembranous ventricular septal defect (PM<br />
VSD) is one of the most common congenital cardiac malformations.<br />
Although surgery has been performed at low risk,<br />
factors as morbidity such as residual leaks, atrioventricular<br />
block, post-pericardiotomy syndrome and arrhythmias may<br />
act as complications for the procedure. Additionally, longer<br />
hospitalization and the occurrence of surgical scar are<br />
inevitable. Theoretically, the percutaneous treatment of<br />
this type of defect could minimize such complications.<br />
Most recently, a device designed specifically for PM VSD<br />
closure, the Amplatzer Membranous VSD Occluder, has<br />
been developed. Initial clinical experience with this device<br />
has been very encouraging with high rates of complete<br />
closure and low rates of complications at mid-term followup.<br />
In this article, we review our and others’ experience<br />
with this device.<br />
DESCRIPTORS: Heart septal defects, ventricular, therapy.<br />
Prostheses and implants. Radiography, interventional.<br />
Acomunicação interventricular (CIV) é uma das<br />
má formações congênitas cardíacas mais comuns,<br />
totalizando aproximadamente 20% de todos os<br />
defeitos congênitos 1-4 . Em 80% dos casos, estes defeitos<br />
se localizam na porção perimembranosa do septo<br />
interventricular 1-4 , acometendo a via de saída do ventrículo<br />
esquerdo (VE) imediatamente abaixo da valva<br />
aórtica e entre a via de entrada e saída do ventrículo<br />
direito (VD) 3 . Eles são denominados CIVs perimembranosas<br />
(PM) e têm uma extensão variável para o tecido<br />
muscular adjacente do septo da via de entrada, de<br />
1<br />
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP.<br />
Correspondência: Dr Carlos A. C. Pedra. Chefe da Seção de Intervenções<br />
em Cardiopatias Congênitas. Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.<br />
Av. Dr. Dante Pazzanese, 500 - São Paulo, SP - CEP 04012-180<br />
E-mail: cacpedra@uol.com.br<br />
Recebido em: 01/02/2006 • Aceito em: 24/02/2006<br />
saída ou muscular 1-4 . Sua característica é uma continuidade<br />
fibrosa entre as valvas aórtica e tricúspide 1 . A CIV<br />
PM pode estar total ou parcialmente ocluída por tecido<br />
redundante da valva tricúspide, especialmente em forma<br />
de bolsas provenientes do folheto septal 1-3 . Estas bolsas<br />
são conhecidas como aneurismas do septo ventricular,<br />
apesar de não serem aneurismas verdadeiros 1-3 .<br />
CIVS RESTRITIVAS<br />
A CIV PM pode ser classificada de acordo com<br />
sua repercussão hemodinâmica 2 . A magnitude do fluxo<br />
através da CIV é determinada pelo tamanho da comunicação<br />
e pela diferença de resistências vasculares<br />
entre as circulações sistêmica e pulmonar 2 . Como a<br />
maioria das CIVs é oval em sua forma, a mensuração<br />
correta da CIV pode gerar discussões. Geralmente,<br />
emprega-se a maior medida do defeito 4 , que é utilizada<br />
para comparação com o tamanho da raiz da aorta<br />
219
Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />
219-230.<br />
(geralmente leva-se em conta o anel da valva aórtica).<br />
Assim, estima-se a sobrecarga hemodinâmica imposta<br />
ao ventrículo esquerdo e o risco associado de hipertensão<br />
pulmonar 1-4 . A comunicação, geralmente, é considerada<br />
pequena quando a área do orifício é menor<br />
que 0,8 cm 2 /m 2 de superfície corporal 1 , ou quando<br />
seu diâmetro é menor que um terço do tamanho da<br />
raiz da aorta 4 . Contudo, há pouca evidência científica<br />
para essa classificação 1 . Nos casos de pequenas comunicações,<br />
geralmente, há um gradiente sistólico significativo<br />
entre as pressões de ambos ventrículos. Estes<br />
defeitos também são chamados de restritivos devido<br />
ao fato da magnitude do fluxo pulmonar ser determinada<br />
somente pelo tamanho do defeito, não dependendo<br />
da resistência vascular pulmonar, que é normal. Nestes<br />
casos, as dimensões sistólicas e diastólicas do VE indexadas<br />
à superfície corporal estarão dentro dos limites<br />
da normalidade ou discretamente aumentadas. Classicamente,<br />
as crianças com estas comunicações são<br />
assintomáticas e têm um excelente prognóstico em<br />
longo prazo 5 . Nenhuma medida terapêutica, tanto medicamentosa<br />
ou cirúrgica, é normalmente indicada 1-6 .<br />
Os pacientes devem receber antibioticoterapia profilática<br />
quando forem submetidos a procedimentos que possam<br />
levar a bacteremia 1-7 . O fechamento espontâneo destas<br />
comunicações foi descrito em até 80% dos casos,<br />
normalmente nos primeiros 5 anos de vida 1-3 . Porém,<br />
sugere-se que mesmo pequenas comunicações, inicialmente<br />
classificadas como não significantes, podem<br />
não ter uma evolução benigna em longo prazo 8 .<br />
CIVS NÃO RESTRITIVAS<br />
No outro extremo, CIVs não restritivas ocorrem<br />
quando o tamanho do defeito é maior que 50% do<br />
tamanho da raiz da aorta 4 . Na prática, a definição da<br />
CIV não restritiva é melhor realizada em termos hemodinâmicos<br />
1 . Em outras palavras, quando o fluxo sangüíneo<br />
pulmonar é determinado somente pela resistência<br />
vascular pulmonar 2 . As pressões sistólicas em ambos<br />
ventrículos são, por mecanismo de capilaridade, necessariamente<br />
iguais. Como a circulação pulmonar é sujeita<br />
a aumento excessivo do fluxo sangüíneo, aliado a<br />
aumento da pressão em níveis sistêmicos, as crianças<br />
com estes defeitos correm o risco de desenvolverem<br />
alterações vasculares pulmonares irreversíveis nos primeiros<br />
anos de vida. Assim, o tratamento cirúrgico<br />
não deve ser postergado nestes pacientes 3 .<br />
CIVS MODERADAMENTE RESTRITIVAS<br />
As CIVs moderadamente restritivas são defeitos<br />
que têm diâmetro aproximado entre 30-50% do tamanho<br />
da raiz da aorta 4 , com um gradiente de pressão entre<br />
os ventrículos variável. A pressão sistólica do VD é<br />
aumentada, normalmente ficando abaixo de 50% da<br />
sistêmica. A resistência vascular pulmonar também se<br />
encontra aumentada em níveis variáveis 1-3 . O fluxo<br />
pulmonar é geralmente moderado a grave na infância,<br />
estabelecendo-se após a queda fisiológica da hiperresistência<br />
pulmonar do período neonatal 1-3 . Estes defeitos<br />
são acompanhados de dilatação do átrio e do<br />
ventrículo esquerdo devido à sobrecarga de volume.<br />
O fluxo sangüíneo pulmonar é determinado pelo tamanho<br />
da comunicação e pela resistência vascular pulmonar<br />
2 . Se a criança desenvolve insuficiência cardíaca<br />
sintomática com manifestações de hiperfluxo pulmonar,<br />
está indicada a terapêutica clínica 1,9 . O manejo medicamentoso<br />
pode melhorar os sintomas temporariamente,<br />
permitindo que ocorra fechamento espontâneo da CIV.<br />
Contudo, em crianças com insuficiência cardíaca de<br />
difícil controle clínico, a despeito de terapêutica medicamentosa<br />
máxima, geralmente associada a déficit de<br />
desenvolvimento e infecções pulmonares recorrentes,<br />
o tratamento não deve ser postergado, estando indicado<br />
para prevenir alterações vasculares pulmonares.<br />
FECHAMENTO CIRÚRGICO DAS CIVS PM<br />
O fechamento cirúrgico das CIVs PM tem sido<br />
realizado com baixa taxa de mortalidade, embora com<br />
algumas complicações, tais como fluxos residuais em<br />
até 10% dos casos, bloqueios atrioventriculares, síndrome<br />
pós-pericardiotomia e arritmias 3 . Além disto,<br />
um período de hospitalização mais prolongado (3-10<br />
dias) e a presença de cicatriz cirúrgica definitiva são<br />
conseqüências inevitáveis deste tipo de abordagem.<br />
Como alternativa à cirurgia, tentou-se o fechamento<br />
da CIV PM por via percutânea, usando-se uma variedade<br />
de dispositivos como a “umbrella” de Rashkind<br />
e molas 10-15 . Contudo, estes dispositivos possuíam limitações<br />
importantes, tais como sistemas de implante<br />
calibrosos, impossibilidade de recaptura e reposicionamento,<br />
embolização da prótese, interferência com a<br />
valva aórtica levando a insuficiência e uma alta taxa<br />
de fluxo residual 10-15 . Como não tinham sido desenhados<br />
especificamente para a oclusão da CIV PM, os resultados<br />
não foram adequados, sendo abandonados na<br />
prática clínica.<br />
Após o uso com sucesso para a oclusão de CIVs<br />
musculares com a prótese Amplatzer (AGA Medical<br />
Corporation, MN, EUA) 9,16-22 , desenvolveu-se uma<br />
prótese especificamente para a oclusão das CIVs PM 23 .<br />
A experiência inicial com este dispositivo tem sido<br />
encorajadora 24-27 . Nesta revisão, os autores discutirão<br />
sobre os aspectos de segurança e eficácia do fechamento<br />
percutâneo da CIV PM com esta nova prótese, relatando<br />
também sua própria experiência e resultados.<br />
PRÓTESE E SISTEMA DE IMPLANTE<br />
A prótese<br />
A prótese Amplatzer para CIV PM consiste de<br />
dois discos de baixo perfil, feitos de uma malha de<br />
nitinol auto-expansível, conectados por uma cintura<br />
cilíndrica curta (1,5 mm) 24-27 . A cintura tem um diâmetro<br />
de 4 a 18 mm, com incrementos de 2 mm. Embora os<br />
220
Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />
219-230.<br />
discos sejam paralelos, eles estão desalinhados. O<br />
disco do lado esquerdo é 0,5 mm maior que a cintura<br />
em sua porção superior e 5,5 mm maior na porção<br />
inferior (Figura 1). Já o disco de lado direito é centrado,<br />
sendo 2 mm maior que a cintura em toda a sua volta<br />
(Figura 1). Isto evita o contato direto entre a prótese e<br />
a valva aórtica. Um marcador de platina está fixado a<br />
laser na porção inferior do disco do VE, para orientação<br />
espacial (Figuras 1 e 2), apontando para o ápice<br />
do VE durante o implante. Camadas reforçadas de<br />
poliéster são adicionadas internamente à malha de<br />
nitinol, para aumentar o poder de oclusão. A prótese<br />
é conectada ao sistema de implante por um microparafuso,<br />
localizado na porção central do disco do VD.<br />
Este parafuso é um pouco mais longo que os encontrados<br />
nas outras próteses Amplatzer e tem uma porção plana<br />
em seu lado superior. Desta maneira, a porção plana<br />
do parafuso no lado direito e o marcador de platina<br />
no lado esquerdo encontram-se em localizações opostas,<br />
em um eixo superior-inferior (Figura 2).<br />
Figura 1 - A prótese Amplatzer para CIV perimembranosa. No lado<br />
esquerdo, a prótese é vista de perfil. O disco do lado esquerdo é<br />
excêntrico e conectado ao disco do lado direito por uma curta<br />
cintura. O cabo de implante é parafusado no microparafuso no disco<br />
direito. No lado direito, a prótese é vista de frente. Retalhos de<br />
poliéster são presos na malha de nitinol.<br />
O sistema de implante<br />
É caracterizado por sistema coaxial, consistindo<br />
de um cabo de implante, um cabo empurrador oco,<br />
um rotor de plástico, um carregador de plástico com<br />
válvula hemostática e braço lateral e uma bainha longa<br />
com dilatador 24-27 . O cabo de implante é pouco mais<br />
fino que os cabos usados para implante da prótese<br />
Amplatzer para canal arterial e comunicações interatriais.<br />
O cabo empurrador possui uma cápsula metálica em<br />
sua ponta distal, desenhada para adaptar-se ao microparafuso<br />
da prótese, com uma parte plana em sua<br />
porção superior (Figura 2). Além disto, o cabo empurrador<br />
tem uma leve curvatura que corresponde à curvatura<br />
da bainha longa. A bainha (TorqVue, AGA) é<br />
trançada internamente com fios metálicos de maneira<br />
a evitar dobras durante a sua manipulação e possui<br />
uma curva de 180° no seu segmento distal, para permitir<br />
um melhor posicionamento no ápice do VE. As bainhas<br />
estão disponíveis em 6 Fr (para próteses de 4 mm),<br />
7 Fr (para próteses de 6 a 8 mm), 8 Fr (para próteses de<br />
8 a 12 mm) e 9 Fr (para próteses de 14 a 18 mm) 24-27 .<br />
Para se carregar a prótese, o cabo de implante é<br />
passado por dentro do cabo empurrador e ambos são<br />
passados pelo carregador com a válvula hemostática<br />
conectada. A prótese é parafusada na rosca localizada<br />
distalmente no cabo de implante com uma rotação no<br />
sentido horário. O cabo de implante é então recuado,<br />
permitindo que a porção plana do microparafuso da<br />
prótese se alinhe com a porção plana da cápsula<br />
metálica do empurrador (Figura 2). Isso permite que a<br />
prótese permaneça corretamente posicionada com a<br />
borda superior do disco do VE direcionada para a<br />
valva aórtica durante o implante 9 . Este alinhamento<br />
pode necessitar de algum ajuste manual até que um<br />
“click” seja ouvido ou sentido. Para se evitar a desconexão<br />
entre o parafuso da prótese e o empurrador,<br />
uma leve tração é aplicada ao cabo de implante, que<br />
então é fixado na posição com o rotor plástico ou<br />
com uma pinça cirúrgica 9 próxima à ponta proximal<br />
do cabo empurrador 27 . Deste modo, o cabo de implante<br />
e o empurrador trabalham como um só, quando o<br />
cabo empurrador é empurrado ou puxado. A prótese<br />
é, então, tracionada para dentro do carregador de<br />
plástico, submerso em solução salina, por meio de<br />
uma leve tração do empurrador. Para se retirar o ar do<br />
sistema, injeta-se solução salina no carregador pelo<br />
braço lateral da válvula hemostática.<br />
ESTUDOS EM ANIMAIS<br />
Figura 2 - Ajustando o cabo empurrador na prótese. O cabo empurrador<br />
tem uma cápsula metálica na sua ponta e está desenhado para se<br />
ajustar ao microparafuso da prótese. A porção plana da cápsula<br />
metálica do cabo empurrador deve ser alinhada com a porção plana<br />
do microparafuso da prótese. Isto permite que a prótese seja<br />
corretamente posicionada durante o implante, com a porção plana<br />
superior do disco VE orientada para valva aórtica.<br />
Como ocorreu com outras próteses Amplatzer 22 ,<br />
a prótese para oclusão das CIVs PM foi submetida a<br />
abrangentes estudos em animais com resultados muito<br />
bons 23 . Após estes estudos terem sido publicados, a<br />
prótese foi ainda submetida a melhorias em seu desenho<br />
e em seu sistema de liberação, antes do seu primeiro<br />
uso em seres humanos.<br />
221
Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />
219-230.<br />
SELEÇÃO DOS PACIENTES<br />
O tratamento das CIVs PM tem sido classicamente<br />
indicado na presença de fluxo significativo da esquerda<br />
para direita, levando a sobrecarga de volume do<br />
VE, geralmente observada pelo ecocardiograma transtorácico<br />
9 . Como as crianças com CIVs PM grandes,<br />
usualmente, apresentam sintomas de insuficiência cardíaca<br />
e déficit de desenvolvimento, o tratamento cirúrgico<br />
geralmente é realizado dentro do primeiro ano de<br />
vida 9 . Pacientes com CIV de tamanho moderado, algo<br />
restritivas, que podem ser submetidos a manejo clínico,<br />
são candidatos à oclusão com a prótese assim que<br />
atinjam o peso de 8 a 10 kg 9 . Tem sido amplamente<br />
aceito que pequenas CIVs PM não levam à sobrecarga<br />
volumétrica do VE e não estão associadas a complicações<br />
vasculares pulmonares 2 . Portanto, a oclusão<br />
destes defeitos não é normalmente recomendada e<br />
profilaxia para endocardite é a única recomendação 2 .<br />
Contudo, evidências recentes sugerem que pequenas<br />
CIVs não sejam benignas a longo prazo 8 . Aumento na<br />
morbidade e mortalidade pode ser observado devido<br />
a arritmias, insuficiência cardíaca e endocardite 8 . Assim,<br />
um seguimento próximo é mandatário nestes pacientes.<br />
Os autores acreditam que, em certos casos, o fechamento<br />
de defeitos restritivos pode ser considerado individualizando-se<br />
o caso:<br />
• Déficit no desenvolvimento pondero-estatural<br />
não associado a outras doenças;<br />
• Quadros pulmonares recorrentes, levando a consultas<br />
de emergência e a hospitalizações;<br />
• Aumento progressivo do volume diastólico final<br />
do VE;<br />
• Desenvolvimento de arritmias ventriculares.<br />
Além disso, em países em desenvolvimento, especialmente<br />
em áreas rurais, onde o acesso ao serviço<br />
médico pode ser inadequado dificultando o acompanhamento<br />
clínico, a oclusão destes defeitos deve ser<br />
considerada. Como o tratamento cirúrgico não remove<br />
o risco de endocardite, e pode mesmo provocá-la 7 ,<br />
não se é possível evitar esta complicação com o tratamento<br />
cirúrgico 1 . Ainda não é conhecido se a oclusão<br />
de CIV utilizando-se a prótese elimina este risco. No<br />
outro extremo, um episódio prévio de endocardite<br />
geralmente é considerado como indicação para o fechamento,<br />
independente do tamanho da CIV 3 .<br />
A ECOCARDIOGRAFIA<br />
A ecocardiografia bidimensional transtorácica (ETT)<br />
com Doppler tem um papel importante na seleção de<br />
pacientes para oclusão com prótese. Projeções usuais<br />
são usadas para delinear o tamanho e localização das<br />
CIVs PM, tamanho das câmaras e função ventricular,<br />
anormalidades associadas e função de valvas atrioventriculares<br />
e aórtica 9 . A distância entre a valva aórtica<br />
é observada e, neste aspecto, a presença de uma borda<br />
de tecido entre a valva e a CIV de 2 mm é considerada<br />
como pré-requisito para a oclusão por prótese 9 . Embora<br />
o ETT seja uma ferramenta importante para a seleção<br />
dos pacientes para a oclusão por prótese, o ecocardiograma<br />
transesofágico (ETE) é geralmente usado para<br />
guiar o implante do dispositivo durante o procedimento.<br />
Contudo, o ETT, o ETE ou mesmo o ecocardiograma<br />
intracardíaco (REF), podem ser usados para monitorar<br />
o implante adequado da prótese, desde que se obtenham<br />
boas imagens 24 .<br />
PROCEDIMENTO DE IMPLANTE<br />
O procedimento é preferencialmente realizado sob<br />
anestesia geral, guiado por ETE contínuo 9 . São obtidos<br />
acessos venoso e arterial femoral com introdutores 6<br />
ou 7 Fr e 4 ou 5 Fr, respectivamente. Administra-se<br />
heparina (150 UI/kg, máximo de 10000 UI) e antibioticoterapia<br />
profilática. Cateterismo cardíaco padrão direita<br />
e esquerda é realizado, seguido de ventriculografia<br />
esquerda na projeção axial alongada. As angiografias<br />
da aorta em projeção oblíqua anterior esquerda e do<br />
VE, em hepatoclavicular, podem ser realizadas conforme<br />
a necessidade. Um cateter “Pig-tail” centimetrado<br />
é colocado na veia cava inferior (VCI) ou no peito para<br />
calibração 27 . O defeito é medido no fim da diástole, na<br />
projeção que permite a sua melhor visualização. O<br />
ETE é usado para serem obtidos os parâmetros anatômicos<br />
e funcionais. Os passos mais importantes do<br />
procedimento estão demonstrados nas Figuras 3 a 5<br />
e são descritos a seguir 9 .<br />
Cruzando a CIV pelo VE<br />
A CIV é cruzada de maneira retrógrada, usando<br />
um cateter de Judkins de artéria coronária direita 4 ou<br />
5 Fr, com a ajuda de um guia hidrofílico. Após cruzar<br />
o defeito, o cateter é deixado no ápice do VD e o guia<br />
hidrofílico é trocado por um guia maleável e flexível<br />
de 0,035 polegada de diâmetro e 300 cm de comprimento<br />
(Rope wire, AGA), o qual é manobrado para<br />
ficar na artéria pulmonar esquerda 27 .<br />
Laçando o guia<br />
O guia é laçado na artéria pulmonar esquerda<br />
com um cateter-laço e exteriorizado pela veia femoral<br />
direita, para se estabelecer uma alça artério-venosa<br />
estável. O cateter que cruzou retrogradamente a CIV<br />
é avançado sobre o guia, sendo deixado na junção da<br />
VCI e o átrio direito (AD). Para assegurar a passagem<br />
livre do guia, cateter e bainha pela valva tricúspide,<br />
um cateter tipo Berman Wedge com furo terminal é<br />
inicialmente usado para subir na artéria pulmonar esquerda,<br />
sendo posteriormente substituído por um cateter<br />
Judkins de artéria coronária direita terapêutico para a<br />
manobra de laçar o guia 27 .<br />
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Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />
219-230.<br />
A B C<br />
D E F<br />
Figura 3 - Ventriculografias esquerdas em projeção axial alongada. A: Grande CIV PM medindo 9 mm. B: Após o defeito ter sido cruzado<br />
retrogradamente, o guia Rope é avançado para artéria pulmonar esquerda. C: O guia é laçado e exteriorizado pela veia femoral. D: A bainha<br />
de implante com o dilatador são avançados pela veia femoral até que toque o cateter retrógrado que foi deixado na VCI (Kissing). E: Após<br />
a bainha ser posicionada na aorta ascendente, o dilatador é recuado para dentro da bainha e o guia Rope é empurrado para o VE com a<br />
ajuda do cateter retrógrado. F: O dilatador é avançado sobre a alça do guia no VE atingindo o ápice, sendo seguido pela bainha.<br />
Escolha da prótese<br />
A prótese é selecionada para ser 1 a 2 mm maior<br />
que o tamanho da CIV 24-27 , estimada pelo ETE e pela<br />
angiografia, usando seu maior diâmetro no lado do<br />
VE, em diástole 27 . Em pacientes com formação de aneurismas,<br />
especialmente naqueles que tenham múltiplos<br />
orifícios de saída, a seleção da prótese não é tão<br />
simples 27 . Nestes casos, alguns autores (incluindo os<br />
do nosso grupo) preconizam a escolha de uma prótese<br />
1-2 mm maior que o orifício de saída. Nesta situação,<br />
o disco do lado esquerdo fica efetivamente dentro da<br />
formação aneurismática e distante da crista do septo<br />
interventricular. Outros preferem selecionar um dispositivo<br />
1-2 mm maior que o orifício do lado do VE.<br />
Nesta situação, a prótese cavalga a crista do septo<br />
interventricular e o disco do lado direito é que fica<br />
preenchendo a formação aneurismática. Não existem<br />
estudos para comprovar a superioridade de uma ou<br />
outra estratégia. Nos casos de CIV PM associada a<br />
aneurisma multifenestrado, geralmente o guia passa<br />
pelo orifício mais inferior. Nestas situações, alguns<br />
autores preconizam que a prótese para CIV PM fique<br />
orientada em posição reversa, ou seja, com a porção<br />
inferior do disco do lado esquerdo voltada para cima,<br />
de forma a cobrir o orifício de saída mais superior.<br />
Outros autores propõem o uso da prótese para CIV<br />
muscular, para preencher todo o saco aneurismático<br />
nestas situações.<br />
Progressão da bainha de implante<br />
A bainha de calibre apropriado é avançada com<br />
o dilatador pela veia femoral até que sua ponta toque<br />
a ponta do cateter que cruzou retrogradamente a CIV<br />
e foi deixado na junção da VCI e AD (técnica de<br />
Kissing) 27 . A alça artério-venosa é esticada por uma<br />
tração no guia, em ambos os lados do sistema e fixada<br />
com pinças cirúrgicas nas extremidades da bainha<br />
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Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />
219-230.<br />
A B C<br />
D E F<br />
Figura 4 - Ventriculografias esquerdas. A: Após a retirada do guia, uma prótese de 10 mm é avançada pela bainha. B: O disco do lado esquerdo<br />
é aberto no VE e todo o sistema é puxado em direção ao septo. O marcador radiopaco aponta para baixo. C: A cintura é aberta na CIV e<br />
o disco do lado direito, no VD. D: Angiografia para confirmar a posição adequada da prótese. E: Pequeno fluxo residual após a liberação<br />
da prótese. A dilatação do VE é notável na imagem em diástole. F: Aortografia em projeção oblíqua anterior esquerda, verificando-se a distância<br />
entre a prótese e a valva. Não há insuficiência aórtica.<br />
venosa e do cateter arterial. A bainha longa é avançada<br />
da veia femoral para a aorta ascendente através da<br />
CIV, empurrando-se gentilmente a bainha e puxandose<br />
o cateter arterial. Uma vez que a bainha esteja na<br />
aorta ascendente, as pinças cirúrgicas são retiradas, a<br />
alça é afrouxada e o dilatador é recuado poucos centímetros<br />
para dentro da bainha. Esta é, então, tracionada<br />
lentamente até que sua ponta esteja logo acima da<br />
valva aórtica. O guia é empurrado pelo lado arterial<br />
para se formar uma curva, para, então, cruzar a valva<br />
aórtica e entrar no VE. O cateter arterial é também<br />
avançado para dar mais suporte ao guia para cruzar<br />
a valva e atingir a cavidade do VE. Esta manobra<br />
empurra a bainha na direção do VE, logo abaixo da<br />
valva aórtica. O dilatador é avançado sobre o guia,<br />
alcançando-se o ápice do VE, sendo seguido pela<br />
bainha. O dilatador é removido e uma nova angiografia<br />
é realizada pelo braço lateral da bainha para uma<br />
avaliação mais detalhada da CIV. O guia longo é retirado<br />
pelo lado venoso ou arterial 27 .<br />
Implante da prótese<br />
Após a prótese ser carregada, ela é avançada até<br />
que atinja a ponta da bainha. O disco do VE é liberado<br />
na porção média da cavidade ventricular, após a<br />
bainha ser distanciada do ápice 24-27 . Devido ao alinhamento<br />
da porção plana do microparafuso da prótese<br />
e da cápsula metálica do cabo empurrador, a prótese<br />
invariavelmente sai da bainha na orientação correta<br />
(com o marcador de platina na maior borda do disco<br />
esquerdo apontando para o ápice) 24-27 . Neste ponto, o<br />
ETE é fundamental para verificar se o disco da prótese<br />
não está preso nas cordoalhas da valva mitral 9 . Após<br />
liberação do disco esquerdo, a bainha e o empurrador<br />
são tracionados em unidade, até que o disco esquerdo<br />
toque o septo ventricular. A cintura da prótese e<br />
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219-230.<br />
A C E G<br />
B D F H<br />
Figura 5 - Ecocardiograma transesofágico durante o procedimento. A e B: A CIV PM é mostrada usando-se projeções padrões e mapeamento<br />
de fluxo a cores. Há fluxo significante da esquerda para direita, levando à dilatação do VE. C: O guia Rope, usado para se estabelecer a<br />
alça artério-venosa, é visualizado na raiz da aorta e átrio direito, passando pela CIV e valva tricúspide. D: Ponta da bainha localizada próxima<br />
ao ápice do VE. E: O disco do lado esquerdo é aberto no VE, longe do aparato da valva mitral. F: O sistema inteiro é puxado em direção<br />
ao septo. G: A cintura e o disco do lado direito são abertos na CIV e no VD, respectivamente, recolhendo-se a bainha e avançando-se o<br />
cabo de implante. A prótese ainda está presa ao cabo de liberação. H: Após liberação, a prótese está em boa posição no septo. Há refluxo<br />
tricúspide mínimo.<br />
o disco direito são liberados com a técnica de duplo<br />
movimento, ou seja, se avança o cabo empurrador<br />
enquanto se puxa ligeiramente a bainha de liberação.<br />
A prótese fica mais curta com sua expansão. Quando<br />
o disco direito é liberado, recuando-se a bainha e<br />
mantendo-se uma ligeira tração no cabo, o dispositivo<br />
pode escorregar pela CIV ou o disco direito ficar preso<br />
na valva tricúspide.<br />
O posicionamento e a orientação adequados são<br />
confirmados pelo ETE e angiografias repetidas. O ETE<br />
é novamente fundamental para assegurar que o aparato<br />
da valva tricúspide não está envolvido pelo disco<br />
do VD 9 . Em pacientes pequenos ou que tenham defeitos<br />
restritivos por tecido tricuspídeo excessivo, incluindo<br />
aqueles com formação de aneurismas, pode ser difícil<br />
posicionar a ponta da bainha próximo ao ápice do<br />
VE. Nestes casos, sugere-se que se posicione a ponta<br />
da bainha na aorta descendente e que se empurre a<br />
prótese até sua extremidade distal. Nesta posição, a<br />
curvatura do arco aórtico mimetiza a curva em direção<br />
ao ápice, forçando a correta orientação da prótese.<br />
Outra opção é liberar parcialmente o disco do lado<br />
esquerdo na aorta ascendente, que assim assume um<br />
aspecto globulado. O sistema inteiro é puxado gentilmente<br />
para a via de saída do VE através da valva<br />
aórtica, tomando-se cuidado para o dispositivo não<br />
escorregar pela CIV. No trato de saída do VE, o restante<br />
do disco esquerdo é liberado. Se com esta manobra,<br />
a prótese não sair da bainha na orientação correta,<br />
deve-se liberar todo o dispositivo no VE e rodar a<br />
bainha e o cabo de liberação no sentido horário até<br />
o marcador apontar para o ápice. Atingida a orientação<br />
adequada, puxa-se o disco direito para dentro da bainha,<br />
completando-se o implante de forma descrita acima.<br />
A liberação final da prótese pode ser realizada de<br />
duas formas: desparafusando-se primeiramente o cabo<br />
de liberação, enquanto a prótese ainda está fixada na<br />
cápsula do cabo empurrador ou puxando-se o cabo<br />
empurrador sobre o cabo de liberação para depois<br />
desparafusá-lo. Uma vez que a prótese esteja liberada,<br />
o cabo e o empurrador são puxados para dentro da<br />
bainha para se evitar qualquer dano pela ponta do<br />
cabo 9 . São repetidos o ETE e a angiografia para se<br />
avaliar a posição final da prótese, fluxos residuais e<br />
função das valvas aórtica, mitral e tricúspide. Cefazolina<br />
(20 mg/kg) é usada para profilaxia durante o procedimento<br />
e a cada 8 horas (total de 3 doses). A hemostasia<br />
é obtida por compressão manual. Os pacientes acordam<br />
no laboratório de hemodinâmica e são transferidos<br />
para o setor de recuperação para observação clínica.<br />
Geralmente têm alta no dia seguinte e são orientados<br />
para o uso de aspirina (2-5 mg/kg, máximo de 100 mg)<br />
por 6 meses; evitar esportes de impacto por cerca de<br />
2-3 meses e manter recomendações para profilaxia de<br />
endocardite por 6 meses ou até que o fechamento<br />
completo seja documentado. São realizados na alta,<br />
com 1, 3, 6, 12 meses e anualmente os seguintes<br />
exames: radiografia de tórax, eletrocardiograma e ETT.<br />
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EXPERIÊNCIA DOS AUTORES<br />
De dezembro de 2002 a dezembro de 2005, o<br />
fechamento percutâneo de CIV PM com a prótese<br />
Amplatzer foi tentado em 35 pacientes. Os resultados<br />
nos 10 primeiros pacientes foi apresentado em um<br />
congresso 28 e estão incluídos em um artigo prévio 27 . A<br />
mediana de idade e de peso foi 7 anos (limites: 3-51)<br />
e 22 kg (<strong>13</strong>-80), respectivamente. Como condições<br />
associadas encontrou-se em 1 paciente cada: pósoperatório<br />
cirúrgico de coarctação da aorta; pós-implante<br />
de stent em coarctação da aorta; pós-operatório de<br />
CIV PM com fluxo residual significativo; isomerismo<br />
esquerdo com bloqueio atrioventricular total; hipertensão<br />
arterial pulmonar grave e miocárdio não-compactado.<br />
Prolapso do folheto coronariano direito estava presente<br />
em 3 pacientes.<br />
A relação média de fluxo pulmonar (Qp) sobre<br />
sistêmico (Qs) foi 2,3±1,3 (1,5-5,5). O diâmetro da CIV<br />
variou de 3,5 a 10 mm (média 7,5±1,5) pelo ETT, de<br />
3 a 17 mm (7,7±4,2) pela angiografia e 2,5 a 15 mm<br />
(7,9±3,9) pelo ETE. O diâmetro médio da prótese foi<br />
10,5±4,1 mm (variando de 6-18, mediana 10). Os<br />
tempos de fluoroscopia e procedimento foram 38±16<br />
minutos (16-58) e 120±45 minutos (63-210), respectivamente.<br />
Um paciente tinha sido submetido a reparo<br />
cirúrgico de coarctação da aorta no período neonatal<br />
e também tinha valva aórtica bicúspide, valva mitral<br />
em pára-quedas e descontinuidade entre a valva mitral<br />
e aórtica.<br />
Aspectos morfológicos<br />
Os autores classificaram as CIVs PM em quatro<br />
padrões morfológicos básicos. Em 15 pacientes, a CIV<br />
estava associada com formação aneurismática do septo<br />
membranoso com um aspecto de “couve-flor” à angiografia<br />
(Figura 6). Múltiplos orifícios de saída no lado<br />
direito do aneurisma foram observados em 4 pacientes.<br />
Em dois, este padrão só pôde ser demonstrado após<br />
a repetição da angiografia pela bainha antes do implante.<br />
Orifícios encobertos por tecido tricuspídeo redundante,<br />
mas sem aneurisma, foram observados em 10 pacientes<br />
(Figura 6). Outros 8 pacientes possuíam defeitos<br />
com pouco ou nenhum tecido tricuspídeo adjacente.<br />
Três pacientes apresentavam CIVs associadas a prolapso<br />
do folheto coronariano direito da valva aórtica (Figura<br />
7). Em um destes, o prolapso parcialmente ocluía a<br />
CIV e havia insuficiência aórtica discreta. Nos outros<br />
2, havia formação aneurismática adjacente e não havia<br />
insuficiência valvar.<br />
Sucesso técnico<br />
Em um paciente houve insucesso técnico inicial<br />
no implante devido à ocorrência de bloqueio atrioventricular<br />
durante tentativas de passagem da bainha<br />
longa pela CIV para a aorta ascendente. O procedimento<br />
foi interrompido e um marca-passo de demanda foi<br />
deixado no paciente. Houve restabelecimento do ritmo<br />
sinusal, após 4 horas de observação clínica e administração<br />
de corticoesteróides. Um ano após esta tentativa<br />
infrutífera, este mesmo paciente foi submetido a novo<br />
procedimento com sucesso. Portanto, foram realizados<br />
36 procedimentos em 35 pacientes.<br />
Figura 6 - Ventriculografias esquerdas. A: Angiografia pela bainha<br />
longa, demonstrando que a CIV está associada à formação aneurismática,<br />
com aspecto de "couve-flor" e dois orifícios de saída no VD. B:<br />
Representação esquemática deste padrão morfológico. C: Angiografia<br />
demonstrando CIV parcialmente recoberta por tecido da valva tricúspide<br />
redundante. D: Representação esquemática deste padrão morfológico.<br />
Figura 7 - Ventriculografias esquerdas. A: Angiografia demonstrando<br />
pequena CIV, com pequeno envolvimento da valva tricúspide. B:<br />
Representação esquemática deste padrão morfológico. C: Angiografia<br />
demonstrando CIV associada a prolapso do folheto direito da valva<br />
aórtica, que oclui parcialmente o defeito. D: Representação esquemática<br />
deste padrão morfológico.<br />
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Complicações imediatas<br />
Além do paciente referido acima, outro apresentou<br />
bloqueio atrioventricular fugaz após a bainha cruzar<br />
a CIV. Neste paciente, houve restabelecimento imediato<br />
do ritmo sinusal após administração de atropina,<br />
sendo decidido dar continuidade ao procedimento<br />
que foi completado com sucesso. Em dois pacientes,<br />
houve aparecimento de ritmo juncional com boa freqüência<br />
ventricular durante o implante, melhorando<br />
após a liberação da prótese e recuperação anestésica.<br />
Em um dos menores pacientes desta série (14 kg), o<br />
disco do lado direito ficou preso no aparato da valva<br />
tricúspide, resultando em estenose tricúspide significativa<br />
(11 mmHg de gradiente médio) e fluxo da direita<br />
para esquerda pelo forame oval com dessaturação<br />
sistêmica. Não houve melhora do quadro após a liberação<br />
da prótese do cabo. O aparato da valva foi liberado<br />
da prótese usando-se um laço, resultando em imediata<br />
normalização da função da valva tricúspide e da saturação.<br />
Um paciente teve paralisia braquial temporária<br />
devido ao posicionamento do braço durante o procedimento.<br />
Em dois pacientes, houve aparecimento de<br />
gradientes sistólicos leves (10-20 mmHg) na via de<br />
saída do VE, detectados pela ecocardiografia. Estes<br />
gradientes desapareceram após 1 mês de seguimento.<br />
No dia seguinte ao procedimento, 2 pacientes apresentaram<br />
morfologia de bloqueio de ramo direito (BRD) e<br />
um, de ramo esquerdo (BRE), à eletrocardiografia.<br />
Eficácia<br />
Fechamento completo do defeito foi visto em 28/35<br />
(80%) dos pacientes, dentro das primeiras 24 horas<br />
após a oclusão e em 33/35 (95%), durante o seguimento.<br />
Dos 3 pacientes que apresentavam múltiplos orifícios<br />
de saída dentro do aneurisma, em 2 houve oclusão<br />
completa de todos os orifícios. O outro apresenta menos<br />
de 6 meses de acompanhamento.<br />
local foi implantada uma prótese 18 mm, com o marcador<br />
radiopaco voltado para cima (em posição de 9 horas),<br />
cobrindo o orifício superior. Todo o disco do lado<br />
esquerdo permaneceu dentro do aneurisma, havendo<br />
pinçamento do dispositivo em sua porção central pela<br />
CIV, o que levou à formação de aspecto em cogumelo<br />
da prótese. No dia seguinte ao implante, apresentava<br />
morfologia de BRE. Vinha clinicamente bem, em ritmo<br />
sinusal, sem medicação e com oclusão total do defeito.<br />
O óbito ocorreu em uma discoteca, tendo sido suspeitado<br />
do abuso de drogas e encaminhado para autópsia.<br />
Ao exame da peça anatômica, o dispositivo estava bem<br />
posicionado, completamente endotelizado e não havia<br />
lesões nas estruturas cardíacas adjacentes. Ainda aguardase<br />
o laudo técnico sobre o possível uso de drogas.<br />
No paciente que tinha prolapso discreto do folheto<br />
coronariano direito da valva aórtica e insuficiência<br />
aórtica discreta, houve aumento progressivo da insuficiência<br />
para grau moderado, permanecendo com função<br />
ventricular preservada. Não houve casos de insuficiência<br />
tricúspide ou aórtica significativas nos outros pacientes<br />
no acompanhamento. Um paciente apresentou trauma<br />
fechado de tórax, 5 meses após o procedimento,<br />
evoluindo bem inicialmente, apresentando, porém,<br />
acinesia septal detectada 2 anos após o implante. Todos<br />
os pacientes estavam clinicamente bem, com função<br />
ventricular normal, assintomáticos e sem uso de medicação<br />
no acompanhamento. Não houve nenhum<br />
episódio de embolização da prótese, tanto imediata<br />
quanto tardiamente, e nenhum caso de endocardite. A<br />
ecocardiografia mostrou o baixo perfil da prótese durante<br />
o seguimento (Figura 8).<br />
DISCUSSÃO<br />
Nossa experiência mostrou que o fechamento percutâneo<br />
da CIV PM com a nova prótese Amplatzer foi<br />
Seguimento<br />
Todos os pacientes, exceto três, tiveram alta no<br />
dia seguinte ao procedimento. O seguimento clínico<br />
médio foi de 18±8 meses. Um paciente apresentou<br />
morfologia de BRD e outro de BRE, entre 1 e 6 meses<br />
após o implante. Outro apresentou BAVT, entre 3 a 5<br />
meses após o procedimento. Este paciente possuía<br />
uma CIV PM de 10 mm, com extensão para a via de<br />
entrada, sendo implantada uma prótese 12 mm com<br />
sucesso, sem intercorrências. Nos retornos de 1 e 3<br />
meses, encontrava-se em ritmo sinusal e bem clinicamente.<br />
Progressivamente, começou a apresentar fadiga aos<br />
exercícios, acompanhada algumas vezes de tonturas.<br />
Quando procurou nosso serviço após 5 meses do<br />
implante, encontrava-se com BAVT, necessitando de<br />
implante de marca-passo definitivo. Outro paciente<br />
apresentou morte súbita, 2 anos e meio após o procedimento.<br />
Este paciente apresentava CIV PM associada<br />
à formação aneurismática com 2 orifícios de saída,<br />
com o maior e mais inferior medindo 10 mm. Neste<br />
Figura 8 - Ecocardiografia tridimensional mostrando o baixo perfil<br />
da prótese durante o seguimento. O corte ecocardiográfico é o<br />
paraesternal no eixo longo.<br />
227
Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />
219-230.<br />
exeqüível, geralmente segura e eficaz. A experiência<br />
internacional também mostra resultados iniciais animadores<br />
24-30 . Como observado com o uso de outras próteses<br />
Amplatzer, este novo dispositivo possui uma série de<br />
vantagens:<br />
• O sistema de implante é simples e “amigável”<br />
ao intervencionista;<br />
• Permite a recaptura e reposicionamento se necessário;<br />
• A cintura curta da prótese reduz a protrusão<br />
para ambos ventrículos e minimiza o contato<br />
com a valva tricúspide;<br />
• Devido à configuração não cêntrica do disco<br />
do VE, este permanece distante da valva aórtica<br />
sem interferir com sua função;<br />
• Leva a uma alta taxa de oclusão total.<br />
Do ponto de vista técnico, os autores têm a impressão<br />
que angiografias adicionais realizadas pela bainha<br />
de implante ou pelo cateter retrógrado durante o implante<br />
da prótese são úteis para melhor delineamento<br />
das CIVs associadas à formação aneurismática, principalmente<br />
nos casos onde há a suspeita de mais de um<br />
orifício de saída no VD 27 . Este diagnóstico é muito<br />
importante, visto que pode ter implicações na escolha<br />
da prótese e modificar a técnica de implante. A seleção<br />
do tamanho da prótese pode não ser simples em pacientes<br />
com formação aneurismática, como comentado<br />
acima. O superdimensionamento da prótese pode levar<br />
ao aspecto de cogumelo, com alongamento do dispositivo<br />
e possíveis protrusões. Isto se deve ao pinçamento<br />
da cintura pelo orifício de saída no aneurisma. O<br />
alongamento da prótese pode, teoricamente, ser evitado<br />
se deixarmos a cintura do dispositivo cavalgando<br />
a crista do septo e o disco do lado direito dentro do<br />
aneurisma, evitando puxá-lo pelo aneurisma até o VD.<br />
Questionamos se esta técnica pode aumentar o risco de<br />
embolização. Nos casos com orifício único de saída<br />
dentro do aneurisma, a escolha de uma prótese 1-2 mm<br />
maior que o defeito evita seu alongamento e funciona<br />
adequadamente. Mais dados são necessários para servirem<br />
de guia para ótima escolha da prótese neste<br />
padrão de morfologia. Além disso, o implante da prótese<br />
pode ser dificultado nestes casos e a orientação adequada<br />
da prótese pode não ser conseguida em aneurismas<br />
multifenestrados, especialmente quando a bainha<br />
está cruzando o orifício inferior, como nos casos<br />
descritos pelos autores. Embora recruzar o defeito pelo<br />
orifício superior possa ser necessário em alguns casos,<br />
a liberação da prótese com a orientação reversa não<br />
resultou em disfunção da valva aórtica em um caso<br />
em nossa série. Neste paciente, todo o disco esquerdo<br />
ficou localizado dentro do aneurisma e distante da<br />
valva. Não acreditamos que a morte súbita neste caso<br />
tenha ocorrido pela orientação reversa da prótese, já<br />
que a estrutura cardíaca encontrava-se preservada no<br />
espécime anatômico. A possibilidade de morte elétrica<br />
há que ser considerada, apesar de sua ocorrência<br />
muito tardia. O laudo final do exame toxicológico<br />
ajudará a esclarecer a causa da morte. Para pacientes<br />
sem formação aneurismática, especialmente quando<br />
há pouco ou nenhum tecido da valva tricúspide ao<br />
redor do defeito, a determinação das dimensões da<br />
CIV e a seleção da prótese é mais simples.<br />
Gradientes discretos transitórios na via saída do<br />
VE foram detectados em dois pacientes nesta série,<br />
com desaparecimento durante o acompanhamento provavelmente<br />
devido à redução progressiva no perfil da<br />
prótese, como acontece com a prótese Amplatzer para<br />
comunicação interatrial, associada à endotelização progressiva.<br />
Devido à proximidade da CIV PM da valva tricúspide,<br />
a prótese nesta região pode levar à interferência<br />
na função valvar, como visto em um dos casos. A<br />
abertura da cintura e do disco do lado direito com a<br />
técnica do duplo movimento, como descrito acima,<br />
ajuda a evitar esta complicação. Além disto, após a<br />
passagem retrógrada da CIV e captura do guia na artéria<br />
pulmonar esquerda com o laço, é fundamental averiguar<br />
pela ecocardiografia se todas as estruturas do VD<br />
encontram-se livres, sem tensão, quando se traciona o<br />
guia pela veia femoral. Além destas considerações técnicas<br />
para minimizar a disfunção e possíveis lesões da<br />
valva tricúspide 30 , a insuficiência desta valva pela mera<br />
presença da prótese não foi observada durante o seguimento<br />
na nossa experiência e de outros 24-30 .<br />
A decisão dos autores de ocluir CIV PM em pacientes<br />
com prolapso do folheto aórtico foi arbitrária<br />
e precipitada em um dos casos. Na experiência americana,<br />
na fase I de investigação, estes pacientes foram<br />
excluídos 30 . No caso com prolapso aórtico que parcialmente<br />
ocluía a CIV, a presença da prótese aparentemente<br />
interferiu com a função valvar, levando a aumento<br />
progressivo do grau de insuficiência. Por outro lado,<br />
nos outros dois pacientes com prolapso leve, sem<br />
insuficiência valvar e com aneurisma adjacente, o disco<br />
do lado esquerdo ficou localizado dentro do aneurisma<br />
e distante da valva, sem interferir em seu funcionamento.<br />
É discutido se a oclusão do fluxo abaixo da valva<br />
aórtica irá eliminar o efeito Venturi que é, provavelmente,<br />
a causa do processo de prolapso.<br />
A ocorrência de BAVT tardia em um caso em<br />
nossa série foi uma complicação que traz preocupação.<br />
Especulamos que a endotelização progressiva do dispositivo,<br />
aliada a processo inflamatório local, possa ter<br />
contribuído para a instalação do bloqueio. Em um<br />
levantamento recente, o Dr. John Bass, da Universidade<br />
de Minnesota, investigou a ocorrência de BAVT em<br />
diversos centros mundiais. Estes dados, ainda não publicados,<br />
foram mostrados no Ninth Pediatric Interventional<br />
Cardiac Symposium, em setembro de 2005, na Argentina.<br />
Esta complicação, que não levou à mortalidade,<br />
incide em 1,2 a 1,5% dos casos, com a maioria (70%)<br />
ocorrendo entre 3 e 14 dias de evolução. Apesar de<br />
228
Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />
219-230.<br />
não terem sido identificados fatores de risco associados<br />
a esta ocorrência (pela baixa incidência descrita),<br />
é discutido se a extensão para via de entrada seria um<br />
fator predisponente, assim como o superdimensionamento<br />
do dispositivo. A incidência de BAVT após a<br />
correção cirúrgica da CIV PM é provavelmente semelhante,<br />
entretanto, o bloqueio quase sempre ocorre<br />
enquanto o paciente ainda está internado, podendo ser<br />
facilmente reconhecido e prontamente tratado. Como a<br />
maioria dos pacientes já estava em seu domicílio quando<br />
ocorreu o BAVT após o implante percutâneo, esta<br />
complicação possui um potencial de gravidade maior,<br />
já que pode passar despercebida. Por isto, em serviços<br />
que dispõem de tal tecnologia, discute-se a utilização<br />
da telemetria caseira rotineira durante o primeiro mês<br />
após o implante da prótese. Com o acúmulo de casuística,<br />
os fatores de risco desta complicação serão reconhecidos<br />
e neutralizados em experiências futuras.<br />
A taxa de oclusão total durante o seguimento em<br />
nossa experiência foi semelhante à encontrada na literatura,<br />
em torno de 95% 24-30 , denotando a alta eficácia<br />
do dispositivo, que é comparável à taxa obtida pelo<br />
tratamento cirúrgico 3 . A endotelização da prótese deve<br />
ser responsável pelo declínio da taxa de fluxo residual<br />
com o tempo.<br />
Novos desenvolvimentos<br />
Objetivando otimizar o posicionamento da prótese,<br />
algumas modificações na prótese e no sistema de implante<br />
têm sido feitas e testadas em modelos experimentais,<br />
com resultados preliminares animadores 31 . Uma<br />
rosca foi colocada no centro do disco do VE, em<br />
posição oposta ao parafuso do disco do VD. O guia<br />
Rope foi modificado com a colocação de um parafuso<br />
em sua ponta. Antes da prótese ser avançada pela<br />
bainha, o disco esquerdo é parafusado no guia Rope<br />
e o disco direito, no cabo de implante, como já é feito.<br />
Ao invés de remover-se o guia Rope, ele é usado para<br />
criar uma tração no lado arterial. Em modelos animais,<br />
isto possibilitou ao operador posicionar a prótese mais<br />
facilmente, sendo tracionada para o VE com o guia, se<br />
a posição não era adequada. O reposicionamento<br />
também é mais fácil devido à continuidade cabo-próteseguia,<br />
que pode ser manipulado no lado arterial e<br />
venoso. A prótese é liberada da maneira usual e, após<br />
a confirmação de sua posição ótima, o guia Rope é<br />
desparafusado antes de desparafusar o cabo de implante<br />
para a liberação da prótese. Estas modificações<br />
podem resolver alguns problemas, como dobras na<br />
bainha, tração acidental da prótese para o VD e lesões<br />
inadvertidas no VE; levando a um menor tempo de<br />
fluoroscopia e procedimento. Esta técnica pode ser<br />
particularmente útil em crianças pequenas (
Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />
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Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 231-239.<br />
Pedra CAC, et al. Avaliação Hemodinâmica da Hipertensão Arterial Pulmonar Secundária a Cardiopatias Congênitas. Rev Bras<br />
Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 231-239.<br />
Artigo de Revisão<br />
Avaliação Hemodinâmica da Hipertensão Arterial<br />
Pulmonar Secundária a Cardiopatias Congênitas<br />
Carlos A. C. Pedra 1 , Juliana Neves 1 , S. Raul Arrieta 1 , Justo Santiago 1 , Daniel Arnoni 1 ,<br />
Fabio Figueiredo 1 , Sérgio L. N. Braga 1 , César A. Esteves 1 , Valmir F. Fontes 1<br />
RESUMO<br />
A hipertensão arterial pulmonar (HAP) secundária a cardiopatias<br />
congênitas é uma enfermidade comum em nosso<br />
meio devido a referências tardias para tratamento. Nos<br />
pacientes com HAP, a avaliação hemodinâmica é um método<br />
importante para definir a reversibilidade do quadro e a<br />
indicação operatória. Neste artigo, revisamos os principais<br />
aspectos sobre a avaliação hemodinâmica da HAP na sala<br />
de cateterismo, discutindo conceitos importantes para o<br />
cardiologista (pediátrico e de adultos), intensivista, ecocardiografista,<br />
cirurgião cardíaco e, principalmente, para o cardiologista<br />
invasivo (hemodinamicista).<br />
DESCRITORES: Hipertensão pulmonar. Cardiopatias congênitas.<br />
Óxido nítrico.<br />
SUMMARY<br />
Hemodynamic Assessment of Pulmonary Arterial<br />
Hypertension (PAH) Secondary to Congenital<br />
Heart Diseases<br />
Pulmonary arterial hypertension (PAH) secondary to congenital<br />
heart disease is a common condition in our environment<br />
due to late referrals for treatment. In patients with PAH, the<br />
hemodynamic assessment is an important tool to define the<br />
reversibility of the disease and suitability for surgery. In this<br />
paper, we review major aspects of PAH hemodynamic<br />
assessment in the catheterization laboratory, discussing important<br />
concepts for the cardiologist (pediatric and adult),<br />
intensivist, echocardiographer, cardiac surgeon and, mainly,<br />
for the invasive cardiologist.<br />
DESCRIPTORS: Pulmonary hypertension. Heart defects,<br />
congenital. Nitric oxide.<br />
Ahipertensão arterial pulmonar (HAP) é uma condição<br />
definida pela presença de pressão arterial<br />
pulmonar média > 25 mmHg em repouso ou<br />
> 30 mmHg em exercício 1,2 . Tais valores são aplicados<br />
principalmente na população adulta e com HAP idiopática.<br />
Independente de sua etiologia, a HAP caracteriza-se<br />
por aumento progressivo da resistência vascular<br />
pulmonar (RVP), culminando em falência ventricular<br />
direita e óbito se não for tratada precoce e adequadamente.<br />
Nos casos de HAP associada às cardiopatias<br />
congênitas, a correção oportuna do defeito, invariavelmente,<br />
previne o desenvolvimento das alterações histológicas<br />
graves e supostamente irreversíveis que caracterizam<br />
a doença vascular pulmonar vaso-oclusiva.<br />
Entretanto, como vivemos em um país de dimensões<br />
continentais e com grande heterogeneidade na qua-<br />
1<br />
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP.<br />
Correspondência: Dr. Carlos A. C. Pedra. Instituto Dante Pazzanese<br />
de Cardiologia. Av. Dr. Dante Pazzanese, 500 - São Paulo, SP.<br />
CEP 04012-180 - Tel.: (11) 5085-4114 - Fax: (11) 5085-4196<br />
E-mail: cacpedra@uol.com.br<br />
Recebido: 11/05/2006 • Aceito em: 15/05/2006<br />
lidade do atendimento médico, são comuns as referências<br />
tardias, gerando dúvidas em relação à indicação<br />
de fechamento do defeito. Por isto, é fundamental<br />
que o cardiologista pediátrico, o ecocardiografista, o<br />
intensivista, o cirurgião cardíaco e, principalmente, o<br />
hemodinamicista tenham um mínimo de conhecimento<br />
para a correta interpretação da avaliação<br />
hemodinâmica da HAP na sala de cateterismo.<br />
O objetivo deste artigo é revisar, sucintamente, os<br />
principais aspectos do estudo hemodinâmico nesta<br />
condição. Não serão abordados a classificação da<br />
HAP e seus aspectos clínicos, fisiopatológicos e terapêuticos.<br />
Apesar do diagnóstico da HAP poder ser realizado<br />
de forma não-invasiva, o cateterismo é geralmente<br />
empregado para avaliação mais precisa dos níveis<br />
pressóricos na artéria pulmonar (AP) e para caracterização<br />
do débito (ou índice) cardíaco sistêmico (Qp) e<br />
pulmonar (Qs) e das resistências pulmonar e sistêmica<br />
(RVS). Além disto, realiza-se o teste com um vasodilatador<br />
pulmonar seletivo, que tem grande importância<br />
para se estimar o grau de reatividade da vasculatura<br />
pulmonar. Tais dados têm implicações prognósticas e<br />
terapêuticas, como veremos adiante.<br />
231
Pedra CAC, et al. Avaliação Hemodinâmica da Hipertensão Arterial Pulmonar Secundária a Cardiopatias Congênitas. Rev Bras<br />
Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 231-239.<br />
INDICAÇÕES DO ESTUDO HEMODINÂMICO<br />
O cateterismo está indicado toda vez que houver<br />
dúvidas em relação à reversibilidade do quadro de<br />
HAP e à indicação operatória nos pacientes com cardiopatias<br />
congênitas, geralmente com hiperfluxo pulmonar.<br />
Tais indicações devem ser sempre individualizadas,<br />
podendo variar significativamente em diferentes<br />
instituições. Como hoje em dia operam-se os pacientes<br />
com cardiopatias congênitas em idade mais precoce<br />
baseando-se apenas nos dados obtidos pela ecocardiografia,<br />
as indicações de cateterismo vêm se tornando<br />
mais restritas. Para exemplificar esta situação, devemos<br />
lembrar que em pacientes de baixa faixa etária<br />
(< 6-9 meses), com quadro clínico florido de insuficiência<br />
cardíaca (ICC) e com grandes comunicações nãorestritivas<br />
entre os ventrículos (ex: comunicação interventricular<br />
e defeito do septo atrioventricular em sua forma<br />
total) ou entre as grandes artérias (ex: persistência do<br />
canal arterial), a pressão sistólica na artéria pulmonar<br />
é sempre muito semelhante à pressão arterial sistêmica<br />
(princípio físico dos vasos comunicantes). Isto pode<br />
ser evidenciado pela ecocardiografia, utilizando-se o<br />
Doppler e a equação de Bernoulli para se estimar as<br />
diferenças pressóricas entre as câmaras cardíacas. Apesar<br />
do diagnóstico bem estabelecido de HAP, estes pacientes<br />
são raramente submetidos a cateterismo cardíaco antes<br />
da correção cirúrgica do defeito.<br />
CONCEITOS HEMODINÂMICOS BÁSICOS 3-6<br />
Os cálculos do débito (ou índice cardíaco, quando<br />
indexado para a superfície corpórea; o que é mais<br />
apropriado para crianças) e das RVP e RVS podem ser<br />
realizados de duas formas. Na primeira, utiliza-se o<br />
cateter de Swan-Ganz para obtenção das pressões e<br />
do débito cardíaco por termodiluição. Esta técnica é<br />
mais aplicada à beira do leito em unidades de terapia<br />
intensiva, em adultos, possuindo algumas limitações<br />
em crianças devido à presença de shunts intra ou<br />
extracardíacos e/ou ao perfil dos cateteres. No laboratório<br />
de cateterismo, o método empregado para os<br />
cálculos é o de Fick 7 , o qual leva em conta o consumo<br />
de oxigênio (VO 2<br />
) do paciente e a diferença do conteúdo<br />
arterial de oxigênio nos dois circuitos: sistêmico<br />
e pulmonar. As fórmulas e conceitos que se seguem<br />
serão expostos de forma resumida. O leitor que quiser<br />
aprofundamento e detalhamento é encorajado a procurar<br />
leitura específica.<br />
A pressão arterial na AP é definida pela seguinte<br />
equação:<br />
Pressão = Fluxo X Resistência. Portanto, a HAP<br />
pode ser causada por aumento excessivo do fluxo<br />
pulmonar e/ou elevação da resistência.<br />
O conteúdo arterial de oxigênio em ml/100 ml de<br />
sangue é dado pela seguinte fórmula: CaO 2<br />
= O 2<br />
ligado<br />
à hemoglobina + O 2<br />
dissolvido no plasma, ou seja:<br />
CaO 2<br />
= (1,36 X Hb X SatO 2<br />
) + (0,003 X PaO 2<br />
). Em<br />
situações habituais, nas quais os pacientes estão em<br />
ar ambiente (ou FiO 2<br />
< 30 - 40%), o valor do O 2<br />
dissolvido no plasma é irrisório e, por isto, é comumente<br />
desprezado nos cálculos basais no laboratório de hemodinâmica.<br />
O cálculo do índice cardíaco (IC) é realizado pela<br />
seguinte fórmula:<br />
IC = VO 2<br />
/ diferença artério-venosa do conteúdo<br />
arterial de O 2<br />
.<br />
Apesar dos valores do conteúdo arterial de O 2<br />
serem expressos em ml por 100 ml de sangue, o IC<br />
é expresso em litros por minuto. Portanto, deve-se<br />
multiplicar o denominador por 10. Em situações onde<br />
não há curto-circuito intracardíaco, considera-se saturação<br />
venosa mista aquela obtida na AP. Com isto, teríamos<br />
a seguinte fórmula para o cálculo do índice cardíaco:<br />
IC = VO 2<br />
(em litros/min/m 2 )/ (Sat aorta – Sat AP) X<br />
(Hb) X (1,36) X (10).<br />
Entretanto, devido à presença de shunts intra ou<br />
extracardíacos em pacientes com cardiopatias congênitas,<br />
considera-se a saturação venosa mista aquela obtida<br />
na veia cava superior (VCS) 8 . Com isto, pode-se calcular<br />
o índice pulmonar e o sistêmico, segundo as equações<br />
apresentadas a seguir:<br />
Índice pulmonar, também chamado de fluxo pulmonar<br />
ou Qp:<br />
Qp = VO 2<br />
/ (Sat VPu – Sat AP) X (Hb) X (1,36) X (10)<br />
Índice sistêmico, também chamado de fluxo sistêmico<br />
ou Qs:<br />
Qs = VO 2<br />
/ (Sat Ao – Sat VCS) X (Hb) X (1,36) X (10)<br />
O cálculo das resistências é dado pelas seguintes<br />
fórmulas:<br />
RVS = Pressão média Ao – Pressão média no AD/ Qs<br />
RVP = Pressão média na AP – pressão média do<br />
capilar pulmonar ou pressão média no átrio esquerdo<br />
(se não houver estenose de veia pulmonar) ou pressão<br />
diastólica final do ventrículo esquerdo (se não houver<br />
estenose mitral ou de veia pulmonar)/índice pulmonar<br />
(Qp). O numerador desta equação (APm – PCPm) é<br />
também chamado de gradiente transpulmonar.<br />
A unidade de resistência mais utilizada em cardiologia<br />
pediátrica é a unidade Wood (mmHg X min/l). Se<br />
multiplicarmos a unidade Wood por 80, obteremos a<br />
unidade mais utilizada em adultos, ou seja: dyne seg<br />
cm -5. É importante enfatizar que, nas fórmulas acima,<br />
tanto o Qp quanto o Qs foram indexados para superfície<br />
corpórea, já que esta variável sofre uma grande<br />
oscilação em crianças. Portanto, os cálculos das resistências<br />
já incluem esta indexação, tão importante para<br />
comparações.<br />
Os valores normais dos parâmetros hemodinâmicos<br />
encontrados em crianças estão expostos na Tabela 1.<br />
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Pedra CAC, et al. Avaliação Hemodinâmica da Hipertensão Arterial Pulmonar Secundária a Cardiopatias Congênitas. Rev Bras<br />
Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 231-239.<br />
TABELA 1<br />
Valores normais do consumo de oxigênio, índice<br />
cardíaco, resistências vasculares, pressões e<br />
saturações nas câmaras cardíacas em crianças<br />
Consumo de oxigênio (VO 2<br />
)<br />
(ml O 2<br />
/min/m 2 )<br />
5-15 anos 110-160<br />
0-5 anos 140-200<br />
Índice cardíaco (l/min/m 2 ) 4-5<br />
Qp/Qs 1<br />
RVS (U Wood X m- 2) (indexada) 9-20<br />
RVP (U Word X m -2) (indexada) < 2<br />
RVP/RVS < 0,15<br />
Pressões (mmHg)<br />
ADm 3 (0-10)<br />
VD 24/5 (20/2 - 30/10)<br />
TP 24/10 (20/8 - 30/15)<br />
TPm <strong>13</strong> (10-20)<br />
Capilar m 8 (5-12)<br />
VE 96/5 (60/4 - 120/12)<br />
Aorta 96/60 (60/25 - 120/80)<br />
Saturações (%)<br />
VCS 74 (67-83)<br />
AD 75 (65-87)<br />
VD 75 (67-84)<br />
TP 75 (67-84)<br />
Ao 95 (93-98)<br />
AE 95 (93-98)<br />
INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS<br />
Classicamente, os pacientes com relações Qp/Qs<br />
≥ 2, RVP/RVS ≤ 0,4-0,5 aliados à RVP ≤ 5 U Wood X<br />
m-2 são considerados como portadores de HAP reversível<br />
e, portanto, operáveis 3 . Aqueles com Qp/Qs ≤ 1,5,<br />
RVP/RVS ≥ 0,7 aliados à RVP ≥ 8-10 U Wood X m-2<br />
apresentam mortalidade cirúrgica muito elevada e, geralmente,<br />
não evoluem com queda da pressão pulmonar<br />
e da RVP, após a oclusão do defeito 3 . Daí o termo<br />
hipertensão pulmonar “irreversível”. Estes pacientes<br />
são portadores de lesão histológica pulmonar de grau<br />
avançado, com obstrução do lúmen arterial 9 e relação<br />
alvéolo-arterial alta nos vasos mais periféricos 10 , caracterizando<br />
doença vascular pulmonar vaso-oclusiva.<br />
Aqueles portadores de valores intermediários entre estes<br />
dois extremos são considerados duvidosos, tornandose<br />
candidatos à realização de biópsia pulmonar para<br />
definição da estratégia terapêutica.<br />
É importante lembrar que estes números definidos<br />
acima foram baseados em estudos da década de 60 e<br />
70, realizados em diferentes centros, com metodologias<br />
variadas, em cardiopatias distintas, com protocolos<br />
diversos de sedação e tempo de cateterismo e uso de<br />
parâmetros não-uniformes para definição de “irreversibilidade”<br />
11-15 . Além disto, as técnicas de circulação<br />
extracorpórea e ventilação mecânica, manejo do baixo<br />
débito cardíaco e da HAP na unidade de terapia intensiva<br />
eram muito mais limitadas naquela época. Por<br />
isto, estudos mais recentes parecem apontar para melhores<br />
prognósticos, mesmo nos pacientes com parâmetros<br />
hemodinâmicos menos favoráveis. Em um estudo<br />
do final da década de 80 16 , pacientes com RVP < 7 U<br />
Wood (indexada) após uso de vasodilatador (isoproterenol)<br />
apresentaram boa evolução operatória, independente<br />
dos parâmetros hemodinâmicos basais. Nesta<br />
série, o encontro da relação RVP/RVS > 0,75 foi indicativo<br />
de RVP muito elevada, estando associado à<br />
evolução operatória desfavorável. Em outro estudo mais<br />
recente 17 , resultados cirúrgicos encorajadores de longo<br />
prazo foram relatados em pacientes operados de comunicação<br />
interventricular não-restritiva, com RVP elevada<br />
(> 6 U Wood indexada). Nesta série, a mediana de<br />
idade dos pacientes foi de 7,5 anos, a RVP foi 7,6 ±<br />
1,8 U Wood, o Qp/Qs foi 1,9 ± 0,5 e a relação RVP/<br />
RVS foi 0,41 ± 0,12. Quase 80% dos pacientes apresentaram<br />
desfechos favoráveis em um seguimento médio<br />
de 8,7 anos, apresentando-se assintomáticos e com<br />
redução significativa das pressões na artéria pulmonar.<br />
Conceitualmente, devemos diferenciar irreversibilidade<br />
da HAP e operabilidade do paciente. A irreversibilidade<br />
da HAP é definida pela presença de lesão<br />
histológica pulmonar de grau avançado, com obstrução<br />
do lúmen arterial 9 e relação alvéolo-arterial alta nos<br />
vasos mais periféricos 10 , caracterizando a tão chamada<br />
doença vascular pulmonar vaso-oclusiva. Tais características<br />
são, geralmente, encontradas em pacientes com<br />
grau ≥ III na classificação de Heath-Edwards 9 . Nestes<br />
pacientes, a oclusão do defeito cardíaco não interferiria<br />
na evolução do quadro pulmonar em longo prazo.<br />
Entretanto, na prática, observa-se que muitos destes<br />
pacientes com lesões de grau avançado ainda apresentam<br />
fluxo pulmonar excessivo, com relação Qp/Qs<br />
> 2 e relação RVP/RVS < 0,5. Nestas condições, o<br />
paciente ainda se beneficiaria agudamente da oclusão<br />
do defeito, com melhora dos sintomas pulmonares e<br />
da insuficiência cardíaca. Nestes casos duvidosos (geralmente<br />
com grau III na classificação de Heath-Edwards),<br />
pode-se optar pela indicação cirúrgica, deixando um<br />
pequeno defeito residual (em nível atrial, ventricular<br />
ou arterial) para descompressão do VD em situações<br />
de crises de HP no pós-operatório imediato e durante<br />
o seguimento, se realmente houver progressão dos<br />
níveis da RVP.<br />
Além da análise histológica qualitativa de Heath e<br />
Edwards 9 , a abordagem quantitativa ou morfométrica<br />
da biópsia pulmonar, proposta por Rabinovitch et al. 10 ,<br />
e a idade do paciente no momento da correção também<br />
apresentaram boa correlação com a evolução hemodinâmica<br />
pós-operatória, em um estudo clássico publicado<br />
pelo grupo de Boston 18 . Pacientes operados com menos<br />
de 9 meses apresentaram ótima evolução, independente<br />
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Pedra CAC, et al. Avaliação Hemodinâmica da Hipertensão Arterial Pulmonar Secundária a Cardiopatias Congênitas. Rev Bras<br />
Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 231-239.<br />
do padrão histológico inicial, com normalização da<br />
PAPm e/ou da RVP medidos 1 ano após a cirurgia.<br />
Entre aqueles operados com idade > 9 meses, houve<br />
normalização dos dados hemodinâmicos nos portadores<br />
de graus I de Heath e Edwards associados a<br />
graus A e B de Rabinovitch. Entretanto, observou-se<br />
manutenção dos dados hemodinâmicos em patamares<br />
elevados em metade dos portadores de grau B de<br />
Rabinovitch associado a grau II de Heath e Edwards<br />
ou naqueles com grau C de Rabinovitch associado a<br />
grau I ou II de Heath e Edwards. A PAPm e a RVP<br />
mantiveram-se elevadas em todos os pacientes com<br />
grau C de Rabinovitch operados após os 2 anos de<br />
idade, com níveis ainda mais altos naqueles associados<br />
a grau III de Heath e Edwards.<br />
É importante lembrar de alguns raros pacientes<br />
com defeitos amplos, não-restritivos (geralmente portadores<br />
de CIVs), que jamais cursam com sinais de ICC<br />
devido à persistência do padrão fetal de HAP. Estes<br />
pacientes comportam-se como àqueles que têm hipertensão<br />
pulmonar “irreversível”, com Qp/Qs ≤ 1,5, RVP/<br />
RVS ≥ 0,7 e RVP ≥ 8-10 U Wood X m-2. Também são<br />
portadores de lesão histológica pulmonar de grau avançado,<br />
com obstrução do lúmen arterial e relação alvéoloarterial<br />
alta nos vasos mais periféricos, caracterizando<br />
doença vascular pulmonar vaso-oclusiva. A correção<br />
cirúrgica do defeito está contra-indicada nestes casos.<br />
Baseado nos dados expostos acima, algumas questões<br />
ainda permeiam a prática clínica: Pacientes com<br />
lesões histológicas com grau ≥ III de Heath e Edwards,<br />
mas com dados hemodinâmicos favoráveis, teriam evolução<br />
inexorável para a Síndrome de Eisenmeiger após<br />
a oclusão do defeito, na qual a RVP seria igual ou<br />
maior que a RVS, causando cianose progressiva? Mesmo<br />
que o quadro histológico não regrida após a correção,<br />
não seria possível uma estabilização do processo com<br />
conseqüente manutenção dos níveis pressóricos na<br />
artéria pulmonar em patamares aceitáveis, compatíveis<br />
com uma boa qualidade de vida e longevidade? Com<br />
o arsenal terapêutico disponível hoje em dia para tratamento<br />
da hipertensão pulmonar, tanto na unidade<br />
de terapia intensiva quanto em nível ambulatorial, não<br />
valeria a pena abordar também estes casos limítrofes,<br />
deixando alguma “válvula de escape” para descompressão<br />
do VD? Pacientes com padrões hemodinâmicos<br />
e angiográficos semelhantes e limítrofes associados a<br />
grau III na classificação de Heath e Edwards, mas com<br />
idades diferentes (ex: 1 ano e 10 anos), teriam prognóstico<br />
semelhante? Fazendo esta questão de outra<br />
forma: não seria possível que o paciente de menor<br />
idade apresentasse maior capacidade de remodelamento<br />
vascular após a oclusão do defeito, evoluindo de forma<br />
mais satisfatória? Esta e outras questões ainda carecem<br />
de respostas mais definitivas, constituindo-se em ótimos<br />
campos para pesquisa clínica futura. Outro aspecto<br />
que merece comentários é que o padrão histológico<br />
obtido em um espécime isolado do parênquima pulmonar,<br />
teoricamente, pode não refletir o que acontece no<br />
restante do pulmão; ou seja, estas alterações não seriam<br />
homogêneas e comuns a todos segmentos pulmonares.<br />
Considerando as diferenças normais de ventilação e<br />
perfusão dos diferentes segmentos pulmonares (também<br />
chamadas de zonas de West), tal hipótese não é de<br />
todo descabida. Entretanto, do ponto de vista prático,<br />
tendemos a considerar que as alterações histológicas<br />
sejam homogêneas e representativas de todo o pulmão.<br />
TESTE DA VASODILATAÇÃO PULMONAR<br />
O teste da vasodilatação pulmonar em pacientes<br />
com cardiopatias congênitas foi por muito tempo realizado<br />
com drogas vasodilatadoras não seletivas, como<br />
a tolazolina, o nitroprussiato e o isoproterenol 3 . Além<br />
de seus efeitos sistêmicos indesejáveis causando hipotensão<br />
arterial, estas drogas podiam levar à dilatação<br />
vascular pulmonar em áreas mal ventiladas, acarretando<br />
desequilíbrios entre a perfusão e a ventilação pulmonar,<br />
com conseqüente hipoxemia. Por outro lado,<br />
é sabido que os vasodilatadores pulmonares seletivos<br />
evitam os efeitos colaterais sistêmicos. Além disto, os<br />
agentes inalatórios, como o óxido nítrico (NO), atingem<br />
os locais bem ventilados, minimizando a ocorrência<br />
de hipoxemia secundária a desequilíbrios entre a ventilação<br />
e perfusão pulmonar.<br />
Muitos centros utilizaram apenas o oxigênio como<br />
droga vasodilatadora pulmonar 3 . Entretanto, alguns autores<br />
questionaram a validade desta prática. Para uns, o<br />
oxigênio parece reduzir a pressão na AP apenas nos<br />
pacientes que já apresentam diminuição da saturação<br />
nas veias pulmonares, ou seja: naqueles que apresentam<br />
um shunt pulmonar (ex: atelectasias) e não-cardíaco 5 .<br />
Para outros, a resposta hemodinâmica ao oxigênio<br />
não tem valor preditivo para identificar os pacientes<br />
de alto risco cirúrgico ou aqueles que apresentarão<br />
queda da RVP após a oclusão do defeito 19 . Talvez, os<br />
pacientes que vivem em altitudes elevadas sejam mais<br />
sensíveis à administração deste agente e apresentem<br />
quedas mais significativas da pressão na AP.<br />
A disponibilidade do uso clínico do NO mudou<br />
a forma de realização do teste de vasodilatação pulmonar,<br />
em pacientes com cardiopatias congênitas. Vários<br />
estudos demonstraram que o uso do NO nestes pacientes<br />
reduz as pressões na artéria pulmonar e a RVP e<br />
aumenta a relação Qp/Qs, principalmente quando administrado<br />
em conjunto com altas concentrações de oxigênio<br />
20-23 . Apesar das concentrações de NO utilizadas<br />
na literatura serem muito variadas, parece que o uso<br />
de concentrações mais elevadas (80 ppm), por um<br />
período de exposição limitado (15-30 minutos), produz<br />
efeitos de vasodilatação seletiva mais significativos, sem<br />
afetar a circulação sistêmica ou produzir efeitos colaterais<br />
ou aumentar a concentração de metahemoglobina 20-23 .<br />
Recentemente, demonstrou-se que o iloprost inalatório<br />
apresenta efeitos semelhantes ao NO em pacientes com<br />
HAP secundária a cardiopatias congênitas 24 .<br />
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Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 231-239.<br />
Na prática, o teste da vasodilatação pulmonar em<br />
pacientes com cardiopatias congênitas se assemelha<br />
àquele empregado para avaliação da HAP idiopática.<br />
Entretanto, como estes pacientes geralmente estão intubados,<br />
sob ventilação mecânica, utiliza-se uma traquéia<br />
de cerca de 30 cm entre o ventilador e o paciente. O<br />
NO é administrado na porção proximal da traquéia<br />
(distante do tubo endotraqueal) e sua concentração é<br />
mensurada na porção distal (próxima ao paciente).<br />
Após obtenção dos dados em condições basais, inicia-se<br />
a administração de NO em concentrações de<br />
10-80 ppm, por cerca de 10-20 minutos, mantendose<br />
a FiO 2<br />
< 30-40%. Devido à presença da traquéia,<br />
deve-se ficar atento para que não haja um incremento<br />
excessivo do espaço morto ventilatório, com conseqüente<br />
aumento do pCO 2<br />
e piora dos níveis pressóricos na<br />
AP. Para evitar tal ocorrência, muitas vezes, é necessário<br />
aumentar o volume corrente no ventilador. Obtidos<br />
novamente os dados nestas condições, aumenta-se a<br />
FiO 2<br />
para > 80%, por mais cerca de 10-20 minutos.<br />
Novos dados são então coletados. Em muitos centros,<br />
o NO é administrado somente com altas concentrações<br />
de oxigênio (FiO 2<br />
> 80%). É fundamental lembrar que<br />
nestas situações com FiO 2<br />
elevada, a paO 2<br />
na veia<br />
pulmonar e na aorta podem aumentar significativamente.<br />
Portanto, nestas condições, o oxigênio dissolvido no<br />
plasma (0,003 X PaO 2<br />
) deverá ser incluído nos cálculos<br />
do conteúdo arterial de oxigênio, segundo as fórmulas<br />
descritas acima.<br />
Considera-se um teste positivo aquele no qual<br />
houve uma queda significativa na pressão na AP e/ou<br />
na RVP de pelo menos 20%, sem modificação ou com<br />
incremento do índice cardíaco (Qs). Em nossa experiência,<br />
no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (dados<br />
não publicados), temos a impressão que um teste<br />
de vasodilatação positivo só ocorra em alguns poucos<br />
pacientes que já apresentam dados basais favoráveis,<br />
ou seja, com Qp/Qs > 2, RVP/RVS < 0,5 e RVP < 5 U<br />
Wood X m-2. Portanto, o valor do teste de vasodilatação<br />
para diferenciar os pacientes com HAP fixa daqueles<br />
com HAP reversível seria questionável. Estes pacientes,<br />
provavelmente, não apresentam uma redução do<br />
lúmen arterial decorrente de proliferação intimal, mas<br />
sim uma hipertrofia da camada média e, por isto,<br />
seriam suscetíveis aos efeitos relaxantes do NO. Por<br />
isto, temos a impressão que estes pacientes portadores<br />
de HAP grave, mas com cálculos basais favoráveis e<br />
que demonstraram uma resposta positiva ao teste com<br />
NO, podem se beneficiar da administração de vasodilatadores<br />
pulmonares seletivos (NO, sildenafil) para<br />
o manejo das crises de HAP, no período peri-operatório,<br />
reduzindo os riscos cirúrgicos ou intervencionistas.<br />
ANGIOGRAFIA CAPILAR PULMONAR<br />
A angiografia capilar pulmonar também é utilizada<br />
na avaliação da gravidade da HAP 25,26 . Um cateter<br />
balonado de furo terminal é avançado à AP e impactado<br />
em um ramo intermédio do lobo médio ou inferior.<br />
Cerca de 3-8 ml de contraste são injetados com o<br />
balão insuflado, o que leva à opacificação da rede<br />
arterial. O balão é, então, esvaziado, o que permite a<br />
lavagem do contraste que, assim, opacifica a rede<br />
capilar e a venosa. A injeção deve ser realizada, de<br />
preferência, nas bases de ambos os pulmões. O padrão<br />
normal é caracterizado por uma rede arterial com<br />
vasos de paredes regulares, com redução progressiva<br />
do seu diâmetro e que atingem a periferia pulmonar<br />
(Figura 1). A fase capilar é homogênea e há rápido<br />
retorno de contrate para o AE. Nos pacientes com<br />
HAP associada à doença pulmonar vaso-oclusiva em<br />
fase terminal, a fase arterial é caracterizada pela presença<br />
de vasos com paredes irregulares, apresentando tortuosidades<br />
e interrupções abruptas proximais, com redução<br />
inequívoca do número dos vasos que atingem a<br />
periferia (Figura 2). Este aspecto, muitas vezes, é referido<br />
como em “árvore de ameixeira”. Muitas vezes, a<br />
tortuosidade vascular é tão intensa que apresenta aspecto<br />
em “saca-rolha”. A fase capilar é heterogênea, com<br />
áreas pulmonares que permanecem “borradas”, devido<br />
à retenção distal do contraste, que demora significativamente<br />
para voltar ao AE. Entre estes dois extremos, há<br />
casos com aspecto intermediário, o que dificulta o diagnóstico<br />
angiográfico preciso do grau evolutivo da HAP.<br />
Apesar de ter um caráter subjetivo em sua apreciação,<br />
a angiografia capilar pulmonar apresenta uma<br />
boa correlação com os dados hemodinâmicos 25-27 . For-<br />
Figura 1 - Injeção de contraste na rede arterial pulmonar em espécime<br />
post-mortem. Nota-se padrão normal de ramificação pulmonar,<br />
com as artérias apresentando redução progressiva de calibre até a<br />
periferia, com rede periférica abundante.<br />
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Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 231-239.<br />
Figura 2 - Injeção de contraste por cateter balonado impactado em artéria pulmonar distal, em um paciente de 2 anos de idade, com defeito<br />
do septo atrioventricular em sua forma completa. No painel esquerdo, durante a fase arterial, nota-se tortuosidade intensa das artérias pulmonares<br />
mais distais, com várias amputações abruptas. A circulação periférica é pobre. No painel direito, já na transição entre a fase capilar e a levofase,<br />
nota-se heterogeneidade na retenção de contraste nos capilares, com retorno retardado ao átrio esquerdo. O Qp/Qs deste paciente foi 1,3, a<br />
RVP foi 10,5 U Wood (indexada) e a RVP/RVS foi 0,8. A biópsia revelou grau IV de Heath-Edwards. Ficou mantido em evolução clínica.<br />
mas mais objetivas de avaliação, que incluíram a contagem<br />
do número dos vasos periféricos, foram propostas<br />
na literatura com boa correlação clínica 26 .<br />
ULTRA-SOM INTRAVASCULAR<br />
Em um estudo recente 27 , o ultra-som intravascular<br />
revelou espessamento das camadas íntima e média da<br />
parede das artérias pulmonares de 2,5 a 5 mm e<br />
redução da pulsatilidade destes vasos nos pacientes<br />
com HAP, quando comparado a controles. Tais achados<br />
tiveram boa correlação com os padrões encontrados<br />
na angiografia capilar, mas não apresentaram boa<br />
correlação com os padrões de resposta do teste de<br />
vasoreatividade ao NO e ao oxigênio. O papel desta<br />
modalidade diagnóstica na estratificação dos pacientes<br />
com HAP ainda está para ser estabelecido, principalmente<br />
em relação à sua capacidade de substituir a<br />
biópsia pulmonar.<br />
LIMITAÇÕES MAIS COMUNS NA OBTENÇÃO<br />
DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS<br />
RESULTADOS 3-6<br />
1. Os cálculos das resistência são matematicamente<br />
derivados da lei de Poiseulle, definidas pela equação:<br />
R = 8 n l/p R 4 , onde n é a constante da viscosidade<br />
do fluído, l é o comprimento do sistema e R é o raio<br />
do vaso. Entretanto, esta lei assume que a viscosidade<br />
do fluído, o raio do vaso e o comprimento do sistema<br />
sejam constantes; que as pressões e o fluxo sejam não<br />
pulsáteis e que a quantidade de fluxo que entra e sai<br />
do sistema seja igual. Na prática, nenhuma destas<br />
prerrogativas ocorre no sistema cardiovascular. Portanto,<br />
o que se faz é obter uma mera estimativa da<br />
RVP. Pela equação, percebe-se que o principal determinante<br />
da resistência ao fluxo é o raio do vaso em<br />
questão. Portanto, em última análise, poderíamos dizer<br />
que o cálculo da RVP estima o grau de obstrução do<br />
lúmen vascular, acarretando redução de seu raio 15 .<br />
2. Condições gerais: Geralmente, as crianças com<br />
cardiopatias congênitas e HAP são submetidas ao estudo<br />
hemodinâmico sob anestesia geral ou sedação profunda.<br />
É necessário que haja uma ventilação adequada para<br />
não ocorrer hipercapnia com conseqüente vasoconstrição<br />
e hipertensão pulmonar. O controle da temperatura<br />
também é fundamental para que não ocorra acidose<br />
metabólica secundária à hipotermia ou aumento do<br />
consumo de oxigênio devido à hipertermia. Além disto,<br />
os níveis de Hb e Ht devem estar adequados para a<br />
cardiopatia de base, acianogênica ou cianogênica.<br />
3. O consumo de O 2<br />
(VO 2<br />
) pode ser medido com<br />
o paciente acordado, em ventilação espontânea, utilizando-se<br />
aparelhos especiais, geralmente não disponíveis<br />
nos laboratórios de cateterismo no Brasil. Na prática,<br />
o que se faz é assumir o VO 2<br />
baseado em valores já<br />
anteriormente estabelecidos para sexo, diferentes idades<br />
e freqüências cardíacas 28-30 . Tais valores, apesar de<br />
estarem facilmente disponíveis em livros textos, apresentam<br />
grande variação de seu desvio-padrão e podem<br />
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Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 231-239.<br />
não refletir os valores reais referentes àquele paciente<br />
específico estudado e induzir a possíveis erros de<br />
interpretação. Além disto, o paciente que está anestesiado<br />
ou sedado apresenta redução dos valores de<br />
VO 2<br />
, quando comparados aos níveis normais.<br />
4. A mensuração da saturação nas diferentes câmaras<br />
cardíacas deve ser preferencialmente realizada por<br />
aparelhos de espectrofotometria, que fazem uma leitura<br />
direta da saturação da hemoglobina, baseada em<br />
níveis de absorção de luz. Os níveis de saturação<br />
derivados da gasometria são menos acurados, já que<br />
sua medida é indireta, feita por um normograma dependente<br />
do pH e da paO 2<br />
.<br />
5. Pacientes que apresentam baixo débito cardíaco<br />
em condições basais (saturação venosa mista na VCS<br />
baixa, com uma diferença artério-venosa na saturação<br />
de mais de 30%) devem ser investigados para tal.<br />
Podem estar submedicados para ICC, hipovolêmicos,<br />
acidóticos, mal ventilados, tamponados, entre outros.<br />
Nesta situação, o método de Fick torna-se muito sensível<br />
para detecção de shunts intracardíacos, o que pode<br />
levar a uma superestimativa do salto oximétrico entre<br />
VCS e a AP e, conseqüentemente, do Qp, com redução<br />
do cálculo da RVP. Por outro lado, pacientes com<br />
diferença artério-venosa de saturação muito pequena<br />
podem estar recebendo oxigênio em altas concentrações<br />
inadvertidamente ou, mais raramente, estar em<br />
vigência de uma síndrome de resposta inflamatória<br />
sistêmica, principalmente decorrente de processo infeccioso.<br />
Nesta condição, a detecção de shunts intracardíacos<br />
pelo método de Fick fica prejudicada.<br />
6. A presença de shunts obrigatórios, definidos<br />
por aqueles que ocorrem independente dos níveis de<br />
RVP ou RVS, pode falsear o cálculo do Qp e do Qs<br />
e, conseqüentemente, da RVP e RVS. Um exemplo<br />
clássico desta situação é o paciente com defeito do<br />
septo atrioventricular (DSAV) em sua forma total, que<br />
apresenta shunt obrigatório do ventrículo esquerdo<br />
para o átrio direito pelo cleft da valva atrioventricular<br />
única. Mesmo na presença de hipertensão pulmonar<br />
grave com aspecto histológico irreversível, ocorrerá<br />
sempre um incremento da saturação de O 2<br />
da VCS<br />
para o AD, com conseqüente contaminação da APu.<br />
7. A presença de dupla fonte de fluxo pulmonar<br />
dificulta a correta estimativa dos níveis de saturação<br />
na artéria pulmonar. Exemplos clássicos desta situação<br />
são a persistência do canal arterial, a presença de<br />
colaterais sistêmico-pulmonares e a anastomose de<br />
Glenn em pacientes que permanecem com a via de<br />
saída pulmonar do coração univentricular aberta. Nesta<br />
situação, faz-se uma média entre os valores de saturação<br />
obtidos nas 2 artérias pulmonares e no TP.<br />
8. As estenoses unilaterais das artérias pulmonares<br />
determinam maior resistência arterial no pulmão acometido,<br />
desviando o fluxo para o pulmão contra-lateral.<br />
Nestas situações, torna-se impossível o cálculo da RVP<br />
relativo a ambos os pulmões.<br />
9. A coartação da aorta também determina resistências<br />
diferentes nos vasos da porção superior e inferior<br />
do corpo. Portanto, a RVS global não poderá ser calculada.<br />
10. Em pacientes com RVP elevada e shunt direitoesquerdo<br />
pelo canal arterial, o débito sistêmico para<br />
a porção inferior do corpo é maior que para a parte<br />
superior do corpo, não havendo como realizar de<br />
forma precisa o cálculo do Qs e, conseqüentemente,<br />
da RVS.<br />
11. Em pacientes com insuficiência pulmonar grave<br />
e redução significativa da pressão diastólica da artéria<br />
pulmonar e, conseqüentemente, da pressão média, o<br />
cálculo da RVP fica prejudicado.<br />
EXEMPLOS DE EVOLUÇÃO DA HAP EM<br />
PACIENTE COM AMPLA COMUNICAÇÃO<br />
INTERATRIAL PERIMEMBRANOSA NÃO<br />
TRATADA<br />
A Figura 3 mostra exemplos de diferentes estágios<br />
na evolução do grau de HAP, em um paciente com<br />
comunicação interventricular ampla, não restritiva. Na<br />
Figura 3A, um paciente hipotético com cerca de 6<br />
meses de idade apresenta HAP grave, com níveis pressóricos<br />
sistólicos iguais na AP e na Ao devido à transmissão<br />
da pressão do território sistêmico para o pulmonar.<br />
A corrida oximétrica demonstra um salto significativo<br />
da VCS para a AP, denotando alto fluxo pulmonar,<br />
com uma relação Qp/Qs de 3 para 1. A pressão no AE<br />
e a pressão diastólica final no VE são elevadas devido<br />
ao grande retorno venoso pulmonar. Isto causa uma<br />
redução na magnitude do gradiente transpulmonar.<br />
Devido ao hiperfluxo pulmonar maciço e o gradiente<br />
transpulmonar discretamente elevado, a RVP, apesar<br />
de mais alta que níveis normais, se encontra em patamares<br />
aceitáveis para cirurgia. Tal exemplo retrata a<br />
importância do cálculo da RVP. A obtenção isolada<br />
dos níveis pressóricos na AP tem pouco valor diagnóstico<br />
e prognóstico nos pacientes com HAP associado a<br />
cardiopatias congênitas. A indicação de tratamento<br />
neste caso é inequívoca.<br />
Com o passar do tempo, as alterações histológicas<br />
evolutivas provocadas pelo hiperfluxo associado ao<br />
aumento de pressão na AP levam à oclusão do lúmen<br />
arterial. Com isto, ocorre uma elevação progressiva da<br />
pressão diastólica e média na artéria pulmonar e redução<br />
do retorno venoso pulmonar e das pressões de enchimento<br />
do coração esquerdo, com conseqüente aumento<br />
do gradiente transpulmonar. A obstrução do lúmen<br />
arterial acarreta redução progressiva do fluxo pulmonar.<br />
Os sintomas pulmonares e de ICC melhoram muito<br />
nesta fase (“lua de mel”), apesar de ainda ocorrer<br />
discreto shunt em nível ventricular. Fica fácil perceber<br />
na Figura 3B que, nesta situação, a HAP ocorre predominantemente<br />
por elevação da RVP. A reversibilidade<br />
do quadro neste exemplo é duvidosa. Os dados clíni-<br />
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Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 231-239.<br />
A B C<br />
Figura 3 - Diagramas de um paciente hipotético com comunicação interventricular perimembranosa ampla, não restritiva. Nota-se quadro de<br />
hipertensão arterial pulmonar grave em diversos estágios evolutivos. Ver texto para melhor entendimento.<br />
cos devem ser levados em consideração, assim como<br />
o padrão encontrado na angiografia capilar pulmonar.<br />
Nestas situações, discute-se a indicação da biópsia<br />
pulmonar para ajudar na estratificação do paciente<br />
quanto a seu prognóstico em longo prazo.<br />
A Figura 3C retrata o mesmo paciente em uma<br />
situação terminal, na qual a RVP é maior que a RVS<br />
e o Qs é maior que o Qp. Esta situação, também<br />
denominada de Síndrome de Eisenmeiger, é irreversível.<br />
Estes pacientes padecem de cianose crônica progressiva<br />
com todas as suas conseqüências sistêmicas (poliglobulia,<br />
cefaléia, sangramentos, tromboses, escoliose,<br />
alterações articulares e renais, gota, etc.). A ocorrência<br />
da falência ventricular direita em algum momento da<br />
evolução é a regra.<br />
CONCLUSÕES<br />
A avaliação da HAP por meio do cateterismo em<br />
pacientes com cardiopatias congênitas é fundamental<br />
para determinação da irreversibilidade do quadro e<br />
dos critérios de intervenção. Entretanto, os dados obtidos<br />
por este método invasivo devem ser avaliados a luz de<br />
suas limitações e em conjunto com outros dados clínicos,<br />
ecocardiográficos e angiográficos. Algumas vezes,<br />
toda esta informação não é suficiente para uma tomada<br />
de decisão, devendo ser considerada a realização<br />
da biópsia pulmonar.<br />
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