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Vol 13 - Nº 3

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Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): <strong>13</strong>9-140.<br />

Pedra CAC. A Cardiologia Intervencionista para Cardiopatias Congênitas e Estruturais no Brasil: de Onde Viemos, Onde Estamos,<br />

para Onde Vamos. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): <strong>13</strong>9-140.<br />

A Cardiologia Intervencionista para Cardiopatias<br />

Congênitas e Estruturais no Brasil: de Onde<br />

Viemos, Onde Estamos, para Onde Vamos<br />

Editorial<br />

Carlos A. C. Pedra 1<br />

Acardiologia intervencionista para cardiopatias congênitas<br />

e estruturais teve início em meados dos<br />

anos 50, no México, onde Rubio Alvarez introduziu<br />

um método percutâneo de valvoplastia pulmonar,<br />

utilizando uma sonda uretral. Curiosamente, tal técnica<br />

não teve aceitação global. Em meados dos anos 60, o<br />

genial Dr. William Rashkind revolucionou o prognóstico<br />

dos recém-nascidos portadores de transposição completa<br />

das grandes artérias, praticando a atrioseptostomia com<br />

cateter-balão. Entretanto, foi apenas no início dos anos<br />

80, após o sucesso da angioplastia coronária, que os<br />

balões ganharam maior força e espaço no tratamento<br />

de inúmeras cardiopatias congênitas, incluindo as estenoses<br />

pulmonar e aórtica, a coarctação da aorta, a<br />

estenose das artérias pulmonares, entre outras. Essa<br />

era do balão foi introduzida em nosso meio pelo nosso<br />

querido Dr. Valmir Fontes, quem trouxe na mala (e do<br />

próprio bolso!) alguns cateteres dos Estados Unidos,<br />

para serem utilizados em seu laboratório de hemodinâmica.<br />

Esta fase pioneira logo progrediu, abrindo<br />

espaço para a chegada de alguns dispositivos de oclusão<br />

(ex: “umbrella” de Rashkind) e dos stents intravasculares.<br />

Quase todos os autores dos (excelentes) artigos<br />

de revisão deste número especial da nossa revista<br />

iniciaram suas atividades intervencionistas nesta época.<br />

Este pequeno grupo de médicos brasileiros, mesmo<br />

trabalhando em locais distantes e sob condições totalmente<br />

diferentes, logo percebeu que ninguém possuía<br />

um número suficiente de pacientes para ter a pretensão<br />

de estabelecer condutas definitivas. Estabeleceu-se, assim,<br />

um diálogo constante, amigável e frutífero entre as<br />

diversas equipes distribuídas por diferentes estados do<br />

Brasil. Na era da medicina baseada em evidências, é<br />

importante lembrar que na cardiologia pediátrica (clínica,<br />

cirúrgica ou intervencionista) são escassos na literatura<br />

os trabalhos prospectivos, randomizados e com grande<br />

número de pacientes. Ou seja, trabalhamos com uma<br />

metodologia científica longe do ideal. Nem por isto<br />

deixamos de progredir e os resultados intervencionistas<br />

e cirúrgicos cada vez melhores são provas inequívocas<br />

de tal afirmação. A nossa melhor evidência científica,<br />

geralmente, é derivada de trabalhos prospectivos observacionais,<br />

nos quais fatores de risco para desfechos<br />

desfavoráveis são identificados. Posteriormente, estes<br />

fatores são neutralizados em experiências subseqüentes,<br />

levando à melhoria progressiva dos resultados. Em<br />

outras palavras, aprendemos com nossos próprios<br />

“erros”, corrigindo diariamente a rota que leva ao nosso<br />

destino final, que é proporcionar o que há de melhor<br />

para o nosso paciente. Tal prática fica facilitada quanto<br />

maior for a coesão e a harmonia de uma equipe ou<br />

um grupo. E, talvez, estas sejam as maiores virtudes<br />

deste seleto grupo de intervencionistas brasileiros que<br />

se dedicam ao tratamento das cardiopatias congênitas<br />

e estruturais.<br />

Vivemos um momento mágico em nossa prática<br />

médica. Muitos são os defeitos estruturais que podem<br />

ser abordados com segurança e eficácia utilizando<br />

técnicas percutâneas. Basicamente, dois fatores contribuíram<br />

para que isto fosse possível. O primeiro se<br />

remete ao interesse de algumas (corajosas) empresas<br />

em desenvolver materiais específicos para o tratamento<br />

de tais cardiopatias. A AGA Medical Corporation (fabricante<br />

das próteses Amplatzer) e a NuMed (fabricante<br />

de inúmeros cateteres-balão e stents) são exemplos<br />

bem sucedidos de tais investimentos. O segundo fator<br />

se refere à maior difusão e troca de conhecimentos<br />

médicos, propiciadas por um mundo mais globalizado.<br />

Sem dúvida, a Internet e o advento de congressos<br />

intervencionistas específicos da nossa subespecialidade<br />

contribuíram para esta observação. Neste sentido, destacam-se<br />

o Congresso PICS (Pediatric Interventional<br />

Cardiology Symposium) organizado pelo Dr. Zyad Hijazi,<br />

de Chicago e os congressos da nossa sociedade e da<br />

SOLACI em nosso meio. Os artigos contidos neste<br />

1<br />

Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP.<br />

Correspondência: Dr. Carlos A. C. Pedra. Chefe da Seção Médica de Intervenções em Cardiopatias Congênitas - Instituto Dante Pazzanese<br />

de Cardiologia. Av. Dr. Dante Pazzanese, 500. CEP 04012-180 - Tel.: (11) 5085-4114 • Fax: (11) 5085-4196<br />

e-mail: cacpedra@uol.com.br ou carlosacpedra@hotmail.com<br />

Recebido em: 09/05/2006 • Aceito em: 10/05/2006<br />

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Pedra CAC. A Cardiologia Intervencionista para Cardiopatias Congênitas e Estruturais no Brasil: de Onde Viemos, Onde Estamos,<br />

para Onde Vamos. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): <strong>13</strong>9-140.<br />

número refletem o momento em que estamos: o estabelecimento<br />

definitivo da abordagem percutânea como<br />

método de eleição para pacientes selecionados com<br />

comunicação interatrial, persistência do canal arterial<br />

e estenoses das artérias pulmonares; a alternativa intervencionista<br />

para pacientes com coarctação da aorta e<br />

forame oval patente com passado de acidente vascular<br />

cerebral criptogênico; a experiência inicial na oclusão<br />

da comunicação interventricular perimembranosa com<br />

a prótese Amplatzer e o uso das técnicas percutâneas<br />

no salvamento de pacientes portadores de doenças<br />

graves e complexas como a hipoplasia do coração<br />

esquerdo e alguns casos de atresia pulmonar dependente<br />

do fluxo do canal arterial.<br />

Somos nós mesmos que traçamos o nosso futuro.<br />

Há muito trabalho pela frente, que deve ser encarado<br />

com uma mescla de prudência, coragem, perseverança,<br />

criatividade e rigor científico. O implante percutâneo<br />

valvar, apesar de já ser uma realidade em um pequeno<br />

número de pacientes selecionados, ainda não se<br />

aplica à totalidade dos casos que o necessitam. Os<br />

dispositivos intracardíacos e as endopróteses intravasculares<br />

terão características biodegradáveis ou reabsorvíveis,<br />

ampliando o leque de indicações de tais materiais.<br />

A terapêutica gênica guiada pelo cateter, em fase<br />

ainda experimental, poderá tornar-se realidade em um<br />

futuro próximo. Cada vez mais necessitamos de trabalhos<br />

multicêntricos, prospectivos e com grande número<br />

de pacientes, para que possamos comparar as diversas<br />

técnicas intervencionistas e estas com as cirúrgicas.<br />

Se depender dos grupos representados neste número<br />

(e de outros que infelizmente não puderam participar<br />

por questões de espaço), tais tarefas estarão ao alcance<br />

das nossas mãos! Espero que o leitor adquira novos<br />

conhecimentos sobre os temas específicos de cada<br />

artigo e desfrute a leitura!<br />

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Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 141-145.<br />

Selig FA e Godoy MF. Embolização Percutânea de Canais Colaterais Venosos Após Cirurgia de Glenn com Molas de Gianturco.<br />

Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 141-145.<br />

Artigo Original<br />

Embolização Percutânea de Canais Colaterais Venosos<br />

após Cirurgia de Glenn com Molas de Gianturco<br />

Fábio Augusto Selig 1 , Moacir Fernandes de Godoy 1<br />

RESUMO<br />

Os pacientes portadores de cardiopatias congênitas cianogênicas<br />

com fisiologia univentricular são tratados com cirurgias<br />

paliativas, entre elas a cavopulmonar bidirecional ou<br />

Cirurgia de Glenn. Uma das complicações descritas na<br />

literatura relacionadas a este procedimento é a reabertura<br />

ou dilatação de canais colaterais venosos preexistentes,<br />

propiciando o roubo de fluxo sangüíneo pulmonar, reduzindo<br />

a saturação periférica de oxigênio e piorando a qualidade<br />

de vida destes pacientes. A existência dos canais pode ser<br />

suspeitada por métodos simples não-invasivos, como medida<br />

da saturação periférica de oxigênio ou ecocardiograma<br />

transtorácico bidimensional com injeção de microbolhas,<br />

sendo os pacientes encaminhados para o laboratório de<br />

hemodinâmica para confirmação diagnóstica ou embolização<br />

terapêutica. Revisamos, neste artigo, os casos de Cirurgia<br />

de Glenn realizados no serviço e que foram direcionados<br />

para avaliação hemodinâmica, analisando a presença e<br />

características dos canais venosos encontrados e descrevendo<br />

suas oclusões e resultados.<br />

DESCRITORES: Cirurgia cavopulmonar bidirecional. Embolização<br />

terapêutica. Cardiopatias congênitas.<br />

SUMMARY<br />

Percutaneous Embolization of Venous Collateral Channels<br />

after Glenn Anastomosis With Gianturco Coils<br />

Cyanogen congenital heart diseases with univentricular<br />

physiology are treated with paliative surgeries, as bidirectional<br />

cavopulmonary (Glenn) shunts. One possible complication<br />

of this surgery is the reopening or dilation of venous collateral<br />

channels, reducing the amont of effective pulmonary blood<br />

flow, lowering oxygen peripheric saturation and worsening<br />

patient's quality of life. The presence of these channels<br />

may be suspected through simple, non-invasive methods<br />

such as measuring pulse oximetry or by microbubble contrast<br />

echocardiography, with patients referred to hemodynamic<br />

laboratory for therapeutic embolization. This article reviews<br />

all Glenn shunts carried out in our service that were referred<br />

for hemodynamic evaluation, describes the presence and<br />

characteristics of these venous channels as well as its<br />

occlusion and results.<br />

DESCRIPTORS: Bidirectional cavopulmonary shunt. Embolization,<br />

therapeutic. Heart defects, congenital.<br />

1<br />

Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Hospital<br />

Universitário Evangélico de Curitiba, PR.<br />

2<br />

Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do Hospital<br />

de Base – Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, SP.<br />

Correspondência: Dr. Fábio Augusto Selig. Hospital Universitário<br />

Evangélico de Curitiba - Setor de Hemodinâmica - Alameda Augusto<br />

Stellfeld, 1908 - 4º andar - Curitiba, PR - CEP 80730-150<br />

Tel.: (41) 3240-5000<br />

E-mail: cardiopediatria@terra.com.br<br />

Recebido em 26/12/2005 • Aceito em: 06/01/2006<br />

Os pacientes portadores de cardiopatias congênitas<br />

com fisiologia univentricular são, em sua<br />

maioria, encaminhados para cirurgias paliativas,<br />

na tentativa de se estabelecer um fluxo pulmonar<br />

contínuo e adequado às necessidades metabólicas do<br />

organismo. Uma destas cirurgias foi idealizada por<br />

Carlon et al. 1 e difundida por Glenn 2 , sendo conhecida<br />

mais tarde por anastomose cavopulmonar bidirecional 3<br />

ou cirurgia de Glenn bidirecional. Esta cirurgia consiste<br />

na anastomose término-lateral da veia cava superior<br />

com a artéria pulmonar direita, tornando o fluxo sangüíneo<br />

dos pulmões passivo e menos dependente da<br />

contratilidade cardíaca, mas diretamente relacionado<br />

ao gradiente de pressão transpulmonar e à pressão<br />

negativa intratorácica.<br />

Dentre as complicações associadas à cirurgia de<br />

Glenn bidirecional, a mais conhecida na literatura é o<br />

desenvolvimento de conexões fistulosas, tanto artériovenosas<br />

pulmonares 4 quanto veno-venosas 5 , estas últimas<br />

também conhecidas por canais colaterais venosos.<br />

Com etiologias diferentes, as conexões fistulosas têm<br />

em comum a possibilidade de redução da saturação<br />

periférica de oxigênio, piora da qualidade de vida do<br />

paciente e o aumento da mobi-mortalidade de outros<br />

procedimentos cirúrgicos cardíacos ou não 6 . Portanto,<br />

a piora clínica pós-operatória de alguns pacientes pode<br />

estar relacionada com a dilatação ou reabertura de<br />

canais venosos preexistentes secundárias a alterações<br />

hemodinâmicas da circulação pulmonar, resultando<br />

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Selig FA e Godoy MF. Embolização Percutânea de Canais Colaterais Venosos Após Cirurgia de Glenn com Molas de Gianturco.<br />

Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 141-145.<br />

na redução do seu fluxo sangüíneo efetivo e/ou levando<br />

ao shunt direito-esquerdo.<br />

Atualmente, a utilização de métodos simples, como<br />

o acompanhamento da saturação periférica de oxigênio<br />

e o ecocardiograma bidimensional com microbolhas,<br />

pode sugerir a existência de conexões fistulosas 7 , sendo<br />

o paciente encaminhado ao laboratório de hemodinâmica<br />

para confirmar a presença desta complicação e<br />

para possível embolização terapêutica. A angiografia<br />

realizada com oclusão do lúmen da veia cava superior<br />

por cateter-balão tipo Berman aumenta a sensibilidade<br />

para detecção destes canais venosos presentes<br />

anteriormente à Cirurgia de Glenn 8 .<br />

Descrevemos, aqui, três casos de pacientes portadores<br />

de canais colaterais venosos originados no sistema<br />

da cava superior para a circulação venosa sistêmica,<br />

submetidos em nosso serviço à embolização com molas<br />

(coils) de Gianturco, com objetivo de melhorar a saturação<br />

periférica de oxigênio e sua qualidade de vida.<br />

MÉTODO<br />

Os pacientes submetidos à cirurgia de Glenn bidirecional<br />

iniciaram acompanhamento ambulatorial no<br />

Hospital de Base da Faculdade de Medicina de São<br />

José do Rio Preto (FAMERP) após a alta hospitalar,<br />

sendo realizados avaliações clínicas e exames complementares<br />

conforme a necessidade. Realizou-se, por<br />

ocasião dos retornos, a medida da saturação periférica<br />

de oxigênio por meio de oxímetro de pulso. Nos pacientes<br />

submetidos à avaliação pós-operatória complementar<br />

por ecocardiograma transtorácico (ETT) bidimensional<br />

com Doppler colorido, foram obtidos acessos<br />

venosos no segmento corporal superior (membros<br />

superiores, cabeça ou pescoço). Para preparação do<br />

contraste com microbolhas, juntou-se 9ml de água<br />

destilada com 1ml de ar ambiente em uma seringa, a<br />

qual, após agitação, teve seu conteúdo injetado no<br />

acesso venoso. Considerou-se teste positivo quando<br />

se verificou a rápida (dentro de três ciclos cardíacos)<br />

presença de microbolhas no interior do átrio direito<br />

ou esquerdo após a injeção.<br />

Foram submetidos a cateterismo cardíaco, no Serviço<br />

de Hemodinâmica Pediátrica do Hospital de Base,<br />

para avaliação complementar, todos os pacientes com<br />

piora referida da classe funcional, se comparados os<br />

períodos pós-operatório imediato e tardio (queixa de<br />

aumento progressivo do cansaço), redução progressiva<br />

da saturação periférica de oxigênio para menos de<br />

80% e com teste de microbolhas positivo ao ecocardiograma.<br />

Na ocasião, procedeu-se à coleta de dados<br />

manométricos, cálculos de fluxos e resistências pulmonares<br />

pelo método de Fick e angiografias seletivas em<br />

veia cava superior, veia braquiocefálica (ou veia cava<br />

superior esquerda, quando presente) e artérias pulmonares.<br />

Foram considerados canais colaterais venosos de<br />

importante repercussão aqueles visibilizados sem a<br />

necessidade da angiografia sensibilizada por oclusão<br />

com cateter-balão, independentemente de seu tamanho,<br />

e na subseqüente detecção de grande quantidade de<br />

contraste radiológico nos átrios direito (principalmente)<br />

ou esquerdo. Nestes casos, procedeu-se à embolização<br />

das colaterais com molas de Gianturco, sendo realizadas<br />

novas angiografias para se confirmar as oclusões.<br />

Todos pacientes submetidos à embolização foram<br />

reavaliados após 24 horas do procedimento, com realização<br />

de novo ecocardiograma transtorácico com microbolhas<br />

e medida da saturação periférica de oxigênio.<br />

RESULTADOS<br />

Foram realizadas 24 cirurgias de Glenn bidirecional,<br />

no Serviço de Cardiologia Pediátrica, de fevereiro de<br />

2003 à março de 2005. Oito (33%) pacientes faleceram<br />

nos períodos pós-operatório imediato ou tardio<br />

(após a alta hospitalar).<br />

Dos pacientes em seguimento ambulatorial, foram<br />

encaminhados ao laboratório de hemodinâmica, entre<br />

abril de 2004 e agosto de 2005, quatro pacientes que<br />

cumpriram os critérios de inclusão deste estudo. Os<br />

diagnósticos correspondentes a estes pacientes estão<br />

dispostos na Tabela 1. Nenhum paciente era portador<br />

de isomerismo atrial direito ou esquerdo.<br />

A mediana da idade na ocasião do cateterismo foi<br />

de 30 (18-48) meses. A mediana do tempo decorrido<br />

entre as datas da cirurgia cavopulmonar bidirecional<br />

e da avaliação hemodinâmica foi de 16 (6-31) meses.<br />

A Figura 1 demonstra a veia cava superior conectada<br />

TABELA 1<br />

Diagnósticos dos pacientes encaminhados ao Laboratório de Hemodinâmica<br />

Paciente Conexão AV Ventrículo Principal Conexão VA Valva Pulmonar<br />

1 DVE Direito Concordante AP<br />

2 DVE Direito Discordante ESVP<br />

3 DVE Esquerdo Concordante ESVP<br />

4 DVE Esquerdo Discordante AP<br />

DVE= Dupla Via de Entrada; AV= Átrio-Ventricular; VA= Ventrículo-Arterial; AP= Atresia Pulmonar; ESVP= Estenose Subvalvar.<br />

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à artéria pulmonar direita (cirurgia de Glenn). Nota-se<br />

a presença de um pequeno canal venoso por angiografia<br />

simples (sem oclusão com cateter-balão), sem opacificação<br />

do átrio direito ou esquerdo. Nenhum paciente<br />

apresentava sinais angiográficos de fístulas artério-venosas<br />

pulmonares.<br />

Não se detectou gradiente de pressão entre a veia<br />

cava superior e as artérias pulmonares nos pacientes<br />

estudados, excluindo-se possíveis obstruções ao nível<br />

das anastomoses cirúrgicas (Tabela 2). As pressões<br />

médias no sistema da veia cava superior variaram<br />

entre 14 e 19 mmHg, sendo o maior gradiente transpulmonar<br />

encontrado igual a 8 mmHg (paciente 1).<br />

Figura 1 - Injeção em veia inominada, demonstrando a cirurgia de<br />

Glenn. A: Veia inominada; B: Veia cava superior; C: Artéria pulmonar;<br />

D: Canal colateral venoso.<br />

TABELA 2<br />

Pressões médias (em mmHg) antes das oclusões<br />

com molas<br />

Paciente VCI VCS AP CP<br />

1 11 19 19 11<br />

2 11 15 15 11<br />

3 10 14 14 10<br />

4 10 16 16 14<br />

VCI= Veia Cava Inferior; VCS= Veia Cava Superior; AP=<br />

Artérias Pulmonares; CP= Capilar Pulmonar.<br />

Os quatro pacientes avaliados apresentavam canais<br />

colaterais venosos em diferentes posições e tamanhos,<br />

mas todos tinham origem na base da veia braquiocefálica,<br />

do lado esquerdo (Figura 2). Estes canais, interconectados<br />

pela rede de colaterais da veia hemi-ázigo<br />

e plexo para-vertebral, comunicavam o sistema da<br />

cava superior - ligado à artéria pulmonar - com o<br />

sistema da cava inferior - ainda conectado ao átrio<br />

direito (Figura 3). Nos casos um e três, o canal venoso<br />

ainda dava origem, em sua porção inicial (próxima à<br />

veia braquiocefálica), a uma colateral pequena (menor<br />

que 1mm) em cada paciente, com trajeto pericárdico<br />

e desembocadura nos respectivos seios coronários.<br />

Em nenhum havia conexão com as veias pulmonares.<br />

Apenas o paciente 3 não preencheu os critérios<br />

adotados para indicação de embolização, sendo os<br />

outros submetidos à oclusão percutânea com molas<br />

(Cook ® Embolization Coil). O número de molas utilizado,<br />

bem como seu tamanho, estão dispostos na Tabela 3.<br />

Dentre os três pacientes submetidos à embolização,<br />

o de número um era o que apresentava canais venosos<br />

Figura 2 - Canal colateral com origem no sistema cava superior.<br />

A: Veia inominada; B: Canal venoso colateral para sistema cava<br />

inferior (veia hemi-ázigus).<br />

Figura 3 - Conexão fistulosa com sistema cava inferior. A: Veias<br />

para-vertebrais; B: Veia cava inferior; C: Átrio direito.<br />

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de maior repercussão, com insaturação periférica importante<br />

por roubo de fluxo do sistema cava superior<br />

para o inferior. A Figura 4 demonstra a embolização<br />

desta colateral veno-venosa, perto do local de sua<br />

origem na base da veia braquiocefálica. Houve melhora<br />

na saturação periférica de oxigênio nos três casos<br />

(Figura 5), na reavaliação 24 horas após a oclusão<br />

percutânea. O ecocardiograma transtorácico com microbolhas<br />

foi negativo, confirmando o sucesso dos três<br />

procedimentos. Não houve modificações nas pressões<br />

TABELA 3<br />

Molas utilizadas para embolização<br />

Paciente Tamanho Número de molas<br />

1 38 x 8 x 8 1<br />

38 x 5 x 3 2<br />

2 35 x 3 x 2 2<br />

4 35 x 5 x 3 2<br />

Figura 4 - Resultado pós-embolização. A: Veia inominada; B: Fluxo<br />

pela cirurgia de Glenn; C: Canal colateral venoso, ocluído por<br />

molas de Gianturco.<br />

Figura 5 - Saturação periférica de oxigênio antes e depois das<br />

embolizações.<br />

médias da veia cava superior, artérias pulmonares ou<br />

capilares pulmonares após as oclusões.<br />

Não houve intercorrências maiores ou menores<br />

durante os cateterismos cardíacos.<br />

DISCUSSÃO<br />

O princípio fisiológico da cirurgia de Glenn é<br />

promover um fluxo pulmonar efetivo, controlado e<br />

contínuo dentro de um sistema com baixa pressão,<br />

ajudando ainda a diminuir a sobrecarga volumétrica<br />

do coração univentricular. Se este sistema não tiver<br />

obstruções, a pressão nas artérias pulmonares deve<br />

ser igual a do sistema cava superior, enquanto a pressão<br />

na veia cava inferior deve ser igual a do átrio<br />

direito (e a do átrio esquerdo, na presença de comunicação<br />

interatrial não-restritiva). Desta maneira, a presença<br />

de uma pressão média maior na veia cava superior em<br />

relação à veia pulmonar e, conseqüentemente, a existência<br />

de um gradiente de pressão transpulmonar é que<br />

permite ao organismo vencer a resistência vascular do<br />

pulmão. Habitualmente, este gradiente é inferior a<br />

10 mmHg. Valores mais elevados, geralmente, denotam<br />

um aumento da resistência vascular pulmonar e constitui-se<br />

em fator de risco para complementação para<br />

cirurgia tipo Fontan.<br />

Ainda não está claro porque alguns pacientes desenvolvem<br />

estes canais venosos e outros não. Estes vasos<br />

podem ser resultantes da dilatação ou reabertura de<br />

formações vasculares preexistentes secundárias a alterações<br />

hemodinâmicas desfavoráveis no circuito venoso,<br />

resultando na redução do fluxo sangüíneo pulmonar<br />

efetivo 9 . Tais alterações hemodinâmicas podem decorrer<br />

de uma série de problemas, a saber: coarctação<br />

da aorta, estenose subaórtica (por comunicações<br />

interventriculares restritivas em situações de discordância<br />

ventrículo-arterial), disfunção sistólica ou diastólica da<br />

câmara principal, insuficiência ou estenose da valva<br />

atrioventricular sistêmica, estenoses de veias pulmonares,<br />

aumento da resistência vascular pulmonar,<br />

estenoses de artérias pulmonares e obstruções na<br />

anastomose de Glenn.<br />

Levando em consideração que a maior parte destas<br />

colaterais pode ser simplesmente o desenvolvimento<br />

de conexões venosas que já existiam, a angiografia préoperatória<br />

com oclusão com um balão pode ser útil. A<br />

evolução clínica de alguns pacientes após a cirurgia<br />

pode refletir a recanalização destes vasos, podendo ser<br />

uma resposta aguda ou crônica a aumentos de pressão<br />

do sistema cavopulmonar. Durante a oclusão com cateterbalão,<br />

este mimetiza as possíveis elevações da pressão<br />

na veia cava superior, sendo então especialmente importante<br />

para avaliação no período pós-operatório.<br />

Alguns autores argumentam que estas fenestrações<br />

naturais poderiam funcionar como via de escape para<br />

altas pressões venosas. Porém, o desenvolvimento destas<br />

colaterais venosas ocorre às custas de aumento da<br />

cianose, aparecendo de maneira insidiosa e com conse-<br />

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Selig FA e Godoy MF. Embolização Percutânea de Canais Colaterais Venosos Após Cirurgia de Glenn com Molas de Gianturco.<br />

Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 141-145.<br />

qüências clínicas importantes 10 . Não há também na<br />

literatura correlação significativa entre o aparecimento<br />

dos canais com fatores angiográficos, hemodinâmicos,<br />

cirúrgicos, morfológicos ou demográficos 11 .<br />

Todos pacientes deste estudo tiveram suas veias<br />

ázigos ligadas durante a conexão cavopulmonar, como<br />

de costume. Infelizmente, não houve possibilidade de<br />

resgatar dados dos cateterismos pré-operatórios. Considerou-se<br />

que os canais venosos eram funcionalmente<br />

importantes quando havia repercussão clínica (cansaço<br />

e piora progressiva da cianose), ecocardiograma com<br />

microbolhas positivo e se, mesmo sem a angiografia<br />

seletiva ou oclusão com balão, houve enchimento dos<br />

canais venosos pelo contraste radiológico e, seqüencialmente,<br />

dos átrios direito ou esquerdo. O diâmetro máximo<br />

do canal descompressivo não foi utilizado como o<br />

critério de diferenciação entre vasos significativos e nãosignificativos,<br />

pois muitos deles eram tortuosos e variavam<br />

entre áreas de dilatação e constrição. Esta evolução<br />

clínica ocorreu em quatro (25%) de 16 seguimentos<br />

pós-operatórios, valor próximo ao de alguns da literatura 12 .<br />

Após a embolização, estes pacientes tiveram melhora<br />

clínica da queixa de cansaço e da cianose, com aumento<br />

na saturação periférica de oxigênio e prova de microbolhas<br />

negativo ao ETT. Estes fatores comprovam que,<br />

ao se fechar os canais com repercussão, interrompese<br />

o roubo de fluxo do sistema cava superior (Glenn)<br />

para o cava inferior, permitindo que haja maior aporte<br />

de fluxo sangüíneo para os pulmões, conseqüentemente,<br />

melhorando a oxigenação sangüínea.<br />

A mediana de tempo entre a cirurgia de Glenn e<br />

o diagnóstico e embolização dos canais foi de 20,5<br />

meses. Optou-se pela oclusão percutânea dos canais<br />

nestes casos antes da cirurgia de Fontan, na tentativa<br />

de se melhorar a qualidade de vida dos pacientes até<br />

a reintervenção cirúrgica, além de poder propiciar melhores<br />

condições pré-operatórias pela melhora da cianose.<br />

Há, também, referências na literatura de reabertura<br />

dos canais colaterais após a cirurgia cavopulmonar<br />

total, com conexão direta ou indireta para as veias<br />

pulmonares e, conseqüentemente, para o ventrículo<br />

principal, o que propiciaria nova piora clínica pósoperatória<br />

<strong>13</strong>,14 .<br />

CONCLUSÃO<br />

A hipótese da presença de canais colaterais venosos<br />

pode ser levantada e comprovada nos diferentes<br />

estágios de correção de cardiopatias congênitas de<br />

fisiologia univentricular, por métodos clínicos e exames<br />

complementares. A embolização percutânea com molas<br />

de Gianturco destes canais é um método seguro e<br />

eficaz de tratamento daquela complicação, propiciando<br />

melhora clínica e na qualidade de vida dos pacientes.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Ao Dr. Carlos Augusto Pedra, do Instituto Dante<br />

Pazzanese de Cardiologia, pela importante colaboração<br />

no levantamento bibliográfico e elaboração do trabalho.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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145


Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 146-152.<br />

Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 146-152.<br />

Artigo Original<br />

Stents na Circulação Pulmonar<br />

Marcelo Sabedotti 1 , Janaína Huber 1 , Nívea Maria Oliveira Guimarães 1 , Raul I. Rossi Filho 1<br />

RESUMO<br />

O tratamento das estenoses da árvore pulmonar ganhou<br />

impulso com o desenvolvimento da técnica de angioplastia<br />

com balão sustentada por stent, já no início da década de<br />

noventa. As indicações foram sendo ampliadas com o ganho<br />

de experiência dos serviços envolvidos com o tratamento<br />

destes pacientes, bem como se tornou mais fácil sua utilização<br />

com a melhoria de qualidade dos materiais utilizados. O<br />

propósito deste artigo é fazer breve revisão sobre os tipos<br />

de lesões vasculares pulmonares passíveis de tratamento<br />

intervencionista, bem como discutir indicações e aspectos<br />

técnicos do uso de stents em crianças com estenoses de<br />

ramos pulmonares. Os dados de literatura serão cotejados<br />

com nossa experiência com esta técnica em pacientes<br />

tratados no Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul.<br />

DESCRITORES: Artéria pulmonar, patologia. Estenose da<br />

valva pulmonar, terapia. Contenedores.<br />

SUMMARY<br />

Stents in Pulmonary Circulation<br />

The treatment for pulmonary artery stenosis was boosted<br />

with the introduction of stent-supported balloon angioplasty<br />

in the early nineties. Indications have been expanded with<br />

the experience gained from services involved while using<br />

the technique. Improved materials made available also<br />

made its use easier. The purpose of this article is to review<br />

the types of pulmonary vascular lesions that can be treated<br />

interventionally, as well as discuss indications and technical<br />

aspects for use in children with pulmonary branch stenosis.<br />

The experience gained from the technique used in patients<br />

at the Cardiology Institute in Rio Grande do Sul State will<br />

be compared with literature data.<br />

DESCRIPTORS: Pulmonary artery, pathology. Pulmonary<br />

valve stenosis, therapy. Stents.<br />

Aestenose de artéria pulmonar e ramos (EAPR)<br />

ocorre em 2 a 3% dos pacientes com cardiopatias<br />

congênitas, podendo ser isolada, em associação<br />

com outras doenças ou mesmo adquirida 1-5 . As doenças<br />

cardíacas congênitas associadas incluem estenose de<br />

valva pulmonar, comunicação interatrial, comunicação<br />

interventricular, persistência do ducto arterial e tetralogia<br />

de Fallot, entre outras. Além disso, a estenose da artéria<br />

pulmonar esquerda pode se desenvolver pelo fechamento<br />

do ducto arterioso, com ou sem outras má<br />

formações associadas, sugerindo que a invasão por<br />

tecido ductal, similarmente à coarctação de aorta, seja<br />

o mecanismo responsável 6 . Lesões adquiridas ocorrem<br />

com certa freqüência seguindo intervenções cirúrgicas<br />

reparativas ou paliativas, entre elas shunts sistêmicopulmonares,<br />

bandagem pulmonar, cirurgias para unifocalização<br />

da suplência pulmonar na presença de atresia<br />

pulmonar com septo aberto, correção de transposição<br />

de grandes vasos e paliações em pacientes com ventrículo<br />

único.<br />

1<br />

Serviço de Cardiologia Intervencionista em Cardiopatias Congênitas<br />

do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul, RS.<br />

Correspondência: Raul I. Rossi Filho. Av. Dr. Nilo Peçanha, 396/1003<br />

- Porto Alegre, RS - CEP 90470-000<br />

E-mail: rrossi.voy@terra.com.br<br />

Recebido em: 14/02/2006 • Aceito em: 03/03/2006<br />

Quanto à localização, a EAPR pode ser dividida<br />

em quatro tipos 7 (Figura 1):<br />

• Tipo I: constrição simples com variado comprimento,<br />

confinada ao tronco e ramos pulmonares<br />

direito e esquerdo;<br />

• Tipo II: estenose na bifurcação da artéria pulmonar,<br />

com envolvimento da parte distal do tronco<br />

da artéria pulmonar e origem dos ramos direito<br />

e esquerdo, podendo ser localizada ou de um<br />

longo segmento;<br />

• Tipo III: estenose de múltiplas artérias pulmonares<br />

segmentares no seu óstio, com dilatação pósestenótica<br />

proeminente e tronco e ramos pulmonares<br />

proximais normais;<br />

• Tipo IV: múltiplas estenoses envolvendo segmentos<br />

periféricos e artérias pulmonares centrais.<br />

O tratamento de estenose ou hipoplasia de artéria<br />

pulmonar com balão tem resultados variados na literatura,<br />

com a média de sucesso entre 50% e 60% 1-5 .<br />

As indicações de angioplastia são sumarizadas no<br />

Quadro 1.<br />

A falha na angioplastia isolada, assim como acontece<br />

na circulação coronariana, se deve principalmente<br />

146


Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 146-152.<br />

de escolha para estenose ou hipoplasia de artéria e<br />

ramos pulmonares 6-30 . Vale a pena comentar que o<br />

tratamento cirúrgico para estenose de artéria pulmonar<br />

tem resultados desanimadores, principalmente pelas<br />

dificuldades técnicas da cirurgia em ramos pequenos<br />

e em pacientes de baixo peso, bem como pela alta<br />

prevalência de reestenose cicatricial.<br />

Entretanto, existem certas lesões, como a estenose<br />

pulmonar supravalvar e da bifurcação da artéria pulmonar,<br />

nas quais, levando-se em conta as características<br />

do paciente (tamanho ou doença associada), pode-se<br />

dar preferência ao tratamento cirúrgico. Em situações<br />

de alto risco para o desenvolvimento de estenose de<br />

artéria pulmonar pós-operatória, tais como recém-nascidos<br />

de baixo peso com ramos pulmonares hipoplásicos<br />

após procedimento conotruncal, após ligação ductal e<br />

arteriotomia pulmonar em qualquer sítio, o tratamento<br />

combinado de cirurgia e stents parece ser a melhor<br />

escolha 29,30 .<br />

O objetivo deste trabalho é descrever, sumariamente,<br />

a técnica para implante de stents na circulação<br />

pulmonar, mostrar a nossa experiência com a angioplastia<br />

nesta doença arterial e revisar os principais artigos<br />

publicados sobre o assunto.<br />

MÉTODO<br />

Figura 1 - Tipos de estenose pulmonar. Compilado de Gay et al. 7 .<br />

QUADRO 1<br />

Indicações de angioplastia de artéria pulmonar<br />

1) Estenose central discreta ou subsegmentar da artéria<br />

pulmonar com:<br />

• Hipertensão do ventrículo direito<br />

• Assimetria do fluxo pulmonar<br />

2) Hipoplasia generalizada das artérias pulmonares com:<br />

• Hipertensão do ventrículo direito<br />

• Assimetria do fluxo pulmonar<br />

3) Estenose, hipoplasia ou distorção da artéria pulmonar<br />

em pacientes com paliação para ventrículo único<br />

Adaptado de Trivedi et al. 29 .<br />

ao recuo elástico após a dilatação 1-5 . Desta hipótese<br />

surgiu a idéia de que o tratamento com stents seria<br />

uma opção melhor, fato comprovado por estudos realizados<br />

em vários centros e que documentaram a efetividade<br />

desta prática na circulação pulmonar. A angioplastia<br />

pulmonar suportada por stents é hoje o tratamento<br />

A via de acesso mais utilizada para intervenção<br />

nas artérias pulmonares são as veias femorais, mas<br />

pode também ser realizada pelas veias subclávia e<br />

jugular interna ou, ainda, pelas artérias femorais, em<br />

pacientes com shunts sistêmico-pulmonares. Após obtenção<br />

de acesso venoso, um cateter pigtail é posicionado<br />

na aorta para monitorizar a pressão arterial. As medidas<br />

hemodinâmicas do lado direito são realizadas e a<br />

magnitude e localização dos gradientes nas artérias<br />

pulmonares são determinadas, idealmente com cateter<br />

de furo terminal. Arteriografias pulmonares são obtidas<br />

seletivamente em projeções ântero-posterior e lateral,<br />

com a obliqüidade necessária para perfilar adequadamente<br />

a lesão a ser tratada.<br />

A intervenção, em nossa opinião, deve ser sempre<br />

realizada sob anestesia geral, sendo o paciente anticoagulado<br />

com 100u/kg de heparina, mantendo um TCA<br />

de 200s a 250s. Cefazolina profilática é administrada<br />

antes da intervenção e mantida por 24 horas. Todos<br />

pacientes recebem ácido acetilsalicílico antes do procedimento<br />

e após por, pelo menos, 12 meses.<br />

Em alguns pacientes, a lesão é pré-dilatada com<br />

balão antes do implante do stent. Isso permite a determinação<br />

da expansibilidade do balão e previsão da<br />

eventual eficácia do método. Também serve para determinar<br />

o melhor diâmetro, comprimento e localização<br />

do stent.<br />

Em estenoses não críticas, a dilatação primária é<br />

aconselhável, pois o local de menor diâmetro serve<br />

para “ancorar” o stent, durante a inflação do balão.<br />

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Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 146-152.<br />

O stent é manualmente de diâmetro montado sobre<br />

um balão de diâmetro apropriado. Uma bainha longa<br />

(Mullins) é utilizada para proteger o stent enquanto se<br />

ultrapassa a lesão. Duas técnicas podem ser utilizadas.<br />

Na primeira, a bainha longa é posicionada através da<br />

lesão e o stent montado sobre o balão é avançado<br />

através da bainha. Na segunda técnica, o stent montado<br />

é avançado até a parte distal da bainha, fora do<br />

paciente, e o sistema é avançado sobre a guia. A<br />

última técnica tem duas vantagens; ela elimina o problema<br />

de avançar o stent sobre os kinks que podem se<br />

desenvolver no caminho e permite o uso de bainhas<br />

menores, vital em lactentes pequenos. O tamanho da<br />

bainha pode variar de 7F a 12F, dependendo do stent<br />

utilizado, sendo que para sua escolha, deve-se tomar<br />

a medida do shaft do balão e adicionar-se 2F. Quando<br />

o stent está adequadamente posicionado, o que é<br />

visualizado através de injeções manuais de contraste,<br />

a bainha é tracionada e o balão expandido. As medidas<br />

hemodinâmicas e as angiografias são repetidas após a<br />

liberação do stent.<br />

RESULTADOS<br />

Entre junho de 1996 e novembro de 2002, 75<br />

stents foram implantados em 66 pacientes, no Instituto<br />

de Cardiologia do Rio Grande do Sul. A idade média<br />

foi de 7 anos (0,1 a 20 anos). A grande maioria dos<br />

pacientes (93,9%) havia sido submetida a cirurgia prévia,<br />

sendo que em 63,6% a cirurgia fora realizada no local<br />

da lesão. As características do procedimento e das doenças<br />

associadas estão sumarizadas nas Tabelas 1 e 2.<br />

Estão incluídos, neste grupo de pacientes, stents<br />

isolados para os ramos (Figura 2), stents telescopados,<br />

implantes bilaterais seqüenciais e tratamento da bifurcação<br />

pela técnica de kissing stents. A grande maioria<br />

TABELA 1<br />

Características do procedimento,<br />

casuística do Instituto de Cardiologia do RS<br />

Ramo pulmonar esquerdo 43 (56,9%)<br />

Ramo pulmonar direito 11 (<strong>13</strong>,8%)<br />

Dois ramos pulmonares 7 (8,6%)<br />

Kissing stents 6 (6,9%)<br />

Dois stents no ramo pulmonar esquerdo 2 (3,4%)<br />

Dois stents no ramo pulmonar direito 1 (1,7%)<br />

Anastomose entre AD e AP 2 (3,4%)<br />

Tubo entre VD e AP 1 (1,7%)<br />

Via saída VD 2 (3,4%)<br />

Stent sobre stent fraturado 1 (1,7%)<br />

Cirurgia prévia 62 (93,9%)<br />

Cirurgia prévia no local da lesão 47 (63,6%)<br />

AD: Átrio direito; AP: Artéria pulmonar; VD: Ventrículo direito.<br />

dos pacientes recebeu stents passíveis de redilatação<br />

futura até tamanho compatível com a idade adulta<br />

(Figura 3), embora vários lactentes pequenos, em situação<br />

de urgência ou pelo seu pequeno tamanho e com<br />

risco de perda de leito vascular pulmonar, tenham<br />

sido submetidos ao implante de stents pré-montados,<br />

que terão que ser retirados cirurgicamente no futuro.<br />

Um grupo interessante desta população é a dos<br />

seis pacientes em pós-operatório imediato de cirurgia<br />

de Fontan, acompanhada de estenose grave pós-ampliação<br />

de ramo pulmonar. Essas crianças, pelas características<br />

deste tipo de circulação, encontravam-se criticamente<br />

doentes e foram tratadas com reperfusão pulmonar<br />

com stent, horas após a operação (Figuras 4 e 5).<br />

Se observarmos a complexidade anatômica da circulação<br />

pulmonar do grupo estudado e o estado clínico<br />

de muitos dos pacientes, chega a ser surpreendente<br />

o pequeno número de complicações ocorridas.<br />

Ocorreram dois casos de embolização do stent<br />

para artérias pulmonares mais distais, sendo que em<br />

um deles foi realizada cirurgia para retirada do stent<br />

e realização de plastia no ramo pulmonar. No outro<br />

paciente, o stent foi deixado na artéria do lobo inferior<br />

esquerdo, sem complicações tardias. Houve uma fratura<br />

de stent em lactente com estenose de ramo esquerdo<br />

e em pós-operatório de cirurgia de Glenn, sendo necessário<br />

implante de um novo stent através dele. Houve<br />

um caso de edema agudo de pulmão ipsilateral ao<br />

ramo em que foi implantado o stent, provavelmente<br />

por lesão tipo reperfusão, que melhorou com 48 horas<br />

de ventilação mecânica.<br />

TABELA 2<br />

Doenças associadas, casuística do<br />

Instituto de Cardiologia do RS<br />

Tetralogia de Fallot 24 (36,3%)<br />

Atresia pulmonar com CIV 9 (<strong>13</strong>,6%)<br />

Transposição de grandes vasos 8 (12,1%)<br />

Estenose de ramos pulmonares isolada 5 (7,6%)<br />

Atresia tricúspide 4 (6,0%)<br />

Dupla via de entrada para VE 4 (6,0%)<br />

Atresia pulmonar com septo íntegro 3 (4,5%)<br />

Truncus arteriosus 2 (3,0%)<br />

Dupla via de saída VD 2 (3,0%)<br />

Estenose supravalvar aórtica 1 (1,5%)<br />

Dupla via de entrada para VE com 1 (1,5%)<br />

valva AV comum<br />

CIV 2 (3,0%)<br />

CIV e coarctação de aorta 1 (1,5%)<br />

CIV: Comunicação interventricular; VE: Ventrículo esquerdo;<br />

VD: Ventrículo direito; AV: atrioventricular.<br />

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Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 146-152.<br />

Figura 2 - Seqüência de imagens do implante de stent de 30 mm em lesão ostial do ramo direito.<br />

Figura 3 - Resultado imediato de dilatação suportada por stent do ramo esquerdo. A paciente pesava 8 kg e já havia sido submetida à ampliação<br />

cirúrgica do local, bem como à dilatação com balão.<br />

O tempo médio de seguimento deste grupo de<br />

pacientes foi de 45 meses (4 a 156 meses), sendo que<br />

neste período 54,5% dos pacientes permaneceram assintomáticos<br />

ou pouco sintomáticos, 6% foram a óbito e<br />

4,6% estão aguardando implante de stent no outro<br />

ramo pulmonar. Houve perda de seguimento de 24,2%<br />

dos pacientes. Quanto aos quatro óbitos, 2 ocorreram<br />

no período imediato após o implante do stent devido<br />

à urgência do caso e instabilidade hemodinâmica antes<br />

do procedimento (ambos pacientes em pós-operatório<br />

imediato de Fontan, com oclusão subtotal do ramo<br />

esquerdo), um após cirurgia de Fontan (18 meses após<br />

o implante do stent) e um durante cirurgia de unifocalização<br />

de colaterais sistêmico-pulmonares.<br />

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Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 146-152.<br />

Figura 4 - Paciente em período pós-operatório imediato de cirurgia de Fontan, com oclusão aguda do ramo esquerdo. A seqüência mostra que,<br />

após perfuração da estenose, a lesão foi pré-dilatada com balão de ACTP. Imediatamente após, balão de alta pressão com stent refaz a perfusão<br />

do pulmão esquerdo.<br />

Figura 5 - Suboclusão do ramo pulmonar direito, excluindo hemodinamicamente o pulmão esquerdo em paciente submetida à cirugia de Glenn.<br />

O implante de stent curto permitiu adequada reperfusão, sem ocasionar distorção do ramo.<br />

DISCUSSÃO<br />

Angioplastia de artéria pulmonar e ramos com<br />

stent foi primeiramente estudada em animais 8,9 . Em<br />

1988, Mullins et al. 8 descreveram os resultados imediatos<br />

e a curto prazo de <strong>13</strong> tentativas de implante de stents<br />

expandidos com balão na circulação pulmonar normal<br />

de cães. Onze stents foram implantados com sucesso,<br />

enquanto que os outros embolizaram para o leito distal.<br />

O seguimento angiográfico foi realizado entre 2 e 9<br />

meses, mostrando a patência dos stents. A avaliação<br />

histológica de 4 artérias pulmonares deste estudo documentou<br />

a cobertura neointimal total dos stents, não<br />

havendo relato de trombose pulmonar. Mais recentemente,<br />

stents expandidos com balão foram testados<br />

em modelos animais de estenose de artéria pulmonar<br />

10,11 . Em 1991, Benson et al. 10 utilizaram stents expandidos<br />

com balão (Palmaz P-308; Johnson & Johnson,<br />

Warren, NJ) na artéria pulmonar esquerda de 9 porcos<br />

com estenose de artéria pulmonar criada cirurgicamente.<br />

O seguimento angiográfico foi realizado entre 3 semanas<br />

e 4 meses e não foi observado reestenose, trombose,<br />

formação aneurismática ou oclusão de ramos pulmo-<br />

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Sabedotti M, et al. Stents na Circulação Pulmonar. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 146-152.<br />

nares laterais. A avaliação histológica, realizada em<br />

média 3 meses após o implante, mostrou uma cobertura<br />

total da malha do stent pela neoíntima.<br />

Uma situação que deve ser considerada em crianças,<br />

quando pensamos em utilizar stents na circulação pulmonar,<br />

é o crescimento corporal. Em 1996, Mendelshon<br />

et al. 12 estudaram a exeqüibilidade e a efetividade da<br />

redilatação dos stents em um modelo experimental de<br />

estenose da artéria pulmonar esquerda. Seis cães entre<br />

3 e 4 meses foram submetidos ao implante de stent<br />

(Palmaz P-308), utilizando um balão de 8 a 10mm de<br />

diâmetro, no sítio de uma estenose de artéria pulmonar<br />

cirurgicamente criada. Após 4 meses do implante dos<br />

stents, quando o peso dos animais aumentou em média<br />

54%, os stents foram redilatados com balão 12mm.<br />

Novo estudo angiográfico realizado 1 mês após a redilatação<br />

dos 4 animais mostrou uma camada neoíntima<br />

preservada sem reestenose, formação aneurismática<br />

ou trombose.<br />

A maioria dos estudos clínicos também utilizou<br />

os stents Palmaz P-308 ou P-204 <strong>13</strong>-20 . Em 1991, O’Laughlin<br />

et al. <strong>13</strong> descreveram os resultados imediatos e a<br />

curto prazo de 31 implantes de stent, em 23 pacientes<br />

com estenose de artéria pulmonar. O diâmetro da<br />

artéria tratada aumentou de 4,6 para 10,9mm, em<br />

média e o gradiente translesão caiu, em média, de 51<br />

para 16mmHg. Cintilografia de perfusão pulmonar foi<br />

realizada, antes e após o procedimento, em 11 pacientes,<br />

evidenciando um aumento médio da perfusão do pulmão<br />

ipsilateral de 26% para 48%. O seguimento angiográfico<br />

foi realizado em 6 pacientes, entre 3 e 9 meses após<br />

o procedimento, demonstrando nenhuma trombose,<br />

reestenose ou formação aneurismática. Em 1993, o<br />

mesmo autor coordenou um estudo multicêntrico de<br />

implante de stents na população pediátrica 16 . Em 85<br />

pacientes, foram implantados 121 stents Palmaz, sendo<br />

80 na circulação pulmonar. Os pacientes tinham idade<br />

entre 1,2 e 36 anos e o diagnóstico mais comum foi<br />

reparo no pós-operatório de tetralogia de Fallot. O<br />

estudo demonstrou uma substancial melhora dos resultados<br />

em relação a estudos similares que utilizaram<br />

somente balão. Nesta série, os stents resultaram em<br />

um aumento no diâmetro da artéria pulmonar de 4,6<br />

a 11,3mm em média, com imediata melhora hemodinâmica<br />

e queda na pressão sistólica do ventrículo<br />

direito. O seguimento angiográfico foi realizado em 25<br />

pacientes em 8 meses. Reestenose foi diagnosticada<br />

em 1 paciente e ocorreu em um pequeno segmento<br />

da artéria pulmonar direita entre dois stents. Em 2001,<br />

McMahon et al. 21 publicaram um estudo sobre a incidência<br />

e fatores de risco para reestenose intra-stent<br />

em doenças cardíacas congênitas. Entre os 220 pacientes<br />

com seguimento angiográfico médio de 3,8 anos, 67<br />

foram redilatados por crescimento da criança e somente<br />

9 por reestenose. Não foi relatada nenhuma complicação<br />

por ocasião da reintervenção. Em 2002, Zahn<br />

et al. 30 estudaram a segurança e eficácia da angioplastia<br />

no pós-operatório imediato de correção de cardiopatias<br />

congênitas. Neste estudo, 62 pacientes com idade entre<br />

2 e 11 anos foram submetidos a 66 cateterismos, entre<br />

0 e 42 dias do pós-operatório (média de 9 dias),<br />

sendo que em 35 casos foram realizados 50 procedimentos<br />

intervencionistas. O sucesso de colocação de stent<br />

foi de 87%, sendo que angioplastia com envolvimento<br />

do sítio de sutura cirúrgica foi realizada em 26 pacientes,<br />

sem qualquer relato de complicação.<br />

CONCLUSÃO<br />

Estudos experimentais e clínicos de vários centros,<br />

bem como nossa experiência institucional, demonstram<br />

que o implante de stents na circulação pulmonar<br />

é o tratamento mais efetivo para estenose ou hipoplasia<br />

de artéria e ramos pulmonares.<br />

Cuidado especial deve ser tomado frente à decisão<br />

de implantar stents em pacientes pequenos, pois será<br />

necessária redilatação futura, procedimento habitualmente<br />

associado a alto grau de dificuldade técnica. Por outro<br />

lado, é melhor termos que lidar com um caso difícil no<br />

futuro, mas que tenha artéria aberta para ser tratada.<br />

O desenvolvimento de novos materiais, como os<br />

stents biodegradáveis x dilatáveis de 4 a 18 mm, pode<br />

aumentar a indicação e a margem de segurança para<br />

este grupo de pacientes.<br />

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Neves J, et al. Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 153-166.<br />

Artigo de Revisão<br />

Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta<br />

Juliana Neves 1 , Vinícius Fraga 1 , Roberto Silva 1 , Carlo B. Pilla 1,2 , César A. Esteves 1 ,<br />

Sérgio L. N. Braga 1 , Gilberto Nunes 1,2 , Valmir F. Fontes 1 , Carlos A. C. Pedra 1<br />

RESUMO<br />

A correção cirúrgica sempre foi a terapêutica de escolha<br />

para a coarctação da aorta, uma das cardiopatias congênitas<br />

mais freqüentes. Como uma forma de tratamento menos<br />

invasiva, a aortoplastia com balão surgiu como alternativa<br />

à cirurgia, mas não atingiu ampla aceitação devido aos<br />

índices de reestenose secundária ao recolhimento vascular<br />

e discussões sobre possíveis lesões à parede vascular, resultando<br />

em formação de aneurismas. Para lidar com estes problemas,<br />

os stents endovasculares foram adicionados às possibilidades<br />

terapêuticas desta má formação. Os resultados a<br />

curto e médio prazo são encorajadores, com baixas taxas<br />

de reestenose e complicações. Neste artigo, os autores<br />

revisam as principais evidências atuais do implante de<br />

stent para a coarctação da aorta, apresentam sua própria<br />

experiência e discutem as futuras possibilidades nesta área.<br />

DESCRITORES: Coartação aórtica. Conectores. Angioplastia<br />

com balão. Cardiopatias congênitas.<br />

SUMMARY<br />

The Use of Stents in the Treatment of<br />

Coarctation of the Aorta<br />

Surgery has been the traditional treatment for native coarctation<br />

of the aorta, one of the most common cardiovascular<br />

congenital malformations. As a less invasive mode of treatment,<br />

balloon aortoplasty has emerged as an alternative to surgery<br />

but has not gained universal acceptance due to its rates of<br />

restenosis secondary to vessel recoil and concerns over<br />

aortic wall injury resulting in aneurysm formation. To overcome<br />

these problems, endovascular stents were introduced in<br />

the management of this condition. The early and mid term<br />

results are encouraging, with low rates of restenosis and<br />

complications. In this paper, the authors review the current<br />

available evidence on coarctation stenting, present their<br />

own experience and discuss future trends in this area.<br />

DESCRIPTORS: Aortic coarctation. Stents. Angioplasty, balloon.<br />

Heart defects, congenital.<br />

Acoarctação da aorta (CoA) é responsável por 6-<br />

8% dos nascidos-vivos com cardiopatia congênita<br />

1,2 . Naqueles pacientes que se apresentam após<br />

a infância, a lesão caracteriza-se por um estreitamento<br />

localizado e excêntrico da aorta descendente proximal,<br />

próximo à extremidade aórtica do canal arterial ou<br />

ligamento arterioso 3-6 (Figura 1). Sua principal conseqüência<br />

hemodinâmica é a obstrução ao fluxo sangüíneo,<br />

o que determina aumento da pós-carga do ventrículo<br />

esquerdo, assim como hipertensão nos vasos da cabeça<br />

e pescoço.<br />

Se não tratada, a CoA tem mau prognóstico, com<br />

a maioria dos pacientes morrendo antes dos 40 anos<br />

de vida devido a insuficiência cardíaca, endocardite<br />

bacteriana, acidente vascular cerebral e doença coronariana<br />

precoce 7,8 . O tratamento cirúrgico tradicionalmente<br />

é a opção terapêutica escolhida, com relatos de<br />

1<br />

Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP.<br />

2<br />

Hospital São Francisco, Santa Casa de Porto Alegre, RS.<br />

Correspondência: Carlos A. C. Pedra. Instituto Dante Pazzanese de<br />

Cardiologia. Av. Dr. Dante Pazzanese, 500 - São Paulo, SP, Brasil -<br />

CEP 04012-180 - Tel.: (11) 5085-4114 - E-mail: carlosacpedra@hotmail.com<br />

Recebido em: 01/02/2006 • Aceito em: 24/02/2006<br />

boa evolução a longo prazo 5,8,9 . Embora a correção<br />

cirúrgica melhore a história natural da doença e auxilie<br />

no controle da hipertensão, há morbidade imediata<br />

significativa devido a dor no pós-operatório, sangramento<br />

e hipertensão paradoxal 5 , particularmente na população<br />

adulta. Além disto, reestenose e formação de aneurismas<br />

têm sido descritas no seguimento, com índices variáveis 8 .<br />

O desejo de reduzir a morbi-mortalidade associada<br />

ao procedimento cirúrgico motivou as primeiras<br />

tentativas de terapia percutânea para a CoA. A primeira<br />

dilatação com balão da CoA post mortem foi descrita<br />

por Sos et al. 10 , em 1979. Desde então, vários estudos<br />

descreveram os resultados da aortoplastia com balão<br />

na CoA nativa e pós-cirúrgica 11-19 . Embora resultados<br />

imediatos satisfatórios tenham sido relatados, receios<br />

sobre a evolução em longo prazo persistiram, incluindo<br />

os riscos para recorrência da coarctação, formação de<br />

aneurisma e dissecção aórtica 11,20-22 . Os stents foram<br />

introduzidos, no início da década de 90, como terapia<br />

adjunta à aortoplastia com balão para tentar solucionar<br />

estes problemas 23,24 . Neste artigo, os autores revisam a<br />

literatura atual disponível sobre o implante de stent<br />

para a CoA, relatam sua própria experiência e discutem<br />

as futuras tendências nesta área.<br />

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Neves J, et al. Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 153-166.<br />

Figura 1 - Coarctação da aorta em paciente adolescente. O arco<br />

e o istmo têm diâmetro conservado. A lesão é localizada e notase<br />

prateleira posterior conferindo um aspecto assimétrico à lesão.<br />

STENTS<br />

Os stents são implantes tubulares feitos de ligas<br />

metálicas (aço inoxidável 316 L, cobalto, platina, titânio,<br />

titânio-níquel), biocompatíveis e resistentes à corrosão e<br />

fraturas. Atuam primariamente evitando o colapso vascular,<br />

funcionando como suporte à parede do vaso 25-27 .<br />

No caso do stent balão-expansível, as forças radiais do<br />

balão são dispersas em áreas maiores, promovendo a<br />

aposição da íntima vascular à média durante o implante.<br />

Esse feito, provavelmente, minimiza a extensão das<br />

lesões vasculares, controlando pequenas dissecções e<br />

reduzindo o risco de formação de aneurismas 25-27 .<br />

O stent ideal deve ser flexível, ter baixo perfil e<br />

grande força radial. Bordas arredondadas são também<br />

desejadas para prevenir injúria da parede vascular e<br />

ruptura do balão. Deve ser longo o suficiente para<br />

cobrir a lesão (30-60 mm), altamente resistível a fraturas<br />

secundárias à fadiga, bem visível à fluoroscopia e sofrer<br />

encurtamento mínimo após a expansão 25,27 . Além do<br />

mais, deve ser expansível até 18-25 mm em diâmetro,<br />

tamanho normal da aorta ao nível do diafragma em<br />

adultos. Infelizmente, nenhum stent disponível atualmente<br />

no mercado tem todas estas características. Os stents<br />

balão-expansíveis são os mais utilizados para o tratamento<br />

da CoA. O mais comum deles, o Palmaz ® grande<br />

(30 mm) e extra-grande (40 e 50 mm), é composto de<br />

aço inoxidável (Cordis, Johnson & Johnson Interventions,<br />

NJ, USA). Têm força radial adequada e são altamente<br />

resistentes à fadiga. Entretanto, são extremamente rígidos,<br />

o que dificulta sua navegabilidade em vasos tortuosos,<br />

o que não chega a ser problemático nos casos de<br />

CoA. Além disto, apresentam encurtamento significativo<br />

e bordas pontiagudas, o que tem feito alguns<br />

pesquisadores explorarem novas endopróteses para o<br />

tratamento da CoA 25,27 . Uma delas é o stent Cheatham-<br />

Platinum ® - CP - (Numed, NY, USA) de liga de platina<br />

(90%) e iridium (10%), com estrutura arranjada em<br />

padrão de “zig-zag” 28,29 . Próteses com oito “zig-zags”<br />

são capazes de expandir até 25 mm se necessário, e<br />

aquelas com 34-45 mm de comprimento promovem<br />

cobertura adequada em casos de CoA. São compatíveis<br />

com ressonância magnética e mais visíveis à fluoroscopia.<br />

O CP tem encurtamento menor que o Palmaz após<br />

expansão (Figura 2), é discretamente mais flexível e<br />

possui bordas arredondadas. Embora experiências in<br />

vitro tenham sugerido boa força radial e ótima resistência<br />

à fadiga, a ocorrência de fraturas localizadas ou circunferenciais<br />

com este stent no seguimento tem sido<br />

bem documentada em ensaios clínicos 30,31 . Recentemente,<br />

os Palmaz ® grandes (série P8) foram substituídos<br />

pelo Genesis ® (Cordis, Johnson & Johnson Interventions,<br />

NJ, USA), que também vem sendo usado para tratamento<br />

da CoA 32 . São mais flexíveis devido ao seu desenho<br />

do sistema de articulações, embora existam discussões<br />

a respeito de sua força radial e resistência à fratura<br />

quando expandido aos grandes diâmetros da aorta.<br />

Outras endopróteses balão-expansíveis têm sido<br />

utilizadas para o tratamento da CoA. O Max LD ® (EV3,<br />

MN, USA), com 36 mm de comprimento, composto de<br />

aço inoxidável, tem desenho de células abertas, o que<br />

propicia maior flexibilidade e diminui o risco de oclusão<br />

de ramos adjacentes 25 . Quando expandido de forma<br />

estagiada, com balões de diâmetros progressivamente<br />

maiores, apresenta encurtamento mínimo. Entretanto,<br />

ainda não há seguimento a longo prazo deste stent,<br />

sendo questionada a sua resistência quando expandido<br />

a diâmetros de 20-25 mm na aorta. Além disto, balões<br />

de alto perfil (>9F) são necessários para sua liberação<br />

e, como não é altamente radiopaco, a proliferação<br />

neointimal não pode ser bem avaliada na evolução.<br />

Figura 2 - Na porção superior da figura, encontra-se o stent Palmaz<br />

4014 e na inferior, o stent CP. Após expansão dos stents até 20 mm,<br />

o encurtamento é visivelmente menor no stent CP. Ver texto para<br />

maiores detalhes.<br />

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Neves J, et al. Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 153-166.<br />

Stents cobertos balão-expansíveis e auto-expansíveis<br />

também vêm sendo utilizados no manejo da CoA 30,31,33-35 .<br />

A cobertura pode ser de vários tipos e materiais (Dacron<br />

® , politetrafluoroetileno - PTFE). Sua função é excluir<br />

aneurismas ou dissecções e ocluir vasos adjacentes<br />

não desejados. O stent CP balão-expansível (Numed,<br />

NY, USA) é coberto com fina membrana expansível de<br />

ePTFE, aderida por fora ao stent por adesivos biodegradáveis<br />

29 (Figura 3). O stent de aço inoxidável autoexpansível<br />

Braile (Braile Biomédica, São José do Rio<br />

Preto, Brasil) também vem sendo utilizado pelos autores<br />

31,36,37 (Figura 3). Ambos são particularmente úteis<br />

nos seguintes casos:<br />

• Obstrução crítica, definida como diâmetro mínimo<br />

ao nível da CoA menor que 3 mm na angiografia;<br />

• CoA associada a atresia do lúmen aórtico (CoA<br />

em “fundo-cego”);<br />

• CoA associada a canal arterial patente;<br />

• CoA associada a alterações degenerativas da parede<br />

aórtica, sugeridas pela presença de aorta<br />

ascendente, descendente e/ou arco transverso<br />

aneurismáticos;<br />

• CoA em pacientes com idade acima de 30-40 anos;<br />

• Formação de aneurismas após implante de stents<br />

convencionais, detectados agudamente (como<br />

medida de “salvamento”) ou no seguimento;<br />

• Presença de fraturas circunferenciais em prótese<br />

implantada previamente na aorta, com desalinhamento<br />

entre as porções proximal e distal e/ou<br />

protrusão de partes do stent na parede aórtica<br />

detectados no seguimento em angiografias e/ou<br />

estudos por ressonância magnética ou tomografia<br />

computadorizada 31 .<br />

Como estas próteses cobertas necessitam de bainhas<br />

maiores para o implante e algumas não permitem<br />

expansões seqüenciais no seguimento (auto-expansíveis),<br />

sua aplicação em pacientes menores e em crescimento<br />

é limitada. Do ponto de vista de segurança, a principal<br />

preocupação no uso deste material na aorta é a oclusão<br />

de ramos colaterais, especialmente da artéria espinhal,<br />

Figura 3 - Nota-se, à esquerda, o stent CP coberto com Goretex<br />

e, à direita, a endoprótese da Braile. Ver texto para maior detalhamento.<br />

resultando em paraplegia ou paraparesia. Esta complicação<br />

é provavelmente rara quando o segmento coberto<br />

é curto e limitado à aorta torácica. Evitar o território<br />

aórtico abaixo da nona vértebra torácica é fundamental<br />

para minimizar o risco deste evento catastrófico, já que<br />

a artéria espinhal geralmente origina-se abaixo deste<br />

ponto. Adicionalmente, as próteses cobertas são menos<br />

toleradas que as convencionais quando ocorre migração<br />

distal. Deve-se, portanto, evitar seu implante em<br />

locais que podem obstruir a origem de vasos, como as<br />

artérias mesentéricas ou renais na aorta abdominal.<br />

ESTUDOS EXPERIMENTAIS COM STENTS NA<br />

AORTA<br />

Vários artigos reportaram o sucesso do uso de stents<br />

em estudos experimentais de CoA em animais 38-41 . Em<br />

indivíduos em crescimento, entretanto, há a preocupação<br />

de causar uma estenose adquirida devido ao diâmetro<br />

fixo da prótese. Neste sentido, a possibilidade<br />

de reexpansão do stent sem lesão significativa à parede<br />

vascular foi demonstrada em porcos 39,42 . Mendelsohn<br />

et al. 40 descreveram ruptura aórtica após a redilatação<br />

de stents, mas animais mais jovens foram utilizados<br />

neste estudo. Evitando-se o uso em pacientes jovens,<br />

o implante de stent em indivíduos adultos é atrativo,<br />

já que é improvável que novas intervenções sejam<br />

necessárias no seguimento.<br />

INDICAÇÕES NA PRÁTICA CLÍNICA<br />

Em pacientes com CoA nativa ou recorrente, é<br />

geralmente aceito que o alívio da obstrução está indicado<br />

na presença de gradiente entre membros superiores<br />

e inferiores de mais de 20 mmHg 3 . Entretanto, alguns<br />

autores sugerem que mesmo obstruções mais discretas,<br />

com gradientes sistólicos menores que 20 mmHg, devam<br />

ser eliminados para evitar disfunção ventricular esquerda<br />

tardia e insuficiência cardíaca 43,44 . Justifica-se tal conduta<br />

especialmente quando há hipertensão arterial sistêmica<br />

em repouso ou resposta pressórica anormal ao exercício<br />

ou disfunção ventricular já instalada.<br />

Em muitos centros, o tratamento cirúrgico continua<br />

sendo a terapêutica de escolha para a CoA nativa,<br />

especialmente em pacientes abaixo de 1 ano de idade 5 .<br />

A aortoplastia com balão para CoA nativa é objeto de<br />

debate e sua aplicação depende de preferências institucionais.<br />

Na re-coarctação pós-cirúrgica, a aplicação<br />

desta técnica é de escolha e não traz controvérsias 45,46 .<br />

O uso dos stents como próteses endovasculares<br />

vem ganhando aceitação progressiva, principalmente<br />

em pacientes adultos, já que soluciona o problema da<br />

re-estenose devido ao recolhimento vascular e, teoricamente,<br />

minimiza os riscos de ruptura aórtica aguda<br />

ou formação de aneurisma causada por lesão da parede<br />

vascular. Além do mais, sabe-se que aortoplastia com<br />

balão isoladamente apresenta evolução subótima em<br />

pacientes com condições anatômicas desfavoráveis,<br />

incluindo casos de estreitamento tubular longo, hipo-<br />

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Neves J, et al. Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 153-166.<br />

plasia do istmo aórtico e obstrução leve, onde o uso<br />

de stents, indubitavelmente, oferece melhor evolução<br />

em termos de redução de gradiente e incidência de<br />

obstrução residual ou recorrente 47 . Portanto, os stents<br />

para CoA devem ser considerados uma alternativa à<br />

aortoplastia com balão primariamente em adolescentes<br />

e adultos, com vários padrões anatômicos de CoA<br />

nativa ou pós-operatória. Nestes pacientes, a possibilidade<br />

de causar uma lesão fixa não é problemática e<br />

os riscos de trauma vascular decorrentes do uso de<br />

bainhas maiores, necessárias à liberação das próteses,<br />

são menores. Há uma tendência atual em tratar pacientes<br />

mais jovens com CoA, assim que eles atinjam peso<br />

acima de 25 kg (geralmente após 7-8 anos de idade) 48 .<br />

Certos pacientes com hipoplasia de arco aórtico também<br />

podem se beneficiar do implante de stent nesta<br />

localização 49,50 . Vários relatos clínicos iniciais têm<br />

demonstrado a viabilidade, segurança e efetividade<br />

imediata e em médio prazo desta técnica, em pacientes<br />

com CoA nativa e recorrente 24,28,30,43,47,50-57 . Até o<br />

momento, nenhum ensaio clínico controlado foi publicado<br />

comparando as diferentes formas de tratamento<br />

(cirurgia, aortoplastia com balão e implante de stent)<br />

para CoA em diversas faixas etárias. No entanto, esta<br />

evolução de uma forma de tratamento para outra, como<br />

observada em outras áreas da medicina, não foi baseada<br />

em ensaios controlados. A evidência é amplamente,<br />

se não apenas, derivada de estudos observacionais<br />

longitudinais 58 .<br />

TÉCNICA DE IMPLANTE<br />

A técnica de implante de stents (Figuras 4 a 6) na<br />

aorta tem progressivamente evoluído desde sua descrição<br />

Figura 4 - Aortografias em perfil esquerdo (A) e em oblíqua anterior direita com discreta angulação caudal (B). Um cateter Berman angiográfico<br />

foi posicionado no arco por via anterógrada, depois de punção transeptal. A coarctação é localizada e mede menos que 3 mm, em seu menor<br />

diâmetro. O istmo tem dimensões conservadas (20 mm). Em C, um cateter-balão de 8 mm de diâmetro é utilizado para pré-dilatação da lesão.<br />

Figura 5 - Em A, nota-se um stent CP coberto sendo posicionado no local da lesão. Em B e C, os balões internos e externos do cateterbalão<br />

BIB são insuflados seqüencialmente.<br />

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Neves J, et al. Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 153-166.<br />

no início dos anos 90. O procedimento é geralmente<br />

realizado sob anestesia geral ou sedação profunda.<br />

Após se estabelecer acesso arterial femoral, um segundo<br />

acesso vascular (artéria braquial/radial ou veia femoral)<br />

também pode ser obtido para angiografias repetidas<br />

no arco aórtico (via artéria braquial/radial ou após<br />

punção septal), a fim de auxiliar no posicionamento<br />

correto da prótese durante a liberação (Figura 4) 30,51 .<br />

Heparina (100-150 U/kg; máx 10.000 UI) é administrada<br />

endovenosamente. Após cateterismo esquerdo convencional,<br />

são obtidas aortografias nas projeções oblíqua<br />

esquerda, perfil esquerdo (Figura 4) e oblíqua anterior<br />

direita com angulação caudal. As medidas dos diâmetros<br />

do arco transverso, istmo aórtico, dilatação pósestenótica<br />

e aorta descendente ao nível do diafragma<br />

são obtidas. Um guia rígido e longo (260-300 cm) é<br />

cuidadosamente passado através da lesão e posicionado<br />

na aorta ascendente ou na artéria subclávia direita ou<br />

esquerda, dependendo da angulação da lesão.<br />

Em pacientes com atresia do lúmen aórtico (CoA em<br />

“fundo-cego”), a distância entre as extremidades distal e<br />

proximal da aorta é visibilizada por injeções simultâneas<br />

de contraste no arco aórtico e na aorta descendente<br />

abaixo do local da CoA 31 . Um cateter terapêutico de<br />

coronária com furo terminal é posicionado no “bico”<br />

proximal da extremidade superior da aorta, via artéria<br />

subclávia direita ou esquerda. O segmento atrético é,<br />

então, cruzado ou perfurado, utilizando a extremidade<br />

maleável (para atresia funcional) ou rígida (atresia anatômica)<br />

de um guia de coronária (0,014”) 31 ou (teoricamente)<br />

auxiliado por um cateter de radiofreqüência. Para monitorizar<br />

a perfuração e/ou o avanço do guia, é usado um<br />

adaptador “em Y”, para permitir injeções manuais de<br />

contraste por meio do cateter. Após a perfuração, a<br />

extremidade maleável do guia é laçada na aorta descendente,<br />

para otimizar o suporte. Um balão de angioplastia<br />

coronária é avançado através do cateter terapêutico sobre<br />

o guia para pré-dilatar a lesão, o que possibilita subseqüentes<br />

trocas de guias e cateteres, para posterior liberação<br />

do stent via artéria femoral.<br />

O comprimento da prótese selecionada deve cobrir<br />

totalmente a lesão, que geralmente é localizada. Lesões<br />

segmentares podem necessitar de stents mais longos<br />

ou sobrepostos. O diâmetro do balão escolhido deve<br />

ser igual ao do istmo ao nível da origem da artéria<br />

subclávia esquerda, não excedendo o diâmetro da<br />

aorta descendente ao nível do diafragma 30,51 . Próteses<br />

balão-expansíveis devem ser montadas sobre o balão.<br />

Um pouco de contraste é usado para umedecer o<br />

balão antes de posicionar o stent sobre ele, aumentando<br />

sua aderência. Durante a montagem, um guia é<br />

deixado dentro o balão, a fim de retificar o sistema e<br />

evitar danos ao balão pela estrutura do stent. Com o<br />

stent CP coberto, esta manobra e a introdução do<br />

stent na bainha longa exigem cuidado extra. Deve-se<br />

evitar umedecer a camada de ePTFE em todas as etapas<br />

para manter sua forma original ao redor da prótese e,<br />

adicionalmente, usar uma “bainha cortada” 1-2 F menor<br />

que a bainha longa para protegê-lo durante o avanço<br />

pela válvula hemostática 31 .<br />

Cateteres-balão convencionais ou o balloon-in-balloon<br />

- BIB ® (Numed Inc., NY, USA) podem ser utilizados<br />

para liberar o stent, de acordo com a experiência do<br />

operador. O balão BIB é composto de dois balões montados<br />

um dentro do outro no mesmo cateter (Figura 7).<br />

O balão interno tem menor perfil, é menos complacente<br />

e expande à metade do balão externo, sendo 1 cm<br />

mais curto 28,29 . Em geral, são empregados balões 0,5 a<br />

1 cm mais longos que a prótese. Isto diz respeito ao<br />

Figura 6 - Em A, nota-se o aspecto angiográfico após esvaziamento do cateter-balão BIB. O stent ainda não está completamente aposto às<br />

paredes do vaso. Em B e C, um cateter-balão de menor comprimento foi utilizado para ajustar as extremidades do stents de forma a melhor<br />

apor as hastes à parede vascular. O resultado final é observado em C.<br />

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Figura 7 - Cateter-balão BIB. Ver texto para maior detalhamento.<br />

balão externo quando se utiliza o balão BIB. Embora<br />

alguns especialistas prefiram o uso de balão único,<br />

outros advogam que esse método pode exacerbar o<br />

fenômeno de flutuação que comumente ocorre durante<br />

a liberação de stents, fazendo com que a prótese deslize<br />

e sofra migração 28,29 . O balão BIB foi desenvolvido<br />

para minimizar estes problemas, permitindo uma liberação<br />

mais controlada 28,29 .<br />

Para aperfeiçoar o posicionamento do stent e minimizar<br />

o risco de migração com o uso de balões convencionais,<br />

Marshall et al. 43 advogam discreta insuflação<br />

da porção distal do balão, enquanto a porção<br />

proximal da unidade balão-stent ainda está dentro da<br />

bainha longa. Esta manobra é seguida de retração da<br />

bainha e expansão das porções média e proximal do<br />

balão (Figura 8). O uso de pré-dilatação da lesão é<br />

controverso, já que foi associado à maior incidência<br />

de formação de aneurisma ou dissecção intimal em<br />

estudo multicêntrico recente 59 . Entretanto, na presença<br />

de lesão crítica, o local da CoA pode ser pré-dilatado,<br />

usando balões de diâmetros pequenos ou moderados<br />

(6-8 mm), para permitir a passagem da bainha longa<br />

(Figura 4). O perfil da bainha necessário para o implante<br />

do stent depende do perfil do cateter-balão,<br />

sendo geralmente 1-3 F maior que o perfil da bainha<br />

recomendada para o cateter-balão. Geralmente, bainhas<br />

longas de 9 a 14 F (Cook Cardiology, IN, USA)<br />

são usadas para a liberação de stents. A seguir, o stent<br />

montado sobre o balão é avançado pela válvula hemostática<br />

da bainha até sua ponta distal. A bainha é,<br />

então, tracionada lentamente para expor o stent na luz<br />

vascular. Através do braço lateral da bainha durante<br />

a retração ou, preferencialmente, via um segundo cateter<br />

angiográfico posicionado no arco aórtico, angiografias<br />

repetidas são realizadas para garantir o posicionamento<br />

correto do stent antes da liberação (Figura 4). Quando<br />

o balão BIB é utilizado, o balão interno é insuflado<br />

inicialmente e, se necessário, o stent pode ser reposicionado<br />

antes da insuflação do balão externo (Figura 5).<br />

Se a CoA é localizada imediatamente abaixo da artéria<br />

subclávia, o stent é liberado com o menor grau de<br />

acavalgamento possível através do óstio arterial. Entretanto,<br />

a cobertura completa da artéria subclávia esquerda<br />

ou direita (quando existe origem anômala da última)<br />

não tem sido relacionada a qualquer evento adverso.<br />

Alguns advogam o uso de manobras para diminuir<br />

a freqüência cardíaca e/ou reduzir o volume de ejeção<br />

Figura 8 - Técnica para expansão estagiada do stent. Paciente de 48 anos com coarctação da aorta grave e sinais de fragilidade arterial<br />

caracterizada pela presença de valva aórtica bicúspide, aneurisma da aorta ascendente e ectasia da aorta descendente. No painel esquerdo,<br />

nota-se o aspecto da lesão: a coarctação é grave e o istmo é muito curto. Nos painéis centrais, nota-se a extremidade distal do stent sendo<br />

insuflada, enquanto metade do balão encontra-se ainda dentro da bainha longa. Após esta ser totalmente puxada, a parte proximal do balão<br />

é, então, insuflada, deixando-se a parte central do stent subexpandida. No painel direito, nota-se o aspecto final após o implante com<br />

incremento significativo do diâmetro da lesão. Entretanto, gradiente residual de 10-15 mmHg persistiu. Este paciente foi submetido a novo<br />

cateterismo, após 8 meses, quando a parte central do stent foi dilatada, com desaparecimento do gradiente local.<br />

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para otimizar o posicionamento do stent durante a<br />

insuflação do balão, como a administração de altas<br />

doses de adenosina ou marca-passo ventricular em<br />

altas freqüências 60,61 . Com o uso do balão BIB, estas<br />

manobras se tornam, provavelmente, desnecessárias e<br />

devem ser reservadas para pacientes submetidos à<br />

dilatação com balão para estenose aórtica grave, a fim<br />

de evitar a “dança” do balão através do anel valvar<br />

aórtico durante a valvoplastia, o que induz regurgitação<br />

aórtica devido à lesão dos folhetos 62 .<br />

Para pacientes com lesões críticas tem sido recomendada<br />

a dilatação com stent de forma estagiada,<br />

objetivando-se atingir 50-75% do diâmetro final no<br />

primeiro procedimento 33,57,63 . Esta estratégia evita um<br />

aumento abrupto e excessivo do diâmetro no local da<br />

CoA, o que poderia resultar em dissecção da parede<br />

aórtica, ruptura ou formação de aneurisma. Isto pode<br />

ser especialmente verdadeiro em pacientes com marcadores<br />

de fragilidade da parede aórtica, tais como<br />

valva aórtica bicúspide, aneurisma de aorta ascendente<br />

ou descendente e idade avançada 64-67 , nos quais o<br />

uso de stents cobertos também é recomendado 31 .<br />

Há duas técnicas para realizar a dilatação estagiada.<br />

A primeira envolve o uso de balão para liberação do<br />

stent com diâmetro subestimado (comparado ao tamanho<br />

do istmo) no procedimento inicial e realizando a<br />

dilatação completa depois de 6 a 12 meses em outro<br />

procedimento 57,63 . Com esta técnica, o stent subexpandido<br />

é seguro apenas no local da coarctação e pode<br />

não ficar totalmente estável, aumentando o risco de<br />

migração inadvertida e posicionamento inadequado,<br />

especialmente se novas manipulações para dilatar as<br />

extremidades forem tentadas 30 . A segunda técnica, e<br />

provavelmente melhor, é insuflar apenas as porções<br />

proximal e distal de um balão de tamanho apropriado<br />

(de acordo com o tamanho do istmo). Com isto, deixase<br />

o centro do stent mais estreitado, subexpandido,<br />

ficando o stent em um formato de ampulheta 33 . Para<br />

atingir este objetivo, a manobra proposta por Marshall<br />

et al. 43 , usando um balão convencional, pode ser necessária<br />

(Figura 8). É importante notar que o emprego<br />

do balão BIB com o uso do balão interno exclui a<br />

aplicação desta última técnica estagiada. Em geral, a<br />

dilatação completa imediata do stent pode ser realizada<br />

de forma segura em pacientes sem obstrução crítica<br />

e sem marcadores de fragilidade da parede aórtica 30,51 .<br />

A maioria destes pacientes requer apenas uma ou<br />

duas insuflações para liberação do stent. Embora alguns<br />

advoguem o ajuste das extremidades do stent (Figura<br />

6) para otimizar a endotelização 50 , é pouco provável<br />

que a aposição completa da prótese na região pósestenótica<br />

seja alcançada em todos os pacientes usando<br />

stents expansíveis até 25 mm, como o Palmaz extragrande<br />

e o CP. Se o objetivo do implante de stent na<br />

CoA é o alívio do gradiente, este é alcançado a despeito<br />

da completa aposição do stent na região pós-estenótica<br />

e melhor aparência no resultado angiográfico 30 .<br />

Deve-se ter cuidado especial ao manipular cateteres<br />

e guias na área recentemente dilatada. Novas medidas<br />

de pressão e aortografias devem ser realizadas imediatamente<br />

após o implante do stent. Cefazolina ® (20 mg/<br />

kg; máx 2g) é administrada durante o procedimento e<br />

em intervalos de 8h (total de 3 doses). A heparina<br />

administrada é parcialmente neutralizada com protamina<br />

se o tempo de tromboplastina ativada (TTPa) for maior<br />

que 200s (isto pode não ser realizado rotineiramente<br />

em alguns centros pediátricos) e a hemostasia obtida<br />

por compressão manual. Os pacientes são, então, acordados<br />

e transferidos à unidade de recuperação para<br />

observação clínica de rotina. Geralmente, a alta hospitalar<br />

ocorre no dia seguinte, com os pacientes sendo<br />

orientados para usar aspirina (2-5 mg/kg/dia; máx:<br />

300 mg) e evitar esportes de contato por 6 meses.<br />

Radiografia de tórax, eletrocardiograma e ecocardiograma<br />

são realizados antes da alta e agendados após<br />

1 a 3 meses, 6 meses, 12 meses e anualmente a partir<br />

deste momento, juntamente com a consulta clínica.<br />

Devido à possibilidade de formação tardia de aneurismas<br />

após implante de stent na CoA, um seguimento utilizando<br />

técnicas de imagem é obrigatório em todos os pacientes<br />

59 . Para isso, um novo cateterismo, ressonância<br />

magnética ou tomografia computadorizada devem ser<br />

agendados entre 6 a 12 meses após o procedimento<br />

e, provavelmente, em algum momento do seguimento<br />

a médio e longo prazo.<br />

RESULTADOS NAS INSTITUIÇÕES DOS AUTORES<br />

De setembro de 1995 a abril de 2005, 70 pacientes<br />

(47 do sexo masculino) foram submetidos a implante<br />

de stent para tratamento de CoA nas instituições dos<br />

autores. A média de idade e peso foi de 21,5±10,8<br />

anos (variação: 3-57) e 57,6±16,7 kg (variação: 12-<br />

88), respectivamente. Dos pacientes, 64 tinham lesões<br />

nativas e 6 recorrentes, incluindo quatro após cirurgia<br />

e dois após prévia dilatação com balão; 23 pacientes<br />

não tinham co-morbidade associada, enquanto 31 possuíam<br />

valva aórtica bicúspide (dois com estenoses<br />

graves que foram dilatadas com balão), quatro apresentavam<br />

canais arteriais pequenos, dois, pequenas CIVs<br />

musculares e dez, lesões mistas associadas, incluindo<br />

regurgitação aórtica ou mitral significativas após transplante<br />

cardíaco (um), troca de valva aórtica (dois) e<br />

doença arterial coronariana aguardando cirurgia de<br />

revascularização (um). Em uma paciente, o procedimento<br />

foi realizado no terceiro trimestre da gestação. Em 67<br />

pacientes, a CoA estava localizada no istmo aórtico,<br />

enquanto que em três pacientes localizava-se na porção<br />

distal do arco aórtico, proximal à origem da artéria<br />

subclávia esquerda. Em três pacientes, havia CoA longa<br />

e tubular, enquanto nos 67 restantes a lesão era focal.<br />

Em 20 pacientes, a CoA foi pré-dilatada usando<br />

balões de 3-8 mm. Os balões utilizados para liberação<br />

inicial do stent foram: BIB em 46 pacientes, Cordis em<br />

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12, Z-Med TM em 2 e outros balões nos 10 restantes. O<br />

diâmetro médio do balão utilizado foi 16,3±3,5 mm,<br />

o que corresponde a 4,1±2,9 vezes o diâmetro da<br />

lesão. Seis tipos de stent foram utilizados incluindo o<br />

Palmaz extra-grande (P 4014) em 27 pacientes, CP<br />

descoberto em 20, Gênesis em 9, CP coberto em 7,<br />

Max LD em 5 e Palmaz grande em 2. Em dois pacientes,<br />

ocorreu migração imediata do stent, um, após escorregar<br />

sobre um balão Z-Med com o mesmo comprimento<br />

do stent e outro, após tentativa de ajustar as extremidades<br />

de um stent subexpandido inicialmente. Os stents<br />

perdidos foram implantados na aorta descendente, sem<br />

efeitos adversos e seguidos de novo implante de stent.<br />

Não ocorreu ruptura de balão. Ao final, todos os pacientes<br />

tiveram stents implantados com sucesso no<br />

local de obstrução. Em 12 pacientes, todo o stent ou<br />

parte dele cavalgou a origem da artéria subclávia esquerda<br />

e, em 1, a artéria subclávia direita anômala. Em 4<br />

pacientes, anormalidades da parede aórtica, incluindo<br />

aneurismas e dissecções, foram observadas logo após<br />

o implante do stent. Em um destes quatro pacientes,<br />

ocorreu formação de aneurisma após migração do<br />

stent, necessitando de um enxerto com stent autoexpansível<br />

(Braile Biomédica, São José do Rio Preto,<br />

Brasil) para excluí-lo. Lesão da artéria femoral ou ilíaca<br />

necessitando cirurgia foi observada em dois pacientes.<br />

Nenhum paciente apresentou complicação vascular<br />

cerebral.<br />

conforme descrição anterior. Estas fraturas foram circunferenciais<br />

em três pacientes (um CP e dois Genesis),<br />

requerendo implante de stent coberto em um segundo<br />

procedimento (Figura 10). Anormalidades da parede<br />

aórtica foram observadas em seis pacientes no seguimento,<br />

dois dos quais inicialmente apresentaram linhas<br />

de dissecção que progrediram para formação de pequenos<br />

aneurismas. Dois destes seis pacientes necessitaram<br />

implante de stent coberto em um segundo procedimento<br />

devido a grandes aneurismas, que mediram<br />

O diâmetro do local da CoA aumentou de 5,4±2,9<br />

para 15,6±3,4 mm (p


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mais que 50% do diâmetro da aorta descendente ao<br />

nível do diafragma (Figura 11). Os quatro restantes<br />

foram considerados como portadores de aneurismas<br />

discretos, sendo seguidos clinicamente. Cinco destes<br />

seis pacientes possuíam possíveis marcadores de fragilidade<br />

de parede aórtica, tais como idade avançada<br />

(> 30 anos), aorta ascendente aneurismática, valva<br />

aórtica bicúspide necessitando troca por prótese metálica<br />

e gravidez. Migração tardia do stent ocorreu em dois<br />

pacientes. Em um deles, o stent (P 4014) ainda estava<br />

cobrindo o local da CoA, demonstrando apenas uma<br />

discreta migração distal, embora associada à formação<br />

de pequeno aneurisma. Não foi indicada qualquer<br />

intervenção para este paciente que tinha 25 anos de<br />

idade e aorta ascendente aneurismática e importante<br />

dilatação pós-estenótica, medindo mais de 40 mm em<br />

diâmetro. No outro paciente, o stent (Genesis 2910<br />

implantado sobre um balão de 12 mm) migrou para a<br />

aorta descendente abdominal, necessitando implante<br />

de novo stent na CoA. Este paciente tinha 11 anos de<br />

idade e o istmo media 11 mm.<br />

Nenhum paciente necessitou de intervenção cirúrgica<br />

no seguimento. Entretanto, sete pacientes necessitaram<br />

de um segundo procedimento percutâneo, incluindo<br />

redilatação do stent em três pacientes, como<br />

parte de abordagem estagiada e implante de novo<br />

stent devido a fraturas, migração ou formação de aneurismas<br />

nos seis pacientes restantes.<br />

Figura 11 - Paciente de 50 anos, previamente submetido a duas<br />

cirurgias cardíacas para troca valvar aórtica por prótese metálica<br />

devido à disfunção de valva aórtica bicúspide. Havia aneurisma da<br />

aorta ascendente e ectasia da aorta descendente. Implantou-se<br />

stent CP recoberto, com ótimo aspecto angiográfico final (painéis<br />

superiores). Em cateterismo de controle realizado após 1 ano,<br />

notou-se a formação de grande aneurisma ao redor do stent, que<br />

foi excluído com o uso da endoprótese Braile (painéis inferiores).<br />

RESULTADOS NA LITERATURA E DISCUSSÃO<br />

Os relatos de seguimento imediatos e em médio<br />

prazo do implante de stents para CoA são encorajadores.<br />

Os resultados iniciais mostraram quase ou completa<br />

resolução do gradiente de pressão na maioria dos<br />

pacientes 24,28,30,43,47,50-57 , sendo melhores que dilatação<br />

com balão isolada. No seguimento em médio prazo,<br />

o alívio do gradiente persistiu na maioria dos pacientes<br />

em todas as séries publicadas 24,28,30,43,47,50-57 . Embora<br />

em alguns estudos graus variáveis de crescimento neointimal<br />

dentro do stent tenham sido detectados na<br />

angiografia e/ou ultra-som intravascular, apenas aqueles<br />

pacientes mais jovens (especialmente crianças) parecem<br />

estar sob risco de reestenose, necessitando de<br />

reintervenção. Como o lúmen vascular é grande na<br />

aorta do adulto, uma proliferação intra-stent leve, geralmente,<br />

não resulta em obstrução significativa ao<br />

fluxo e geração de gradiente local. Por outro lado, um<br />

stent expandido de forma subótima no primeiro procedimento<br />

ou recolhimento do stent têm sido considerados<br />

causas de gradiente significativo no local de CoA<br />

no seguimento. Estes casos têm sido manejados com<br />

sucesso com expansão sucessiva do stent 54-57 . A esse<br />

respeito, a redilatação do stent tem sido relatada como<br />

necessária em até 30% dos pacientes durante o seguimento<br />

em um estudo 57 . Após o implante do stent, a<br />

hipertensão nos membros superiores melhora e há<br />

redução da necessidade de medicações. Nas séries<br />

recentemente publicadas pelos autores foi possível interromper<br />

o uso de medicações em dois terços de 21<br />

pacientes e diminuir a dose nos pacientes restantes 30 .<br />

Ledesma et al. 56 reportaram melhora no controle dos<br />

níveis tencionais em todos os pacientes da sua série,<br />

permitindo a suspensão das medicações em 30 de 53<br />

pacientes. Resultados similares foram relatados por<br />

outros investigadores, demonstrando claros benefícios<br />

no manejo da hipertensão arterial após o implante de<br />

stents para CoA 50-52,54,55,57 . Embora o teste ergométrico<br />

tenha sido utilizado em algumas séries para avaliar a<br />

hipertensão induzida por exercício, o valor desse teste<br />

foi questionado recentemente 68 . Aumento da rigidez e<br />

diminuição da reserva de relaxamento vascular nos<br />

vasos do segmento superior do corpo foram implicados<br />

na etiologia da hipertensão em repouso e durante<br />

exercício após o reparo cirúrgico 69-71 . Pacientes com<br />

grau leve de obstrução podem se beneficiar do implante<br />

de stent, diminuindo as altas pressões de enchimento<br />

ventricular e preservando as funções sistólica e diastólica<br />

do ventrículo esquerdo em longo prazo 43,44 . Neste cenário<br />

clínico, é importante lembrar que cirurgia não é<br />

geralmente considerada e a angioplastia com balão<br />

isolada tem resultados desapontadores.<br />

O procedimento é geralmente seguro, embora complicações<br />

possam ocorrer 72 . A taxa de mortalidade é<br />

provavelmente menor que 1-2%, mesmo levantando a<br />

hipótese que casos fatais não são comumente relatados.<br />

Grandes dissecções vasculares ou ruptura aórtica<br />

durante a liberação do stent são as principais causas<br />

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deste evento catastrófico 73,74 . Outras complicações<br />

podem ser subdivididas em dois grupos: técnicas e<br />

clínicas. Entre as primeiras, o posicionamento inadequado<br />

do stent durante o implante e a migração precoce<br />

ou tardia podem ocorrer em até 11% dos pacientes 57 .<br />

As principais causas são deslizamento do stent ou<br />

ruptura do balão durante o implante. Geralmente os<br />

stents perdidos são subexpandidos e migram distalmente<br />

para a aorta descendente. Enquanto o guia estiver<br />

através do stent, é possível trazê-lo gentilmente com<br />

um balão e expandi-lo numa localização segura na<br />

aorta descendente, sem qualquer efeito clínico adverso<br />

para o paciente. Entretanto, infarto do miocárdio foi<br />

observado durante tentativa prolongada de reposicionar<br />

um stent mal posicionado no arco aórtico devido à<br />

ruptura de balão em uma das séries 50 . Apesar de haver<br />

poucos dados científicos a este respeito, acredita-se<br />

que o uso do balão BIB ajude a prevenir o deslocamento<br />

do stent e seu mau posicionamento, já que a insuflação<br />

inicial do balão interno ocorre do centro para as extremidades,<br />

minimizando o fenômeno de flutuação 30 . Isto<br />

também pode diminuir as chances de ruptura do balão<br />

28,29 . A migração tardia verdadeira do stent é provavelmente<br />

rara. Os autores acreditam que os casos observados<br />

na própria experiência relatada acima possam ter<br />

ocorrido precocemente após o implante, mas só foram<br />

reconhecidos tardiamente, no seguimento por imagem.<br />

Isto enfatiza a necessidade de se obter radiografias do<br />

tórax de alta qualidade antes da alta hospitalar.<br />

Outra complicação técnica que pode ocorrer é a<br />

fratura do stent, a qual raramente é observada durante<br />

o implante ou no primeiro dia após o procedimento<br />

(Luís Carlos Simões, comunicação pessoal). A ocorrência<br />

de fraturas com o stent CP no seguimento foi recentemente<br />

bem documentada pelos autores 30,31 . Apesar de<br />

que uma fratura localizada entre duas fileiras seja provavelmente<br />

benigna, com implicações clínicas limitadas,<br />

uma fratura circunferencial (vista em alguns pacientes)<br />

pode resultar em embolização dos fragmentos e<br />

conseqüências imprevisíveis. Se a fratura ocorre após<br />

a endotelização do implante endovascular não se observa<br />

qualquer mudança na posição do stent no seguimento<br />

tardio (Figura 10). Aprimoramentos no processo<br />

de soldagem usando ouro foram empregados pelo<br />

fabricante para solucionar este problema. Fraturas longitudinais<br />

com o Palmaz grande implantado nas artérias<br />

pulmonares são raras 75 . Fraturas não foram documentadas<br />

com o Palmaz extra-grande na aorta, provavelmente<br />

porque a malha metálica deste stent é mais<br />

espessa. Como observado na experiência dos autores,<br />

as fraturas circunferenciais também podem ocorrer com<br />

o Gênesis, quando expandido a diâmetros maiores na<br />

aorta. Da mesma forma, há alguma preocupação a respeito<br />

da resistência à fadiga do stent Max LD em longo prazo.<br />

Mais pacientes e períodos mais longos de seguimento<br />

irão esclarecer estas questões. Devido ao fato de que<br />

uma fratura circunferencial associada à protrusão da<br />

estrutura do stent na parede aórtica pode, teoricamente,<br />

aumentar o risco de perfuração da parede aórtica, devese<br />

considerar a liberação de um stent coberto dentro<br />

do implante anterior 31 (Figura 10).<br />

Complicações clínicas podem envolver o local de<br />

acesso e incluem sangramento, formação de hematoma<br />

e perda de pulso, necessitando terapia medicamentosa,<br />

hemotransfusão ou cirurgia. Hemotórax agudo<br />

após a liberação de stent foi observado e é devido<br />

provavelmente ao estiramento e dissecção em colaterais<br />

maiores adjacentes ao local da CoA (William Torres,<br />

comunicação pessoal). Mesmo utilizando endopróteses<br />

cobertas, as chances de formação de aneurisma no<br />

local da CoA não foram completamente eliminadas<br />

(Figura 11) 31 . Tais aneurismas ocorrem em até 11%<br />

dos pacientes, incluindo o seguimento a curto e médio<br />

prazo 24,50,51,53,56 . Diferenças nas taxas de formação de<br />

aneurismas nas diferentes séries podem ser parcialmente<br />

explicadas pela falta de unanimidade no que diz respeito<br />

à definição desta lesão. Contudo, várias formas de<br />

anormalidades da parede aórtica podem ser encontradas<br />

após o implante de stent e são provavelmente<br />

mais comuns nos pacientes de alto risco, com marcadores<br />

de fragilidade da parede aórtica, tais como idade<br />

avançada, aorta aneurismática e valva aórtica bicúspide 31 .<br />

Na experiência já descrita acima pelos autores, a formação<br />

tardia de aneurisma também foi observada em<br />

uma paciente que realizou o procedimento durante a<br />

gravidez. Especulamos que a ação de hormônios estrogênios<br />

possa ter aumentado a fragilidade vascular na<br />

parede aórtica e propiciado o aparecimento desta lesão.<br />

Provavelmente estes pacientes de alto risco deveriam<br />

ser submetidos a implante de stent coberto no procedimento<br />

inicial, com aplicação da abordagem estagiada,<br />

seguindo a técnica descrita por Ewert et al. 33 . A história<br />

natural completa destas anormalidades é desconhecida,<br />

embora o seguimento por imagem seriado sugira<br />

estabilização ou mesmo resolução em alguns casos<br />

24,50,51,53,56 . Infelizmente, dados de imagem detalhados<br />

são freqüentemente incompletos na literatura, tornando<br />

difícil realizar conclusões precisas. Por outro<br />

lado, os pacientes que fazem exames de imagem seriados<br />

no seguimento são provavelmente aqueles que tiveram<br />

alguma forma de complicação da parede aórtica<br />

ou que tenham marcadores de fragilidade da parede<br />

aórtica. Se isto pode induzir a viéses e superestimar a<br />

prevalência de aneurismas no seguimento não se sabe.<br />

Assim sendo, ao se detectar aumento progressivo da<br />

área aneurismática em exames de imagem seriados,<br />

atingindo mais de 50% da aorta ao nível do diafragma,<br />

as alternativas terapêuticas são: ressecção cirúrgica,<br />

embolização com molas através da estrutura do stent 76<br />

e implante de stent coberto (Figura 11). Neste sentido,<br />

foi sugerido que o uso do stent coberto auto-expansível<br />

para a exclusão do aneurisma é provavelmente mais<br />

seguro que a prótese balão-expansível, evitando, assim,<br />

trauma local adicional causado pela força radial do<br />

balão, a qual poderia causar progressão do aneurisma<br />

e ruptura 31 .<br />

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Neves J, et al. Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 153-166.<br />

Ainda há pouca informação sobre a possibilidade<br />

do implante primário de stent promoveria melhores<br />

resultados que a aortoplastia em pacientes com CoA.<br />

Zabal et al. 47 observaram que o implante de stent foi<br />

superior à aortoplastia em adultos com hipoplasia do<br />

istmo aórtico ou com lesões longas e tubulares. Por<br />

outro lado, os mesmos autores observaram que as<br />

duas técnicas promovem evoluções clínicas semelhantes<br />

em pacientes com lesões localizadas e gradiente residual<br />

menor que 10 mmHg após aortoplastia com balão.<br />

Eles recomendaram que o implante de stent fique restrito<br />

apenas àqueles pacientes com anatomia de base desfavorável<br />

ou com gradiente residual após aortoplastia<br />

superior a 10 mmHg em lesões localizadas. O nosso<br />

grupo comparou a evolução do implante de stent e da<br />

aortoplastia com balão em adolescentes e adultos,<br />

com lesões não-operadas e focais. Embora os desfechos<br />

clínicos tenham sido satisfatórios e similares com as<br />

duas técnicas, o implante de stent apresentou melhores<br />

resultados no que diz respeito a alívio da estenose e<br />

minimização do risco imediato de anormalidades na<br />

parede aórtica 30 . Adicionalmente, o implante de stent<br />

foi associado a resultados mais previsíveis e uniformes,<br />

o que pode possuir implicações importantes nesta<br />

população específica. Embora gradientes residuais menores<br />

que 20 mmHg tenham sido considerados satisfatórios<br />

para os pacientes tratados de CoA, não há<br />

dados contundentes demonstrando que a redução do<br />

gradiente abaixo de um limite pré-definido confere<br />

benefícios sustentados 77 . Especula-se que mesmo estenoses<br />

residuais leves associadas a gradientes baixos<br />

podem aumentar o risco de eventos cardiovasculares,<br />

tais como hipertensão persistente, acidente vascular<br />

cerebral, doença arterial coronariana precoce e implicações<br />

negativas na função ventricular 43,77 . A esse respeito,<br />

aumento da massa ventricular com hipertrofia e<br />

alterações das funções sistólica e diastólica têm sido<br />

documentados em pacientes operados de CoA com<br />

gradiente residual baixos 78-82 . Na visão dos autores, os<br />

pacientes mais velhos com CoA não-tratada representam<br />

um subgrupo particular sob risco de desenvolver<br />

tais complicações. É neste contexto que deve ser enfatizada<br />

a abolição do gradiente observado após implante<br />

de stent. Em outras palavras, os autores acreditam que<br />

é de suma importância promover os melhores resultados<br />

em termos de alívio de gradiente nestes pacientes,<br />

ou seja, implante de stent.<br />

Não se sabe se pacientes com mais de 30-40<br />

anos, com sinais de doença aórtica (relacionada à<br />

CoA propriamente dita, aterosclerose associada ou envelhecimento)<br />

podem se beneficiar da cirurgia ao invés<br />

do implante de stent, devido ao aumento teórico do<br />

risco de complicações da parede aórtica. Embora os<br />

stents cobertos sejam úteis no manejo de alguns destes<br />

pacientes, refinamentos na técnica de liberação (possivelmente<br />

dilatação estagiada) e/ou no desenho dos<br />

stent ainda são necessários para eliminar este risco 31 .<br />

Maior número de pacientes e seguimento mais longo<br />

são necessários para obtenção de conclusões mais<br />

fortes neste cenário clínico.<br />

Também é desconhecida a conseqüência em longo<br />

prazo da exposição do ventrículo esquerdo, artérias<br />

coronárias e arco aórtico a um aumento da impedância<br />

secundário à reduzida elasticidade no segmento com<br />

stent. Apesar desta consideração teórica, documentouse<br />

preservação da complacência aórtica em modelos<br />

animais após o implante de stent 83 .<br />

Finalmente, um grande esforço deve ser empregado,<br />

visando à realização de estudo clínico multicêntrico,<br />

prospectivo e (preferencialmente) randomizado, incluindo<br />

os braços da cirurgia e da aortoplastia, para definir<br />

a melhor forma de tratamento para CoA em pacientes<br />

acima de 8 anos de idade. A esse respeito, o Congenital<br />

Cardiovascular Interventional Study Consortium liderado<br />

pelo Dr. Thomas Forbes, do Children’s Hospital<br />

de Detroit, tem coletado dados de várias instituições<br />

nos EUA, Europa e América Latina para responder a<br />

esta questão 59,72 .<br />

CONCLUSÕES<br />

O implante de stent para CoA nativa ou póscirúrgica<br />

é hoje aceito como alternativa para o tratamento<br />

cirúrgico ou aortoplastia com balão em adolescentes<br />

e adultos. É uma técnica segura e eficaz, associada<br />

a bons resultados a curto e médio prazo e baixa incidência<br />

de complicações. A taxa de reestenose e talvez<br />

de formação de aneurismas é mais baixa quando comparada<br />

à aortoplastia com balão isolada. O implante<br />

de stent em crianças maiores (7-10 anos) é possível,<br />

embora os riscos de lesão vascular e da necessidade<br />

de dilatações subseqüentes precisem ser avaliados de<br />

forma individualizada em cada instituição.<br />

Baseados nas evidências disponíveis, os autores<br />

recomendam que o implante rotineiro de stent para<br />

CoA nativa ou pós-cirúrgica deva ser limitado a crianças<br />

mais velhas (> 7-8 anos), adolescentes e adultos.<br />

Em crianças pequenas, a aortoplastia com balão continua<br />

a ser uma terapêutica alternativa segura e eficaz<br />

à cirurgia, exceto para aquelas que se apresentam<br />

precocemente (< 6-12 meses de vida) e/ou com anatomia<br />

desfavorável. Mais estudos com metodologia adequada<br />

são necessários para esclarecer se o implante<br />

de stent é definitivamente superior à cirurgia e à aortoplastia<br />

com balão, nas diferentes faixas etárias.<br />

PERSPECTIVAS FUTURAS<br />

Com a miniaturização dos dispositivos e o advento<br />

dos stents biodegradáveis, as limitações atuais do uso<br />

destas próteses intravasculares em crianças pequenas<br />

podem desaparecer em um futuro próximo. Ajustes no<br />

desenho dos stents e nas técnicas de implante devem<br />

melhorar a evolução em longo prazo, especialmente<br />

nos pacientes com marcadores de fragilidade da parede<br />

aórtica.<br />

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Neves J, et al. Uso de Stents no Tratamento da Coarctação da Aorta. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 153-166.<br />

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Simões LC, et al. Uso de Stents no Neonato com Cardiopatia Congênita. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 167-175.<br />

Uso de Stents no Neonato com<br />

Cardiopatia Congênita<br />

Artigo de Revisão<br />

Luiz Carlos Simões 1 , Flávio Neves 1 , José Geraldo Ataíde 1 , Francisco Alvin L. Lopes 1 ,<br />

Paulo Sérgio Oliveira 1<br />

RESUMO<br />

A manutenção da patência ductal, nos neonatos com cardiopatias<br />

congênitas ducto-dependentes, é essencial até que<br />

uma cirurgia corretiva ou paliativa seja realizada. Nos<br />

últimos anos, foram descritas muitas técnicas para manter<br />

a patência ductal de forma não cirúrgica. Uma destas<br />

técnicas descritas é estabilizar o ducto com a aplicação de<br />

stents intravasculares. Os stents poderiam ser utilizados<br />

tanto para estabilizar o ducto nas cardiopatias com circulação<br />

sistêmica ducto-dependente como na hipoplasia do coração<br />

esquerdo ou para manter o fluxo pulmonar em lesões obstrutivas<br />

ao fluxo pulmonar. Os stents auto-expansíveis teriam<br />

maior aplicação na estabilização do ducto em casos como<br />

na hipoplasia do coração esquerdo, enquanto os stents<br />

expansíveis com balão seriam mais indicados nos casos<br />

com fluxo pulmonar ducto-dependente.<br />

DESCRITORES: Cardiopatias congênitas. Persistência do<br />

conduto arterioso. Contenedores. Cateterismo cardíaco.<br />

SUMMARY<br />

The Use of Stents in Neonates with Congenital<br />

Cardiopathy<br />

The arterial ductal patency in neonates with ductal dependent<br />

congenital heart disease is essential until corrective or<br />

palliative surgery can be undertaken. Recently numerous<br />

non-surgical attempts have been described to preserve<br />

arterial duct patency. One such technique was to preserve<br />

arterial ductal patency with intravascular stents. The use of<br />

stents may serve to provide systemic blood flow, as in the<br />

case of hypoplastic left heart syndrome (HLHS) or pulmonary<br />

blood flow as in the case of obstructive right sided lesions.<br />

Self expandable stents are used for the stabilization of<br />

arterial ductus in HLHS, while balloon expandable stents<br />

are more suitable for ductal patency in patients with ductal<br />

dependent pulmonary flow.<br />

DESCRIPTORS: Heart defects, congenital. Ductus arteriosus,<br />

patent. Stents. Heart catheterization.<br />

Nos neonatos com circulação sistêmica ou pulmonar<br />

ducto–dependente, o tratamento convencional<br />

paliativo inicial consiste na infusão de<br />

prostaglandina E1(PgE1) 1 . Quando o fluxo pulmonar é<br />

ducto-dependente, a criação cirúrgica de um shunt<br />

sistêmico-pulmonar (ducto artificial) é convencional,<br />

sempre que a cirurgia corretiva não seja possível. As<br />

complicações relacionadas à criação cirúrgica de um<br />

shunt sistêmico-pulmonar incluem: quilotórax, paralisia<br />

frênica ou do vago, oclusão imediata ou tardia do<br />

shunt e estenose, oclusão, ou crescimento não uniforme<br />

das artérias pulmonares.<br />

As aderências torácicas conseqüentes à operação<br />

1<br />

Serviço de Cardiologia da Criança e do Adolescente. Instituto<br />

Nacional de Cardiologia de Laranjeiras RJ MS.<br />

Correspondência: Dr. Luiz Carlos N. Simões. Serviço de Cardiologia<br />

da Criança e do Adolescente. Instituto Nacional de Cardiologia de<br />

Laranjeiras. Rua das Laranjeiras, 374 - 4º andar - Rio de Janeiro<br />

- RJ • e-mail: lucasim@ism.com.br<br />

Recebido em: 31/01/2006 • Aceito em: 24/02/2006<br />

também podem trazer maiores dificuldades às cirurgias<br />

subseqüentes 2 .<br />

Quando a circulação sistêmica é ducto-dependente,<br />

após se estabilizar o ducto com a infusão de PgE1, a<br />

cirurgia para correção biventricular, univentricular ou<br />

transplante cardíaco é decidida por características anatômicas<br />

e por políticas institucionais. Caso se tenha a<br />

opção para o transplante cardíaco, o intervalo de tempo<br />

até o transplante pode demorar meses.<br />

Quando a opção é a correção univentricular (cirurgia<br />

de Norwood), devemos considerar que os resultados<br />

imediatos não são uniformes na literatura.<br />

Atualmente, muitas lesões vasculares são tratadas<br />

percutaneamente e técnicas endovasculares são utilizadas<br />

rotineiramente neste cenário 3,4 .<br />

Estabilizar o ducto arterioso por meio da aplicação<br />

endovascular de stents poderia, então, se tornar uma<br />

opção terapêutica como em outras lesões cardiovasculares<br />

congênitas que atualmente são tratadas por<br />

técnicas hemodinâmicas.<br />

167


Simões LC, et al. Uso de Stents no Neonato com Cardiopatia Congênita. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 167-175.<br />

Em 1991, Moore et al. 5 e Coe et al. 6 publicaram<br />

os primeiros trabalhos experimentais com o uso de<br />

stents intravasculares para manutenção do ducto arterioso<br />

em animais, mas até hoje sua aplicação em substituição<br />

às técnicas cirúrgicas convencionais existentes<br />

continua em debate, em parte devido aos bons resultados<br />

cirúrgicos com as técnicas utilizadas, principalmente<br />

nas cardiopatias com fluxo pulmonar dependente do<br />

ducto arterioso e, por outro lado, pelos resultados<br />

iniciais pouco animadores com a aplicação de stents<br />

no ducto arterioso 7-9 .<br />

Assim sendo, as dificuldades técnicas apresentadas<br />

nas primeiras séries publicadas, somadas a uma<br />

evolução totalmente não previsível da neo-íntima dentro<br />

do stent (excessivo crescimento intimal), mesmo nos<br />

casos de sucesso inicial do implante do stent, fez com<br />

que vários investigadores fossem críticos de sua aplicação<br />

em neonatos com cardiopatias dependentes do<br />

ducto arterioso.<br />

As tentativas iniciais para aplicação de stents no<br />

ducto arterioso utilizaram uma geração de stents rígidos,<br />

não revestidos e relativamente volumosos, bem como<br />

guias, balões e bainhas excessivamente rígidos, que<br />

resultavam, com freqüência, em complicações como<br />

piora hemodinâmica, cianose, sangramento, ruptura<br />

de vasos, espasmo ductal, prolapso do tecido ductal<br />

ou mesmo trombose aguda. Adicionalmente, uma incompleta<br />

cobertura do ducto, freqüentemente, resultava<br />

em sua constrição, com inadequado fluxo pulmonar<br />

dentro de horas ou dias após o implante do stent.<br />

Lições a partir destes problemas levaram à especulação<br />

de que a cobertura de todo o comprimento do<br />

ducto arterioso com os modernos stents de baixo perfil,<br />

flexíveis e pré-montados com estrutura de células pequenas,<br />

poderia evitar parte destes problemas.<br />

Entretanto, não existem, até o momento, stents<br />

aprovados para o uso clínico ou em investigação que<br />

sejam manufaturados especificamente para aplicação<br />

na população pediátrica com má formações cardiovasculares<br />

congênitas. Assim, o emprego de stents autoexpansíveis<br />

ou expansíveis com balão, no tratamento<br />

da maioria das lesões congênitas cardiovasculares ou<br />

em seqüelas de seu tratamento inicial (cirúrgico ou<br />

hemodinâmico intervencionista), representa uma adaptação<br />

à finalidade para qual estes foram desenvolvidos.<br />

Na busca de justificativas para as falhas do procedimento<br />

de estabilização ductal com stents, muitos<br />

investigadores revisaram a anatomia e fisiologia ductal<br />

como estrutura única e suas diferentes características<br />

anatômicas, histológicas e fisiológicas em relação às<br />

demais estruturas vasculares existentes às quais se aplicam<br />

rotineiramente os stents.<br />

A aplicação de stents sobre ao ducto arterioso<br />

teria, assim, diferentes mecanismos de resposta e com<br />

referenciais distintos das demais lesões vasculares para<br />

as quais estes foram manufaturados.<br />

O ducto arterioso é único quando comparado a<br />

outras estruturas vasculares.<br />

Embora a média dos grandes vasos seja composta<br />

basicamente de tecido elástico, a do ducto arterioso é<br />

composta principalmente de fibras musculares. Na<br />

camada média do ducto arterioso, as fibras musculares<br />

se dispõem de forma espiral, cilíndrica e em direções<br />

opostas, circundando-o por completo. A íntima é mais<br />

espessa que nas artérias contíguas (aorta e pulmonar)<br />

e consiste primariamente de uma camada endotelial e<br />

tecido conectivo frouxo. O comportamento a estímulos<br />

das células da parede ductal é também peculiar, não<br />

tendo semelhança com nenhum outro vaso. A reatividade<br />

e o fechamento anatômico do ducto requerem<br />

que células endoteliais luminais fixas e células musculares<br />

lisas migrem e formem coxins na íntima, os quais<br />

eventualmente coalescem e ocluem o vaso. Este processo<br />

migratório requer a presença de receptores múltiplos<br />

– integrinas. No período pré-natal, as células endoteliais<br />

e musculares perdem muitos destes receptores. Entretanto,<br />

ambos os tipos celulares mudam seu fenótipo<br />

no período neonatal imediato e passam a se expressar<br />

com repertório completo de integrinas, o que facilita<br />

o remodelamento fisiológico. Assim, o remodelamento<br />

vascular do ducto é provavelmente diferente do observado<br />

em artérias e veias próximas que sejam submetidas<br />

a uma injúria traumática. Por outro lado, a resposta<br />

à injúria pode ser diferente nas doenças com fluxo<br />

sistêmico-dependente em relação às com fluxo pulmonar<br />

dependente do ducto arterioso.<br />

Nos neonatos, entre as características do stent<br />

ideal devemos incluir um sistema de liberação de muito<br />

baixo perfil, excelente flexibilidade (antes e após sua<br />

liberação), mínimo encurtamento (3%) e uma variedade<br />

de dimensões e comprimentos para que possa ser<br />

aplicado com sucesso na área selecionada, além das<br />

características já clássicas de um stent ideal.<br />

Constituem-se em características ideais conhecidas<br />

para um stent:<br />

1. Ter compatibilidade biológica (ser pouco trombogênico<br />

e com escasso ou nenhum crescimento<br />

intimal);<br />

2. Ser visível à radioscopia;<br />

3. Ter baixo perfil (bordas suaves e pouco traumáticas);<br />

4. Ter grande força radial;<br />

5. Ser construído com células amplas (não ideal<br />

para a aplicação no ducto arterioso);<br />

6. Ser resistência à fadiga e à corrosão;<br />

7. Possibilitar nova dilatação (para adaptar-se ao<br />

crescimento do vaso).<br />

A experiência recente com a aplicação de stents<br />

em neonatos resume-se, em sua quase totalidade, ao<br />

168


Simões LC, et al. Uso de Stents no Neonato com Cardiopatia Congênita. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 167-175.<br />

uso dos expansíveis com balão desenhados para tratamento<br />

da doença arterial coronária e, recentemente,<br />

ao uso dos auto-expansíveis utilizados para tratamento<br />

de vasos de calibre médio como artérias renais, abandonando<br />

as técnicas iniciais de stents montados em<br />

balões.<br />

SELEÇÃO DOS PACIENTES<br />

A utilização de stents em neonatos com cardiopatias<br />

congênitas tem duas indicações principais:<br />

1. Manter o fluxo sangüíneo sistêmico em cardiopatias<br />

com fluxo sistêmico ducto-dependente:<br />

síndrome de hipoplasia do coração esquerdo,<br />

cardiopatias complexas com atresia ou hipoplasia<br />

importante da aorta ascendente;<br />

2. Manter o fluxo sangüíneo pulmonar em casos<br />

de obstrução importante ou total ao fluxo pulmonar<br />

em cardiopatias como a atresia pulmonar<br />

com septo íntegro, atresia tricúspide, formas complexas<br />

de atresia pulmonar com comunicação<br />

interventricular.<br />

Mais recentemente, os stents têm sido utilizados<br />

em outras situações no neonato com cardiopatias congênitas,<br />

além de sua aplicação no ducto arterioso, com<br />

a finalidade principal de ser um “procedimento ponte”<br />

para uma cirurgia em melhores condições clínicas.<br />

1. Ampliar a região infundíbulo-valvar, em casos<br />

complexos de tetralogia de Fallot, com importante<br />

hipoplasia do infundíbulo e anel;<br />

2. Desobstrução de vasos com compressão extrínseca,<br />

como em casos de drenagem anômala<br />

total mista das veias pulmonares supracardíaca<br />

obstrutiva;<br />

3. Obstrução aguda na anastomose sistêmica pulmonar<br />

por estenose entre a artéria subclávia e o<br />

tubo sintético implantado entre o vaso sistêmico<br />

e a artéria pulmonar.<br />

ducto é por demais tortuoso, enquanto a anatomia<br />

usualmente vista em pacientes com hipoplasia do coração<br />

esquerdo tende a ser, em origem e morfologia,<br />

muito similar ao ducto arterioso normal (Figura 1).<br />

Em algumas doenças, somente é possível acessar<br />

o ducto arterioso por uma via arterial e, nestas ocasiões,<br />

freqüentemente, ocorrem complicações vasculares como<br />

a trombose do vaso e sangramento excessivo. Nosso<br />

protocolo inclui, por essa razão, somente os casos em<br />

que o ducto possa ser acessado por via venosa (atresia<br />

pulmonar com comunicação interventricular, conexão<br />

atrioventricular univentricular ou em casos de atresia<br />

pulmonar com septo íntegro após a perfuração valvar<br />

com radiofreqüência).<br />

Assim sendo, implante do stent no ducto arterioso<br />

é proposto como uma alternativa não cirúrgica, oferecendo<br />

a potencial vantagem de eliminar as cirurgias<br />

complexas no período neonatal imediato 10-16 .<br />

O ecocardiograma é realizado para confirmar o<br />

diagnóstico do defeito cardíaco de base e para definir<br />

a permeabilidade do ducto e morfologia do mesmo.<br />

No momento do cateterismo, a angiografia é realizada<br />

em todos os pacientes para demonstrar a morfologia<br />

ductal de forma mais precisa.<br />

A anatomia do ducto arterioso angiográfica pode ser<br />

definida pela aortografia por oclusão, usando um cateter-balão<br />

angiográfico, ou por angiogramas seletivos diretamente<br />

próximo ao ducto utilizando cateteres 4F (cobra,<br />

Judkins direito ou cateteres Amplatzer modificados).<br />

Em pacientes nos quais o ducto é tortuoso, posições<br />

angiográficas com sitting up com inclinação crâniocaudal<br />

ou laid back view (tubo de raios-X frontal angulado<br />

caudalmente) são utilizadas com angulações individuais<br />

para delinear o ducto arterioso sem superposição entre<br />

ele e os grandes vasos (Figura 2).<br />

1. PACIENTES COM CIRCULAÇÃO PULMONAR<br />

DUCTO-DEPENDENTE<br />

Em nossa instituição, o protocolo para aplicação<br />

do stent no ducto arterioso de neonatos com cardiopatias<br />

e fluxo pulmonar ducto-dependente inclui os pacientes<br />

nos quais o tratamento cirúrgico foi considerado mais<br />

complexo e de maior risco com a anastomose sistêmicopulmonar<br />

cirúrgica convencional.<br />

Acreditamos que a colocação de stents em neonatos<br />

com cardiopatias com fluxo pulmonar ducto-dependente<br />

é mais difícil que nos doentes com cardiopatias sistêmicas<br />

ducto-dependentes; já que em neonatos com fluxo<br />

pulmonar ducto-dependente este difere substancialmente<br />

em sua origem aórtica, em sua morfologia e no local<br />

do implantação nas artérias pulmonares, quando comparado<br />

ao ducto arterioso normal. Com freqüência, o<br />

A B C<br />

Figura 1 - Diferentes origens e morfologias do ducto arterioso. A:<br />

O ducto arterioso origina-se da aorta descendente torácica e tem<br />

sua morfologia muito semelhante ao ducto normal. B e C: A origem<br />

do ducto desloca-se em direção ao arco aórtico, modificando seu<br />

ângulo normal com a aorta e ficando mais perpendicular. Freqüentemente<br />

é tortuoso e mais longo que o ducto da figura 1A. Modificado de<br />

Schneider et al. 10 .<br />

169


Simões LC, et al. Uso de Stents no Neonato com Cardiopatia Congênita. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 167-175.<br />

estenose residual devido a um incompleto stenting do<br />

ducto arterioso.<br />

Em caso de estenose residual, um stent adicional<br />

é implantado com a finalidade de cobrir-se totalmente<br />

o ducto. Protusão do stent para dentro da aorta ou da<br />

artéria pulmonar é avaliada pelo aortograma final. Após<br />

o implante do stent, a infusão de heparina é continuada<br />

(10 U/kg/h, para as primeiras 48 horas e 5 U/kg/h,<br />

nos próximos dois dias).<br />

No seguimento, os pacientes recebem drogas antiplaquetárias,<br />

administradas oralmente (2-3 mg/kg dia<br />

de ácido acetilsalicílico).<br />

Figura 2 - Angiografia com tubo de raios-X frontal angulado caudalmente,<br />

demonstrando a anatomia do ducto arterioso em paciente com<br />

atresia pulmonar em cardiopatia complexa. Observa-se a tortuosidade<br />

do ducto arterioso e seu implante na origem das artérias pulmonares<br />

direita e esquerda, aspectos que dificultam o implante do stent.<br />

Com o uso da angiografia e de calibradores digitais,<br />

a anatomia, as medidas do maior comprimento e<br />

o mínimo diâmetro do ducto arterioso são obtidos<br />

com êxito.<br />

Como afirmado anteriormente, o implante do stent<br />

no ducto arterioso necessita de várias abordagens devido<br />

a sua origem e morfologia variáveis, como também<br />

da anatomia da cardiopatia congênita base.<br />

Nos pacientes em que a colocação do stent se faz<br />

por via femoral e através do trato de saída do ventrículo<br />

direito, ela deve ser feita preferencialmente como um<br />

procedimento adicional, alguns dias após o procedimento<br />

inicial de perfuração e valvoplastia pulmonar com<br />

balão. Como a indicação de estabilizarmos o ducto<br />

arterioso se faz pela presença de hipóxia, por morfologia<br />

ventricular desfavorável para manter um débito pulmonar<br />

adequado, estes neonatos se encontram em infusão<br />

de PgE1.<br />

Assim, após entrarmos na artéria pulmonar com<br />

um cateter de furo terminal, uma guia 0,014 é posicionada<br />

na aorta descendente via ducto arterioso e, sobre<br />

a guia, um cateter-guia é posicionado próximo ao<br />

extremo pulmonar do ducto arterioso. Em seguida, o<br />

stent é avançado para dentro do ducto arterioso. O<br />

stent deve recobrir todo o comprimento ductal, principalmente<br />

o extremo pulmonar, local freqüente de estenose<br />

residual por constrição do tecido ductal após a<br />

suspensão da PgE1.<br />

Ao final do procedimento, repete-se a angiografia<br />

em todos os pacientes, para confirmar a posição do<br />

stent e se excluir a possibilidade de existência de<br />

O segundo grupo de pacientes inclui os casos<br />

complexos de atresia pulmonar, como anteriormente<br />

definimos em nosso protocolo. Após sondarmos a<br />

aorta ascendente via ventrículo (atresia pulmonar com<br />

comunicação interventricular ou conexão atrioventricular<br />

univentricular) e definirmos a anatomia ductal e<br />

das artérias pulmonares, o ducto é sondado utilizando<br />

um cateter 4F (cobra, Judkins direito ou Pig Tail cortado,<br />

dependendo da angulação formada do ducto arterioso<br />

em sua origem arterial sistêmica). Com uma guia<br />

0,014, sondamos a artéria pulmonar evitando uma<br />

excessiva manipulação e trauma da região ductal, o<br />

que poderia causar possível espasmo ductal.<br />

Em seguida e sobre a guia 0,014, um cateter-guia<br />

5F Judkins direito é posicionado na aorta, próximo à<br />

origem do ducto, quando, então, realizamos o implante<br />

do stent já definido previamente pela morfologia e<br />

dimensões ductais. Após o implante e antes da retirada<br />

do cateter-guia, nova aortografia é realizada, avaliando<br />

o correto posicionamento do stent e a necessidade<br />

de um segundo stent para cobrir-se totalmente o tecido<br />

ductal (Figura 3).<br />

Em recém-nascidos com peso corporal entre 1500<br />

e 2000g, com artérias pulmonares pequenas e quociente<br />

de McGoon menor que 1-5, a cirurgia para a anastomose<br />

sistêmico-pulmonar apresenta, com freqüência, dificuldades<br />

técnicas em sua execução 17 .<br />

Apesar de não termos experiência neste grupo<br />

especial de recém-nascidos com implante do stent<br />

ductal, esta técnica pode ser uma atrativa alternativa<br />

para a cirurgia de shunt sistêmico-pulmonar.<br />

A proliferação da íntima, até o momento pouco<br />

previsível e controlável, poderá reduzir o fluxo pulmonar,<br />

necessitando a redilatação do stent, com adicional<br />

exposição à radiação, para se manter o paciente em<br />

condições ótimas 18 . A experiência animal é limitada,<br />

mas indica que a proliferação neointimal intensa ocorre<br />

dentro de 14 meses após o implante.<br />

O aumento da cianose poderá ser uma indicação<br />

para novo cateterismo com vistas à redilatação. Entretanto,<br />

no momento, a literatura orienta repetir o cateterismo<br />

três a seis meses após o implante do stent<br />

170


Simões LC, et al. Uso de Stents no Neonato com Cardiopatia Congênita. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 167-175.<br />

A B C<br />

D E F<br />

Figura 3 - Estudo angiográfico de paciente com atresia pulmonar e comunicação interventricular, ducto arterioso bilateral nutrindo as artérias<br />

pulmonares hilares e ausência das artérias pulmonares intrapericárdicas. Os ductos direito e esquerdo foram estabilizados com stents expandidos<br />

com balão e a aorta sondada desde o ventrículo direito.<br />

como rotina, para evitar uma indesejável oclusão completa<br />

do stent.<br />

2. PACIENTES COM CIRCULAÇÃO SISTÊMICA<br />

DUCTO-DEPENDENTE<br />

Os recém-nascidos com cardiopatias congênitas e<br />

circulação sistêmica ducto-dependente também recebem<br />

a infusão de PgE1 para manter a permeabilidade<br />

ductal. Em alguns pacientes, particularmente na presença<br />

de choque cardiogênico, este tratamento farmacológico<br />

poderá ser inefetivo e a permeabilidade ductal<br />

só poderá ser conseguida pelo implante do stent no<br />

ducto arterioso 19 .<br />

O prognóstico limitado dos pacientes com síndrome<br />

de hipoplasia do coração esquerdo (SHCE) é causado,<br />

até agora, pela alta mortalidade durante a fase I do<br />

procedimento de Norwood.<br />

Adicionalmente, um significativo número de pacientes<br />

morre no período entre a primeira e segunda fases<br />

do procedimento 20 .<br />

Os pacientes com SHCE também têm mortalidade<br />

alta enquanto aguardam o transplante cardíaco e podem<br />

também serem excluídos da lista de espera para o<br />

transplante devido à alta resistência pulmonar, muitas<br />

vezes fixa após o sexto mês de vida.<br />

Recentemente, relatos com aplicação de stent no<br />

ducto arterioso em pacientes com SHCE demonstraram<br />

a aplicabilidade desta técnica em cardiopatias complexas<br />

com a circulação sistêmica ducto-dependente 21 .<br />

O stent do ducto pode ser combinado com a<br />

bandagem das artérias pulmonares e uma septectomia<br />

atrial, se necessária. Esta paliação da SHCE foi descrita<br />

pela primeira vez por Gibbs et al. 11 e, sendo uma<br />

proposta tecnicamente factível, oferece uma opção para<br />

paliar efetivamente o paciente com SHCE. Entretanto,<br />

aflorou a questão se esta é uma razoável alternativa<br />

para estes pacientes. A morfologia ductal nas cardiopatias<br />

com circulação ducto-dependente é muito semelhante<br />

à morfologia ductal normal. Com freqüência, o<br />

diferencial são as dimensões do ducto, que tem um<br />

tamanho, geralmente, duas vezes maior que o ducto<br />

arterioso nas cardiopatias pulmonares ducto-dependentes.<br />

O stent selecionado deve ter, então, dimensões<br />

bem maiores que os stents coronários normalmente<br />

utilizados. Os melhores stents, em nossa experiência,<br />

para este grupo de pacientes, são os auto-expansíveis.<br />

171


Simões LC, et al. Uso de Stents no Neonato com Cardiopatia Congênita. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 167-175.<br />

São stents de tamanho médio de 8 mm e com comprimento<br />

entre 1,5 e 2,0 cm. Para evitar o deslocamento<br />

em direção à aorta descendente, por não existir<br />

um local de constrição que possa mantê-los fixos,<br />

sempre optamos por cobrir, além de todo o ducto<br />

arterioso, as regiões da artéria pulmonar e aorta próximas<br />

ao ducto arterioso.<br />

A definição ductal é obtida com aortografia em<br />

projeção oblíqua ou perfil esquerdo e as dimensões<br />

do ducto são mensuradas. Uma guia é posicionada na<br />

aorta descendente via ducto arterioso e o stent recobrindo<br />

todo o ducto arterioso é posicionado (Figura<br />

4). O mínimo de contraste deve ser utilizado para<br />

evitar-se o comprometimento da já pobre perfusão<br />

coronária com contraste.<br />

A heparina, nas doses já descritas como rotina<br />

para o implante de stents em cardiopatias com circulação<br />

pulmonar ducto-dependente, é iniciada e, em<br />

48 horas, a bandagem eletiva da artéria pulmonar é<br />

realizada 22,23 . Após a cirurgia, inicia-se a rotina com<br />

drogas antiplaquetárias.<br />

3. APLICAÇÃO DE STENTS EM NEONATOS<br />

COM CARDIOPATIAS CONGÊNITAS QUE NÃO<br />

NO DUCTO ARTERIOSO<br />

Este constitui um grupo pouco uniforme de pacientes.<br />

Algumas indicações decorreram da gravidade<br />

apresentada pelo paciente com choque cardiogênico,<br />

distúrbios metabólicos ou hematológicos que tornavam<br />

de alto risco a indicação de um procedimento<br />

cirúrgico. Uma outra indicação foi o implante em via<br />

de saída do ventrículo direito, em forma complexa de<br />

tetralogia de Fallot (uma forma complexa de tetralogia<br />

de Fallot com desconexão da artéria pulmonar esquerda<br />

da artéria pulmonar principal). O ramo esquerdo<br />

era nutrido por um grande vaso (Colateral? Ducto<br />

arterioso?) e as artérias pulmonar principal e direita se<br />

originavam do ventrículo direito que apresentava importante<br />

hipoplasia infundíbulo valvar pulmonar (Figura<br />

5). As artérias pulmonares principal e direita mediam<br />

15 mm. Foi implantado um stent na via de saída do<br />

ventrículo direito e os controles posteriores demonstraram<br />

crescimento da artéria pulmonar principal e<br />

direita. Em um segundo tempo, alguns meses após, a<br />

A B C<br />

D E F<br />

Figura 4 - Paciente com hipoplasia mitro-aórtica. A: Aortografia com oclusão em projeção oblíqua esquerda. Observa-se o amplo ducto arterioso<br />

e a importante hipoplasia da aorta ascendente, transversa e ístmica. B, C, D e E: Após posicionarmos um guia de troca em aorta descendente<br />

torácica, o stent auto-expansível foi posicionado e liberado cobrindo todo o ducto arterioso. F: O stent cobre todo o ducto arterioso, estando<br />

bem adaptado à região aórtica, que se continua ao mesmo.<br />

172


Simões LC, et al. Uso de Stents no Neonato com Cardiopatia Congênita. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 167-175.<br />

A B C<br />

D<br />

Figura 5 - Tetralogia de Fallot neonatal. A: Ventriculografia direita demonstrando a grave estenose infundíbulo valvar pulmonar, com importante<br />

hipoplasia da artéria pulmonar principal. B, C: Seqüência demonstrando o implante do stent no infundíbulo e valva pulmonar. D: Ventriculografia<br />

com o melhor fluxo anterógrado para a artéria pulmonar direita conseguido com o implante do stent. A artéria pulmonar esquerda é nutrida<br />

por amplo ducto arterioso. E: Reestudo dois meses após o implante, onde se observa desenvolvimento da artéria pulmonar direita, o que permitiu<br />

a unifocalização com a artéria pulmonar esquerda.<br />

E<br />

árvore pulmonar foi unifocalizada com realização de<br />

uma anastomose sistêmico-pulmonar para o pulmão<br />

direito e ligadura cirúrgica do vaso que nutria a artéria<br />

pulmonar esquerda.<br />

As estenoses que ocorrem no pós-operatório imediato<br />

das anastomoses sistêmico-pulmonares também<br />

podem ser tratadas com aplicação de stents, evitando<br />

a necessidade de um novo procedimento cirúrgico<br />

(Figura 6).<br />

CONCLUSÕES<br />

Nossa experiência inicial sugere que o implante<br />

de stents em neonatos com cardiopatias congênitas<br />

pode ser considerado uma alternativa a técnicas cirúrgicas<br />

convencionais ou um “procedimento ponte” para<br />

uma cirurgia paliativa ou corretiva em melhores condições<br />

hemodinâmicas e metabólicas.<br />

O implante de stent em um grupo selecionado de<br />

pacientes não tem o risco de complicações importantes<br />

e a distorção das estruturas e dos vasos próximos<br />

ao qual é aplicado normalmente não é observada.<br />

Estes últimos aspectos contrastam com a experiência<br />

dos shunts cirúrgicos.<br />

O tempo da cirurgia definitiva pode ser otimizado<br />

como na paliação cirúrgica.<br />

Na cirurgia definitiva, a ligadura do stent não tem<br />

apresentado problemas específicos, mas sua retirada e<br />

necessidade de reconstrução do vaso nos casos de<br />

SHCE têm sido relatadas como um procedimento longo<br />

e tecnicamente difícil.<br />

Desenvolvimentos futuros na tecnologia dos stents,<br />

por exemplo, stents mais flexíveis, podem aumentar o<br />

espectro das opções paliativas para aumento do fluxo<br />

pulmonar em circulações pulmonares ducto-dependentes,<br />

principalmente em ductos muito tortuosos.<br />

Entretanto, uma experiência maior com esta tecnologia<br />

é necessária antes de estabelecer-se como paliação<br />

nos defeitos cardíacos congênitos ou mesmo como “procedimento<br />

ponte” para cirurgias definitivas ou paliativas.<br />

173


Simões LC, et al. Uso de Stents no Neonato com Cardiopatia Congênita. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 167-175.<br />

A B C<br />

D E F<br />

Figura 6 - Neonato com atresia pulmonar e comunicação interventricular evoluindo com hipoxemia após a realização de anastomose sistêmicopulmonar.<br />

A: Observa-se a estenose na artéria subclávia direita no local do implante da anastomose sistêmico-pulmonar (seta). B, C, D e E:<br />

Seqüência demonstrando o implante de stent. F: Após implante, observa-se desaparecimento da estenose entre a artéria subclávia direita e<br />

o tubo de PTFE.<br />

Apesar das grandes melhorias com a operação de<br />

Norwood e suas modificações, assim como os avanços<br />

no manejo dos cuidados intensivos, os pacientes<br />

com SHCE permanecem com risco significativo de mortalidade<br />

cirúrgica e não cirúrgica, enquanto esperam<br />

as fases adicionais do estadiamento do procedimento<br />

de Norwood.<br />

Nos pacientes com SHCE, o implante de stents e<br />

subseqüente bandagem bilateral das artérias pulmonares<br />

permitem a oportunidade de combinar o primeiro<br />

e segundo estágio da cirurgia de Norwood ainda no<br />

período neonatal ou retardar o transplante. No caso<br />

da estratégia reconstrutiva, o procedimento paliativo<br />

com necessidade de bypass cardiopulmonar pode ser<br />

evitado no período neonatal.<br />

A colocação do stent no ducto arterioso e posterior<br />

bandagem da artéria pulmonar expande a estratégia<br />

cirúrgica nos recém-nascidos com lesões múltiplas obstrutivas<br />

do coração esquerdo. Em particular, a hipoplasia<br />

moderada do coração esquerdo ou valvas esquerdas<br />

pode maturar com o tempo e permitir o reparo biventricular<br />

após alguns meses. Para estes pacientes esta<br />

tecnologia é considerada um “procedimento ponte”.<br />

O mesmo pode ser aplicado para neonatos com<br />

desordens não cardíacas, com risco relevante de sobrevida,<br />

permitindo que o reparo cardíaco seja realizado<br />

posteriormente.<br />

A experiência a ser conseguida com a aplicação<br />

de stents nas cardiopatias ducto-dependentes terá em<br />

seus resultados futuros o impacto de novas estratégias<br />

de implante e do desenvolvimento de novas tecnologias<br />

(stents absorvíveis e mais flexíveis) e, sem dúvida, constitui,<br />

no momento, uma das fronteiras do tratamento<br />

intervencionista em defeitos congênitos, assim como<br />

em um passado recente o foi o fechamento hemodinâmico<br />

de defeitos septais intracardíacos.<br />

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Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 176-184.<br />

Pilla CB, Nogueira AJS. Manejo Híbrido da Síndrome da Hipoplasia do Ventrículo Esquerdo. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />

176-184.<br />

Artigo de Revisão<br />

Manejo Híbrido da Síndrome da Hipoplasia<br />

do Ventrículo Esquerdo<br />

Carlo B. Pilla 1 , Aldemir J. S. Nogueira 2<br />

RESUMO<br />

Os autores descrevem, neste artigo de revisão, a abordagem<br />

híbrida, envolvendo técnicas intervencionistas e cirúrgicas,<br />

para o manejo da síndrome da hipoplasia do ventrículo<br />

esquerdo. São discutidos detalhes da técnica combinada<br />

como alternativa ao tratamento cirúrgico tradicional, bem<br />

como resultados imediatos e em curto prazo descritos na<br />

literatura e na instituição dos autores, com ênfase na primeira<br />

fase e no seguimento clínico posterior.<br />

DESCRITORES: Síndrome do coração esquerdo hipoplásico,<br />

cirurgia. Procedimentos cirúrgicos cardíacos, métodos. Cardiopatias<br />

congênitas.<br />

SUMMARY<br />

Hybrid Management of Left Ventricle<br />

Hypoplasia Syndrome<br />

In this review article, the authors describe the hybrid approach<br />

through interventional and surgical techniques for the management<br />

of left ventricle hypoplasia syndrome. Details of a<br />

combined technique as an alternative for the traditional surgery<br />

treatment are discused, as well as immediate and short term<br />

results described in literature and at the authors’ institution,<br />

focusing phase 1 and subsequent clinical follow-up.<br />

DESCRIPTORS: Hypoplastic left heart syndrome, surgery.<br />

Cardiac surgical procedures, methods. Heart defects, congenital.<br />

Asíndrome da hipoplasia do ventrículo esquerdo<br />

(SHVE) é uma cardiopatia congênita cianótica grave<br />

relativamente comum, sendo a décima em prevalência<br />

entre todas as cardiopatias congênitas, respondendo<br />

por cerca de 3% do total 1 . A história natural<br />

resulta em óbito na totalidade dos casos, a grande<br />

maioria no período neonatal. Seu tratamento geralmente<br />

envolve três opções: (1) correção cirúrgica, (2)<br />

transplante cardíaco ou (3) conduta expectante e conforto<br />

à família.<br />

A correção cirúrgica da SHVE prevê uma reconstrução<br />

em estágios, sendo que o primeiro (também conhecido<br />

como cirurgia de Norwood) é geralmente empregado<br />

no período neonatal e os seguintes com 6 meses<br />

(anastomose cavopulmonar bidirecional) e ao redor<br />

dos 2 anos (anastomose cavopulmonar total), conforme<br />

protocolos individuais de cada instituição 2 . O objetivo<br />

final é criar uma separação entre as circulações<br />

1<br />

Serviço de Cardiologia Pediátrica do Complexo Hospitalar da<br />

Santa Casa de Porto Alegre; Porto Alegre, RS.<br />

2<br />

Serviço de Cirurgia Cardíaca Pediátrica do Complexo Hospitalar<br />

da Santa Casa de Porto Alegre; Porto Alegre, RS.<br />

Correspondência: Carlo B. Pilla. Cardiologia Pediátrica. Hospital da<br />

Criança Santo Antônio. Av. Independência, 155 - Porto Alegre, RS<br />

- CEP 90035-074 • e-mail: cbpilla@hotmail.com<br />

Recebido em: 14/02/2006 • Aceito em: 03/03/2006<br />

pulmonar e sistêmica, resultando em alívio da cianose,<br />

redução da sobrecarga de volume sobre o ventrículo<br />

principal e permitindo débito cardíaco adequado, sem<br />

aumento significativo da pressão venosa central.<br />

A terapia cirúrgica da SHVE sofreu avanços consideráveis<br />

no manejo pré, trans e pós-operatórios, nas<br />

últimas duas décadas; entretanto, os resultados permanecem<br />

pobres na maioria das instituições. Um estudo<br />

multicêntrico na América do Norte 3 , utilizando dados<br />

coletados pela Congenital Heart Surgeons Society, descreveu<br />

os desfechos da correção cirúrgica para SHVE.<br />

Este trabalho mostrou que a sobrevida imediata após<br />

a cirurgia de Norwood é de 72%, sendo adicionada<br />

uma mortalidade de 12%, no período entre esta cirurgia<br />

e o estágio 2. Após a realização dos estágios 2 e 3,<br />

a sobrevida total da coorte inicial é de apenas 50% 3 .<br />

O sucesso do transplante cardíaco depende da<br />

disponibilidade de órgãos para transplante. No período<br />

neonatal, a disponibilidade de corações para transplante<br />

é reconhecidamente pequena, resultando em<br />

elevada mortalidade na lista de espera 4 .<br />

A abordagem híbrida foi idealizada com o propósito<br />

de reduzir a morbi-mortalidade associada ao tratamento<br />

cirúrgico convencional, ao possibilitar postergar<br />

uma cirurgia cardíaca de grande porte para além<br />

do período neonatal. Adicionalmente, permite aumen-<br />

176<br />

CarloPilla.p65 176<br />

9/6/2006, 17:44


Pilla CB, Nogueira AJS. Manejo Híbrido da Síndrome da Hipoplasia do Ventrículo Esquerdo. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />

176-184.<br />

tar a segurança e, conseqüentemente, o tempo de<br />

espera para o aparecimento de doadores de coração,<br />

se a opção de tratamento for transplante cardíaco. Em<br />

casos selecionados, pode contribuir para a migração<br />

de manejo cirúrgico univentricular para biventricular,<br />

ao permitir o crescimento de estruturas como ventrículo<br />

e arco aórtico.<br />

A abordagem híbrida para SHVE prevê a cooperação<br />

entre cirurgiões e intervencionistas em uma seqüência<br />

de procedimentos e permite incorporar avanços<br />

recentes na tecnologia de materiais e técnicas intervencionistas<br />

e cirúrgicas. Este artigo de revisão tem<br />

por objetivo descrever a técnica de abordagem híbrida<br />

para SHVE, com ênfase no estágio 1. Adicionalmente,<br />

serão descritos e comentados os resultados<br />

imediatos e em curto prazo da instituição dos autores<br />

e os relatados na literatura por outros grupos.<br />

TÉCNICA<br />

A abordagem híbrida da SHVE adotada na instituição<br />

dos autores consiste em uma cirurgia cardíaca<br />

com circulação extracorpórea (que incorpora aspectos<br />

dos estágios 1, 2 e 3 tradicionais), precedida e<br />

seguida de dois procedimentos combinados menos<br />

invasivos e sem circulação extracorpórea, de acordo<br />

com descrito por Galantowicz e Cheatham 5 .<br />

Estágio 1<br />

O estágio 1 da abordagem híbrida para SHVE<br />

varia discretamente entre instituições 5-8 . Os objetivos<br />

da intervenção neste momento são prover fluxo sistêmico<br />

sem obstrução através do canal arterial, facilitar o retorno<br />

venoso pulmonar através de uma ampla comunicação<br />

interatrial (CIA) e balancear os fluxos sistêmico e pulmonar<br />

através da limitação do último. Esta intervenção<br />

é habitualmente realizada no período neonatal e pode<br />

ser efetuada na sala de hemodinâmica, com padrões<br />

de esterilização de bloco cirúrgico ou no próprio bloco<br />

cirúrgico, com auxílio de um braço “C” móvel para<br />

fluoroscopia.<br />

Após estabilização clínica com prostaglandina<br />

(PGE1) intravenosa e ajuste clínico do balanço de<br />

fluxos nas circulações sistêmica e pulmonar, na unidade<br />

de tratamento intensivo, o paciente é encaminhado ao<br />

procedimento no bloco cirúrgico ou sala de hemodinâmica.<br />

Se houver CIA restritiva, após início da anestesia<br />

geral, procede-se à atriosseptostomia com cateter-balão<br />

(procedimento de Rashkind), sob visualização fluoroscópica<br />

ou ecocardiográfica transtorácica. Não havendo<br />

necessidade de realização de atriosseptostomia com<br />

balão, o procedimento segue a rotina cirúrgica, com<br />

técnica anestésica endovenosa total (midazolan, fentanil<br />

e pancurônio) em associação com isofluorano; monitorização<br />

com eletrocardiograma, pressão arterial invasiva<br />

através de cateter em artéria radial e pressão venosa<br />

central através de cateter introduzido por punção de<br />

uma das veias femorais. É importante a presença de<br />

dois acessos arteriais invasivos para monitorização<br />

pressórica, sendo um deles em membro superior direito<br />

e outro em aorta abdominal (acesso umbilical) ou<br />

membro inferior. A partir deste momento, a infusão de<br />

PGE1 é interrompida, de modo a induzir certa constrição<br />

do canal arterial e permitir maior estabilização do stent<br />

após o seu implante. Iniciamos com toracotomia transesternal<br />

e exposição adequada de ambos os ramos<br />

pulmonares e do canal arterial, em seu trajeto após a<br />

origem dos ramos pulmonares. É importante que se<br />

inicie pela bandagem dos ramos, porque ao controlar<br />

o fluxo pulmonar há melhora significativa da perfusão<br />

sistêmica, propiciando estabilidade hemodinâmica que<br />

facilitará os procedimentos subseqüentes; outro motivo<br />

é prevenir dificuldade de abordagem do ramo pulmonar<br />

esquerdo, se o stent já estiver posicionado no canal<br />

arterial. As bandagens são confeccionadas com cintas<br />

de tubo siliconizado (Silastic ® ), posicionadas na origem<br />

de cada ramo; iniciamos pelo ramo esquerdo e monitoramos<br />

o diâmetro da restrição através da melhora da<br />

pressão arterial sistêmica e da queda da saturação pela<br />

oximetria de pulso. Em nossa observação, o diâmetro<br />

final adequado tem variado entre 3 e 3,5 mm (Figura 1).<br />

Após esta etapa, faz-se uma “bolsa” no tronco<br />

pulmonar, logo acima do plano valvar. Esta localização<br />

é importante, pois facilita o posicionamento adequado<br />

do stent posteriormente. Neste local, insere-se<br />

um introdutor percutâneo, cortado manualmente, com<br />

cerca de 2 cm de comprimento. Neste momento, o<br />

paciente recebe heparina endovenosa em bolus, na<br />

dose de 100 unidades/kg. Realizam-se, então, angio-<br />

Figura 1 - Aspecto das bandagens em ramos pulmonares após a sua<br />

confecção e ajuste.<br />

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grafias através do “braço lateral” do introdutor, habitualmente<br />

em oblíqua anterior esquerda 45-60°, com<br />

o intuito de visualizar o canal arterial, as bandagens<br />

nas artérias pulmonares, o fluxo reverso para o arco<br />

aórtico e a presença de coarctação associada (Figura<br />

2). A partir daí, procede-se ao implante do stent no<br />

canal arterial. Nossa preferência é utilizar stent expansível<br />

por balão, por sermos mais familiarizados com este<br />

tipo de prótese; outras instituições utilizam tanto stents<br />

auto-expansíveis como balão-expansíveis. Após a realização<br />

das angiografias através do introdutor no tronco<br />

pulmonar, insere-se um cateter diagnóstico Judkins<br />

direita 5 Fr, com um fio-guia hidrofílico 0,035 polegadas,<br />

150 cm de comprimento, com ponta angulada<br />

(Glidewire, Terumo Corp, Tokyo, Japão). Com a ajuda<br />

do fio-guia, o canal arterial é canulado e, a seguir, a<br />

aorta descendente. Após avançar o cateter por sobre<br />

o fio-guia até o nível da aorta abdominal, troca-se o<br />

fio-guia por outro de 0,035 polegadas, 150 cm de<br />

comprimento, ponta J ou reta, standard (Cordis Corp,<br />

Miami, EUA). Desta forma, retira-se o cateter diagnóstico<br />

e deixa-se o fio-guia com a ponta na aorta abdominal.<br />

Sobre este fio-guia, insere-se um stent periférico,<br />

montado sobre um cateter-balão over-the-wire que<br />

permita a passagem de fio-guia 0,035 polegadas. Nossa<br />

preferência é por stent Palmaz Genesis (Cordis Corp,<br />

Miami, EUA), habitualmente com 19 mm de extensão,<br />

montado em cateter-balão Opta (Cordis Corp, Miami,<br />

EUA), com diâmetros que costumam variar entre 9 e<br />

10 mm. Outra opção adequada é stent Bridge Assurant<br />

(Medtronic, Inc., Minneapolis, EUA), com 20 mm de<br />

extensão. Alternativamente, pode-se usar um stent alone,<br />

montado manualmente sobre um cateter-balão periférico.<br />

Neste caso, nossas preferências são o cateter-balão<br />

Powerflex (Cordis Corp, Miami, EUA) 9 ou 10 mm de<br />

diâmetro e 2 cm de comprimento e stent Palmaz Genesis<br />

XD (Cordis Corp, Miami, EUA) 19 mm ou Double Strut<br />

LD (EV3, St Paul, EUA) 16 mm de comprimento. O<br />

diâmetro do balão é determinado pelo peso do paciente<br />

( 3 kg = 10 mm), não sendo feitas rotineiramente<br />

medidas do calibre e comprimento do canal<br />

arterial. O posicionamento do stent baseia-se em injeções<br />

teste de contraste pelo “braço lateral” do introdutor,<br />

bem como pela posição dos marcadores radiopacos<br />

das bandagens das artérias pulmonares (Figura 3). Em<br />

casos em que há coarctação da aorta associada, prefere-se<br />

posicionar o stent mais distalmente, de modo<br />

que avance na aorta descendente. Após a insuflação<br />

do cateter-balão, costuma-se observar instabilidade hemodinâmica<br />

transitória, com queda na pressão arterial<br />

e saturação de oxigênio (SATO 2<br />

), bem como se notam,<br />

comumente, alterações na repolarização ventricular,<br />

sugestivas de isquemia miocárdica aguda. Este período<br />

geralmente tem duração de 1 a 5 minutos. Após<br />

este “período de adaptação”, realiza-se nova angiografia<br />

(Figura 4), avalia-se subjetivamente (visualmente) a função<br />

contrátil do ventrículo direito e verifica-se o gradiente<br />

entre a artéria do membro superior direito e a do<br />

membro inferior. Havendo manutenção de sinais de<br />

isquemia miocárdica no eletrocardiograma, redução<br />

na função contrátil ventricular direita e gradiente picoa-pico<br />

maior do que 20 mmHg, sem haver sinais angiográficos<br />

de estreitamento no trajeto do stent ou próximo<br />

às suas extremidades, poder-se-á considerar dilatar<br />

as células do stent que estão “cavalgando” o arco<br />

aórtico. Esta manobra idealmente é realizada via retró-<br />

Figura 2 - Angiografia após bandagens das artérias pulmonares e<br />

pré-implante de stent.<br />

Figura 3 - Posicionamento do stent no canal arterial.<br />

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artérias pulmonares e manutenção da função contrátil<br />

ventricular direita.<br />

Durante as consultas, é importante a avaliação da<br />

SATO 2<br />

, do esforço ventilatório e verificação de pulsos.<br />

O ecocardiograma deve ser utilizado de forma liberal<br />

e direcionado para a avaliação dos seguintes tópicos:<br />

1. Stent no canal arterial: verificação de sinais obstrutivos;<br />

2. Septo interatrial: avaliação da comunicação interatrial;<br />

3. Artérias pulmonares: avaliação do grau de obstrução<br />

ocasionado pelas bandagens cirúrgicas;<br />

4. Função ventricular direita;<br />

Figura 4 - Angiografia imediatamente após o implante do stent.<br />

grada, através de acesso arterial femoral e possui o<br />

objetivo de aumentar o fluxo retrógrado para o arco<br />

aórtico e artérias coronárias. Neste caso, utiliza-se cateterbalão<br />

coronário com 3-4 mm de diâmetro. Não havendo<br />

êxito e no caso de não haver fluxo anterógrado para<br />

a aorta ascendente (atresia aórtica ou mitral), pode-se<br />

considerar a interposição de um conduto cirúrgico<br />

(shunt) entre o tronco pulmonar e a artéria inominada<br />

para auxiliar a perfusão coronariana, desta forma, contribuindo<br />

para evitar a disfunção ventricular direita 9 .<br />

Após estas etapas, o paciente é encaminhado à<br />

unidade de tratamento intensivo e o manejo pós-operatório<br />

é baseado na modulação da resistência vascular<br />

sistêmica. Como de hábito, são recomendadas profilaxia<br />

de endocardite bacteriana e utilização de antiagregante<br />

plaquetário (ácido acetilsalicílico 5 mg/kg/dia) após o<br />

restabelecimento de alimentação via oral. Neste ínterim,<br />

o paciente recebe heparina endovenosa em infusão<br />

contínua, suficiente para prolongar em 1,5 vez o tempo<br />

de referência de tromboplastina tecidual ativada.<br />

Seguimento após o estágio 1<br />

O período entre os estágios 1 e 2 é sujeito a<br />

diversas complicações, devendo ser acompanhado com<br />

revisões regulares e freqüentes.<br />

Nosso protocolo de seguimento inclui revisões<br />

freqüentes (a cada 1-3 semanas), a fim de detectar,<br />

precocemente, anormalidades desenvolvidas ao longo<br />

do tempo. São pré-requisitos chave para manutenção<br />

de adequada hemodinâmica, neste período, a presença<br />

de ampla CIA, fluxo irrestrito através do canal arterial<br />

e do arco aórtico, adequada restrição de fluxo nas<br />

5. Regurgitação tricúspide: marcador precoce de<br />

disfunção ventricular e de potencial mau prognóstico.<br />

Está possivelmente relacionado diretamente<br />

à insuficiência coronariana secundária a<br />

fluxo retrógrado reduzido no canal arterial. Este,<br />

por sua vez, é habitualmente relacionado à obstrução<br />

no canal arterial (stent).<br />

Com estas medidas, pensamos ser possível reduzir<br />

a morbi-mortalidade inerente a este período crítico e<br />

incrementar a chance de sucesso da cirurgia (estágio 2).<br />

Estágio 2<br />

O estágio 2 consiste na remoção do stent do<br />

canal arterial e da bandagem dos ramos pulmonares,<br />

reparo do arco aórtico e dos ramos pulmonares, secção<br />

da diminuta aorta ascendente e reimplante da mesma<br />

no tronco pulmonar, anastomose do tronco pulmonar<br />

ao arco aórtico, atriosseptectomia, anastomose cavopulmonar<br />

modificada para facilitar a complementação com<br />

anastomose cavopulmonar total (Fontan) percutânea<br />

no estágio 3. Todos os procedimentos são realizados<br />

com o paciente em circulação extracorpórea com períodos<br />

breves de pinçamento aórtico com monitorização<br />

online de saturação venosa. As modificações do hemi-<br />

Fontan tradicional incluem: a colocação de um marcador<br />

radiopaco na junção da cava inferior com o átrio<br />

direito e outro na bolsa da junção entre a veia cava<br />

superior e o átrio direito para orientar o posicionamento<br />

do stent coberto por ocasião do estágio 3 percutâneo.<br />

Estágio 3<br />

O estágio 3 é a finalização da anastomose cavopulmonar,<br />

com a incorporação do retorno venoso proveniente<br />

da veia cava inferior (anastomose cavopulmonar<br />

total). Trata-se de procedimento percutâneo, realizado<br />

na sala de hemodinâmica, e resumidamente consiste<br />

na interposição de um stent recoberto com PTFE<br />

entre a veia cava inferior e a superior, por dentro do<br />

átrio direito. O posicionamento e a ancoragem do stent<br />

são assegurados pelos marcadores radiopacos, em veia<br />

cava superior e pelo anel de Gore-Tex ® , na junção da<br />

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veia cava inferior e átrio direito, acima da veia hepática<br />

média. Acredita-se que o crescimento somático do paciente<br />

não induzirá a problemas relacionados ao calibre e<br />

comprimento do stent, à medida que se faz analogia<br />

com achados em estudos observacionais que estudaram<br />

o seguimento clínico de pacientes submetidos à<br />

anastomose cavopulmonar extracardíaca.<br />

RESULTADOS IMEDIATOS E EM CURTO PRAZO<br />

Experiência dos autores<br />

A abordagem híbrida para SHVE em nossa instituição<br />

teve início em agosto de 2005. No período de<br />

agosto de 2005 a janeiro de 2006, seis pacientes (4 M:<br />

2 F; 3 (2-12) dias de vida) portadores de SHVE foram<br />

submetidos à abordagem híbrida como alternativa à<br />

cirurgia de Norwood. Um paciente tinha diagnóstico<br />

pré-natal e foi encaminhado imediatamente após o<br />

parto à unidade de tratamento intensivo; os demais<br />

foram encaminhados por suspeita clínica de cardiopatia<br />

congênita. Quase todos os pacientes (cinco) apresentavam<br />

anatomia de atresia mitral e aórtica, não tendo<br />

sido evidenciada presença de fluxo anterógrado pela<br />

aorta ascendente neste grupo; outro paciente possuía<br />

estenose mitral e aórtica graves, combinadas com hipoplasia<br />

moderada do ventrículo esquerdo e importante<br />

redução da função contrátil do mesmo.<br />

Os pacientes foram manejados de forma habitual<br />

para SHVE, incluindo uso de PGE1 intravenosa, ventilação<br />

mecânica com hipercapnia permissiva (se saturação<br />

de oxigênio acima de 90%) e modulação da resistência<br />

vascular sistêmica com drogas vasoativas, se<br />

necessário. Todos os procedimentos foram realizados<br />

em bloco cirúrgico, com auxílio de equipamento de<br />

fluoroscopia portátil com braço em “C”. As características<br />

dos pacientes e detalhes principais dos procedimentos<br />

estão descritos nas Tabelas 1 e 2.<br />

Todos os pacientes foram manejados conforme<br />

protocolo exposto anteriormente; três pacientes necessitaram<br />

realizar atriosseptostomia simultânea ao implante<br />

de stent ductal e bandagem das artérias pulmonares.<br />

A atriosseptostomia foi realizada da forma habitual<br />

(punção femoral) em dois pacientes e de forma “peratrial”,<br />

em outro (Figura 5). Nos dois pacientes com<br />

acesso femoral, utilizou-se cateter de atriosseptostomia<br />

TABELA 1<br />

Características dos pacientes<br />

Idade (dias) Peso (kg) Sexo<br />

Paciente 1 03 3,8 M<br />

Paciente 2 02 0,3 F<br />

Paciente 3 03 2,9 M<br />

Paciente 4 12 1,5 M<br />

Paciente 5 04 2,7 M<br />

Paciente 6 10 2,3 F<br />

Mediana (variação) 3,5 (2-12) 2,8 (1,5-3,8) 4M: 2F<br />

Figura 5 - Acesso “peratrial” para atriosseptostomia com balão.<br />

TABELA 2<br />

Características dos procedimentos<br />

Introdutor Balão/stent Gradiente Ao Sat O 2<br />

pós PAM pós<br />

(Fr) A - D pós-stent (%) (mmHg)<br />

Paciente 1 7 Opta 10 mm PG Large 19 mm 10 80 50<br />

Paciente 2 7 Opta 9 mm PG Large 19 mm 15 82 40<br />

Paciente 3 7 Opta 10 mm PG Large 19 mm 25 79 52<br />

Paciente 4 7 Amiia 7 mm PG Medium 18 mm 15 84 32<br />

Paciente 5 9 Powerflex 9 mm DSLD 16 mm Não medido 82 38<br />

Paciente 6 6 Medtronic 8 mm Bridge Assurant 20 mm 5 65 48<br />

PG= Palmaz Genesis; DSLD= Double Strut Large Diameter; Sat O 2<br />

= saturação de oxigênio pela hemoglobina; PAM= pressão<br />

arterial média.<br />

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6 F, com balão de 14 mm de diâmetro (Medtronic,<br />

Inc. Minneapolis, EUA). No outro paciente, optou-se<br />

por acesso “peratrial”, devido às condições particulares<br />

deste paciente (prematuro de baixo peso) dificultarem<br />

o acesso vascular femoral. Neste paciente, utilizouse<br />

cateter de atriosseptostomia 5F, com balão 9,5 mm<br />

de diâmetro (NuMED, Inc, Hopkinton, EUA). Nenhum<br />

paciente necessitou intervenção simultânea para incremento<br />

de fluxo retrógrado no arco aórtico (conduto<br />

cirúrgico entre o tronco pulmonar e o braquiocefálico<br />

ou dilatação de células do stent ductal). Três pacientes<br />

apresentaram óbito intra-hospitalar: dois deles faleceram<br />

no 1º dia de pós-operatório; um era prematuro de<br />

baixo peso (1,5 kg), com doença de membrana hialina<br />

associada e havia tratado septicemia bacteriana prévia<br />

ao procedimento; seu óbito foi atribuído à hemorragia<br />

intracraniana massiva logo após o procedimento (paciente<br />

4). Outro paciente faleceu 46 dias após o procedimento,<br />

tendo apresentado evolução clínica complicada<br />

por 3 septicemias (2 bacterianas e 1 fúngica), insuficiência<br />

renal (necessitando diálise peritoneal prolongada)<br />

e falência de múltiplos órgãos. Neste período, houve<br />

instabilidade hemodinâmica apenas em momentos isolados,<br />

usualmente relacionados com recrudescência<br />

infecciosa (paciente 3). Finalmente, o paciente 6 faleceu<br />

nas primeiras horas de pós-operatório por disfunção<br />

ventricular direita, provavelmente secundária à má perfusão<br />

coronariana. Este paciente apresentava fluxo anterógrado<br />

para a aorta ascendente e possuía arco aórtico<br />

relativamente bem desenvolvido em relação aos demais<br />

(diâmetro médio de 6 mm). Não havia sinais de hipofluxo<br />

retrógrado no arco aórtico após o implante do stent e<br />

não houve instabilidade hemodinâmica significativa<br />

imediatamente após o implante. A CIA necessitou ser<br />

ampliada por atriosseptostomia prévia ao procedimento,<br />

com CIA de diâmetro final de 5 mm, com fluxo<br />

laminar e ausência de gradiente interatrial apreciável<br />

pelo ecocardiograma. Este paciente desenvolveu hipoxemia<br />

(SATO 2<br />

65%) e retenção de gás carbônico, com<br />

resultante acidose mista nas primeiras horas, e subseqüentemente<br />

melhoraram. Entretanto, apresentou sempre<br />

necessidade de inotrópicos em doses elevadas e parâmetros<br />

elevados de ventilação mecânica. Dosagem<br />

elevada de troponina com seis horas de pós-operatório<br />

demonstrou injúria miocárdica em atividade.<br />

Outro paciente (paciente 5) permanece em recuperação<br />

hospitalar devido à necessidade de reintervenção<br />

com 20 dias de pós-operatório por constrição ductal<br />

em área não coberta inicialmente pelo stent (Figura 6).<br />

Houve necessidade de implante de stent adicional de<br />

forma telescopada, a fim de garantir o envolvimento<br />

de toda a extensão do canal arterial (Figura 7). Adicionalmente,<br />

percebeu-se que a bandagem da artéria pulmonar<br />

esquerda está mais “frouxa”, permitindo hiperfluxo<br />

à esquerda. Este paciente tem plano de incrementar<br />

vasodilatação periférica e uso de diurético para tentar<br />

evitar reajuste cirúrgico da bandagem. Os outros dois<br />

estão em seguimento ambulatorial; o paciente 1 está<br />

em seguimento há 5 meses, tendo realizado dois cateterismos<br />

cardíacos e diversos ecocardiogramas no período.<br />

Apresentou redução progressiva das dimensões<br />

da CIA, motivando a realização de duas atriosseptostomias<br />

com balão, dilatações com balão estático e<br />

implante de stent em septo interatrial. Infelizmente este<br />

último ocorreu sem sucesso, presumivelmente por parede<br />

septal muito complacente e sem capacidade de<br />

estabilizar o stent (Figuras 8 A, B e C). Os procedimen-<br />

Figura 6 - Constrição de região ductal não coberta pelo stent.<br />

Figura 7 - Angiografia após o implante de stent adicional no canal<br />

arterial.<br />

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Figura 8 - A: Cateter-balão e stent posicionados no septo interatrial; B: Migração do stent para o átrio direito e C: Sepultamento do stent<br />

na veia cava inferior.<br />

tos foram realizados com 1 mês e 4 meses de seguimento.<br />

Ao final, persiste CIA restritiva, com gradiente<br />

instantâneo máximo interatrial (estimado pelo ecocardiograma)<br />

de 12 mmHg. Como o paciente não apresenta<br />

edema pulmonar no controle radiológico, tem<br />

SATO 2<br />

entre 68-72%, é levemente taquipnéico e apresenta<br />

adequado ganho pondero-estatural, optou-se por<br />

não intervir novamente no septo interatrial até a realização<br />

do estágio 2 (em breve). O paciente 2 necessitou<br />

atriosseptostomia com balão, dois meses e meio<br />

após o procedimento híbrido, apresentando melhora<br />

imediata do gradiente transseptal, incremento da oxigenação<br />

sistêmica e resolução do edema pulmonar.<br />

Não foi necessário ajuste posterior das bandagens das<br />

artérias pulmonares em ambos pacientes em seguimento<br />

clínico. O paciente 1 foi estudado com cintilografia<br />

perfusional pulmonar aos 3 meses de seguimento, apresentando<br />

perfusão simétrica entre os pulmões (PE 47%;<br />

PD 53%). Em ambos pacientes, também não foi necessária<br />

nova dilatação do stent ductal por re-estenose,<br />

bem como dilatação de células do stent por baixo<br />

fluxo retrógrado no arco aórtico durante o seguimento<br />

clínico. Não houve aparecimento ou progressão do<br />

grau de insuficiência tricúspide, bem como de disfunção<br />

contrátil ventricular direita. Ambos recebem digoxina,<br />

furosemide e ácido acetilsalicílico.<br />

Experiência relatada na literatura<br />

A evidência disponível na literatura relativa ao<br />

estágio 1 da abordagem híbrida para SHVE consiste<br />

de séries de casos isoladas e estão resumidas na Tabela<br />

3. Gibbs et al. 10 demonstraram pela primeira vez a<br />

possibilidade técnica de se realizar o estágio 1 híbrido,<br />

em quatro pacientes portadores de SHVE. Após alguns<br />

anos, Michel-Behnke et al. 6,7 publicaram a sua experiência<br />

em manejo híbrido de SHVE e variantes. Após uma<br />

experiência inicial com 11 pacientes, os autores descrevem<br />

a casuística total com 20 pacientes. A mortalidade<br />

imediata foi de 2 (10%) pacientes; adicionalmente<br />

mais 2 pacientes faleceram após o estágio 1,<br />

enquanto aguardavam na lista para transplante cardíaco.<br />

Dez pacientes foram submetidos ao estágio 2 cirúrgico,<br />

com mortalidade imediata de 10% (1 paciente).<br />

Dois pacientes permanecem no período interestágios<br />

TABELA 3<br />

Experiência em abordagem híbrida para SHVE (estágio 1)<br />

Ref N Stent Mort Seg clínico Proc adicionais Mort<br />

imediata<br />

interestágios<br />

Gibbs et al. 10 , 1993 4 Balão-expansível 50% 5-16 semanas Não Não<br />

Michel-Behnke et al. 6 , 20 Balão-expansível 10% 57-174 dias Redil ou stent adicional; 10%<br />

2003 AST; angiop pulmonar<br />

Galantowicz et al 5 , 29 Balão e 17% 2,5-7 meses AST 10%<br />

2005 auto-expansível<br />

Lim et al. 8 , 2005 5 Auto-expansível 0% ? Não 40%<br />

Bacha et al. 11 , 2006 14 Auto-expansível 21% 3-6 meses AST, revisão BAP 14%<br />

AST= atriosseptostomia com balão, dilatação com balão estático precedida ou não de dilatação com balão com lâminas, implante<br />

de stent em septo interatrial; BAP= bandagens das artérias pulmonares.<br />

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e outros dois sofreram reparo biventricular. Os autores<br />

concluíram que a abordagem híbrida possibilita que a<br />

reconstrução aórtica seja realizada após o período<br />

neonatal, permite melhores condições para os pacientes<br />

na lista de espera para transplante cardíaco e proporciona<br />

uma chance de recuperação de circulação biventricular<br />

em casos selecionados. Galantowicz e Cheatham<br />

5 publicaram, recentemente, sua experiência com<br />

o desenvolvimento de uma estratégia híbrida para o<br />

manejo da SHVE. Estes autores descrevem a sua experiência<br />

e as modificações na estratégia assistencial,<br />

resultado de observações feitas ao longo do tempo.<br />

Vinte e nove pacientes portadores de SHVE foram<br />

submetidos à terapia híbrida. Destes, cinco (17%) faleceram<br />

na mesma internação hospitalar do estágio 1.<br />

Adicionalmente, três pacientes faleceram no período<br />

interestágios. As causas de mortalidade imediata foram<br />

falência de múltiplos órgãos, disfunção ventricular e<br />

septicemia; as de mortalidade tardia estiveram relacionadas<br />

diretamente a procedimentos adicionais em dois<br />

pacientes (atriosseptostomia; avulsão de veia pulmonar<br />

e arritmias) ou ocorreu por motivos desconhecidos<br />

(morte súbita; um paciente). Dos oito pacientes que<br />

faleceram antes do estágio 2, seis haviam sido tratados<br />

antes do estabelecimento de rotina de tratamento e de<br />

acompanhamento, o que ocorreu após os primeiros<br />

12 pacientes, demonstrando a existência de uma curva<br />

de aprendizado e enfatizando a importância de acompanhamento<br />

clínico rigoroso entre os estágios. Lim et<br />

al. 8 descreveram sua experiência de estratégia em manejo<br />

de SHVE, a qual reservou a abordagem híbrida para<br />

pacientes considerados de “alto-risco” (baseado em<br />

fatores de risco anatômicos, funcionais e clínicos).<br />

Desta forma, os autores relataram uma série de 5 casos<br />

manejados com a terapêutica híbrida e compararam<br />

estes a 10 pacientes de “baixo risco” que foram operados<br />

(cirurgia de Norwood/Sano) e 7 pacientes de “alto<br />

risco” também submetidos à cirurgia. A mortalidade<br />

imediata foi zero no grupo híbrido, em comparação a<br />

10% e 71%, nos pacientes cirúrgicos com baixo e alto<br />

risco, respectivamente. Porém, no período interestágios,<br />

dois pacientes do grupo híbrido faleceram (disfunção<br />

miocárdica e morte súbita), reforçando a periculosidade<br />

deste período. Não obstante, os autores sugerem que<br />

a abordagem híbrida possa ser mais adequada que a<br />

cirúrgica nos pacientes considerados de “alto risco”.<br />

Mais recentemente, Bacha et al. 11 publicaram a sua experiência<br />

com estágio 1 híbrido para neonatos de alto<br />

risco com SHVE. Os autores descrevem uma série consecutiva<br />

de 14 casos, nos quais a mortalidade imediata<br />

foi de 22% (3 casos). Adicionalmente, mais 2 pacientes<br />

faleceram no período interestágios. As causas de óbito<br />

no período logo após o procedimento foram embolização<br />

sistêmica do stent ductal, disfunção miocárdica e infecção;<br />

enquanto que, no período interestágios, foram coarctação<br />

pré-ductal (hipofluxo retrógrado no arco aórtico)<br />

e oclusão de stent em septo interatrial. Houve necessidade<br />

de revisão cirúrgica das bandagens de artérias<br />

pulmonares nos primeiros pacientes. Sete dos quatorze<br />

pacientes necessitaram intervenções no septo interatrial<br />

(stent). Os autores concluem que o estágio 1 híbrido<br />

pode ser uma alternativa em pacientes de alto risco e<br />

aconselham a monitorização do desenvolvimento de<br />

estreitamento pré-ductal em pacientes com ausência de<br />

fluxo anterógrado pela aorta ascendente.<br />

DISCUSSÃO<br />

A abordagem híbrida para o manejo da SHVE<br />

vem sendo progressivamente mais descrita e, portanto,<br />

mais conhecida, à medida que um maior número de<br />

serviços tem demonstrado interesse na sua aplicação.<br />

Trata-se de uma maneira interessante de postergar uma<br />

cirurgia cardíaca de grande porte para além do período<br />

neonatal, teoricamente permitindo maior chance<br />

de recuperação do paciente. Beneficia-se da integração<br />

de habilidades do intervencionista e do cirurgião cardíaco<br />

e, ao mesmo tempo, incorpora avanços recentes<br />

na tecnologia de materiais. Sua aplicação em serviços<br />

com resultados cirúrgicos reconhecidamente bons é<br />

questionável, porém, infelizmente, estes locais são<br />

poucos no mundo. Para a realidade brasileira, carente<br />

de dados a respeito de resultados cirúrgicos em SHVE,<br />

parece ser uma opção viável e poderá auxiliar na<br />

redução da mortalidade nesta má formação congênita.<br />

Após esta experiência inicial, pudemos observar que<br />

alguns pontos críticos merecem maior atenção, dentre<br />

estes a manutenção de ampla comunicação interatrial<br />

(seja através de atriosseptostomias com balão, dilatação<br />

com balão estático ou implante de stent em septo<br />

interatrial), verificação regular da função contrátil do<br />

ventrículo direito, ausência de tolerância de gradiente<br />

pressórico no canal arterial (com baixo limiar para<br />

reintervenção e redilatação do stent e/ou implante de<br />

stent adicional) e monitorização do fluxo pulmonar<br />

(através de radiografias de tórax e cintilografias perfusionais<br />

pulmonares). O implante de stent no septo<br />

interatrial merece atenção à medida que a espessura<br />

mínima e o grau de complacência do septo que permita<br />

adequada estabilização do stent são difíceis de<br />

determinar claramente; a manutenção de adequada<br />

perfusão coronariana retrógrada é vital e existem fenômenos<br />

pós-operatórios imediatos relacionados à perfusão<br />

miocárdica que ainda desconhecemos.<br />

Estamos certos de que a manutenção de uma<br />

situação hemodinâmica favorável durante o período<br />

interestágios é essencial para o sucesso do estágio 2,<br />

este considerado uma cirurgia de grande porte. Desta<br />

forma, sugere-se fortemente a adoção de rotinas rigorosas<br />

de procedimento e de manejo/acompanhamento<br />

e a eleição de centros regionais de atendimento especializado<br />

a estes pacientes.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Os autores gostariam de agradecer aos Drs. Nicasio<br />

H. Tanaka e Nilton R. Delatorre, pela contribuição<br />

ativa no planejamento e atendimento destes pacientes<br />

183<br />

CarloPilla.p65 183<br />

9/6/2006, 17:44


Pilla CB, Nogueira AJS. Manejo Híbrido da Síndrome da Hipoplasia do Ventrículo Esquerdo. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />

176-184.<br />

na sala cirúrgica. Aos intensivistas pediátricos do Hospital<br />

da Criança Santo Antônio, por sua assistência de<br />

excepcional qualidade e pelo comprometimento com<br />

o bom atendimento ao paciente. Aos demais integrantes<br />

do Serviço de Cardiologia Pediátrica, pela compreensão<br />

e apoio no período de recuperação e seguimento<br />

clínico. E, finalmente, aos pais dos pacientes que permitiram<br />

o emprego desta nova técnica, como forma de<br />

minimizar o sofrimento de seus filhos.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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disease. J Am Coll Cardiol 2002;39:1890-900.<br />

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184<br />

CarloPilla.p65 184<br />

9/6/2006, 17:44


Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />

Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />

Artigo de Revisão<br />

Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente<br />

Francisco Chamié 1,2,3 , Daniel Chamié 4 , Sérgio Ramos 2 , João Carlos Tress 5 , Rosaura Victer 6,7<br />

RESUMO<br />

O forame oval patente (FOP) é uma condição muito prevalente<br />

na população geral, e tem sido demonstrada sua associação<br />

com diversas condições patológicas, a saber: embolias paradoxais<br />

sistêmicas – acidentes vasculares cerebrais (AVC), ataques<br />

isquêmicos transitórios (AIT), infarto agudo do miocárdio<br />

(IAM), embolias para circulação mesentérica, renal, de<br />

membros inferiores, etc – enxaqueca, síndromes descompressivas<br />

em mergulhadores e síndrome de ortodeoxia-platipnéia.<br />

No presente texto, revisamos sua morfogênese, analisamos<br />

de forma detalhada sua relação com acidentes vasculares<br />

encefálicos e enxaqueca na atualidade, além do papel do<br />

aneurisma do septo interatrial (ASA) e sua relação com o<br />

forame. Descrevemos os métodos disponíveis para diagnóstico,<br />

e fazemos uma breve revisão histórica do fechamento<br />

percutâneo do forame oval, descrevendo desde as primeiras<br />

próteses utilizadas até as mais recentemente desenvolvidas.<br />

Apresentamos a técnica de fechamento percutâneo utilizada<br />

por nosso grupo e comparamos os resultados com as diferentes<br />

formas de tratamento.<br />

DESCRITORES: Defeitos do septo interatrial. Acidente cerebrovascular.<br />

Enxaqueca.<br />

SUMMARY<br />

Percutaneous Closure of Patent Foramen Ovale<br />

Patent foramen ovale is a highly prevalent condition in the<br />

general population and has been associated to a number<br />

of major pathologic conditions, such as: systemic paradoxical<br />

embolism (encephalic vascular accidents, transient ischemic<br />

attacks, acute myocardial infarction, mesenteric, renal and<br />

lower limbs embolism, etc.) migraine, decompression illness<br />

in divers, and orthodeoxia-platypnea syndrome. The present<br />

paper focuses patent foramen ovale morphogenesis, makes<br />

a detailed review of related encephalic vascular accidents<br />

and migraine in our days, and discusses the role of interatrial<br />

septal aneurysm and how it is associated to the foramen.<br />

The diagnosis methods available are described. The authors<br />

present a brief historic review of percutaneous closure of<br />

foramen ovale, and describe from the first prostheses used<br />

up to the most recent developments. The authors also present<br />

the percutaneous closure technique used by the team and<br />

compare results with the different treatment options.<br />

DESCRIPTORS: Heart septal defects, atrial. Cerebrovascular<br />

accident. Migraine.<br />

Oforame oval patente (FOP) é uma condição bastante<br />

prevalente e tem sido relacionado à ocorrência<br />

de alguns eventos clínicos de relevância.<br />

Atualmente, já é bem conhecida sua correlação com<br />

acidentes vasculares cerebrais isquêmicos (AVCi) e enxaqueca<br />

com aura (MA+). Além disso, estuda-se também<br />

sua relação com síndromes descompressivas em mergulhadores,<br />

hipoxemia refratária em indivíduos com infarto<br />

de ventrículo direito ou doença pulmonar grave, pla-<br />

1<br />

Hospital dos Servidores do Estado MS-RJ, Rio de Janeiro, RJ.<br />

2<br />

CARPE – Cardiologia Pediátrica e Fetal, Rio de Janeiro, RJ.<br />

3<br />

Hospital CardioBarra, Rio de Janeiro, RJ.<br />

4<br />

Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP.<br />

5<br />

Hospital de Clínicas de Niterói, Niterói, RJ.<br />

6<br />

Hospital PROCORDIS, Niterói, RJ.<br />

7<br />

Universidade Federal Fluminense/UFF, Niterói, RJ.<br />

Correspondência: Francisco Chamié. Rua <strong>Vol</strong>untários da Pátria, 445<br />

- Sala 905. Centro Médico Botafogo. Botafogo, Rio de Janeiro, RJ.<br />

CEP 22270-000. Tel.: (21) 2539-3100 - Fax: (21) 2537-1264<br />

E-mail: fchamie@pobox.com<br />

Recebido em: 09/01/2006 • Aceito em: 27/01/2006<br />

tipnéia-ortodeoxia, ou mesmo aumentando o risco de<br />

complicações em cirurgias neurológicas ou de grande<br />

porte (cirurgias de fossa posterior, bariátricas, etc).<br />

MORFOGÊNESE E ETIOLOGIA DO FORAME<br />

OVAL (FO)<br />

Durante a embriogênese, a cavidade atrial primitiva<br />

vai ser dividida em átrios direito e esquerdo pelo<br />

desenvolvimento do septo interatrial.<br />

O septum primum (SP) desce da parede atrial dorsocefálica<br />

em direção ao coxim endocárdico atrioventricular,<br />

à esquerda do seio venoso, mantendo em sua<br />

porção caudal um orifício, o ostium primum (OP).<br />

Quando ocorre a fusão dessas estruturas, surge novo<br />

orifício no SP, o ostium secundum (OS).<br />

O septum secundum (SS) surge da parede ventrocefálica<br />

atrial, à direita do SP. Este septo cresce em<br />

direção caudal para recobrir o OS, formando o bordo<br />

superior da fossa oval. Esta fenda, situada caudalmente<br />

em relação ao SS e, cranialmente ao SP, forma uma<br />

espécie de válvula, que abre a fossa oval e permite a<br />

185<br />

FChamie.p65 185<br />

9/6/2006, 17:43


Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />

passagem de sangue da direita para esquerda, em situações<br />

em que a pressão atrial direita supere a esquerda.<br />

O funcionamento deste mecanismo é fundamental<br />

na vida fetal, permitindo que o sangue oxigenado que<br />

vem da placenta pela veia cava inferior passe através<br />

do septo interatrial, diretamente para a circulação sistêmica,<br />

evitando os pulmões (colapsados nessa fase<br />

da vida).<br />

Com o nascimento, a expansão dos pulmões acarreta<br />

o aumento da pressão atrial esquerda, conseqüente<br />

ao incremento do retorno venoso pulmonar, empurrando<br />

o SP de encontro à face atrial esquerda do SS,<br />

levando à fusão dos septos e ao fechamento do FO,<br />

por volta do primeiro mês de vida.<br />

Contudo, um segmento da população não apresenta<br />

essa fusão entre os septos e o forame pode permanecer<br />

patente ao longo da vida, ou fechar-se inicialmente<br />

para tornar a abrir diante de situações de sobrecarga<br />

pressórica direita.<br />

INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA<br />

Em 1931, Patten 1 apresentou um estudo anatômico<br />

por faixas etárias, mostrando uma prevalência de FOP<br />

estimada em 50% até a idade de dois anos; 35% entre<br />

dois e vinte anos e, cerca de 25% da população geral<br />

acima de vinte anos. Em séries de autópsia, o forame<br />

pode permanecer aberto em cerca de 20 a 27,3% das<br />

pessoas 2 . Já, Lock 3 estima a prevalência de FOP em<br />

10% a 15%, na população adulta normal.<br />

Até o momento, parece consenso entre a maioria<br />

dos trabalhos de que cerca de um quarto da população<br />

geral é portadora de FOP.<br />

FOP COMO CAUSA DE EVENTOS EMBÓLICOS<br />

Cohnhein 4 , em 1887, fez a primeira descrição de<br />

FOP relacionada à embolia paradoxal, ao realizar a<br />

necropsia de uma mulher jovem que havia falecido<br />

em decorrência de AVC. Na ocasião, sugeriu que a<br />

causa do óbito fosse a passagem de um coágulo através<br />

do FOP, se alojando na circulação cerebral.<br />

Em 1900, Fawcett e Blachford 5 estabeleceram o<br />

forame oval como potencial canal anatômico entre os<br />

átrios direito e o esquerdo.<br />

FOP E ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL<br />

O termo AVCi se refere à interrupção do fluxo<br />

sangüíneo ao cérebro, resultando em lesão cerebral,<br />

freqüentemente acompanhada de alguma seqüela. Cerca<br />

de 75% a 80% dos AVCs são de origem isquêmica 6 .<br />

Um AVCi pode ser causado por diversos processos<br />

fisiopatológicos diferentes. A causa sugerida pode representar<br />

alteração de grandes artérias (como estenose<br />

de artérias carótidas internas), em 20 a 25% dos casos,<br />

de pequenas artérias provocando infarto lacunar, em<br />

20% e acidente cardioembólico (como fibrilação atrial),<br />

em 20 a 25%. Estes estudos também sugerem que<br />

nenhuma causa é encontrada em 30 a 40% dos pacientes<br />

(AVC criptogênico) 7 .<br />

Quando eram estudados pacientes abaixo dos 55<br />

anos, Cabanes et al. 8 encontraram AVCs criptogênicos<br />

(AVCc) em 64% dos casos.<br />

É estimado que a incidência anual de AVCs, nos<br />

EUA, seja de 750.000, com uma mortalidade de 27% 9 .<br />

Isso torna o AVC a terceira principal causa de morte,<br />

somente atrás das doenças cardíacas e câncer 6 .<br />

O tempo médio de sobrevida após um AVC é de<br />

7 anos, período no qual o paciente fica mais sujeito<br />

à recorrência do que a população geral 7 .<br />

Os AVCc, provavelmente, são provocados por diversos<br />

fatores diferentes, mas a imensa maioria deles apresenta<br />

um dado comum, que é a patência do forame oval 10 .<br />

A presença de FOP como facilitador desses eventos<br />

tem sido cada vez mais relatada pela maioria dos<br />

autores, principalmente no que diz respeito a AVC em<br />

pacientes jovens.<br />

Em 1988, Lechat et al. 11 , estudando uma população<br />

de 60 pacientes, todos abaixo de 55 anos, com AVCi<br />

e exame cardiológico normal, encontraram prevalência<br />

de FOP em 54% dos pacientes sem causa identificada<br />

do seu AVC e sem fatores de risco; 40% em pacientes<br />

sem causa identificada, mas com fatores de risco; 21%<br />

em pacientes com uma causa óbvia para o seu AVC;<br />

e somente 10% de prevalência de FOP no grupo<br />

controle.<br />

Estudando 61 pacientes, Steiner et al. 12 encontraram<br />

FOP em 45% dos pacientes com AVCi criptogênico e,<br />

somente em 23% dos pacientes com AVCi associado<br />

a outros fatores de risco (aterosclerose de grandes<br />

vasos, isquemia lacunar e embolia cardiogênica).<br />

Da mesma forma, Webster et al. <strong>13</strong> constataram<br />

prevalência de FOP de 50%, em pacientes com AVCi<br />

de origem inexplicada, contra 15% no grupo controle.<br />

No Brasil, apesar de serem raros os estudos epidemiológicos<br />

publicados sobre doenças cerebrovasculares,<br />

estas se constituem em uma das mais freqüentes<br />

causas de óbito no país 14 .<br />

Diversos estudos têm mostrado evidente aumento<br />

da prevalência de FOP em pacientes jovens com AVCi<br />

criptogênico. Contudo, essa relação de FOP e AVCi<br />

não tem sido demonstrada em pacientes idosos 15,16 .<br />

Vale lembrar que é muito difícil provar que o FOP<br />

seria realmente a fonte do êmbolo em determinados<br />

pacientes, uma vez que, quando este procura atendimento<br />

médico, o evento embólico já ocorreu. Com<br />

isso, mesmo que se demonstre a presença de FOP, o<br />

máximo que podemos fazer é pressupor que o mesmo<br />

186<br />

FChamie.p65 186<br />

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Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />

estaria envolvido como facilitador do fenômeno embólico,<br />

após todas as outras causas possíveis terem sido<br />

excluídas.<br />

Bridges et al. 17 postulam que se o AVCi devido a<br />

embolia paradoxal se assemelha a outros AVCi cardioembólicos,<br />

então também seriam propensos a carrrearem<br />

um alto risco de recorrência. Em concordância, Sievert<br />

et al. 15 afirmam que pacientes com um primeiro evento<br />

embólico presumivelmente causado por FOP portariam<br />

um risco aumentado de sofrerem eventos recorrentes<br />

e citam o Lausanne study, onde a taxa de recorrência<br />

anual foi de 1,9% para AVCi, 1,9% para ataque isquêmico<br />

transitório (AIT) e 3,8% para a combinação de<br />

AVCi/AIT, independente do tratamento com antiagregantes<br />

plaquetários ou anticoagulantes 18 .<br />

Windecker et al. 19 também relatam que pacientes<br />

com FOP e embolia paradoxal estariam sob risco aumentado<br />

de tromboembolismo recorrente, com uma taxa<br />

combinada de AVC e AIT de 3,4% a 3,8% por ano.<br />

Mas et al. 20 acompanharam longitudinalmente 581<br />

pacientes de 18 a 55 anos de idade, que tinham<br />

sofrido um AVCi criptogênico. Todos foram medicados<br />

com aspirina. Após 4 anos, o risco de AVC recorrente<br />

foi de 2,3% entre os que tinham FOP isolado, 15,2%<br />

entre os que tinham FOP e ASA e, 4,2% entre os que<br />

não tinham nenhuma das duas anormalidades. Importante<br />

ressaltar que não houve recorrência de eventos<br />

entre os pacientes que tinham ASA isolado.<br />

Esses resultados chamam, indubitavelmente, a atenção<br />

para o FOP como um dos principais fatores envolvidos<br />

na fisiopatogênese do AVCi de origem desconhecida,<br />

principalmente em adultos jovens, em quem a<br />

associação de outras etiologias é menos prevalente.<br />

FOP E ENXAQUECA<br />

Segundo o critério da International Headache Society,<br />

são reconhecidos dois tipos de enxaqueca: a enxaqueca<br />

sem aura ou enxaqueca comum (MA-) e a enxaqueca<br />

clássica, acompanhada dos sintomas da aura (MA+) 21 .<br />

A enxaqueca comum é mais freqüente, acometendo<br />

75% dos pacientes, enquanto que a enxaqueca<br />

clássica ocorre em 33% dos casos. A superposição se<br />

explica porque até 33% dos pacientes têm ambos os<br />

tipos de ataques durante a vida.<br />

A enxaqueca é um transtorno social importante,<br />

uma vez que 5% da população geral têm até 18 dias<br />

de enxaqueca por ano, interferindo com, ou mesmo<br />

impedindo, o desempenho normal das atividades diárias.<br />

Nos EUA, pelo menos 2,5 milhões de pessoas<br />

têm um dia de enxaqueca por semana 22 .<br />

A enxaqueca acomete pessoas jovens, com o pico<br />

de incidência entre 25 e 40 anos. Em pessoas abaixo<br />

de 40 anos, a enxaqueca é 350 vezes mais freqüente<br />

do que o AVC, enquanto que a incidência de AVC<br />

aumenta exponencialmente com a idade. Enxaqueca<br />

com aura pode ser o único fator de risco para AVC em<br />

mulheres abaixo de 35 anos, principalmente naquelas<br />

em uso de contraceptivos orais ou tabagistas 23 .<br />

Tem sido reportado que cefaléias migranosas, tipo<br />

enxaqueca, são freqüentemente relatadas em condições<br />

predispondo a AVCs, e estão presentes em até 34%<br />

dos ataques isquêmicos (57% em vértebro-basilares) 24 .<br />

Portadores de enxaqueca com aura têm maior<br />

incidência de FOP. Em pacientes portadores de eventos<br />

cerebrovasculares, Mas et al. 20 detectaram uma incidência<br />

maior de enxaqueca nos que apresentavam defeitos<br />

do septo atrial (27,4%), do que nos que tinham o<br />

septo íntegro (<strong>13</strong>,5%) - p


Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />

tados estarão disponíveis no início de 2006, o que<br />

certamente trará mais subsídios para a indicação de<br />

fechamento do FOP na enxaqueca.<br />

OUTRAS CONDIÇÕES CLÍNICAS ASSOCIADAS<br />

AO FOP<br />

Síndrome descompressiva em mergulhadores<br />

Embora embolia paradoxal através de FOP tenha<br />

sido descrita em 1877 4 e a embolia gasosa paradoxal<br />

em 1979 32 , os primeiros relatos de uma possível relação<br />

entre a síndrome de descompressão e a patência do<br />

forame oval datam somente de 1989 33 .<br />

O mergulho envolve um risco para lesões neurológicas<br />

causadas por doença de descompressão: embolia<br />

gasosa arterial, anóxia, e aos efeitos tóxicos das altas<br />

pressões parciais dos gases inalados 34,35 . A síndrome<br />

descompressiva relacionada ao forame é causada, presumivelmente,<br />

por bolhas de nitrogênio passando através<br />

do septo interatrial 36 .<br />

Em 1986, Wilmshurst et al. 37 sugeriram que a comunicação<br />

interatrial e o FOP pudessem ser importantes<br />

na etiologia da embolia gasosa arterial em mergulhadores.<br />

Tem sido mostrado que síndrome descompressiva<br />

(SDC) causa mais freqüentemente lesões cerebrais em<br />

mergulhadores que possuem forame patente do que<br />

em indivíduos sãos 6,36 . Ainda, é relatada uma prevalência<br />

aumentada de complicações, mesmo na ausência de<br />

SDC reconhecida 16 . Alguns estudos retrospectivos têm<br />

confirmado esta informação. Num estudo de Knauth et<br />

al. 38 , em 1997, foi utilizado o Doppler transcraniano<br />

para detectar a presença de shunt direita-esquerda em<br />

87 mergulhadores. Múltiplas lesões cerebrais visualizadas<br />

à ressonância magnética ocorreram exclusivamente<br />

naqueles com grande shunt direita-esquerda, o que<br />

se presumiu seria causado por um forame oval patente.<br />

Germonpré et al. 39 , utilizando o ecocardiograma<br />

transesofágico (ETE) com contraste, demonstraram uma<br />

prevalência de FOP de 59,9% em mergulhadores com<br />

síndrome descompressiva contra 36,1% em controles,<br />

fornecendo uma OR de 5,6.<br />

Schwerzmann et al. 35 também estudaram a prevalência<br />

de sintomas de descompressão e lesões cerebrais<br />

isquêmicas e sua relação com FOP. A população estudada<br />

foi de 52 mergulhadores num grupo, e 52 indivíduos<br />

não mergulhadores no grupo controle. Os resultados<br />

mostraram que apenas o ato de mergulhar, independente<br />

da presença do FOP, está relacionado com um<br />

aumento de 5 vezes na incidência de lesões cerebrais<br />

isquêmicas, quando comparado com pessoas que não<br />

mergulham. Contudo, mergulhadores portadores de<br />

FOP têm aumento de 4,5 vezes nos eventos de descompressão<br />

e de 2 vezes mais lesões cerebrais isquêmicas<br />

que os mergulhadores sem FOP.<br />

De acordo, Cantais et al. 40 , utilizando o Doppler<br />

transcraniano, demonstraram uma prevalência de FOP<br />

de 58,4% nos mergulhadores que sofreram síndrome<br />

descompressiva, contra 24,8% em controles não comparados,<br />

fornecendo uma OR de 4,3.<br />

Mais recentemente, Torti et al. 41 , também com o<br />

uso do ETE com contraste, mostraram uma prevalência<br />

de 64% de FOP nos mergulhadores com SDC contra<br />

25,7% nos controles, com uma OR de 4,8.<br />

Esses resultados têm, concordantemente, revelado<br />

uma maior incidência de complicações neurológicas<br />

em mergulhadores portadores de forame oval patente<br />

que sofrem SDC e sugerem que a pesquisa sistemática<br />

e o fechamento do defeito septal possa ser uma recomendação<br />

definitiva num futuro próximo.<br />

Síndrome Platipnéia-Ortodeoxia (SPO)<br />

É uma síndrome rara e peculiar. Sua primeira descrição<br />

foi feita, em 1949, por Burchell et al. 42 .<br />

É mais freqüentemente observada em idosos e se<br />

caracteriza por dispnéia e cianose (desaturação arterial)<br />

quando se adota a posição ortostática, melhorando<br />

ao adotar-se a posição supina. O reconhecimento dessa<br />

síndrome requer um alto nível de suspeição clínica e<br />

é estabelecido pela análise de amostras de gasometria<br />

arterial em posições ortostática e supina, mostrando<br />

queda da saturação de O 2<br />

na amostra colhida em<br />

ortostatismo. Várias entidades clínicas têm sido associadas<br />

a esta síndrome, envolvendo acometimento de<br />

diversos órgãos (Quadro 1).<br />

Embora a fisiopatologia precisa da desaturação<br />

arterial ortostática ainda não tenha sido completamente<br />

elucidada, um pré-requisito necessário é a presença<br />

de shunt direita-esquerda (D-E). De acordo com isso,<br />

a classificação etiológica da síndrome de platipnéiaortodeoxia<br />

é baseada na localização do shunt:<br />

Quadro 1<br />

Entidades clínicas associadas à<br />

Síndrome de Platipnéia-Ortodeoxia<br />

Causas Cardíacas<br />

FOP, CIA, ASA, derrame pericárdico, dilatação da<br />

raiz da aorta, valva de Eustáquio persistente,<br />

pericardite constrictiva<br />

Causas Pulmonares<br />

Enfisema, fístulas arteriovenosas, pneumectomia,<br />

embolia pulmonar<br />

Causas Gastrointestinais<br />

Síndrome hepatopulmonar<br />

Causas Músculo-esqueléticas<br />

Deficiência da musculatura abdominal, cifo-escoliose<br />

Causas Neurológicas<br />

Disfunção autonômica<br />

188<br />

FChamie.p65 188<br />

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Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />

1. Intracardíaco – FOP, CIA, aneurisma septal perfurado;<br />

2. Vascular pulmonar – fístulas artério-venosas pulmonares;<br />

3. Shunts intra-parenquimatosos pulmonares – áreas<br />

de baixa relação ventilação/perfusão.<br />

A associação etiológica mais comum é com um<br />

shunt interatrial direita-esquerda, estabelecido por meio<br />

de um FOP.<br />

Pacientes com shunt direita-esquerda sintomáticos<br />

são usualmente dispnéicos, independentemente da posição<br />

adotada. Contudo, defeitos intracardíacos podem<br />

ser anatomicamente pequenos e clinicamente silenciosos.<br />

Em alguns desses casos, o defeito pode ser fisicamente<br />

estirado pela posição ortostática, permitindo<br />

maior passagem de sangue, causando sinais e sintomas<br />

clínicos. Essa consideração tem sido proposta como o<br />

mecanismo pelo qual o shunt intracardíaco pelo FOP,<br />

CIA ou ASA pode causar a SPO.<br />

Entretanto, a desoxigenação arterial só será sintomática<br />

se grande quantidade de sangue desaturado<br />

passar do coração direito para o esquerdo. Sob condições<br />

fisiológicas normais, a pressão atrial esquerda é<br />

maior que a direita, impedindo este fenômeno. Nos<br />

casos de pressão elevada das cavidades direitas, como<br />

na hipertensão arterial pulmonar, é gerada uma força<br />

que permite a ocorrência do shunt D-E. Um portador<br />

de FOP clinicamente silencioso pode manifestar SPO<br />

em casos de embolia pulmonar.<br />

Algumas vezes, uma anatomia e fisiologia intratorácica<br />

alteradas, com pressões pulmonares normais,<br />

permitem a passagem de sangue do AD para o AE,<br />

contra uma pressão atrial esquerda maior (pneumectomia,<br />

diminuição na complacência do VD pós-infarto,<br />

pericardite constrictiva, valva de Eustáquio proeminente,<br />

dilatação da raiz da aorta).<br />

Nem todos os casos de platipnéia-ortodeoxia têm<br />

uma única causa. Na maioria das vezes vários mecanismos<br />

potenciais combinados levam à síndrome 43 .<br />

estimavam sua prevalência em 0,08% a 1,2%, enquanto<br />

que com o advento do ETE, a prevalência aumentou<br />

para entre 2% a 10% dos pacientes com FOP 45 . Sievert<br />

et al. 15 descrevem uma incidência de 0,3% a 7,9% em<br />

indivíduos sadios.<br />

Inicialmente, considerava-se o aneurisma de septo<br />

atrial como fator de risco independente para eventos<br />

embólicos, incluindo AVCi, AIT e embolia sistêmica.<br />

Entretanto, o Stroke Prevention Assessment of Risk in<br />

a Community (SPARC) Study 46 identificou o ASA como<br />

apenas um fator potencializador do risco, na presença<br />

de um forame patente. De fato, essa relação tem sido<br />

descrita em alguns estudos, que mostram que 28% a<br />

58% dos pacientes com AVCi criptogênicos têm uma<br />

combinação de FOP e ASA 15 .<br />

Mügge et al. 47 definem ASA como um afastamento<br />

do SP da linha média de pelo menos 10mm em direção<br />

a qualquer um dos dois átrios. Nosso grupo utiliza<br />

esta classificação com a variação discriminada abaixo:<br />

• Tipo A: O ASA se protrude da linha média somente<br />

para o átrio direito;<br />

• Tipo B: O ASA se protrude da linha média somente<br />

para o átrio esquerdo;<br />

• Tipo C: O movimento do ASA é bidirecional<br />

para ambos os átrios.<br />

DIAGNÓSTICO DO FOP<br />

A melhor maneira de se visualizar o forame oval<br />

é através do ETE ou do ecococardiograma intracardíaco<br />

(EIC). O ETT tem uma sensibilidade mais baixa, principalmente<br />

em adultos.<br />

O ETE permite a perfeita visualização da anatomia<br />

do forame, seu diâmetro e comprimento (Figura 2).<br />

Além da correta visualização do FO, é necessário<br />

também avaliar sua patência, demonstrando a passagem<br />

de fluxo da direita para a esquerda como possível<br />

FOP E ANEURISMA DO SEPTO ATRIAL<br />

O aneurisma do septo atrial (ASA), geralmente, é<br />

encontrado em associação com defeitos septais atriais<br />

(CIA e FOP) e sua presença deve ser encarada como<br />

um preditor da comunicação interatrial. A prevalência<br />

de FOP em pacientes com ASA varia de 50-80% 44 .<br />

O ASA é uma expansão do SP, delgado e redundante<br />

na região da fossa oval, que se prolapsa para o<br />

átrio direito, átrio esquerdo ou ambos. Seu primeiro<br />

relato, em 1856, foi feito por Rokitansky (Figura 1).<br />

Com a melhora na eficácia dos métodos diagnósticos<br />

disponíveis, a taxa de detecção dos ASA vem aumentando.<br />

Estudos com ecocardiograma transtorácico (ETT)<br />

Figura 1 - Aneurisma do septo atrial. Note-se a grande excursão<br />

do septum primum em direção ao átrio direito (tipo A).<br />

189<br />

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Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />

Figura 2 - Em A, visualiza-se o forame oval, podendo-se analisar toda a sua morfologia (comprimento x abertura). Em B, durante a fase 3<br />

(liberação) da manobra de Valsalva, observa-se a abertura da extremidade cefálica do forame.<br />

facilitador de fenômeno emboligênico. O color Doppler<br />

não é capaz de demonstrar com segurança esse fluxo.<br />

Para isto, lançamos mão do “Teste de Bolhas”, realizado<br />

através de uma injeção periférica de solução produtora<br />

de microbolhas, que são facilmente visualizadas<br />

ao eco bidimensional (por exemplo, solução salina<br />

agitada). Nosso grupo utiliza uma mistura de solução<br />

salina com 1ml de sangue do paciente e uma ampola<br />

de Cefalotina aerada, capaz de produzir bolhas de<br />

excelente qualidade e de longa duração, permitindo a<br />

adequada visualização da passagem pelo forame.<br />

É importante assinalar que o fluxo da veia cava<br />

inferior é naturalmente dirigido para o forame oval por<br />

uma estrutura existente no átrio direito (a crista dividens)<br />

e se choca com o da veia cava superior, afastando<br />

este último da entrada do forame (Figura 3). Isto pode<br />

explicar a maior incidência de resultados falso-negativos<br />

quando se realiza a injeção por uma veia do<br />

braço. Desta forma, a rigor, o exame só deve ser<br />

Figura 3 - Teste de bolhas com a injeção efetuada por uma veia do<br />

braço. Observa-se a imagem negativa provocada pelo sangue da veia<br />

cava inferior, afastando o sangue da veia cava superior do forame.<br />

considerado negativo se não houver a passagem de<br />

bolhas da direita para esquerda, em injeção feita por<br />

uma veia da perna e durante a fase 3 da manobra de<br />

Valsalva (Figura 4).<br />

Resultados falso-positivos podem ocorrer em presença<br />

de fístulas artério-venosas, ou de outras comunicações<br />

interatriais pequenas, principalmente próximas à<br />

veia cava inferior que, pela localização, não são detectadas<br />

pelo ETE, limitação não compartilhada pelo EIC.<br />

Ultimamente, alguns autores vêm utilizando o<br />

Doppler transcraniano (DTC) para a detecção de FOP<br />

em pacientes ambulatoriais. Embora esse método seja<br />

bastante sensível, é pouco específico quando comparado<br />

ao ETE ou EIC.<br />

OPÇÕES TERAPÊUTICAS<br />

A melhor maneira de se tratar os pacientes com<br />

AVC criptogênico e que são portadores de FOP ainda<br />

está sob discussão.<br />

Abordagens disponíveis consistem no tratamento<br />

medicamentoso (com antiagregantes plaquetários e anticoagulantes),<br />

no fechamento cirúrgico do FOP, ou<br />

mais recentemente no seu fechamento percutâneo transcateter<br />

com o uso de dispositivos de oclusão 16,44,48-50 .<br />

Até o momento, não foi realizado nenhum estudo<br />

randomizado dividindo os pacientes com AVC criptogênico<br />

e FOP, nas diversas modalidades terapêuticas<br />

disponíveis 49 . Portanto, a tomada da decisão terapêutica<br />

continua a critério do médico assistente e do<br />

desejo do paciente e, para isso, é necessário o conhecimento<br />

das várias opções, suas indicações, taxas de<br />

sucesso e insucesso, bem como as complicações. Abaixo,<br />

apresentamos um breve resumo das diferentes modalidades<br />

terapêuticas para a prevenção secundária<br />

de eventos cerebrovasculares, em pacientes portadores<br />

de FOP.<br />

190<br />

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Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />

Figura 4 - Teste de bolhas realizado durante procedimento de fechamento com injeção em veia do braço (A) e, imediatamente a seguir, por<br />

veia da perna (B), mostrando a pequena passagem de bolhas pelo forame de átrio direito para átrio esquerdo quando pelo braço, comparandose<br />

com a quantidade significativamente maior na injeção pela perna.<br />

Tratamento Medicamentoso<br />

Tradicionalmente, as substâncias mais utilizadas<br />

são a aspirina ou a warfarina sódica. Não existem<br />

muitos dados sobre o uso dos tienopiridínicos (ticlopidina<br />

e clopidogrel) como terapia primária ou adjunta<br />

à aspirina, ficando, geralmente, reservados para os<br />

casos de alergia ou intolerância à aspirina.<br />

O tratamento medicamentoso tem um risco de<br />

eventos embólicos recorrentes de 2,3 a 14,4% por<br />

ano. A taxa de recorrência anual para AVC e ocorrência<br />

de morte é de 1,2 a 7,2% por ano 48 .<br />

Num estudo retrospectivo de 90 pacientes menores<br />

de 60 anos, com isquemia cerebral, 52 tinham FOP.<br />

Aqueles que receberam aspirina ou nenhum tratamento<br />

tiveram uma taxa de recorrência de eventos neurológicos<br />

quase 3 vezes maior que os que usaram warfarina 51 .<br />

A comparação entre aspirina e nenhum tratamento<br />

não foi possível pelo pequeno número de pacientes<br />

nos dois grupos. Além disso, o estudo fica sujeito a<br />

críticas, uma vez que a escolha do tratamento ficava<br />

a critério do médico assistente, houve um grande crossover<br />

entre os grupos e a definição dos desfechos, que<br />

eram múltiplos, não foi cega.<br />

Os investigadores do estudo PICSS (PFO In Cryptogenic<br />

Stroke Study) randomizaram 630 pacientes que<br />

haviam sofrido AVCi (42,1% criptogênicos) para tratamento<br />

com aspirina ou warfarina sódica, acompanhando-os<br />

por 2 anos. Não encontraram diferenças significativas<br />

entre as duas modalidades de tratamento com<br />

relação às taxas de recorrência de AVC ou morte, na<br />

população total estudada com FOP (16,5% para warfarina<br />

versus <strong>13</strong>,2% para aspirina, p=0,49), embora<br />

tenha havido uma tendência à superioridade da warfarina<br />

no subgrupo de pacientes com AVC criptogênico e<br />

FOP (9,5% para warfarina versus 17,9% para aspirina,<br />

p=0,28). A incidência de sangramentos maiores (intracerebrais,<br />

subaracnóide, subdural, epidural ou qualquer<br />

outro sangramento que necessitasse transfusão) não<br />

apresentou diferença significativa entre warfarina e<br />

aspirina (1,78 versus 1,91 eventos/100 pacientes-ano).<br />

Entretanto, o grupo da warfarina teve maior incidência<br />

de sangramentos menores (22,9 versus 8,66 eventos/<br />

100 pacientes-ano) 50 .<br />

Tratamento Cirúrgico<br />

A abordagem tradicional de fechamento mecânico<br />

do FOP é a cirurgia, por meio de toracotomia. Séries<br />

de relatos de casos são pequenas, mas as taxas de<br />

AVC pós-operatório variam de 0 a 3,5% em dois anos 49 ,<br />

com um risco combinado de AVC/AIT podendo chegar<br />

a 19,5%, no primeiro ano 6 .<br />

A cirurgia pode ser realizada com um risco baixo 48 ,<br />

uma vez que a mortalidade associada com o fechamento<br />

de um defeito do septo atrial, não complicado, é estimada<br />

em torno de 1,5% 49 . Outros riscos perioperatórios<br />

incluem fibrilação atrial, derrame pericárdico e necessidade<br />

de reoperação por causa de sangramento 49 .<br />

Homma et al. 52 relataram os resultados de 28 pacientes<br />

submetidos ao fechamento do FOP. O tempo<br />

médio de permanência hospitalar foi de 7,8 ± 3,8<br />

dias. Dezoito por cento dos pacientes desenvolveram<br />

síndrome pós-cardiotomia. Ocorreram 4 eventos neurológicos<br />

recorrentes durante um seguimento médio de<br />

19 meses.<br />

Devuyst et al. 53 não relataram qualquer evento<br />

neurológico recorrente num acompanhamento de 2<br />

anos após o fechamento cirúrgico do FOP, apesar da<br />

existência de shunt residual em 4 pacientes dos 30<br />

submetidos ao tratamento.<br />

No trabalho de Dearani et al. 54 , dos 91 pacientes<br />

191<br />

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Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />

submetidos ao fechamento cirúrgico do FOP, ocorreram<br />

8 eventos neurológicos recorrentes, num seguimento<br />

médio de 2 anos. Seis (6,6%) pacientes apresentaram<br />

derrame pericárdico, 4 dos quais necessitaram drenagem.<br />

Sangramento pós-operatório ocorreu em 3,3%<br />

dos pacientes e, um doente apresentou infecção superficial<br />

da ferida operatória. A permanência hospitalar<br />

foi de 5,7 ± 3,0 dias.<br />

Atualmente, o fechamento cirúrgico do FOP é raramente<br />

realizado por causa da morbi-mortalidade de<br />

uma cirurgia cardíaca 48 .<br />

Tratamento Percutâneo Transcateter<br />

A primeira tentativa de fechamento de um defeito<br />

septal por cateter, remonta a 1976 com Mills e King 55 ,<br />

que idealizaram uma prótese de duplo disco com<br />

mecanismo de fixação por um parafuso. Essa prótese<br />

foi abandonada, e nos anos 80, surgiu a prótese Clamshell<br />

Occluder, desenvolvida por Rashkind 49 . Esta prótese<br />

foi utilizada em quase 900 pacientes no início<br />

dos anos 90. Contudo, foi retirada dos ensaios clínicos<br />

em 1991, por causa de freqüentes (até 84%) fraturas<br />

de um ou mais braços de metal dos umbrellas, dentro<br />

do primeiro ano após o implante 56 .<br />

O Clamshell Occluder foi modificado por Lock,<br />

utilizando metal não ferroso, no CardioSEAL e, posteriormente,<br />

no StarFLEX. Estes dispositivos eram utilizados<br />

para o fechamento das comunicações interatriais (CIA),<br />

mas logo se tornou óbvia a ampliação de seu uso para<br />

o fechamento do FOP.<br />

O primeiro fechamento percutâneo de forame oval<br />

só foi descrito por Bridges et al. 17 , em 1992, utilizando<br />

a Clamshell Occluder em 36 pacientes após embolia<br />

paradoxal presumida.<br />

A partir de então, o uso da técnica de oclusão<br />

percutânea tem se tornado mais popular, representando<br />

procedimento de rotina em muitos centros.<br />

Novas próteses foram desenvolvidas e, apenas na<br />

década de 90, houve o desenvolvimento de dispositivos<br />

dedicados ao fechamento do FOP. A primeira foi<br />

o Amplatzer PFO Occluder, com o primeiro implante<br />

tendo sido realizado pelo seu criador, o Dr. Kurt Amplatz,<br />

em 10 de setembro de 1997. Posteriormente, foi criado<br />

o PFO Star e, mais recentemente, o Helex Septal Occluder<br />

6,56 . Todas as próteses mencionadas foram desenvolvidas<br />

inicialmente para o fechamento das CIA, passando<br />

a serem utilizadas também para a oclusão dos FOP.<br />

Apenas o Amplatzer Septal Occluder tem uma versão<br />

dedicada ao fechamento do FOP (Amplatzer PFO<br />

Occluder).<br />

Gerações mais modernas de dispositivos foram<br />

desenvolvidas nos últimos anos, ainda não disponíveis<br />

no mercado nacional. Um dispositivo com sistema de<br />

fixação, de comprimento variável e discos com muito<br />

pouco metal, capaz de se adaptar a qualquer tipo de<br />

forame e mais adequado aos túneis longos, está presente<br />

na Premere Septal Occluder.<br />

Novas variações sobre o desenho da Cardia/Intrasept,<br />

que apresenta o disco formado por uma matriz<br />

de colágeno com maior potencial de endotelização, é<br />

o atrativo da BioStar.<br />

Um conceito muito mais atraente e engenhoso,<br />

capaz de promover o fechamento do forame pela soldadura<br />

do SP sobre o SS com a utilização de radiofreqüência,<br />

sem o uso de qualquer prótese, é a proposta<br />

do PFX Closure System.<br />

No Quadro 2, fazemos um breve resumo dos<br />

tipos mais utilizados de dispositivos para tratamento<br />

do FOP.<br />

Atualmente, as mais usadas são: a CardioSEAL/<br />

StarFLEX, Helex e Amplatzer, as duas últimas com taxas<br />

de oclusão completa girando em torno de 95% em 6<br />

meses 15 .<br />

As taxas de oclusão eficaz do FOP, definida como<br />

ausência ou presença de shunt trivial, após o implante,<br />

têm variado de 63 a 100%. Uma redução progressiva<br />

na incidência de shunt residual, dentro dos primeiros<br />

2 anos após o implante, tem sido relatada, com rara<br />

necessidade de nova intervenção cirúrgica ou percutânea<br />

para correção do shunt residual. Além disso, recorrência<br />

de eventos neurológicos ou embolia periférica<br />

tem variado de 0 a 3,8% por ano. Como a maioria<br />

destes episódios recorrentes ocorre dentro do primeiro<br />

ano do implante do dispositivo de oclusão, um regime<br />

antiagregante plaquetário ou anticoagulante mais intenso<br />

pode ser necessário durante este período vulnerável 44 .<br />

Complicações podem ocorrer durante o implante<br />

da prótese, incluindo complicações no acesso venoso,<br />

embolia gasosa através da bainha transeptal, embolização<br />

da prótese e perfuração da parede atrial, com<br />

formação de derrame pericárdico e tamponamento cardíaco.<br />

Após o implante, outras complicações podem<br />

ocorrer, como embolia da prótese, endocardite bacteriana,<br />

fratura e deformação de seus discos e, formação<br />

de trombos em sua superfície. A complicação mais<br />

freqüentemente relatada durante o implante é a embolia<br />

do dispositivo. Os riscos de deslocamento, embolização<br />

ou má posição variam de 1,4 a 20% 44 .<br />

Berger et al. 57 relataram sua experiência com o<br />

Amplatzer Septal Occluder em 200 pacientes, 68 dos<br />

quais tinham FOP. Eles obtiveram fechamento completo<br />

do defeito em todos os pacientes com FOP, sem efeitos<br />

adverso neste grupo.<br />

Wahl et al. 58 relataram, em 2001, 55 casos de<br />

uma coorte de 152 pacientes consecutivos, onde o<br />

Amplatzer Septal Occluder (10 ASD; 45 PFO) foi usado<br />

para fechamento do FOP. Em um paciente, que tinha<br />

um grande ASA, o dispositivo embolizou para artéria<br />

pulmonar, de onde foi retirado percutaneamente. Seis<br />

192<br />

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Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />

Prótese<br />

QUADRO 2<br />

Dispositivos para Fechamento do FOP<br />

Comentários<br />

CardioSEAL Septal Occluder<br />

Redesenhada a partir do Clamshell Occluder para prevenir fratura dos braços,<br />

(NMT Medical, Boston, MA) melhorar as taxas de oclusão completa e facilidade de uso. Consiste de 2<br />

discos retangulares, cada um possuindo 4 braços de metal, fornecendo suporte<br />

ao duplo umbrella. Cada braço tem 2 articulações para melhorar a<br />

flexibilidade e desgaste do metal. Os discos são recobertos com poliéster. Os<br />

centros dos umbrellas são conectados. Pode ser implantada em bainhas 11F<br />

e está disponível em tamanhos até 38mm. Recebeu aprovação do FDA para<br />

tratamento do FOP em 2000.<br />

StarFLEX Septal Occluder<br />

(NMT Medical, Boston, MA)<br />

Nova versão da CardioSEAL, sendo estruturalmente idêntica, tem um sistema<br />

adicional de microeixos de nitinol, que conectam a ponta distal de cada braço<br />

com o seu oposto. Esse sistema permite auto-centralização da prótese após<br />

implante. Além disso, os microeixos fornecem uma maior fixação dos discos<br />

ao septo, permitindo o uso de um perfil menor, sendo útil em defeitos complexos.<br />

Pode ser introduzida numa bainha 10F e também existe uma versão com<br />

6 braços, com diâmetros de 38 e 43mm.<br />

Amplatzer PFO Occluder<br />

(AGA Medical Corp.,<br />

Golden Valley, Minnesota)<br />

O Amplatzer PFO Occluder é similar ao Amplatzer ASD, mas o disco do AD é<br />

maior que o do AE (exceto na prótese de 18mm) e o mecanismo de centralização<br />

é diferente, não necessitando do corpo central. Tem um diâmetro menor,<br />

permitindo movimentação livre de cada disco. Disponível em três tamanhos:<br />

18, 25 e 35 mm.<br />

Helex Occluder<br />

(Gore Medical, Flagstaff, Ar)<br />

Premere PFO Closure System<br />

(Velocimed, Inc., Minneapolis)<br />

É um dispositivo com uma forma em espiral peculiar. Consiste de um fio helicoidal<br />

de nitinol, com retalho de e-PTFE que forma 2 discos conectados no<br />

centro. Disponível nos tamanhos 15, 20, 25, 30 e 35 mm. Vem com um<br />

sistema de entrega 9F. O desenho em espiral fornece um perfil muito baixo<br />

após o implante. Outro aspecto único é que o sistema de liberação possui<br />

uma corda de segurança fixada ao dispositivo, permitindo a recuperação da<br />

prótese em qualquer ponto do procedimento, mesmo após liberada do cateter<br />

de entrega.<br />

É um dispositivo de duplo braço com forma de âncora auto-expansível. As<br />

âncoras são feitas de nitinol. As âncoras do lado direito são envolvidas por<br />

duas camadas de tecido de poliéster. Uma corda central flexível, trançada em<br />

poliéster, passa pelo centro das âncoras, mantendo-as unidas. As âncoras<br />

podem ser recuperadas e reposicionadas. Após a liberação, elas são travadas<br />

juntas e a corda central cortada. A distância entre as duas âncoras é variável,<br />

dependendo do comprimento do túnel do FOP, sendo uma ótima opção para<br />

forames com túneis longos. Está disponível nos tamanhos: 15, 20 e 25 mm.<br />

PFO-Star Occluder<br />

(CARDIA, Inc., Burnsville)<br />

Também disponível em 3 tamanhos: 25, 30 e 35 mm. Sua armação de nitinol<br />

é recoberta por uma membrana de polyvinyl alcoólico (Ivalon). Sua característica<br />

mais interessante é possuir os discos conectados ao eixo central por um<br />

mecanismo que permite a sua angulação, podendo se adaptar com mais<br />

facilidade à anatomia do forame. Introduzida através de bainhas transeptais<br />

10 a 12F, a prótese pode ser removida antes e depois da liberação.<br />

193<br />

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Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />

pacientes (3 ASD e 3 PFO) apresentaram shunt residual,<br />

com 2 deles evoluindo com embolia recorrente num<br />

seguimento cumulativo de 37 anos. Em 11 pacientes,<br />

foram implantadas as próteses CardioSEAL e StarFLEX,<br />

sem qualquer complicação. Somente um paciente teve<br />

shunt residual. Os autores encontraram uma correlação<br />

significativamente estatística (p=0,02) entre embolia recorrente<br />

e shunt residual.<br />

Onorato et al. 59 , no período de 1999 a 2002,<br />

realizaram a oclusão do FOP em 256 pacientes, com<br />

248 Amplatzer PFO, 4 Helex e 4 PFO Star. Num seguimento<br />

médio de 19 meses, a taxa de oclusão total foi<br />

de 98,1%, sem eventos embólicos recorrentes.<br />

Bayard et al. 48 relatam sua experiência com fechamento<br />

de FOP em 700 pacientes, 257 dos quais tinham<br />

ASA. Os seguintes dispositivos foram implantados: 19<br />

Angelwings, 10 ASDOS, 26 Sideris, 23 CardioSEAL,<br />

229 Amplatzer PFO, 202 Helex e 191 StarFLEX. Todos<br />

os implantes foram bem sucedidos. Com os novos<br />

dispositivos (Amplatzer, Helex e StarFLEX = 622), num<br />

seguimento de 5 meses a 6 anos, a mortalidade foi de<br />

0,7%, necessidade de cirurgia, 0,7%, AVC recorrente,<br />

1% e AIT recorrente, 0,9%. Houve 1 tamponamento<br />

pericárdico e 2 embolizações da prótese. Ocorreram<br />

6 trombos no dispositivo, todos nos primeiros 2 meses<br />

de seguimento.<br />

Até o momento, são raros os trabalhos que comparam<br />

a eficácia e os resultados dos diversos tipos de<br />

dispositivo disponíveis.<br />

Khairy et al. 60 realizaram uma meta-análise de 16<br />

trabalhos, de 1985 a 2003, com o objetivo de comparar<br />

os resultados do tratamento medicamentoso com<br />

a modalidade intervencionista para a prevenção secundária<br />

de eventos cerebrovasculares recorrentes em pacientes<br />

com FOP. De um lado, foram analisados 6<br />

trabalhos, englobando 896 pacientes, que utilizaram<br />

o tratamento medicamentoso clássico com aspirina<br />

(em doses de 250, 300 e 325mg) e, anticoagulação<br />

Figura 5 - Angiografia seletiva em OAE, delimitando o túnel do<br />

forame oval, com dimensões habituais, mostrando abertura na porção<br />

cefálica com passagem de material de contraste de átrio direito<br />

para átrio esquerdo.<br />

com warfarina (com faixas de INR de 1,4-2,8, 20-3,0<br />

e 3,0-4,0). Numa minoria dos pacientes foi usado o<br />

clopidogrel ou ticlopidina. No outro grupo, foram analisados<br />

10 trabalhos, compreendendo <strong>13</strong>55 pacientes,<br />

e foram utilizadas todas as próteses disponíveis. As<br />

taxas de eventos tromboembólicos recorrentes em 1<br />

ano foram de 0% a 4,9% no fechamento percutâneo,<br />

contra 3,8% a 12,0% no tratamento medicamentoso.<br />

Técnica de fechamento<br />

O procedimento é realizado em sala de hemodinâmica,<br />

e monitorado através da ecocardiografia transesofágica.<br />

Inicialmente, puncionamos duplamente a<br />

veia femoral colocando duas bainhas curtas e realizamos<br />

um cateterismo direito e esquerdo com registro<br />

de pressão pulmonar. Em seguida, fazemos uma injeção<br />

no próprio forame, de forma a delinear completamente<br />

o túnel (Figura 5). Cruzamos o septo (com auxílio de<br />

um guia hidrofílico, quando necessário), posicionando<br />

o cateter na veia pulmonar superior esquerda. Por<br />

dentro dele, fixamos um guia de troca, rígido, por<br />

sobre o qual introduzimos a bainha longa, de calibre<br />

adequado à prótese a ser empregada, posicionandoa<br />

em AE.<br />

Escolhemos o dispositivo de oclusão baseados no<br />

comprimento e na abertura não provocada do forame,<br />

avaliados no ETE e na angiografia. A prótese, enroscada<br />

no cabo de entrega, é tracionada para dentro do carregador<br />

próprio, de onde é transferida através da bainha<br />

longa por dentro do defeito, até o átrio esquerdo. Lá,<br />

é exteriorizado o disco distal. O conjunto prótese-bainha<br />

é recuado de encontro ao septo e, mantendo-se a tensão<br />

adequada no sistema, exteriorizamos o disco proximal<br />

no AD. Neste ponto, com a prótese ainda presa ao<br />

cabo de entrega, realizamos um teste de bolhas pelo<br />

cateter colocado na outra bainha curta. Se não há passagem<br />

de bolhas, a prótese é destacada do cabo de entrega e<br />

novo teste de bolhas é realizado. Se persistir negativo,<br />

o procedimento é encerrado (Figura 6).<br />

No seguimento, o paciente é orientado a usar<br />

aspirina e clopidogrel por um mês, mantendo apenas<br />

a aspirina até o sexto mês pós-procedimento, quando<br />

a prótese deverá estar completamente endotelizada. É<br />

feito controle com ETT, no primeiro e terceiro meses<br />

após o fechamento. No sexto mês, novo ETE é realizado<br />

e, quando não há shunt residual, a aspirina é<br />

descontinuada (Figura 7). Os pacientes são orientados<br />

a manter profilaxia para endocardite infecciosa pelos<br />

seis primeiros meses após o procedimento.<br />

O procedimento não deverá ser realizado na presença<br />

de trombos, massas ou vegetações intracardíacas,<br />

de bacteremia, ou em pacientes incapazes de tomar<br />

anticoagulante ou antiagregantes plaquetários.<br />

Na nossa prática diária, temos dado preferência às<br />

próteses de Helex e Amplatzer pela praticidade do seu<br />

uso e pelos bons resultados apresentados.<br />

194<br />

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Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />

Figura 6 - Fluoroscopia durante o implante, mostrando em A, prótese de Helex e em B, uma prótese de Amplatzer já liberadas e em boa posição.<br />

Figura 7 - Ecotransesofágico, após 6 meses do implante, mostrando em A uma prótese de Helex e em B uma prótese de Amplatzer, ambas<br />

sem shunt residual.<br />

DISCUSSÃO<br />

Ainda hoje, permanece, para alguns autores, a controvérsia<br />

sobre a relação do FOP com os eventos embólicos<br />

(principalmente AVCi em jovens), apesar da massa<br />

de evidências existentes na literatura. Certamente, isso<br />

é devido ao fato do fenômeno embólico não ser visualizado<br />

diretamente e o diagnóstico costumar ser retrospectivo<br />

e dedutivo por exclusão. É preciso que não haja<br />

uma causa determinada para o evento, que o forame<br />

seja corretamente diagnosticado e que a possibilidade<br />

de embolia paradoxal seja considerada.<br />

Outro fator de dificuldade reside no fato de que,<br />

muitas vezes, o evento embólico possa ser multifatorial,<br />

como, por exemplo, a coexistência de trombofilia associada<br />

ao FOP.<br />

A identificação do FOP, em nosso meio, ainda<br />

não tem sido corretamente realizada em vários serviços<br />

de bom nível e não é infreqüente sermos chamados<br />

para realizar a oclusão percutânea de defeitos que<br />

estão completamente fechados. A falta de padronização<br />

do método, as diferentes maneiras de se produzir as<br />

bolhas e a condução do teste de forma inadequada<br />

têm sido responsáveis por inúmeros casos falso-positivos,<br />

criando expectativas indevidas aos pacientes e<br />

falso-negativos, privando doentes do tratamento mais<br />

adequado para o seu caso.<br />

O tratamento convencional para os AVCi com FOP<br />

é medicamentoso, com o uso de antiagregantes plaquetários<br />

ou anticoagulantes. Alguns pacientes têm contraindicação<br />

para o seu uso, alguns recusam a medicação<br />

pelas limitações impostas ao seu estilo de vida e aproximadamente<br />

15% apresentam recorrência de eventos,<br />

mesmo com o correto tratamento medicamentoso.<br />

Outras opções intervencionistas são o fechamento<br />

percutâneo com próteses ou cirúrgico do defeito. Até<br />

195<br />

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Chamié F, et al. Fechamento Percutâneo do Forame Oval Patente. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 185-197.<br />

o momento, no entanto, não existem estudos randomizados<br />

comparando estas diferentes opções terapêuticas<br />

pela dificuldade da randomização, que não é aceita<br />

com facilidade pelos pacientes, nem pelos médicos<br />

assistentes.<br />

A correção cirúrgica, em princípio, apresenta maior<br />

índice de morbidade relativa ao procedimento, do que<br />

o fechamento transcateter. Além do que, a técnica cirúrgica<br />

convencional preconiza o fechamento do forame<br />

pelo átrio direito, seja por sutura direta das bordas,<br />

seja pela colocação de um retalho, deixando algumas<br />

vezes um túnel aberto no átrio esquerdo, potencialmente<br />

trombogênico, com o conseqüente risco de embolização<br />

pós-operatória, criando eventos residuais.<br />

O fechamento percutâneo, apesar de ser um procedimento<br />

tecnicamente fácil, exige uma curva de aprendizado<br />

que não deve ser menosprezada. Para os pacientes<br />

é importante que o procedimento seja simples e seguro,<br />

com risco tendendo a zero.<br />

O fechamento percutâneo deve sempre preceder<br />

o fechamento cirúrgico, pois não torna a cirurgia mais<br />

difícil caso não seja bem sucedido.<br />

Até o momento, os estudos realizados comparando<br />

o fechamento percutâneo com o tratamento convencional<br />

(medicamentoso) favorecem a oclusão.<br />

Com várias próteses de última geração no mercado,<br />

mais estudos se fazem necessários para definir o melhor<br />

tipo de dispositivo no fechamento percutâneo do forame<br />

oval.<br />

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Artigo de Revisão<br />

Fechamento Percutâneo de Comunicação<br />

Interatrial com Prótese Amplatzer<br />

Edmundo Clarindo Oliveira 1,2,3,4,5,6,7 , Helder M. Paupério 2,3,4,5,6,7,8 , Ivan Ferreira de Freitas 6,9 ,<br />

Gustavo Lobato Adjuto 3,10 , Tamara Katina 3,11,12 , Marcelo M. Paupério <strong>13</strong> , Andréia A. C. Oliveira <strong>13</strong><br />

RESUMO<br />

O fechamento percutâneo das comunicações interatriais<br />

(CIA) tipo ostium secundum (OS) tem se tornado o procedimento<br />

de escolha pelo alto índice de sucesso e baixa morbimortalidade.O<br />

aperfeiçoamento dos materiais existentes e<br />

o surgimento de outros têm permitido a realização desse<br />

procedimento com sucesso, mesmo em CIAs grandes e<br />

complexas. A prótese Amplatzer, introduzida no mercado<br />

em 1996, tem sido a mais empregada em todo mundo, pela<br />

facilidade no manuseio e por permitir o fechamento de<br />

CIAs grandes, o que não ocorria com as outras próteses<br />

disponíveis. Entretanto, em algumas situações, o procedimento<br />

torna-se mais difícil, como nos casos de comunicações<br />

maiores que 30mm de diâmetro, ausência da veia cava<br />

inferior, bordas muito finas, grande aneurisma do septo<br />

interatrial, septo multifenestrado, hipertensão pulmonar grave,<br />

disfunção do ventrículo esquerdo, comunicações múltiplas<br />

e válvula de Eustáquio exuberante. O sucesso do procedimento<br />

depende do conhecimento dessas particularidades, dos<br />

critérios para a indicação, da identificação e tratamento<br />

precoce das complicações e da interação intervencionista,<br />

ecocardiografista, anestesista e cirurgião cardíaco. Essa<br />

revisão visa discutir o fechamento de CIA OS com a prótese<br />

Amplatzer, em situações habituais e especiais.<br />

DESCRITORES: Defeitos do septo interatrial. Cateterismo<br />

cardíaco. Próteses e implantes. Cardiopatias congênitas.<br />

SUMMARY<br />

Percutaneous Atrial Septal Defect Closure<br />

with Amplatzer Device<br />

Percutaneous closure of secundum atrial septal defect (ASD)<br />

has become the first choice due to high success and low<br />

morbi-mortality level. Improved materials and the development<br />

of new others have allowed the closure of even large and<br />

complex atrial septal defects. The Amplatzer septal occluder<br />

developed in 1996 has been the device most used due to<br />

ease of manipulation, high success level, and the possibility<br />

to close large ASD - not possible with other devices. However,<br />

at times the procedure may be pose difficulties, as in<br />

ASD with larger than 30mm diameter, thin rims, absence<br />

of inferior vena cava, septal aneurysm and multi-fenestration,<br />

serious pulmonary hypertension, left ventricle dysfunction,<br />

multiple communications and redundant Eustachian valve.<br />

Procedure success depends on the awareness of these particularities,<br />

on indication criteria, on recognition and treatment<br />

of the complications, and on the interaction between interventionist,<br />

echocardiographist, cardiac surgeon, and anesthesiologist.<br />

This review intends to discuss percutaneous closure of<br />

secundum ASD with Amplatzer device, in usual and special<br />

situations.<br />

DESCRIPTORS: Heart septal defects, atrial. Heart catheterization.<br />

Prostheses and implants. Heart defects, congenital.<br />

1<br />

Fundação Hospitalar de Minas Gerais.<br />

2<br />

Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais<br />

(HC-UFMG).<br />

3<br />

Hospital Vera Cruz.<br />

4<br />

Hospital Felício Rocho.<br />

5<br />

Hospital Mater-Dei.<br />

6<br />

Hospital Luxemburgo.<br />

7<br />

Hospital Socor.<br />

8<br />

Hospital Vila da Serra.<br />

9<br />

Hospital São José de Belo Horizonte.<br />

10<br />

Santa Casa de Belo Horizonte.<br />

11<br />

Hospital do IPSEMG.<br />

12<br />

Hospital Life Center.<br />

<strong>13</strong><br />

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).<br />

Correspondência: Edmundo Clarindo Oliveira. R. Teodomiro Cruz, 65/<br />

102 - Novo São Lucas, Belo Horizonte, MG - CEP 30240-530<br />

Tel.: (31) 3283-4092 - Fax: (31) 3337-9988, 9<strong>13</strong>28831<br />

E-mail: clarindo@pib.com.br<br />

Recebido em: 27/12/2005 • Aceito em: 24/01/2006<br />

Em 1959, poucos anos após o primeiro tratamento<br />

cirúrgico de comunicação interatrial (CIA), realizado<br />

em 1951, Hufmagel e Gillespie 1 relataram o<br />

primeiro implante de prótese para fechamento dessa<br />

cardiopatia congênita por toracotomia. Vários anos se<br />

seguiram, até que, em 1974, o primeiro caso de fechamento<br />

percutâneo de CIA fosse realizado, com sucesso,<br />

por King e Mills 2 . Em 1983, Rashkind 3 desenvolveu<br />

a prótese que leva seu nome. A necessidade de<br />

introdutores muito calibrosos, como o 23F, e o surgimento<br />

de outras próteses mais eficientes fizeram com<br />

que a Rashkind e suas precedentes deixassem de ser<br />

utilizadas, ressaltando-se, entretanto, o fato destas terem<br />

sido fundamentais para despertar o interesse dos pesquisadores<br />

por essa forma de tratamento. Posteriormente,<br />

vários tipos de próteses foram desenvolvidos, incluin-<br />

198


Oliveira EC, et al. Fechamento Percutâneo de Comunicação Interatrial com Prótese Amplatzer. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />

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do o surgimento da Amplatzer 4 (1996), permitindo o<br />

fechamento de CIAs grandes, com segurança e alto<br />

índice de sucesso.<br />

SELEÇÃO DE PACIENTES<br />

As CIAs próximas a estruturas nobres, como as de<br />

seio venoso, ostium primum e seio coronário, não<br />

podem ser fechadas pela via percutânea. As indicações<br />

para o fechamento de CIA são as mesmas da<br />

indicação cirúrgica. CIAs pequenas (menores que 5mm)<br />

e sem repercussão clínica não têm indicação para<br />

fechamento, exceto na presença de provável embolia<br />

paradoxal, como acontece nas indicações para fechamento<br />

de forame oval. A maioria das CIAs tipo ostium<br />

secundum, que correspondem a 2/3 das CIAs, pode<br />

ser fechada por via percutânea. Uma distância maior<br />

que 4mm entre as valvas atrioventriculares, a veia<br />

cava superior (VCS), a veia pulmonar superior direita<br />

e o seio coronário torna o procedimento viável e<br />

seguro. Uma distância de 2 a 3mm do seio coronário<br />

é aceitável, desde que seu orifício seja suficientemente<br />

largo para não interferir com o fluxo. A presença da<br />

borda anterior (aórtica) não é indispensável 5 .<br />

(com orientação pelo ecocardiograma) e liberam-se o<br />

colo e, em seguida, o disco em AD. Antes de liberar<br />

a prótese, deve-se checar sua posição, em vários cortes,<br />

pelo ecocardiograma. A angiografia antes e depois do<br />

procedimento e manobras para checar a firmeza da<br />

fixação da prótese são medidas opcionais. Em nossa<br />

prática, não temos realizado angiografias de rotina,<br />

sendo o procedimento orientado pelo ecocardiograma.<br />

Algumas vezes, principalmente em CIAs grandes,<br />

a prótese adota uma posição oblíqua (Figura 1) e não<br />

paralela ao septo, atravessando a CIA. A liberação de<br />

parte do colo em AE e a abertura parcial do disco em<br />

veia pulmonar, geralmente, melhoram o posicionamento<br />

da prótese, permitindo seu implante com segurança.<br />

Outras vezes, mesmo com essas manobras, a prótese<br />

continua se posicionando obliquamente ao ser recuada.<br />

Nesses casos, a mudança do posicionamento inicial<br />

em veia pulmonar superior esquerda (VPSE) para<br />

outras veias pulmonares ou o uso de cateter-balão 7<br />

(Figura 2), introduzido através de outra punção veno-<br />

AVALIAÇÃO DO TAMANHO DA PRÓTESE<br />

A recomendação clássica para escolha do tamanho<br />

da prótese é de que esta seja aproximadamente 2mm<br />

maior ou menor que o tamanho da CIA distendida por<br />

balão (medidas coerentes entre ecocardiograma e fluoroscopia).<br />

Alguns profissionais sugerem que essa medida<br />

não é necessária, escolhendo o tamanho da prótese<br />

com base apenas no tamanho regular da CIA, verificado<br />

pelo ecocardiograma 6 acrescido de 4mm. Nos casos de<br />

CIAs grandes (maiores que 30mm de diâmetro) ou associadas<br />

a aneurisma, é aconselhável usar prótese 3 a<br />

4mm maior que o diâmetro distendido. Em nossa opinião,<br />

o tamanho distendido é o melhor parâmetro para<br />

a opção e torna o procedimento mais seguro.<br />

Figura 1 - Prótese mal posicionada em CIA grande.<br />

VARIAÇÕES TÉCNICAS<br />

O material desenvolvido para o fechamento percutâneo<br />

de CIA é direcionado para o procedimento<br />

via veias femorais. A CIA pode ser ultrapassada por<br />

vários tipos de cateteres posicionados em veia pulmonar<br />

superior esquerda. Em seguida, com ajuda de fioguia<br />

longo, posiciona-se uma bainha longa e com<br />

diâmetro compatível com o tamanho da prótese selecionada.<br />

A colocação de bainha em átrio esquerdo (AE)<br />

apresenta risco de embolia aérea, principalmente para<br />

artéria coronária direita, devendo-se tomar cuidado<br />

para evitar essa complicação. A retirada do introdutor<br />

na junção da veia cava inferior (VCI) com átrio direito<br />

(AD), aguardando-se o retorno de sangue antes da<br />

introdução da bainha em AE, diminui o risco de embolia,<br />

sendo por isso recomendada por muitos autores. Após<br />

o bom posicionamento da bainha em AE, a prótese é<br />

introduzida fixa em um kit, abrindo-se o primeiro disco<br />

em AE; puxa-se, então, a prótese até o septo interatrial<br />

Figura 2 - Prótese posicionada com auxílio de cateter-balão.<br />

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198-205.<br />

sa, com o objetivo de manter a prótese paralela ao<br />

septo quando recuada, têm apresentado sucesso. Na<br />

impossibilidade de utilizar a veia femoral por ausência<br />

congênita ou obstrução adquirida da VCI, a VCS 8 ou<br />

as veias hepáticas poderão ser usadas. Quando se<br />

utiliza a VCS através de suas tributárias, nem sempre<br />

é fácil conseguir a liberação da prótese, principalmente<br />

em CIAs grandes. Para o fechamento de forame oval<br />

ou de CIAs pequenas, o procedimento pode ser realizado<br />

sem dificuldades. Quando utilizada a VCS através<br />

de suas tributárias, o direcionamento da bainha<br />

para veia pulmonar inferior esquerda é quase reto e<br />

evita dobras. Caso seja necessário o posicionamento<br />

em veias pulmonares superiores, a utilização de cateteres<br />

como Lehmann ou Sones dentro da bainha longa<br />

facilita o procedimento e diminui a possibilidade de<br />

dobras. Entretanto, como o risco de dobras continua,<br />

a disponibilidade de bainhas mais resistentes facilita o<br />

procedimento. Sugerimos que esse acesso venoso seja<br />

tentado antes da utilização da punção transhepática,<br />

em casos de impossibilidade de utilização da VCI. A<br />

punção transhepática, adotada há vários anos pelos<br />

radiologistas intervencionistas, como opção em casos<br />

de impossibilidade de utilizar a VCI ou de crianças<br />

muito pequenas para as quais se faz necessário o uso<br />

de bainhas calibrosas, tem sido pouco utilizada pelos<br />

cardiologistas intervencionistas, principalmente em<br />

nosso meio. A punção é relativamente simples e segura,<br />

com pequenas variações técnicas.<br />

A punção pode ser feita orientada por ultra-sonografia<br />

abdominal ou pela inserção de cateter em uma<br />

veia hepática através da VCS; essas medidas, entretanto,<br />

não são indispensáveis. Várias técnicas têm sido<br />

descritas para a punção:<br />

1) Inserir a agulha na parte alta do terço inferior do<br />

fígado ou a meia distância entre o diafragma e a<br />

borda inferior do fígado, guiando-a por fluoroscopia<br />

ou ultra-som, ao nível da linha axilar anterior 9 .<br />

Progredir a inserção da agulha, paralelamente ao<br />

piso da sala, até aproximadamente 2 cm da coluna<br />

vertebral. Retirar o estilete da agulha, puxando-o<br />

lentamente, enquanto se injeta pequena quantidade<br />

de contraste. Após certificação de que se está<br />

dentro da veia hepática, introduzir fio-guia, dilatador<br />

e bainha e seguir as etapas habituais para a realização<br />

do cateterismo e da intervenção 10,11 (Figura 3).<br />

2) Punção ao nível da linha axilar média abaixo das<br />

costelas, direcionando-se levemente a agulha, nos<br />

sentidos posterior e superior, em direção à coluna<br />

12,<strong>13</strong> . Deve-se ter o cuidado de evitar punção da<br />

vesícula biliar. Em seguida, proceder às etapas descritas<br />

anteriormente.<br />

3) Semelhante à anterior, fazendo-se a punção ao<br />

nível da linha axilar anterior.<br />

A maioria dos autores recomenda a retirada lenta<br />

do cateter com pequenas injeções de contraste e, quando<br />

fora da veia hepática, a colocação de molas ou Gelfoam<br />

para evitar sangramento. Outros apenas mantêm o<br />

paciente em decúbito lateral direito por duas horas e<br />

repouso no leito por 12 horas. Em pacientes com<br />

pressão venosa alta, o risco de sangramento é aumentado,<br />

devendo-se utilizar molas ou Gelfoam, conforme<br />

descrito anteriormente. É comum os pacientes se queixarem<br />

de dor abdominal e no ombro nas primeiras 24<br />

horas após o procedimento, sendo necessário medicálos.<br />

Independente da técnica utilizada, é aconselhável<br />

retirar todos os sistemas e checar se a prótese está<br />

bem fixa ao sistema liberador, após cinco tentativas de<br />

implante da prótese sem êxito.<br />

ECOCARDIOGRAMA<br />

A correta interpretação do ecocardiograma é fundamental<br />

para a seleção dos candidatos ao fechamento<br />

percutâneo de CIA tipo ostium secundum e para a<br />

realização do procedimento. O exame deve ser feito de<br />

forma completa, procurando-se anomalias associadas,<br />

especialmente presença de mais de uma CIA e de retorno<br />

venoso pulmonar. A medida do diâmetro distendido<br />

da CIA é importante, sendo a identificação de suas<br />

bordas facilitada com o uso de solução salina agitada.<br />

A distância entre as bordas da CIA e as estruturas<br />

vizinhas deve ser medida cuidadosamente; sugere-se<br />

que as bordas tenham mais de 4mm, excetuando-se a<br />

ântero-superior, cuja presença não é necessária, podendo<br />

ser a prótese implantada sem ela.<br />

• A borda ântero-superior compreende a distância<br />

entre a margem anterior da CIA e a parede externa<br />

da aorta mais próxima do defeito septal;<br />

Figura 3 - Punção de veia hepática confirmada à fluoroscopia.<br />

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198-205.<br />

• A borda ínfero-anterior vai da margem inferior do<br />

defeito ao centro do anel tricúspide (plano subcostal<br />

4 câmaras ao 2-D ou horizontal no ecocardiograma<br />

transesofágico);<br />

• A borda súpero-posterior (ou superior) é medida<br />

da margem superior da CIA ao ponto médio do<br />

orifício de entrada da VCS no AD (plano subcostal<br />

eixo curto no 2-D ou vertical no ecocardiograma<br />

transesofágico);<br />

• A borda ínfero-posterior (ou inferior) é a distância<br />

da margem inferior do defeito ao ponto médio do<br />

orifício de entrada da VCI no AD (plano subcostal<br />

eixo curto no 2-D ou vertical no ecocardiograma<br />

transesofágico).<br />

REALIZAÇÃO DO PROCEDIMENTO<br />

SEM FLUOROSCOPIA<br />

O fechamento percutâneo de CIA pode ser realizado<br />

apenas pelo ecocardiograma transtorácico ou<br />

transesofágico, sem ajuda da fluoroscopia. As medidas<br />

das pressões e o cálculo de shunt podem ser feitos<br />

posicionando-se o cateter em artéria pulmonar guiado<br />

pelo ecocardiograma, assim como seu posicionamento<br />

em veia pulmonar e as etapas clássicas para a realização<br />

do procedimento. Em casos especiais, como durante<br />

a gravidez, esse método pode ser preferido. Segundo<br />

Ewert e Berger 14 , o fechamento de CIA e de forame<br />

oval pode ser realizado com segurança em muitos<br />

pacientes, guiado apenas pelo ecocardiograma.<br />

IDADE IDEAL<br />

Alguns autores defendem o fechamento precoce<br />

das CIAs para evitar a sobrecarga crônica do ventrículo<br />

direito (VD) ou pela possibilidade de aumento da CIA.<br />

Segundo Harper et al. 15 , como a CIA e a distância de<br />

suas bordas em relação às estruturas vizinhas tendem<br />

a crescer proporcionalmente ao crescimento da superfície<br />

corporal, o procedimento é facilitado se realizado<br />

mais tarde; por isso sua equipe tem optado por executar<br />

a intervenção quando a criança atinge cerca de 5<br />

anos de idade e peso em torno de 20kg. Em virtude<br />

de usarmos sonda de adulto para a realização do<br />

ecocardiograma transesofágico, também temos preferido<br />

fazer o procedimento em crianças que já tenham<br />

completado 5 anos; entretanto, quando há grande sobrecarga<br />

de volume do VD, interferindo com o desenvolvimento<br />

pondo-estatural, temos ocasionalmente antecipado<br />

a intervenção em crianças com peso entre 15<br />

e 20kg.<br />

e o risco de embolização é maior. Em tais situações,<br />

sugere-se liberar parcialmente o colo em AE e usar prótese<br />

3 a 4mm maior que o diâmetro distendido da CIA. A<br />

análise cuidadosa da anatomia da CIA e de sua relação<br />

com as estruturas vizinhas e a certificação de que a<br />

prótese está bem fixa, antes de sua liberação, diminuem<br />

os riscos e aumentam o sucesso do procedimento.<br />

CIAs múltiplas 17<br />

Na presença de duas ou mais comunicações interatriais,<br />

deve-se verificar se há tecido suficiente entre<br />

elas para acomodar mais de uma prótese. Quando há<br />

bordas adequadas entre as comunicações, recomenda-se<br />

liberar primeiro a prótese menor e, em seguida,<br />

a maior. Em caso de escasso tecido entre elas, podese<br />

tentar, com balão, transformá-las em uma só CIA 18<br />

e usar uma prótese suficientemente grande para cobrir<br />

todo o orifício criado, ainda que permaneça pequeno<br />

shunt residual sem importância clínica. Nos casos de<br />

comunicações próximas, mas sem tecido suficiente<br />

entre elas para acomodar duas ou mais próteses, e na<br />

impossibilidade de transformá-las em uma única CIA,<br />

pode-se utilizar uma prótese superdimensionada para<br />

tentar cobrir o orifício o máximo possível. Nos casos<br />

de CIAs múltiplas, é necessário usar balões concomitantes<br />

para avaliar detalhadamente os diâmetros e<br />

selecionar a(s) prótese(s) adequada(s) para cada caso.<br />

Aneurisma/fenestração 19<br />

Na presença de CIA associada a aneurisma, o ideal<br />

é fechá-la fazendo-se um “sanduíche” do mesmo.<br />

Quando a CIA é pequena (diâmetro distendido menor<br />

que 20mm), a utilização de próteses maiores, usadas<br />

para o fechamento de forame oval, geralmente é a<br />

melhor escolha. Na presença de mais de uma CIA, a<br />

associação de uma prótese de forame oval permeável<br />

(FOP) com outra de CIA facilita o envolvimento do<br />

aneurisma de ambos os lados, o que se faz, respectivamente,<br />

pelo maior diâmetro do disco do FOP à direita<br />

e pelo do disco da prótese da CIA maior à esquerda.<br />

PROBLEMAS ESPECIAIS<br />

CIAs grandes 16<br />

Em CIAs grandes (maiores que 30mm de diâmetro),<br />

principalmente quando associadas com bordas finas (Figura<br />

4), a liberação da prótese pode se tornar mais difícil<br />

Figura 4 - CIA grande, com bordas finas.<br />

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Disfunção diastólica<br />

A disfunção diastólica, mais freqüente em pacientes<br />

idosos portadores de insuficiência coronariana e<br />

miocardiopatias hipertróficas ou restritivas, pode aumentar<br />

o risco do procedimento. Nesses pacientes, o aumento<br />

do retorno venoso pulmonar para o ventrículo esquerdo<br />

após a eliminação da fuga para o AE pode ocasionar<br />

aumento súbito da pressão capilar pulmonar e edema<br />

pulmonar. O fechamento da CIA nesses casos deve<br />

ser precedido de oclusão temporária da CIA com balão<br />

por 15 a 30 minutos, enquanto se mede a pressão<br />

capilar pulmonar. Na presença de aumento da pressão<br />

capilar pulmonar acima de 18mmHg ou de aumento da<br />

relação pressão diastólica final e pressão sistólica de<br />

ventrículo esquerdo, recomenda-se deixar fenestração<br />

na prótese 20 , para evitar essa grave complicação.<br />

Hipertensão pulmonar 21<br />

Hipertensão pulmonar (HP) grave é incomum em<br />

pacientes portadores de CIA, principalmente naqueles<br />

abaixo de 30 anos de idade. Em casos de presença de<br />

HP grave em que haja dúvida quanto à reversibilidade<br />

da resistência pulmonar e do grau de hiperfluxo pulmonar,<br />

são necessários testes para avaliação da vasoreatividade<br />

pulmonar. Os testes são realizados principalmente<br />

com óxido nítrico e oxigênio a 100%. Evidências<br />

claras de diminuição da resistência pulmonar e<br />

aumento do fluxo pulmonar para mais de 1,8 vezes<br />

em relação ao sistêmico após o emprego dessas substâncias<br />

justificam o fechamento de CIA. Outra medida é<br />

o fechamento temporário de CIA com balão, evitandose<br />

interferência com o retorno venoso sistêmico. A<br />

diminuição da pressão pulmonar, ausência de aumento<br />

da pressão em AD e aumento do débito sistêmico<br />

após oclusão do defeito são evidências favoráveis ao<br />

fechamento. No caso de persistirem dúvidas, o uso de<br />

prótese fenestrada é a melhor opção.<br />

ORIENTAÇÕES<br />

O uso de ácido acetilsalicílico na dose de 3 a<br />

5mg/kg/dia até a dose máxima de 200mg deve ser<br />

iniciado, segundo alguns autores, 48 a 72 horas antes<br />

do procedimento e, segundo outros, somente após a<br />

intervenção. Acreditamos que o início de sua administração<br />

antes do procedimento pode diminuir riscos de<br />

embolia. Assim que feita a punção venosa, administrase<br />

heparina na dose de 5 a 10.000U para adultos e<br />

de 100 a 200U/kg para crianças, com o objetivo de<br />

manter o tempo de coagulação ativado (TCA) acima<br />

de 200 segundos. Terminado o procedimento, a heparina<br />

não é neutralizada, exceto em situações especiais.<br />

ácido acetilsalicílico e profilaxia para endocardite devem<br />

ser mantidos por seis meses. Em casos de CIAs grandes<br />

(maiores que 30mm para adultos), alguns autores sugerem<br />

a associação de clopidogrel, na dose de 75mg para<br />

adultos e de 1 a 1,5mg/kg/dia para crianças, por um<br />

a dois meses. Nesses casos, atenção especial deve ser<br />

dada para a possibilidade de sangramento e equimoses.<br />

Os pacientes geralmente recebem alta no mesmo<br />

dia do procedimento ou no dia seguinte, estando aptos<br />

a retornar às aulas ou ao trabalho intelectual em três<br />

a quatro dias; atividades físicas competitivas podem<br />

ser liberadas após um mês do procedimento.<br />

COMPLICAÇÕES<br />

Algumas reações adversas são comuns após o<br />

uso de Amplatzer.<br />

Cefaléia 22<br />

A cefaléia de intensidade variável é a reação adversa<br />

mais freqüente. Algumas vezes, ela é de grande intensidade,<br />

semelhante à enxaqueca grave. A duração dos<br />

sintomas pode variar de dias até semanas. Em alguns<br />

pacientes de nossa série de 160 casos, a cefaléia permaneceu<br />

por 12 semanas. A fisiopatologia não está<br />

bem definida e parece estar relacionada ao aumento<br />

dos níveis séricos de níquel 23,24 . O tratamento é sintomático.<br />

Dois pacientes de nossa série apresentaram<br />

cefaléia intensa, refratária a dipirona e paracetamol, e<br />

tiveram alívio dos sintomas com associação de paracetamol<br />

e cafeína. Acreditamos que essa associação<br />

seja benéfica devido à semelhança dos sintomas com<br />

os de enxaqueca. Sintomas semelhantes à gripe, como<br />

mialgia, desânimo e febre, podem ser encontrados<br />

nos primeiros meses após o procedimento. Em um de<br />

nossos pacientes, observamos cefaléia intensa e temperatura<br />

acima de 38°C, com duração de 35 dias. Seu<br />

estado geral manteve-se bom, apesar de proteína C e<br />

velocidade de hemossedimentação muito elevadas (212<br />

e 120mm, respectivamente). Ecocardiograma, hemocultura<br />

e tomografia computadorizada de crânio e tórax<br />

nada evidenciaram. Tratar-se-ia de uma reação inflamatória<br />

intensa? Teria o paciente benefício com o uso de<br />

corticóide? Essas são perguntas ainda sem resposta.<br />

Arritmia<br />

Arritmias, principalmente supraventriculares 25 , podem<br />

surgir nas primeiras semanas após o procedimento,<br />

especialmente nos casos de CIAs grandes e em adultos.<br />

O tratamento medicamentoso ou a cardioversão<br />

elétrica estão indicados para as formas persistentes.<br />

Geralmente são transitórias, e a medicação pode ser<br />

suspensa após três meses. Há relatos de bloqueio<br />

atrioventricular, transitório e permanente, após implante<br />

de Amplatzer 26,27 .<br />

Embolia sistêmica<br />

Raramente ocorre embolia sistêmica durante o procedimento<br />

ou relacionada à formação de trombo na<br />

prótese 28,29 . Fatores que aumentem o risco devem ser<br />

identificados e eliminados, tais como válvula de Eustáquio<br />

30 e rede de Chiari exuberantes, que podem ficar<br />

em AE após o implante da prótese. O início do uso de<br />

ácido acetilsalicílico dois ou três dias antes do procedimento,<br />

o controle do TCA durante a intervenção e<br />

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a associação de clopidogrel em casos de CIAs grandes<br />

são condutas que podem diminuir os riscos de embolia.<br />

Em três pacientes de nossa série, nos quais observamos<br />

quadro de disartria, hemiparesia e alterações<br />

visuais transitórias, não identificamos trombo na prótese<br />

ou em cavidades cardíacas, nem alteração à tomografia<br />

ou à ressonância magnética.<br />

Embolização da prótese 31,32<br />

A medida correta do diâmetro da CIA, a identificação<br />

de suas bordas e de sua relação com estruturas<br />

vizinhas, a correta escolha do tamanho da prótese e<br />

as manobras para verificação de seu bom posicionamento<br />

praticamente eliminam a possibilidade de embolia<br />

da prótese. Entretanto, algumas vezes poderá ocorrer<br />

tal embolização, mesmo após o cumprimento rigoroso<br />

dessas etapas. A Figura 5 mostra um dos nossos casos<br />

em que se verificou embolização para VD de uma<br />

prótese número 40, após duas horas de um implante<br />

considerado seguro. A paciente em questão inicialmente<br />

apresentou taquicardia ventricular intermitente e coincidente<br />

com o movimento da prótese para VD.<br />

Após embolização da prótese, a decisão de retirála<br />

no cateterismo ou de enviar o paciente para a<br />

cirurgia dependerá da experiência do Serviço, do material<br />

disponível e da localização da prótese. Quando<br />

se optar pela retirada da prótese no cateterismo cardíaco,<br />

sua fixação com outro cateter e o emprego de bainha<br />

2 a 4F maior que a previamente utilizada facilitam o<br />

procedimento. O caso descrito anteriormente foi encaminhado<br />

para a cirurgia, pois a prótese era grande e<br />

localizada em ventrículo direito e as manobras para<br />

tentar retirá-la apresentariam risco de lesão da valva<br />

tricúspide. Ocasionalmente, a embolização pode ocorrer<br />

dias ou meses após o implante.<br />

Figura 5 - Embolização de prótese número 40 para o VD.<br />

Perfurações 33,34<br />

Encontram-se na literatura relatos de alguns tipos<br />

de complicação após o fechamento percutâneo de<br />

CIA, entre os quais se incluem fístula aorta-AE e perfuração<br />

cardíaca, com manifestações clínicas variáveis<br />

e óbito. Ainda não está bem definida qual seria a<br />

opção mais segura nesses casos: se o sub ou o superdimensionamento<br />

da prótese. Em nosso Serviço, temos<br />

optado por próteses de tamanho suficiente para envolver<br />

a aorta, pela imagem ecocardiográfica.<br />

Sangramento<br />

Sangramento no local da punção pode ocorrer,<br />

principalmente em decorrência de punção acidental da<br />

artéria femoral. Nesses casos, deve-se dispensar tempo<br />

maior para a compressão local e monitorizar o paciente<br />

pela possibilidade de formação de pseudo-aneurisma.<br />

As manobras para introduzir a sonda do ecocardiograma<br />

transesofágico devem ser cuidadosas e delicadas<br />

para evitar lesão ou mesmo perfuração de esôfago<br />

e conseqüente sangramento digestivo. Lubrificação das<br />

sondas e manobras suaves e orientadas por visão direta<br />

através de laringoscópio diminuem esse risco.<br />

Comparação com a cirurgia 35-37<br />

O fechamento cirúrgico e o fechamento percutâneo<br />

de CIA apresentam resultados semelhantes quanto ao<br />

índice de fechamento completo (maior que 97%), à<br />

diminuição das câmaras direitas e à normalização da<br />

classe funcional. Evidenciam-se, porém, algumas diferenças<br />

importantes quando se comparam as duas técnicas.<br />

O fechamento cirúrgico de CIA tem sido realizado<br />

há mais de 50 anos, com diminuição progressiva da<br />

mortalidade, sendo esta menor que 1% nos últimos<br />

10 anos. Entretanto, a necessidade de circulação extracorpórea,<br />

de incisão cirúrgica, de manipulação do<br />

coração e do pulmão, de utilização de vários cateteres<br />

para monitorização e de permanência em unidade de<br />

terapia intensiva, entre outros fatores, tem mantido<br />

uma incidência alta de complicações, que podem ser<br />

leves, moderadas e graves. Complicações leves, como<br />

problemas gastrointestinais, infecção urinária, febre,<br />

derrame pleural e/ou pericárdico, atelectasia pulmonar<br />

e infecção da ferida cirúrgica, ocorrem em mais de<br />

70% dos pacientes. Complicações moderadas — pneumonia,<br />

derrame pleural e/ou pericárdico com necessidade<br />

de drenagem, taquicardia juncional e dissociação<br />

atrioventricular — ocorrem em mais de 10% dos pacientes.<br />

Entre as complicações graves encontram-se<br />

problemas neurológicos, sepse, insuficiência renal, sangramento<br />

requerendo reoperação, tamponamento cardíaco,<br />

síndrome pós-cardiotomia e bloqueio atrioventricular<br />

com necessidade de marca-passo definitivo.<br />

Além disso, a cicatriz cirúrgica é definitiva.<br />

Por sua vez, o fechamento percutâneo de CIA,<br />

iniciado há mais de 25 anos, difundiu-se amplamente<br />

203


Oliveira EC, et al. Fechamento Percutâneo de Comunicação Interatrial com Prótese Amplatzer. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />

198-205.<br />

nos últimos oito anos devido ao surgimento de novas<br />

próteses e à maior facilidade para seu implante, bem<br />

como à utilização de bainhas com diâmetros menores,<br />

apropriadas até mesmo para emprego em crianças.<br />

Entretanto, além de ainda não existir uma prótese ideal,<br />

verificam-se algumas complicações, entre as quais se<br />

incluem perfuração cardíaca, arritmias, embolias da<br />

prótese, manifestações clínicas relacionadas ao material<br />

da prótese ou de fundo imunológico, alto perfil para<br />

uso em crianças com CIAs grandes e tempo de seguimento<br />

relativamente curto, se comparado ao da cirurgia.<br />

Em contrapartida, a ausência de cicatriz, o tempo<br />

de internação curto, o retorno às atividades habituais<br />

em poucos dias e o fato de ser uma intervenção praticamente<br />

indolor, associados à melhora progressiva<br />

das próteses, fazem com que esse método seja, atualmente,<br />

o de escolha para fechamento de CIA tipo<br />

ostium secundum.<br />

RESULTADOS E SEGUIMENTO TARDIO 38-41<br />

O resultado do seguimento tardio dos pacientes<br />

submetidos a fechamento percutâneo de CIA tem sido<br />

excelente. O índice de fechamento completo de CIA<br />

sem shunt residual é próximo a 100%, após um ano<br />

do procedimento. Praticamente todos os pacientes estão<br />

em classe funcional I (NYHA), com normalização ou<br />

diminuição significativa das câmaras cardíacas direitas.<br />

A incidência de complicações tardias é muito baixa,<br />

associada a um alto índice de satisfação dos pacientes.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Os bons resultados, a baixa morbi-mortalidade e<br />

o alto índice de sucesso do procedimento e o alto<br />

grau de satisfação dos pacientes, associados a uma<br />

melhora progressiva dos materiais utilizados, fazem<br />

com que o fechamento percutâneo de CIA seja cada<br />

vez mais empregado. Entretanto, em virtude de a cirurgia<br />

cardíaca ser realizada com alto índice de sucesso<br />

e baixa mortalidade há vários anos, o método só se<br />

justifica se mantiver o mesmo índice de cura da cirurgia<br />

e apresentar menor morbidade e menos complicações.<br />

Para que esses objetivos sejam alcançados, regras rígidas<br />

devem ser seguidas:<br />

1) A indicação de fechamento percutâneo deve ser<br />

semelhante às indicações para a cirurgia, não se<br />

justificando realizá-lo, por ser método pouco invasivo,<br />

em CIAs muito pequenas ou sem qualquer<br />

repercussão ou complicação;<br />

2) O procedimento deve ser realizado em serviços<br />

preparados para a condução da intervenção e<br />

para tratamento imediato de possíveis complicações;<br />

3) Não se justifica a realização do método por pessoal<br />

não envolvido com a fisiopatologia da doença e<br />

que só o execute ocasionalmente;<br />

4) O fechamento de CIAs (principalmente das maiores<br />

que 30mm) associadas a aneurisma, multifenestradas<br />

e com válvula de Eustáquio e rede de Chiari exuberantes<br />

geralmente é trabalhoso, e o sucesso do<br />

procedimento só será obtido se conduzido por<br />

pessoal bem treinado e experiente;<br />

5) O procedimento pode apresentar complicações<br />

imediatas e tardias graves, devendo estas serem<br />

conhecidas e pesquisadas;<br />

6) Na presença de complicações, a decisão entre<br />

tratar o paciente no laboratório de hemodinâmica<br />

ou encaminhá-lo para a cirurgia deve ser criteriosa,<br />

evitando-se insistência desnecessária na sala de<br />

hemodinâmica ou passar do momento ideal para<br />

realização da intervenção.<br />

O tratamento de várias doenças cardíacas na sala<br />

de hemodinâmica tem sido possível devido à maior<br />

disponibilidade de materiais adequados e melhores.<br />

O fechamento percutâneo de CIA é um método que<br />

tende a ser cada vez mais adotado, com índice de<br />

sucesso progressivamente maior. Aos cardiologistas<br />

intervencionistas cabe usá-lo com prudência e responsabilidade.<br />

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205


Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />

Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />

Oclusão Percutânea da Persistência do<br />

Canal Arterial<br />

Artigo de Revisão<br />

Jorge Haddad 1 , Moysés de Oliveira Lima Filho 1 , Geraldo Luiz de Figueiredo 1 ,<br />

Hernando Eduardo Nazzetta 2 , Evandro César Vidal Osterne 3<br />

RESUMO<br />

Os autores apresentam uma breve revisão histórica da<br />

oclusão percutânea da persistência do canal arterial, descrevem<br />

os diferentes dispositivos utilizados e as técnicas de<br />

implante. Analisam os resultados das mais importantes séries<br />

publicadas, relatam a própria experiência e discutem a<br />

eleição do dispositivo apropriado, de acordo com a morfologia<br />

e diâmetro do ducto.<br />

DESCRITORES: Persistência do conduto arterioso. Cardiopatias<br />

congênitas. Cateterismo. Próteses e implantes.<br />

SUMMARY<br />

Percutaneous Occlusion of Patent Ductus Arteriosus<br />

The authors present a brief historical review of the percutaneous<br />

occlusion of patent ductus arteriosus, describe the<br />

different devices used in this procedure and the techniques<br />

to implant them. They also analyze the results of the most<br />

relevant publication series, report their own experience<br />

and discuss the appropriate device choice according to<br />

the diameter and morphology of the ductus.<br />

DESCRIPTORS: Ductus arteriosus, patent. Heart defects,<br />

congenital. Catheterization. Prostheses and implants.<br />

Apersistência do canal arterial é uma das cardiopatias<br />

congênitas mais freqüentes e corresponde<br />

aproximadamente a 10% do total das<br />

má-formações cardíacas. Desde a primeira abordagem<br />

cirúrgica realizada por Gross e Hubbard 1 , em 1938,<br />

esta modalidade de tratamento foi, por muitas décadas,<br />

a única disponível. A ligadura e/ou secção cirúrgica<br />

do ducto é um procedimento eficaz e de baixa morbidade,<br />

entretanto, foram descritas algumas complicações,<br />

como lesões do conduto torácico e do nervo<br />

laríngeo recurrente. Por outro lado, a cicatriz cirúrgica<br />

decorrente do procedimento constitui uma alteração<br />

estética importante, sobretudo no sexo feminino.<br />

Porstmann et al. 2 , em 1967, descreveram a primeira<br />

técnica de oclusão do canal arterial por cateterismo<br />

com a utilização de um tampão de Ivalon. As características<br />

técnicas do procedimento de oclusão limitaram<br />

1<br />

Hospital e Maternidade Celso Pierrô – Pontifícia Universidade<br />

Católica de Campinas, SP.<br />

2<br />

Hospital Santa Genoveva, Goiânia, GO.<br />

3<br />

Instituto do Coração de Taguatinga, Brasília, DF.<br />

Correspondência: Jorge Haddad. Hospital e Maternidade Celso Pierro<br />

- Pontifícia Universidade Católica. Hemodinâmica - Serviço de<br />

Radiologia. Av. John B. Dunlop s/n - Jd. Ipaussurama - Campus II<br />

- Campinas, SP - CEP <strong>13</strong>059-900 - Fone: (19) 3739-8565 / 8304<br />

Fax: (19) 3267-9675 • E-mail: haddad@netsite.com.br<br />

Recebido em: 04/01/2006 • Aceito em: 27/01/2006<br />

sua aplicação a crianças maiores e adultos, o que<br />

impediu sua difusão, apesar da obtenção de resultados<br />

satisfatórios.<br />

A prótese de Rashkind, introduzida em 1979 3 ,<br />

não foi aprovada pelo FDA (Food and Drug Administration),<br />

sendo utilizada somente por centros de investigação<br />

autorizados nos Estados Unidos e em um número<br />

limitado de serviços em outros países.<br />

A utilização dos coils de Gianturco, proposta por<br />

Cambier et al. 4 , obteve uma difusão rápida e ampla,<br />

em função do custo reduzido destes dispositivos e da<br />

alta eficácia para oclusão dos ductos arteriosos de<br />

pequeno calibre, que são os mais comuns, representando<br />

aproximadamente 75% do espectro total dos canais<br />

arteriais.<br />

O desenvolvimento de novos dispositivos tem permitido<br />

que praticamente todos os ductos sejam ocluídos<br />

com eficiência e segurança, sendo atualmente o tratamento<br />

de eleição desta cardiopatia.<br />

INDICAÇÃO DO TRATAMENTO PERCUTÂNEO<br />

A oclusão do canal arterial tem como objetivo a<br />

prevenção da insuficiência cardíaca, da doença vascular<br />

pulmonar obstrutiva e da endarterite bacteriana.<br />

Nos canais com repercussão hemodinâmica, demonstrada<br />

pelo aumento das cavidades esquerdas no<br />

206


Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />

estudo ecocardiográfico, há atualmente consenso quanto<br />

à indicação da oclusão percutânea.<br />

Nos canais sem repercussão hemodinâmica, e especialmente<br />

os denominados ductos silentes (sem sopro)<br />

que constituem um achado da ecocardiografia, há ainda<br />

discussão sobre a indicação da oclusão. Deve-se considerar<br />

que a ausculta de sopros suaves apresenta variação<br />

de acordo com o treinamento e a acuidade auditiva<br />

do examinador e também das condições de realização<br />

do exame físico. Alguns autores não indicam a oclusão<br />

deste tipo de ducto, argumentando a baixa incidência<br />

de complicações nestes casos 5 , entretanto, tem sido<br />

descrita a ocorrência de endarterite e aneurisma na sua<br />

história natural 6-8 . Atualmente, a evolução dos dispositivos<br />

e dos procedimentos de oclusão faz a relação riscobenefício<br />

pender a favor da indicação de oclusão de<br />

todos os canais, independentemente do calibre.<br />

A oclusão percutânea pode ser realizada de forma<br />

eletiva em todas as idades, sendo ideal o período préescolar,<br />

exceto na presença de insuficiência cardíaca<br />

e/ou baixo ganho pondo-estatural.<br />

Os prematuros, neonatos e lactentes de baixo peso<br />

(< 6 kg) representam uma limitação ao procedimento.<br />

A intervenção (cirúrgica ou percutânea), nesta idade,<br />

está indicada na presença de distúrbio respiratório<br />

e/ou insuficiência cardíaca decorrentes do hiperfluxo<br />

e não compensados com tratamento clínico. Nestes<br />

casos, existe o risco de provocar obstruções da aorta<br />

e da artéria pulmonar esquerda e lesões vasculares na<br />

vias de acesso, devido ao volume dos dispositivos e<br />

ao calibre dos sistemas introdutores, respectivamente.<br />

A maioria dos serviços indica o procedimento cirúrgico<br />

nesta faixa etária e os relatos de oclusão percutânea<br />

referem-se, geralmente, a ductos restritivos que foram<br />

ocluídos com pequenos coils 9-12 .<br />

As contra-indicações da oclusão percutânea são a<br />

doença vascular pulmonar oclusiva e as cardiopatias<br />

com circulação pulmonar ou sistêmica ducto-dependente.<br />

PRINCÍPIOS GERAIS DO PROCEDIMENTO<br />

DE OCLUSÃO<br />

O diagnóstico de persistência do canal arterial e<br />

da sua repercussão hemodinâmica é realizado mediante<br />

o estudo ecocardiográfico, dispensando o cateterismo<br />

diagnóstico, todavia, o estudo detalhado da morfologia<br />

e das dimensões do ducto visando à oclusão percutânea<br />

só é possível por meio da angiografia.<br />

A intervenção percutânea é realizada sob anestesia<br />

geral, exceto nos pacientes adultos. Após a obtenção<br />

do acesso vascular, deve-se realizar o estudo angiográfico<br />

do ducto com um cateter que possua marcas radiopacas,<br />

colocadas a distâncias conhecidas, com o objetivo de<br />

utilizá-las como fator de correção na mensuração dos<br />

calibres e do comprimento do canal. É importante<br />

ressaltar o cuidado de evitar qualquer estimulação do<br />

canal por guias metálicas ou cateteres, previamente à<br />

realização da(s) aortografia(s), devido ao risco de causar<br />

espasmo e induzir a erro na mensuração dos diâmetros<br />

do canal.<br />

Em geral, as projeções que melhor expõem a morfologia<br />

e dimensões do ducto são o perfil esquerdo e<br />

a oblíqua anterior direita (10-20°), porém, às vezes, é<br />

necessária a utilização de diferentes variáveis destas<br />

angulações para atingir este objetivo, como por exemplo,<br />

uma ligeira inclinação cranial do intensificador<br />

no perfil esquerdo.<br />

No estudo angiográfico, devem ser consideradas<br />

as medidas do diâmetro mínimo e do comprimento do<br />

ducto e, ainda, o diâmetro da ampola aórtica. A mensuração<br />

do diâmetro mínimo deve ser realizada na sístole,<br />

já que, na diástole, esta medida pode ser subestimada<br />

em até 30% <strong>13</strong> . Durante o implante, a posição adequada<br />

do dispositivo deve ser controlada, antes da liberação,<br />

com injeções de contraste na aorta, exceto quando se<br />

utilizam coils de Gianturco por via retrógrada.<br />

Após a liberação, é realizada uma aortografia de<br />

controle, geralmente com 15 minutos de intervalo,<br />

para comprovar a oclusão total ou determinar o grau<br />

de fluxo residual. Em todos os tipos de dispositivos, a<br />

presença de fluxo residual discreto (limitado à artéria<br />

pulmonar esquerda) é freqüente e a conduta deve ser<br />

expectante, já que este geralmente desaparece no primeiro<br />

ano de evolução. Quando a fuga residual é<br />

significativa, o ideal é substituir o dispositivo por outro<br />

de maior tamanho ou de diferente tipo ou implantar<br />

uma segunda unidade (especialmente coils).<br />

Durante o procedimento, é utilizada a cobertura<br />

antibacteriana com três doses de Cefazolina endovenosa,<br />

sendo a primeira infundida na sala de hemodinâmica<br />

e as outras duas, com 8 horas de intervalo. A profilaxia<br />

da endarterite é recomendada nos primeiros seis meses<br />

após o implante do dispositivo, e na presença de fluxo<br />

residual, até que ocorra a oclusão total do defeito.<br />

O controle ecocardiográfico após o implante é<br />

realizado antes da alta, com um, três, seis meses, um<br />

ano e a seguir anualmente.<br />

A presença de um pequeno pertuito residual, com<br />

fluxo de alta velocidade, pode desencadear hemólise<br />

que se manifesta por hematúria, anemia e aumento de<br />

bilirrubina e dehidrogenasa láctica 14-16 . A ocorrência<br />

da hemólise é rara, e pode se resolver espontaneamente<br />

pela redução progressiva da fuga, entretanto, devido<br />

ao risco de dano renal, alguns autores procedem a<br />

reintervenção imediata para ocluir totalmente o canal 17 .<br />

É necessário dispor, na sala de hemodinâmica, de<br />

sistemas de extração de corpo estranho, de diferentes<br />

tipos e medidas, para a retirada do dispositivo após<br />

uma eventual embolização. Nestes casos, a utilização<br />

de uma bainha, de calibre no mínimo 2 Fr maior que<br />

as utilizadas no implante, pode facilitar a extração.<br />

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Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />

Nos casos de embolização, o dispositivo quase sempre<br />

se aloja na artéria pulmonar. A bainha de captura<br />

deve ser colocada no ramo pulmonar e o dispositivo<br />

capturado deve ser introduzido na bainha para evitar<br />

danos à valva tricúspide, durante a retirada.<br />

PRÓTESES E TÉCNICAS DE IMPLANTE<br />

Desde que Porstmann et al. 2 , em 1967, descreveram<br />

a primeira oclusão por cateterismo do canal arterial,<br />

diversos tipos de próteses e diferentes técnicas de<br />

implante para ocluir este vaso têm sido utilizados. A<br />

seguir, faremos uma breve revisão histórica e descreveremos<br />

os diferentes tipos de dispositivos e suas técnicas<br />

de implante.<br />

Tampão de Ivalon: este tampão, idealizado por<br />

Porstmann et al. 2 , era manualmente confeccionado durante<br />

o procedimento de oclusão, de acordo com as<br />

características anatômicas do canal. O implante era<br />

realizado por abordagem cirúrgica da artéria femoral,<br />

utilizando-se a via retrógrada. Após estabelecer uma<br />

alça artério-venosa, o dispositivo era introduzido com<br />

a utilização de uma bainha de grande calibre. O procedimento<br />

teve aplicação restrita a crianças maiores e<br />

adultos devido ao grande calibre do sistema introdutor.<br />

Apesar dos resultados satisfatórios, sua utilização limitou-se<br />

ao centro de origem e alguns serviços na Ásia.<br />

Double Umbrella de Rashkind: este dispositivo<br />

substituiu a prótese originalmente descrita em 1979,<br />

composta de uma estrutura metálica única, com ganchos<br />

de fixação 3 . A double umbrella de Rashkind era<br />

constituída por uma dupla estrutura metálica, revestida<br />

de Dacron, configurando um duplo guarda-chuva com<br />

as convexidades opostas e o implante no ducto arterioso<br />

era realizado de forma anterógrada 18 . Havia dois tamanhos<br />

de próteses, 12 e 17 mm, que eram implantados<br />

mediante bainhas 7 ou 11 Fr. Foi utilizada nas décadas<br />

de 80 e 90 do século passado e, posteriormente,<br />

foi retirada do mercado.<br />

Botalloccluder (BN-1; NTK SovECs, Moscow): desenvolvido<br />

em Moscou, em 1981, por Saveliev et al. 19 ,<br />

esta prótese é formada por uma malha de poliuretano<br />

montada em uma estrutura de aço inoxidável que<br />

configura um cone com uma coroa de ganchos (6 nos<br />

tamanhos menores e 8 nos maiores) que servem para<br />

fixação no ducto. No extremo pulmonar, um sistema<br />

de parafuso fixa o dispositivo a um cateter de transporte<br />

com guia metálica interna. Uma bainha tipo Mullins,<br />

um carregador cônico e um rotor para desparafusar e<br />

liberar o dispositivo completam o conjunto. Existem 4<br />

tamanhos: 8; 10; 12 e 14 mm na extremidade maior<br />

(aórtica) que requerem para o implante, que é realizado<br />

por via anterógrada, bainhas de 10; 12; 14 e 16 Fr,<br />

respectivamente. Devido à impossibilidade de reposicionamento<br />

ou de retirada de forma percutânea e ao<br />

grande calibre das bainhas introdutoras, sua utilização<br />

permaneceu restrita ao centro onde foi desenvolvido.<br />

Gianturco-Grifka Vascular Occlusion Device<br />

(GGVOD) - (Cook Cardiology, Bloomington, IN): idealizada<br />

para oclusão de vasos tubulares, esta prótese é<br />

formada por um saco de nylon, que posicionado no<br />

vaso, mediante a utilização de uma bainha 8 Fr, é<br />

preenchido com uma espira flexível de aço inoxidável<br />

de 0,025”, sendo posteriormente liberado (Figura 1A).<br />

A espira metálica pode ser retraída e o saco retirado,<br />

ou reposicionado antes da liberação. Encontra-se disponível<br />

nas medidas de 3, 5, 7 e 9 mm de diâmetro e<br />

a seleção do dispositivo obedece a duas regras:1ª)<br />

deve ter diâmetro 1,0 a 1,5 mm maior que o calibre<br />

do ducto e 2ª) o comprimento do canal deve ser 1,5<br />

a 2 vezes o diâmetro de saco <strong>13</strong> . O sistema de liberação<br />

apresenta uma certa dificuldade na sua utilização e,<br />

em caso de embolização, a retirada percutânea do<br />

dispositivo pode ser trabalhosa.<br />

Adjustable Buttoned Device (ABD) & Folding Plug<br />

Buttoned Device (FPBF) - (Custom Medical Devices,<br />

Athens, Greece): O ABD, idealizado por Sideris et<br />

al. 20 , é uma adaptação da prótese de oclusão de comunicação<br />

interatrial, na qual foi acrescentada uma<br />

segunda abotoadura, que permite ajustar a fixação ao<br />

comprimento do ducto. É formada por um oclusor,<br />

um contra-oclusor e um sistema de liberação constituído<br />

por uma bainha e um cateter de transporte. O cateter<br />

de transporte contém, no seu interior, uma guia metálica<br />

oca e uma corda de nylon laçada na abotoadura<br />

situada no centro do oclusor.<br />

O oclusor e o contra-oclusor são formados por<br />

um fio de aço inoxidável revestido de Teflon e uma<br />

placa de poliuretano. Em uma evolução posterior do<br />

ABD, foi acrescentado um tampão de poliuretano na<br />

face ductal do oclusor, com o objetivo de diminuir a<br />

incidência de shunt residual imediato e o novo dispositivo<br />

foi denominado FPBD (Figura 1B). O procedimento<br />

de implante é realizado por via anterógrada. Após<br />

a cateterização do ducto e colocação da bainha na<br />

aorta descendente, o conjunto oclusor-cateter de transporte-guia<br />

de liberação é avançado até a abertura do<br />

primeiro na aorta, sendo a seguir, puxado o sistema<br />

até ancorar o oclusor na ampola aórtica. Mantendose<br />

o oclusor tracionado, é retirado o cateter de transporte,<br />

carregado o contra-oclusor e inserido novamente o<br />

cateter de transporte na guia de liberação. Empurrando-se<br />

o cateter de transporte, avança-se o contra-oclusor<br />

até abotoá-lo no oclusor. Para liberar o dispositivo,<br />

retira-se o cateter de transporte e, em seguida, seccionase<br />

a alça de nylon na sua extremidade proximal e,<br />

finalmente, são retirados sucessivamente a guia metálica<br />

e o fio de nylon.<br />

Patch (Custom Medical Devices, Athens, Greece):<br />

também idealizado por Sideris et al. 21 , este dispositivo<br />

tem sido recentemente utilizado para oclusão de defeitos<br />

septais e ductos de grande calibre. É constituído<br />

por um retalho de poliuretano montado em um balão<br />

(Figura 1C). O sistema de liberação é igual ao descrito<br />

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Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />

anteriormente. O dispositivo é introduzido por via anterógrada<br />

até aorta mediante uma bainha longa, o balão<br />

é insuflado até que atinja um diâmetro necessário para<br />

interromper o fluxo sangüíneo, e o conjunto ancorado<br />

na extremidade aórtica do ducto. O depósito de fibrina<br />

na superfície do patch determina a sua fixação definitiva<br />

aos bordos do defeito, ocluindo-o. A estabilidade<br />

do patch é avaliada por estudo ecocardiográfico ou<br />

fluoroscopia e, confirmando-se esta condição, o balão<br />

é esvaziado e o patch pode ser liberado do mesmo<br />

modo que o Buttoned Device. Este dispositivo tem a<br />

vantagem de não possuir estrutura metálica, porém,<br />

requer a manutenção do sistema introdutor-bainhabalão<br />

por um período de 48 horas, em que o paciente<br />

é mantido imobilizado ao leito, até o retorno ao laboratório<br />

de hemodinâmica para a retirada do balão. A<br />

permanência prolongada do conjunto balão-introdutor<br />

e o tempo de imobilização do paciente até a liberação<br />

do patch podem determinar restrições ao seu uso.<br />

Atualmente, investiga-se o acréscimo de uma cola biológica,<br />

na face de fixação do patch, que permitiria a<br />

retirada do sistema em 30 minutos, reduzindo o tempo<br />

de imobilização do paciente e facilitando a sua utilização.<br />

Coils de Gianturco (Cook Cardiology, Bloomignton,<br />

IN, USA): estes dispositivos foram produzidos para a<br />

oclusão de diversas estruturas vasculares e utilizados<br />

inicialmente para oclusão do canal arterial por Cambier<br />

et al. 4 , em 1992. Por sua relação custo-benefício, estes<br />

dispositivos tornaram-se, na atualidade, os mais utilizados<br />

na oclusão de canais pequenos (< 3 mm) e do tipo A.<br />

São constituídos por um fio de aço inoxidável<br />

com cerdas de dacron, aderidas em quase toda sua<br />

extensão, que possuem alto poder trombogênico (Figura<br />

1D). Existem coils de Gianturco com diferentes morfologias.<br />

Para a oclusão do canal arterial são utilizados<br />

os de forma helicoidal. Estes diferem na espessura do<br />

fio metálico, comprimento do coil esticado e diâmetro<br />

A B C<br />

D<br />

E<br />

F<br />

Figura 1 - Dispositivos atualmente utilizados na oclusão do canal arterial. A: Gianturco-Grifka Vascular Occlusion Device; B: Folding Patch<br />

Buttoned Device; C: Sideris’ Patch; D: Coils de Gianturco; E: Flipper Detachable Coil; F: Nit-Occlud; G: Amplatzer Duct Occlud.<br />

G<br />

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Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />

das alças. As medidas dos coils são expressas no<br />

catálogo na seguinte ordem: espessura da guia metálica<br />

em polegadas, comprimento em centímetros e tamanho<br />

da alça em milímetros (ex: 0.038”–5–5). Habitualmente.<br />

os coils mais utilizados são os de 0.038” de espessura<br />

que, por apresentar maior retração elástica e resistência<br />

ao fluxo, diminuem a possibilidade de embolização.<br />

Os coils de 0.052” de espessura podem ser utilizados<br />

em canais de alto fluxo devido a sua maior resistência.<br />

Na seleção do coil, considera-se que o diâmetro da<br />

alça deve ser, pelo menos, 2 vezes o diâmetro mínimo<br />

do canal. O comprimento do coil deve permitir a<br />

formação de, no mínimo, três alças, entretanto, em<br />

canais com ampola aórtica adequada e comprimento<br />

favorável é preferível a utilização de coils com configuração<br />

de cinco alças. Como regra de fácil memorização,<br />

o primeiro número após as polegadas deve ser sempre<br />

igual ou maior que o segundo (ex: ”0.038”-5-5 ou<br />

”0.038”-8-5).<br />

O implante dos coils de 0.038” de espessura é<br />

rotineiramente realizado por via retrógrada, mediante<br />

um cateter de diâmetro luminal mínimo de 0.041”,<br />

que é previamente posicionado na artéria pulmonar<br />

com o auxílio de uma guia hidrofílica. Em geral, é<br />

utilizado um cateter Judkins de coronária direita 5 Fr,<br />

sendo necessário em casos excepcionais, devido à<br />

angulação do canal, o emprego de cateteres com outras<br />

morfologias. O coil encontra-se esticado em um tubo<br />

metálico que é introduzido na extremidade proximal<br />

do cateter e com o auxílio da parte rígida de uma guia<br />

teflonada de ”0.038”, o coil é transferido para o interior<br />

do cateter de Judkins. Na seqüência, é retirado o<br />

carregador, e a parte rígida da guia metálica é substituída<br />

pela extremidade flexível. A seguir, o coil é empurrado<br />

com a guia metálica até exteriorizar ¾ a uma<br />

alça na artéria pulmonar e, posteriormente, o conjunto<br />

é tracionado até ancorar esta alça na extremidade<br />

pulmonar do ducto. Esta posição é confirmada comparando-se<br />

a relação entre a alça e o extremo pulmonar<br />

do ducto, na imagem angiográfica prévia, com a sombra<br />

traqueal. Puxando-se delicadamente o conjunto, observa-se<br />

que a alça começa a se desfazer, o que comprova<br />

que a mesma encontra-se ancorada na extremidade<br />

pulmonar do ducto. Neste momento, a guia metálica<br />

é imobilizada e lentamente o cateter é retirado, expondo<br />

na aorta o restante do coil, que adota, imediatamente<br />

após a sua liberação, a configuração helicoidal, alojando-se<br />

o restante das alças na ampola aórtica. Em<br />

caso de persistência de fluxo residual significativo, um<br />

segundo coil, geralmente menor, pode ser implantado,<br />

manipulando-se cuidadosamente a guia hidrofílica<br />

e o cateter de liberação através do pertuíto remanescente<br />

no canal.<br />

A via anterógrada pode também ser utilizada como<br />

descrita por Hijazi et al. 11 , que primeiro realizam a<br />

abertura das alças aórtica e, após ancorar o coil na<br />

ampola, liberam a última alça na extremidade pulmonar<br />

do ducto.<br />

Várias técnicas são utilizadas com o objetivo de<br />

obter maior controle na liberação dos coils de Gianturco.<br />

Berdjis et al. 22 utilizaram um cateter-balão de orifício<br />

terminal (tipo wedge) para facilitar a liberação dos<br />

coils. No nosso meio, Esteves et al. 23 introduziram<br />

uma modificação técnica, na qual, primeiro cateterizam<br />

o ducto por via anterógrada, colocando uma guia<br />

hidrofílica na aorta descendente e, por meio desta, o<br />

cateter-balão é posicionado na artéria pulmonar. O<br />

coil é introduzido por via retrógrada e, após a abertura<br />

da primeira alça na extremidade pulmonar, o balão<br />

é insuflado e ancorado na alça, procedendo-se, a<br />

seguir, à liberação das alças aórticas. Na seqüência, é<br />

retirada a guia e desinsuflado o balão. A utilização do<br />

balão insuflado durante o procedimento imobiliza a<br />

alça pulmonar e, ao interromper o fluxo, aumenta a<br />

estabilidade do coil até que este adquira sua configuração<br />

final.<br />

Outra técnica semelhante é a descrita por Ing e<br />

Sommer 24 , que mediante um laço, seguram a alça pulmonar<br />

durante a liberação do coil por via retrógrada.<br />

Kuhn e Latson 25 utilizam a aplicação de calor para<br />

reduzir o diâmetro da extremidade distal do cateter,<br />

até permitir a passagem da guia 0.038” com considerável<br />

fricção. Esta manobra facilita o posicionamento das<br />

alças aórticas, sem risco do coil ser liberado pelo<br />

fluxo sangüíneo ou a movimentação do cateter.<br />

Os coils 0.052”, utilizados em canais de alto fluxo,<br />

são implantados com auxílio de um biótomo, de acordo<br />

com a técnica de Grifka et al. 26 . O canal arterial é<br />

cateterizado de forma anterógrada e, posteriormente,<br />

o cateter é substituído por uma bainha 4 Fr, com o<br />

auxílio de uma guia de troca. Um biotomo 3 Fr é<br />

passado por uma bainha 4 Fr cortada, com extensão<br />

suficiente para carregar o coil, o qual é empurrado<br />

para fora do carregador metálico, em sentido inverso<br />

ao da introdução no cateter, até expor a extremidade<br />

esférica. Prende-se esta com o biótomo e transpassase<br />

o coil para a bainha cortada, que funciona como<br />

carregador para atravessar a válvula hemostática e introduzir<br />

o conjunto biótomo-coil na bainha de liberação.<br />

O conjunto é empurrado até exteriorizar as alças distais<br />

do coil na aorta descendente. Neste momento, tracionase<br />

o sistema bainha-biótomo-coil até alojar as alças<br />

exteriorizadas na ampola aórtica e ancorá-las no ponto<br />

de constrição do ducto. A seguir, mantendo-se imóvel<br />

o biótomo, retira-se suavemente a bainha para expor<br />

a última alça na artéria pulmonar. Comprovado o adequado<br />

posicionamento, o coil é liberado abrindo-se o<br />

biótomo.<br />

Flipper Detachable Embolization Coil (Cook<br />

Cardiology, Bloomington, IN, USA): O conjunto, guia<br />

de entrega e coil de liberação controlada, é semelhante<br />

ao coil de Jackson, utilizado na Europa. O coil,<br />

confeccionado em aço inoxidável de 0.038”, é similar<br />

ao de Gianturco, porém o seu interior é oco, o que<br />

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Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />

determina uma maior flexibilidade, apesar de ter a<br />

mesma espessura. As cerdas de Dacron são de menor<br />

espessura e comprimento (Figura 1E). Esta redução<br />

tem como objetivo evitar o enovelamento das cerdas<br />

proximais e distais e possibilitar a reintrodução do coil<br />

no cateter liberador. O coil é apresentado no interior<br />

de um carregador plástico transparente que permite<br />

realizar a conexão com a guia de entrega. A extremidade<br />

proximal do coil possui um sistema de encaixe<br />

em parafuso tipo fêmea, que se conecta à extremidade<br />

distal da guia de entrega, com a configuração de parafuso<br />

tipo macho. No interior da guia de entrega, de aço<br />

inoxidável recoberto com TFE, corre um mandril, que<br />

ao ser inserido dentro do coil, retifica-o e permite sua<br />

passagem para o cateter liberador. Na extremidade<br />

proximal da guia de entrega, encontra-se um rotor<br />

plástico utilizado para desparafusar e liberar o coil. Os<br />

diâmetros dos coils disponíveis são 3; 5; 6; e 8 mm<br />

e comprimentos de 3; 4; 5; 6; 8; 10 e 12 cm, que<br />

configuram 3 a 5 alças. Deve-se ressaltar que, devido<br />

à maior flexibilidade do coil, é recomendável selecionar<br />

uma unidade com diâmetro 2,5 a 3 vezes maior<br />

que o diâmetro mínimo do ducto e comprimento suficiente<br />

para configurar 5 alças.<br />

A técnica de implante preferencial é por via anterógrada,<br />

permitindo realizar controles angiográficos<br />

com o cateter arterial <strong>13</strong> .<br />

Deve-se utilizar um cateter 5 Fr de diâmetro luminal<br />

mínimo de 0.041”, que é posicionado na aorta através<br />

do ducto. A guia de entrega com o coil Flipper parafusado<br />

e esticado pelo mandril é transferido para o<br />

cateter e empurrado até quase a extremidade distal<br />

situada na aorta. Neste momento, retira-se o mandril,<br />

possibilitando que o coil, ao ser exteriorizado, adote<br />

sua configuração em alças. Empurra-se o guia de entrega<br />

até formar 4 alças na aorta e, a seguir, o conjunto é<br />

puxado suavemente para alojar estas alças na ampola<br />

aórtica e ancorá-las no ponto de menor lúmen do<br />

canal. Mantendo-se a guia metálica imóvel, o cateter<br />

é retirado delicadamente para configurar a alça pulmonar.<br />

É possível reposicionar o coil, introduzindo-o<br />

novamente no cateter, mediante tração da guia metálica.<br />

Obtida uma posição adequada, o coil é liberado<br />

por rotação anti-horária do rotor plástico, que está<br />

fixado no extremo proximal da guia de entrega. Caso<br />

o coil esteja em uma boa posição, porém ainda exista<br />

fluxo residual significativo, é recomendável a colocação<br />

de um segundo coil (geralmente de Gianturco) por via<br />

retrógrada, antes da liberação do Flipper.<br />

Detachable Embolization Coil (Cook Cardiology,<br />

Bloomington, IN, USA): Este coil difere do tipo Flipper<br />

por não ser oco, ter espessura de 0.035" e apresentar<br />

um sistema de fixação constituído por uma esfera na<br />

sua extremidade proximal, que se aloja na concavidade<br />

situada no extremo distal da guia de transporte.<br />

A técnica de implante é igual à empregada com<br />

os coils Flipper, entretanto, por apresentar menor espessura<br />

e, conseqüentemente, menor rigidez, seu uso é<br />

limitado a canais pequenos e de baixo fluxo.<br />

Duct Occlud - Nit Occlud (PFM Medical, Cologne,<br />

Germany): O Duct Occlud é um coil de liberação<br />

controlada, de aço inoxidável, que foi introduzido no<br />

mercado em 1993 27 . Algumas modificações da estrutura,<br />

da rigidez e do sistema de liberação deram origem<br />

ao modelo atual, denominado Nit Occlud, substituindo<br />

o modelo original. O Nit Occlud é um coil de nitinol<br />

sem fibras de Dacron, especialmente desenhado para<br />

a oclusão de canais arteriais de até 6 mm de diâmetro<br />

(Figura 1F). Os modelos “Flex” e “Medium” apresentam<br />

uma forma de duplo cone ou ampulheta, e o modelo<br />

“Stiff” possui morfologia cônica, sendo a espessura de<br />

0.035”, no primeiro e 0.038”, no outros dois. As alças<br />

distais, que se alojam na ampola aórtica, apresentam<br />

maior rigidez que as proximais, para evitar a sua passagem<br />

através do ducto durante o implante. O dispositivo<br />

já vem acoplado ao cabo de liberação que possui,<br />

na sua extremidade proximal, uma manopla plástica<br />

com roscas e uma trava de segurança. Nos modelos<br />

“Flex” e “Medium”, o dispositivo coil-cabo de liberação<br />

vem carregado em uma bainha de transporte curta,<br />

com um conector plástico em Y, na sua extremidade<br />

proximal e um acople tipo luer lock, na extremidade<br />

distal. Uma bainha longa de liberação, com marca<br />

radiopaca de ouro na extremidade distal, completa o<br />

conjunto. Nos modelos “Stiff”, o dispositivo coil-cabo<br />

de liberação vem carregado em uma bainha de liberação<br />

longa, sendo necessário o uso de uma bainha<br />

acessória 6 Fr ou maior.<br />

Os diâmetros (em mm) disponíveis são: Flex: 4x4;<br />

5x4; 6x5; Medium: 7x6; 9x6; 11x6; Stiff: 10x6; 12x6;<br />

14x6. O primeiro número refere-se ao diâmetro da<br />

alça distal (aórtica) e o segundo, ao diâmetro da porção<br />

central.<br />

A seleção do Nit Occlud está baseada nas seguintes<br />

considerações: o diâmetro da alça distal deve ser<br />

igual ou, no máximo, 1 mm maior que o diâmetro da<br />

ampola aórtica e, no mínimo, 3 a 4 mm maior que o<br />

diâmetro do ducto no seu ponto mais estreito 28 . Estes<br />

três modelos podem ser utilizados para ocluir todos<br />

os tipos de canal, exceto os do tipo B. Para este tipo<br />

de ducto existe um modelo especial denominado “Double<br />

Disk”, que possui dois discos do mesmo tamanho,<br />

conectados por uma porção central.<br />

Para realizar o implante utiliza-se a via anterógrada.<br />

O ducto é cateterizado desde a artéria pulmonar e<br />

com o auxílio de uma guia de troca, o cateter é substituído<br />

pela bainha de liberação, deixando sua extremidade<br />

distal na aorta descendente. O sistema coil-cabo<br />

liberador-bainha de transporte é purgado com solução<br />

fisiológica através da porta lateral do conector Y e a<br />

extremidade distal da bainha de transporte é acoplada<br />

na bainha de liberação. Após abrir a válvula hemostática<br />

do conector em Y, o coil é empurrado até expor a<br />

211


Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />

totalidade das alças distais na aorta descendente. Neste<br />

momento, observa-se, na radioscopia, que as alças<br />

distais “perdem“ a posição perpendicular ao eixo da<br />

bainha de liberação. O conjunto, do mesmo modo já<br />

descrito para os outros coils de liberação controlada,<br />

é tracionado suavemente até as alças distais se alojarem<br />

na ampola aórtica. Retirando-se suavemente a bainha<br />

de liberação e mantendo-se imóvel o cabo de liberação,<br />

a parte central é exposta no interior do ducto e<br />

as alças proximais na artéria pulmonar. Realiza-se, a<br />

seguir, uma aortografia e comprovada a posição adequada<br />

do coil e a ausência de fluxo residual significativo,<br />

procede-se à sua liberação. A liberação é realizada<br />

retirando-se a trava de segurança e acionando o sistema<br />

de roscas da manopla plástica. Quando é utilizado<br />

o modelo “Stiff”, a única diferença na técnica de implante<br />

é que a bainha de liberação, com o coil e o cabo de<br />

liberação pré-carregados, é introduzida na bainha acessória,<br />

6 F ou maior, previamente inserida de forma<br />

anterógrada até a aorta descendente.<br />

Amplatzer Duct Occluder (AGA Medical Corporation,<br />

Golden Valley, MN, USA): é uma prótese autoexpansível<br />

constituída por uma malha de fios de nitinol<br />

de 0.004” de espessura e morfologia semelhante a um<br />

cogumelo, apresentando um corpo cônico e uma saia<br />

de retenção na extremidade distal (Figura 1G). A parte<br />

cônica apresenta dimensão maior na extremidade distal<br />

junto à saia de retenção. No interior desta malha,<br />

encontram-se costurados retalhos de poliéster que aumentam<br />

o poder trombogênico do dispositivo. Na extremidade<br />

proximal, encontra-se soldado a laser um pino<br />

fêmea de aço inoxidável, onde é parafusado o cabo<br />

de liberação. As próteses estão disponíveis nas seguintes<br />

medidas: 5-4; 6-4; 8-6; 10-8; 12-10; 14-12 e 16-14 mm.<br />

Os números indicam os diâmetros do cone nas extremidades<br />

distal e proximal, respectivamente. O comprimento<br />

do dispositivo é de 5 mm no tamanho menor,<br />

7 mm nas duas medidas seguintes e 8 mm nos outros<br />

dispositivos. O diâmetro da saia de retenção excede o<br />

da extremidade distal em 4 mm no menor dispositivo,<br />

em 6 mm nas duas medidas seguintes e em 8 mm nos<br />

4 tamanhos maiores. Um cabo de liberação de aço<br />

inoxidável de 0.051” de espessura e com uma configuração<br />

em parafuso na sua extremidade distal, uma<br />

bainha tipo Mullins, um carregador e um rotor plástico<br />

completam o conjunto. O perfil da bainha de liberação,<br />

recomendado para o implante, varia de 5 Fr,<br />

para os dispositivos menores a 8 Fr, para os de maior<br />

diâmetro 29,30 .<br />

O implante do dispositivo é feito por via anterógrada,<br />

após cruzar o ducto com o cateter, este é substituído<br />

pela bainha de liberação, deixando sua extremidade<br />

distal na aorta descendente. O cabo de liberação<br />

é passado por dentro do carregador plástico e parafusado<br />

na extremidade proximal do dispositivo. Mediante<br />

tração do cabo, o dispositivo é introduzido no<br />

carregador, que é inserido na extremidade proximal<br />

da bainha. Empurrando-se o cabo de liberação, o<br />

dispositivo é avançado até a abertura da saia de retenção,<br />

na aorta descendente. Puxando-se o conjunto,<br />

aloja-se a saia na ampola aórtica. Mediante injeção de<br />

contraste é confirmada a posição adequada da saia de<br />

retenção e, mantendo-se o cabo levemente tracionado,<br />

puxa-se a bainha, liberando a parte cônica no interior<br />

do canal. Realizando-se uma nova aortografia, comprova-se<br />

a posição adequada do dispositivo e a ausência<br />

de fluxo residual significativo. A seguir, a prótese<br />

é liberada, girando-se, em sentido anti-horário, o rotor<br />

plástico fixado no cabo liberador.<br />

SELEÇÃO DO DISPOSITIVO<br />

A morfologia do ducto é extremamente variável,<br />

quase individual, entretanto, a classificação de Krichendo<br />

et al. 31 (Figura 2), que agrupa os ductos de acordo com<br />

a morfologia observada na angiografia em perfil esquerdo,<br />

é muito utilizada na seleção do dispositivo. Esta<br />

classificação agrupa os canais em cinco tipos: A: apresenta<br />

morfologia em funil ou cônica, com o ponto de<br />

maior contrição na extremidade pulmonar e uma ampola<br />

aórtica ampla e bem definida. B: curto, tipo janela,<br />

sem ampola aórtica e constrição na extremidade aórtica.<br />

C: tubular, sem constrições no seu percurso. D: canais<br />

longos com múltiplas constrições, tanto do lado aórtico,<br />

A-1 A-2 A-3<br />

B-1 B-2 B-3<br />

C D E<br />

Figura 2 - Classificação angiográfica dos tipos de canal arterial,<br />

segundo Krichenko et al. 31 (adaptado).<br />

212


Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />

como do lado pulmonar. D: de morfologia bizarra e,<br />

geralmente, com constrição do lado pulmonar e distante<br />

da sombra traqueal. Os tipos A e B são subdivididos<br />

em 1; 2; e 3, segundo a relação da constrição com a<br />

sombra traqueal. A prevalência é de 65%; 18%; 8%;<br />

4% e 6% para os tipos A; B; C; D; e E, respectivamente.<br />

Não existe um único dispositivo ideal para a oclusão<br />

de todos os tipos de ductos. A seleção deve ser individualizada,<br />

levando-se em consideração a morfologia,<br />

o diâmetro mínimo, o comprimento e os tamanhos<br />

disponíveis de cada modelo, assim como a melhor<br />

relação custo-benefício. A Tabela 1 resume os modelos<br />

de dispositivos disponíveis no nosso meio e que podem<br />

ser utilizados nos diferentes tipos de ductos da classificação<br />

de Krichenko et al. 31 . Em geral, os dispositivos<br />

mais utilizados para a oclusão percutânea do canal<br />

arterial são os coils de Gianturco e os de liberação<br />

controlada (Flipper e Nit Occlud). Os coils de Gianturco,<br />

devido a seu baixo custo e grande efetividade, são os<br />

preferidos para a oclusão de canais arteriais pequenos.<br />

Já para os canais um pouco mais calibrosos ou de alto<br />

fluxo, a utilização de coils de liberação controlada é<br />

mais vantajosa, devido à possibilidade de reposicionálos<br />

durante o procedimento de oclusão, reduzindo a<br />

ocorrência de embolizacão e de fluxo residual significativo.<br />

O Amplatzer Duct Occluder, devido ao seu<br />

custo elevado em relação ao coils, fica restrito a canais<br />

de grande calibre. Em alguns casos, como nos<br />

canais de tipo B, pode-se utilizar dispositivos desenhados<br />

para oclusão de outros defeitos, como por<br />

exemplo, as próteses de Amplatzer para comunicação<br />

interatrial ou interventricular muscular.<br />

RESULTADOS<br />

Os índices de sucesso na implantação e de oclusão<br />

total variam de acordo com o dispositivo e a técnica<br />

TABELA 1<br />

Dispositivos disponíveis no Brasil mais adequados<br />

para a oclusão dos diferentes tipos de ductus da<br />

classificação de Krichenko et al. 31<br />

Tipos de Ductus<br />

A<br />

B<br />

C<br />

D<br />

E<br />

Dispositivos disponíveis no Brasil<br />

Coils<br />

Nit Occlud<br />

Amplatzer Duct Occluder<br />

Double Disk Nit Occlud<br />

Amplatzer Devices<br />

Amplatzer Duct Occluder<br />

Nit Occlud<br />

Coils<br />

Double Disk Nit Occlud<br />

Coils<br />

Amplatzer Duct Occlud<br />

Nit Occlud<br />

utilizada, a morfologia e tamanho do canal e a experiência<br />

do operador. A seleção adequada do modelo e<br />

tamanho das próteses, de acordo com as características<br />

morfológicas e dimensões do ducto, é fundamental<br />

para a obtenção de um implante exitoso, oclusão total<br />

do canal e ausência de complicações.<br />

Analisaremos as principais séries publicadas com<br />

a utilização dos diferentes dispositivos e mencionaremos<br />

nossa experiência pessoal.<br />

Os resultados dos implantes do tampão de Ivalon<br />

e da Double Umbrella de Rashkind, atualmente não<br />

utilizados, merecem citação pelo seu valor histórico.<br />

Plug de Ivalon: As principais séries publicadas<br />

demonstraram a alta efetividade deste dispositivo. Sato<br />

et al. 32 , em 1991, relataram a oclusão total em 73 de<br />

74 pacientes. Schrader et al. 33 obtiveram sucesso no<br />

implante em 100 de 101 pacientes, com oclusão total,<br />

em 99 e fluxo residual mínimo, em um paciente. Houve<br />

duas embolizações tardias (2 e 7 semanas após o<br />

procedimento), sendo um dos pacientes submetido a<br />

um novo procedimento com um tampão maior e o<br />

outro submetido à cirurgia eletiva. Os resultados tardios<br />

da série de Wierny et al. 34 , constituída por 208 pacientes,<br />

revelaram oclusão total em 197 (94,7%).<br />

“Double Umbrella” de Rashkind: Os resultados<br />

que foram considerados satisfatórios na época de sua<br />

maior utilização são inadequados pelos padrões atuais,<br />

devido à incidência de fuga residual e complicações.<br />

Hosking et al. 35 relataram índices de 38%, 19% e 8%,<br />

aos 12, 24 e 40 meses, respectivamente. Outras séries<br />

também revelaram taxas relativamente elevadas de fuga<br />

residual, requerendo novos procedimentos 36,37 . Outras<br />

complicações como obstrução do ramo esquerdo de<br />

artéria pulmonar 38,39 , hemólise 40,41 e protrusão em aorta<br />

e artéria pulmonar 42 também foram relatadas. No nosso<br />

meio, Pedra et al. 43 realizaram uma série de 85 procedimentos<br />

com sucesso em 83 (97,6%). Em um paciente,<br />

houve embolização do dispositivo para artéria pulmonar,<br />

que foi retirado cirurgicamente e, em outro, o procedimento<br />

foi suspenso devido à posição inadequada<br />

da prótese. A incidência de fluxo residual imediato foi<br />

de 61,7% e de 17,1%, tardio. Em 1989, iniciamos<br />

nossa experiência na oclusão de defeitos cardíacos utilizando<br />

a prótese de Rashkind, em 3 pacientes. O sucesso<br />

no implante foi obtido em dois deles, observando-se<br />

oclusão total imediata em um e tardia no outro 44 .<br />

Botallo Occluder: Saveliev et al. 19 relataram a experiência<br />

com 273 pacientes e obtiveram oclusão completa<br />

imediata em 258 (95%). Houve 4% de complicações,<br />

como embolização ou posição inadequada do<br />

dispositivo, requerendo intervenção cirúrgica.<br />

GGVOD: Os relatos são limitados a séries pequenas<br />

que apresentaram bons resultados e podem justificar<br />

sua utilização em casos especiais. Grifka et al. <strong>13</strong> ,<br />

em uma série de 22 pacientes, obtiveram oclusão total<br />

2<strong>13</strong>


Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />

em 100%, sendo necessário reposicionar o dispositivo<br />

em 15/22 pacientes antes da liberação. Munayer-<br />

Calderon et al. 45 obtiveram oclusão total em 12 de <strong>13</strong><br />

pacientes abordados. Um dispositivo embolizou para<br />

aorta descendente e foi retirado de forma percutânea.<br />

Adjustable e Folding Patch Buttoned Devices: o<br />

registro internacional da utilização do dispositivo original<br />

revelou alto índice de sucesso no implante, porém,<br />

houve baixa incidência de oclusão total imediata. Esta<br />

alcançou níveis mais elevados com a incorporação do<br />

tampão interno. Rao et al. 46 , em um estudo multicêntrico<br />

com 284 pacientes, utilizando o modelo original, obtiveram<br />

sucesso no implante em 278 (98%). A incidência<br />

de fluxo residual imediata e com 1, 6, 12, e 24<br />

meses após o implante foi, respectivamente, de 40%,<br />

21%, 14%, 11% e 10%. Com a modificação descrita<br />

(FPBD), a incidência de oclusão total imediata foi de<br />

85% 47 . Entre 1991 a 2000, realizamos 35 procedimentos<br />

de oclusão do ducto arterioso com esta prótese<br />

(Figura 3). A idade média dos pacientes foi de 8 anos<br />

e o calibre do ducto variou de 2,5 a 6,0 (3,4) mm,<br />

sendo 23 do tipo A, 4 do tipo B, 6 do tipo C e 2 do<br />

tipo D. O dispositivo foi implantado com sucesso em<br />

34 pacientes (97%). Um paciente apresentou embolização<br />

da prótese para artéria pulmonar esquerda, que<br />

foi retirada cirurgicamente. O índice de oclusão total<br />

imediatamente após foi de 51% e, aos 12 meses, 90%.<br />

Dois pacientes foram submetidos a um novo procedimento,<br />

1 ano após o implante, devido à presença de<br />

fluxo residual de grau moderado. Foram utilizados<br />

coils de Gianturco, obtendo-se a oclusão total em<br />

ambos casos.<br />

Patch: a utilização deste dispositivo encontra-se<br />

ainda em fase de investigação clínica e requer estudos<br />

com maior número de casos e maior seguimento. Numa<br />

série inicial de 10 pacientes com canais de grande<br />

calibre (7 a 20 mm) submetidos a oclusão com o<br />

patch, o implante foi realizado com sucesso e oclusão<br />

total imediata obtida em 100% dos casos 48 .<br />

Coils de Gianturco: As diversas séries publicadas<br />

revelam índice médio de oclusão total imediato de<br />

80% e durante o seguimento de 90% a 95%, com<br />

taxas de embolização entre 8% e 11% 11,49-53 . O Registro<br />

Europeu 54 , com 1291 procedimentos em 1258 pacientes,<br />

demonstrou um índice de oclusão completa imediata<br />

em 59% e, após um ano, de 95%. Houve 10% de<br />

resultados insatisfatórios como: abandono do procedimento,<br />

fluxo residual com necessidade de um novo<br />

procedimento, hemólise persistente, embolizações, acelerações<br />

do fluxo em estruturas adjacentes e recanalização<br />

tardia. Os fatores mais freqüentes de insucesso<br />

foram os canais de diâmetros maiores e os de morfologia<br />

tubular. A ocorrência de recanalização tardia é excepcional<br />

54-57 . A série de Pedra et al. 43 com 260 pacientes,<br />

idade média de 5 anos e diâmetro mínimo do canal<br />

de 2,3 mm (1-5), dos quais 85% eram do tipo A,<br />

revela resultados excelentes, com taxa de sucesso no<br />

implante de 98% e oclusão tardia total de 97%. A<br />

incidência de embolização foi de 4% e ocorreu na<br />

presença de canais do tipo B ou com diâmetros mínimos<br />

maiores que 3,0 mm.<br />

Nossa experiência está constituída por 45 pacientes<br />

com ducto arterioso do tipo A, exceto 1 do tipo C.<br />

O diâmetro mínimo variou entre 1,3 a 3,5 (2,2) mm e<br />

a técnica utilizada foi a retrógrada em todos os casos,<br />

exceto em dois, nos quais foi utilizada a via anterógrada<br />

(Figura 4). O implante foi realizado com sucesso em<br />

42 pacientes (93%), com oclusão total imediata em<br />

76% e com um ano de seguimento em 100%. Em 3<br />

pacientes, houve embolização do dispositivo para artéria<br />

pulmonar, sendo retirado de forma percutânea em<br />

dois e, no terceiro, foi abandonado no ramo segmentar<br />

póstero-basal do pulmão direito. Neste caso, a angiografia<br />

não evidenciou limitação do fluxo e a cintilografia<br />

A B C<br />

Figura 3 - Oclusão de canal arterial com Folding Patch Buttoned Device. A: Canal arterial calibroso do tipo D; B: A imagem em OAD mostra<br />

o dispositivo abotoado antes da liberação. As setas indicam o botão do oclusor abotoado no contra-oclusor; C: Aortografia de controle,<br />

demonstrando ausência de fuga residual.<br />

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Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />

A B C<br />

Figura 4 - Oclusão de ducto arterioso com coil de Gianturco. A: Canal arterial tipo A de 2 mm de diâmetro; B: Configuração helicoidal do<br />

coil com uma alça na artéria pulmonar e duas na ampola aórtica; C: Aortografia de controle, evidenciando oclusão total.<br />

de controle demonstrou perfusão normal nesse segmento.<br />

Nos três casos, o canal foi posteriormente ocluído<br />

com prótese de Sideris.<br />

Flipper e Detachable coils: Uzun et al. 56 , Tometzki<br />

et al. 58 e Kumar et al. 59 publicaram índices de oclusão<br />

tardia entre 92% e 98% e de embolização menores<br />

que 1%. A redução desta complicação, objetivo da<br />

utilização dos coils de liberação controlada, representa<br />

uma grande vantagem, entretanto, o seu custo mais<br />

elevado pode reduzir sua utilização.<br />

Utilizamos os “detachable coils” em 10 pacientes<br />

com ductos tipo A e diâmetros mínimos entre 2,3 a<br />

3,2 (2,7). O implante foi realizado com sucesso em<br />

100%, sendo utilizada a via anterógrada em 4 e a via<br />

retrógrada em 6. Um paciente apresentou fluxo residual<br />

significativo e foi implantado um segundo coil<br />

(Gianturco), antes da liberação do dispositivo de liberação<br />

controlada. Obteve-se oclusão total imediata em<br />

6 (60%) e tardia nos outros 4.<br />

Duct-Occlud – Nit-Occlud: os resultados dos estudos<br />

da fase I do FDA e multicêntrico do Reino Unido<br />

com o Duct Occlud foram satisfatórios, com índices<br />

de oclusão total de 94% e 91% e de embolização de<br />

0% e 9%, respectivamente 60,61 . O estudo clínico do<br />

FDA com o Nit-Occlud encontra-se, atualmente, na<br />

fase II e os resultados preliminares de 120 implantes<br />

revelam 95% de oclusão total, aos 6 meses e ausência<br />

de complicações significativas 62 . Celiker et al. 28 , em<br />

uma série de 26 pacientes, obtiveram sucesso no implante<br />

em 24 (93,3%) e oclusão total em 12% imediatamente<br />

após o implante, 71% nas primeiras 24 horas<br />

e 93% aos 6 meses; não houve complicações.<br />

Nossa casuística com o uso destes dispositivos é<br />

de 11 pacientes, 9 com Duct-Occlud e 3 com Nit-<br />

Occlud, portadores de ducto tipo A, com diâmetros<br />

mínimos de 2,8 a 3,7 (3,2) mm (Figura 5). O procedimento<br />

foi realizado com sucesso em 100%. Em um paciente,<br />

devido à posição instável, o Duct-Occlud foi retirado<br />

e substituído por outro de maior diâmetro. Houve<br />

oclusão total imediata em 8 (72%) e tardia em 100%.<br />

Amplatzer Duct Occluder: Numerosas séries têm<br />

demonstrado a eficiência e a segurança na utilização<br />

deste dispositivo, apresentando índices de sucesso no<br />

implante próximo a 100% e excepcional ocorrência<br />

de complicações maiores, tais como: obstruções par-<br />

A<br />

C<br />

Figura 5 - Oclusão de ducto arterioso com Nit-Occlud. A e B:<br />

Aortografias demonstrando canal arterial tipo A, com diâmetro<br />

mínimo de 3,7 mm e ampola aórtica de 11 mm; C: Dispositivo<br />

liberado com morfologia em duplo cone; D: Aortografia final com<br />

mínimo fluxo residual.<br />

B<br />

D<br />

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Haddad J, et al. Oclusão Percutânea da Persistência do Canal Arterial. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 206-218.<br />

ciais de aorta e ramo esquerdo de artéria pulmonar,<br />

embolização e hemólise 29,43,63-65 . Em geral, a incidência<br />

de fluxo residual imediato é muito freqüente, entretanto,<br />

a maioria é de grau discreto, através da malha central<br />

da prótese e desaparece durante o seguimento. Assim,<br />

nas primeiras 24 horas, observa-se oclusão total em<br />

aproximadamente 80% dos pacientes e, na quase totalidade,<br />

entre seis meses e um ano. Dois estudos merecem<br />

destaque por serem multicêntricos, com grande<br />

número de pacientes. O estudo clínico internacional,<br />

com 316 pacientes, obteve sucesso no implante em<br />

97% e índices de oclusão total de 56%, 76%, 94% e<br />

100%, imediato, um dia, seis meses e um ano de<br />

seguimento, respectivamente 30 . A única complicação<br />

grave descrita, neste estudo, foi a embolização do<br />

dispositivo para aorta descendente, com necrose mesentérica<br />

e evolução a óbito. No estudo clínico do FDA,<br />

com 439 pacientes, o sucesso no implante foi de<br />

99%, com oclusão total em 76%, 89% e 100% dos<br />

casos, na angiografia final do procedimento, um dia e<br />

1 ano de seguimento, respectivamente. Ocorreram duas<br />

complicações maiores por obstrução parcial do ramo<br />

esquerdo de artéria pulmonar 66 .<br />

As próteses de Amplatzer para oclusão de comunicações<br />

interatriais ou interventriculares musculares, com<br />

duplo disco, foram utilizadas com sucesso em casos<br />

excepcionais de ducto com hipertensão pulmonar ou<br />

do tipo B. O emprego da prótese angulada, na qual o<br />

corpo não é perpendicular ao disco de retenção,<br />

encontra-se ainda em fase experimental e poderá reduzir<br />

a possibilidade de protrusão na luz aórtica.<br />

Em 8 pacientes, com ducto de diâmetros de 3,8-<br />

4,5 (4,15) mm, sendo 6 do tipo A e 2 do tipo C,<br />

implantamos a prótese com sucesso em todos os casos<br />

(Figura 6). Cinco (62,5%) pacientes apresentaram oclusão<br />

total na angiografia de controle e, em três, existia mínimo<br />

fluxo através da prótese. O ecocardiograma de controle<br />

após 24 horas evidenciou oclusão total em todos.<br />

O desenvolvimento ao longo dos anos dos diversos<br />

dispositivos permite, atualmente, a oclusão de praticamente<br />

todos os canais arteriais, independentemente<br />

de sua morfologia e calibre, com índices de sucesso<br />

no implante e oclusão total em quase 100% dos casos.<br />

Os canais do tipo A e diâmetro mínimo menor que<br />

3,0 mm, que representam a grande maioria dos canais<br />

arteriais, podem ser ocluídos com segurança e eficiência,<br />

com os coils de Gianturco e os de liberação controlada.<br />

Outros dispositivos, Nit-Occlud e Amplatzer Duct<br />

Occlud, de custo mais elevado, devem ser reservados<br />

para canais com outras morfologias e diâmetros maiores.<br />

Os prematuros e lactentes de baixo peso ainda<br />

constituem uma limitação para a oclusão percutânea.<br />

Esta restrição deve-se, principalmente, ao risco de obstruções<br />

aórtica e pulmonar e lesões vasculares provocadas<br />

pelo volume dos dispositivos e calibres dos<br />

sistemas de liberação. Os avanços tecnológicos devem<br />

superar estas limitações, beneficiando os pacientes desta<br />

faixa etária.<br />

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A B C<br />

Figura 6 - Oclusão de ducto arterioso com Amplatzer Duct Occlud. A: Canal arterial tipo C de 4,5 mm de diâmetro; B: Dispositivo liberado;<br />

C: Ausência de fluxo residual na aortografia, quinze minutos após o implante.<br />

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Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />

219-230.<br />

Artigo de Revisão<br />

Fechamento Percutâneo das Comunicações<br />

Interventriculares Perimembranosas<br />

Roberto Silva 1 , Vinícius Fraga 1 , Juliana Neves 1 , Simone F. Pedra 1 , Sérgio L. N. Braga 1 ,<br />

Sérgio C. Pontes Jr. 1 , César A. Esteves 1 , Ana Luisa Guerra 1 , M. Virgínia T. Santana 1 ,<br />

Valmir F. Fontes 1 , Carlos A. C. Pedra 1<br />

RESUMO<br />

A comunicação interventricular perimembranosa isolada é<br />

uma das má formações congênitas cardíacas mais comuns.<br />

Embora o tratamento cirúrgico venha sendo realizado com<br />

baixo risco, fatores como fluxo residual, bloqueio atrioventricular,<br />

síndrome pós-pericardiotomia e arritmias podem<br />

complicar o procedimento. Além disto, uma internação<br />

mais prolongada e a ocorrência de cicatriz cirúrgica são<br />

inevitáveis. Em tese, o tratamento percutâneo deste tipo de<br />

defeito poderia minimizar estas complicações. Recentemente,<br />

um dispositivo especificamente desenhado para o fechamento<br />

percutâneo das comunicações interventriculares perimembranosas<br />

derivado da linhagem Amplatzer (AGA Medical Corporation,<br />

MN, EUA) foi desenvolvido. A experiência inicial<br />

com esta prótese-dispositivo foi animadora, com alta taxa<br />

de fechamento do defeito e com incidência limitada de<br />

complicações no seguimento de médio prazo. Neste artigo,<br />

os autores fazem uma revisão do uso atual deste dispositivo.<br />

DESCRITORES: Defeitos do septo interventricular, terapia.<br />

Próteses e implantes. Radiografia intervencionista.<br />

SUMMARY<br />

Percutaneous Closure of Perimembranous<br />

Ventricular Defects<br />

The isolated perimembranous ventricular septal defect (PM<br />

VSD) is one of the most common congenital cardiac malformations.<br />

Although surgery has been performed at low risk,<br />

factors as morbidity such as residual leaks, atrioventricular<br />

block, post-pericardiotomy syndrome and arrhythmias may<br />

act as complications for the procedure. Additionally, longer<br />

hospitalization and the occurrence of surgical scar are<br />

inevitable. Theoretically, the percutaneous treatment of<br />

this type of defect could minimize such complications.<br />

Most recently, a device designed specifically for PM VSD<br />

closure, the Amplatzer Membranous VSD Occluder, has<br />

been developed. Initial clinical experience with this device<br />

has been very encouraging with high rates of complete<br />

closure and low rates of complications at mid-term followup.<br />

In this article, we review our and others’ experience<br />

with this device.<br />

DESCRIPTORS: Heart septal defects, ventricular, therapy.<br />

Prostheses and implants. Radiography, interventional.<br />

Acomunicação interventricular (CIV) é uma das<br />

má formações congênitas cardíacas mais comuns,<br />

totalizando aproximadamente 20% de todos os<br />

defeitos congênitos 1-4 . Em 80% dos casos, estes defeitos<br />

se localizam na porção perimembranosa do septo<br />

interventricular 1-4 , acometendo a via de saída do ventrículo<br />

esquerdo (VE) imediatamente abaixo da valva<br />

aórtica e entre a via de entrada e saída do ventrículo<br />

direito (VD) 3 . Eles são denominados CIVs perimembranosas<br />

(PM) e têm uma extensão variável para o tecido<br />

muscular adjacente do septo da via de entrada, de<br />

1<br />

Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP.<br />

Correspondência: Dr Carlos A. C. Pedra. Chefe da Seção de Intervenções<br />

em Cardiopatias Congênitas. Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.<br />

Av. Dr. Dante Pazzanese, 500 - São Paulo, SP - CEP 04012-180<br />

E-mail: cacpedra@uol.com.br<br />

Recebido em: 01/02/2006 • Aceito em: 24/02/2006<br />

saída ou muscular 1-4 . Sua característica é uma continuidade<br />

fibrosa entre as valvas aórtica e tricúspide 1 . A CIV<br />

PM pode estar total ou parcialmente ocluída por tecido<br />

redundante da valva tricúspide, especialmente em forma<br />

de bolsas provenientes do folheto septal 1-3 . Estas bolsas<br />

são conhecidas como aneurismas do septo ventricular,<br />

apesar de não serem aneurismas verdadeiros 1-3 .<br />

CIVS RESTRITIVAS<br />

A CIV PM pode ser classificada de acordo com<br />

sua repercussão hemodinâmica 2 . A magnitude do fluxo<br />

através da CIV é determinada pelo tamanho da comunicação<br />

e pela diferença de resistências vasculares<br />

entre as circulações sistêmica e pulmonar 2 . Como a<br />

maioria das CIVs é oval em sua forma, a mensuração<br />

correta da CIV pode gerar discussões. Geralmente,<br />

emprega-se a maior medida do defeito 4 , que é utilizada<br />

para comparação com o tamanho da raiz da aorta<br />

219


Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />

219-230.<br />

(geralmente leva-se em conta o anel da valva aórtica).<br />

Assim, estima-se a sobrecarga hemodinâmica imposta<br />

ao ventrículo esquerdo e o risco associado de hipertensão<br />

pulmonar 1-4 . A comunicação, geralmente, é considerada<br />

pequena quando a área do orifício é menor<br />

que 0,8 cm 2 /m 2 de superfície corporal 1 , ou quando<br />

seu diâmetro é menor que um terço do tamanho da<br />

raiz da aorta 4 . Contudo, há pouca evidência científica<br />

para essa classificação 1 . Nos casos de pequenas comunicações,<br />

geralmente, há um gradiente sistólico significativo<br />

entre as pressões de ambos ventrículos. Estes<br />

defeitos também são chamados de restritivos devido<br />

ao fato da magnitude do fluxo pulmonar ser determinada<br />

somente pelo tamanho do defeito, não dependendo<br />

da resistência vascular pulmonar, que é normal. Nestes<br />

casos, as dimensões sistólicas e diastólicas do VE indexadas<br />

à superfície corporal estarão dentro dos limites<br />

da normalidade ou discretamente aumentadas. Classicamente,<br />

as crianças com estas comunicações são<br />

assintomáticas e têm um excelente prognóstico em<br />

longo prazo 5 . Nenhuma medida terapêutica, tanto medicamentosa<br />

ou cirúrgica, é normalmente indicada 1-6 .<br />

Os pacientes devem receber antibioticoterapia profilática<br />

quando forem submetidos a procedimentos que possam<br />

levar a bacteremia 1-7 . O fechamento espontâneo destas<br />

comunicações foi descrito em até 80% dos casos,<br />

normalmente nos primeiros 5 anos de vida 1-3 . Porém,<br />

sugere-se que mesmo pequenas comunicações, inicialmente<br />

classificadas como não significantes, podem<br />

não ter uma evolução benigna em longo prazo 8 .<br />

CIVS NÃO RESTRITIVAS<br />

No outro extremo, CIVs não restritivas ocorrem<br />

quando o tamanho do defeito é maior que 50% do<br />

tamanho da raiz da aorta 4 . Na prática, a definição da<br />

CIV não restritiva é melhor realizada em termos hemodinâmicos<br />

1 . Em outras palavras, quando o fluxo sangüíneo<br />

pulmonar é determinado somente pela resistência<br />

vascular pulmonar 2 . As pressões sistólicas em ambos<br />

ventrículos são, por mecanismo de capilaridade, necessariamente<br />

iguais. Como a circulação pulmonar é sujeita<br />

a aumento excessivo do fluxo sangüíneo, aliado a<br />

aumento da pressão em níveis sistêmicos, as crianças<br />

com estes defeitos correm o risco de desenvolverem<br />

alterações vasculares pulmonares irreversíveis nos primeiros<br />

anos de vida. Assim, o tratamento cirúrgico<br />

não deve ser postergado nestes pacientes 3 .<br />

CIVS MODERADAMENTE RESTRITIVAS<br />

As CIVs moderadamente restritivas são defeitos<br />

que têm diâmetro aproximado entre 30-50% do tamanho<br />

da raiz da aorta 4 , com um gradiente de pressão entre<br />

os ventrículos variável. A pressão sistólica do VD é<br />

aumentada, normalmente ficando abaixo de 50% da<br />

sistêmica. A resistência vascular pulmonar também se<br />

encontra aumentada em níveis variáveis 1-3 . O fluxo<br />

pulmonar é geralmente moderado a grave na infância,<br />

estabelecendo-se após a queda fisiológica da hiperresistência<br />

pulmonar do período neonatal 1-3 . Estes defeitos<br />

são acompanhados de dilatação do átrio e do<br />

ventrículo esquerdo devido à sobrecarga de volume.<br />

O fluxo sangüíneo pulmonar é determinado pelo tamanho<br />

da comunicação e pela resistência vascular pulmonar<br />

2 . Se a criança desenvolve insuficiência cardíaca<br />

sintomática com manifestações de hiperfluxo pulmonar,<br />

está indicada a terapêutica clínica 1,9 . O manejo medicamentoso<br />

pode melhorar os sintomas temporariamente,<br />

permitindo que ocorra fechamento espontâneo da CIV.<br />

Contudo, em crianças com insuficiência cardíaca de<br />

difícil controle clínico, a despeito de terapêutica medicamentosa<br />

máxima, geralmente associada a déficit de<br />

desenvolvimento e infecções pulmonares recorrentes,<br />

o tratamento não deve ser postergado, estando indicado<br />

para prevenir alterações vasculares pulmonares.<br />

FECHAMENTO CIRÚRGICO DAS CIVS PM<br />

O fechamento cirúrgico das CIVs PM tem sido<br />

realizado com baixa taxa de mortalidade, embora com<br />

algumas complicações, tais como fluxos residuais em<br />

até 10% dos casos, bloqueios atrioventriculares, síndrome<br />

pós-pericardiotomia e arritmias 3 . Além disto,<br />

um período de hospitalização mais prolongado (3-10<br />

dias) e a presença de cicatriz cirúrgica definitiva são<br />

conseqüências inevitáveis deste tipo de abordagem.<br />

Como alternativa à cirurgia, tentou-se o fechamento<br />

da CIV PM por via percutânea, usando-se uma variedade<br />

de dispositivos como a “umbrella” de Rashkind<br />

e molas 10-15 . Contudo, estes dispositivos possuíam limitações<br />

importantes, tais como sistemas de implante<br />

calibrosos, impossibilidade de recaptura e reposicionamento,<br />

embolização da prótese, interferência com a<br />

valva aórtica levando a insuficiência e uma alta taxa<br />

de fluxo residual 10-15 . Como não tinham sido desenhados<br />

especificamente para a oclusão da CIV PM, os resultados<br />

não foram adequados, sendo abandonados na<br />

prática clínica.<br />

Após o uso com sucesso para a oclusão de CIVs<br />

musculares com a prótese Amplatzer (AGA Medical<br />

Corporation, MN, EUA) 9,16-22 , desenvolveu-se uma<br />

prótese especificamente para a oclusão das CIVs PM 23 .<br />

A experiência inicial com este dispositivo tem sido<br />

encorajadora 24-27 . Nesta revisão, os autores discutirão<br />

sobre os aspectos de segurança e eficácia do fechamento<br />

percutâneo da CIV PM com esta nova prótese, relatando<br />

também sua própria experiência e resultados.<br />

PRÓTESE E SISTEMA DE IMPLANTE<br />

A prótese<br />

A prótese Amplatzer para CIV PM consiste de<br />

dois discos de baixo perfil, feitos de uma malha de<br />

nitinol auto-expansível, conectados por uma cintura<br />

cilíndrica curta (1,5 mm) 24-27 . A cintura tem um diâmetro<br />

de 4 a 18 mm, com incrementos de 2 mm. Embora os<br />

220


Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />

219-230.<br />

discos sejam paralelos, eles estão desalinhados. O<br />

disco do lado esquerdo é 0,5 mm maior que a cintura<br />

em sua porção superior e 5,5 mm maior na porção<br />

inferior (Figura 1). Já o disco de lado direito é centrado,<br />

sendo 2 mm maior que a cintura em toda a sua volta<br />

(Figura 1). Isto evita o contato direto entre a prótese e<br />

a valva aórtica. Um marcador de platina está fixado a<br />

laser na porção inferior do disco do VE, para orientação<br />

espacial (Figuras 1 e 2), apontando para o ápice<br />

do VE durante o implante. Camadas reforçadas de<br />

poliéster são adicionadas internamente à malha de<br />

nitinol, para aumentar o poder de oclusão. A prótese<br />

é conectada ao sistema de implante por um microparafuso,<br />

localizado na porção central do disco do VD.<br />

Este parafuso é um pouco mais longo que os encontrados<br />

nas outras próteses Amplatzer e tem uma porção plana<br />

em seu lado superior. Desta maneira, a porção plana<br />

do parafuso no lado direito e o marcador de platina<br />

no lado esquerdo encontram-se em localizações opostas,<br />

em um eixo superior-inferior (Figura 2).<br />

Figura 1 - A prótese Amplatzer para CIV perimembranosa. No lado<br />

esquerdo, a prótese é vista de perfil. O disco do lado esquerdo é<br />

excêntrico e conectado ao disco do lado direito por uma curta<br />

cintura. O cabo de implante é parafusado no microparafuso no disco<br />

direito. No lado direito, a prótese é vista de frente. Retalhos de<br />

poliéster são presos na malha de nitinol.<br />

O sistema de implante<br />

É caracterizado por sistema coaxial, consistindo<br />

de um cabo de implante, um cabo empurrador oco,<br />

um rotor de plástico, um carregador de plástico com<br />

válvula hemostática e braço lateral e uma bainha longa<br />

com dilatador 24-27 . O cabo de implante é pouco mais<br />

fino que os cabos usados para implante da prótese<br />

Amplatzer para canal arterial e comunicações interatriais.<br />

O cabo empurrador possui uma cápsula metálica em<br />

sua ponta distal, desenhada para adaptar-se ao microparafuso<br />

da prótese, com uma parte plana em sua<br />

porção superior (Figura 2). Além disto, o cabo empurrador<br />

tem uma leve curvatura que corresponde à curvatura<br />

da bainha longa. A bainha (TorqVue, AGA) é<br />

trançada internamente com fios metálicos de maneira<br />

a evitar dobras durante a sua manipulação e possui<br />

uma curva de 180° no seu segmento distal, para permitir<br />

um melhor posicionamento no ápice do VE. As bainhas<br />

estão disponíveis em 6 Fr (para próteses de 4 mm),<br />

7 Fr (para próteses de 6 a 8 mm), 8 Fr (para próteses de<br />

8 a 12 mm) e 9 Fr (para próteses de 14 a 18 mm) 24-27 .<br />

Para se carregar a prótese, o cabo de implante é<br />

passado por dentro do cabo empurrador e ambos são<br />

passados pelo carregador com a válvula hemostática<br />

conectada. A prótese é parafusada na rosca localizada<br />

distalmente no cabo de implante com uma rotação no<br />

sentido horário. O cabo de implante é então recuado,<br />

permitindo que a porção plana do microparafuso da<br />

prótese se alinhe com a porção plana da cápsula<br />

metálica do empurrador (Figura 2). Isso permite que a<br />

prótese permaneça corretamente posicionada com a<br />

borda superior do disco do VE direcionada para a<br />

valva aórtica durante o implante 9 . Este alinhamento<br />

pode necessitar de algum ajuste manual até que um<br />

“click” seja ouvido ou sentido. Para se evitar a desconexão<br />

entre o parafuso da prótese e o empurrador,<br />

uma leve tração é aplicada ao cabo de implante, que<br />

então é fixado na posição com o rotor plástico ou<br />

com uma pinça cirúrgica 9 próxima à ponta proximal<br />

do cabo empurrador 27 . Deste modo, o cabo de implante<br />

e o empurrador trabalham como um só, quando o<br />

cabo empurrador é empurrado ou puxado. A prótese<br />

é, então, tracionada para dentro do carregador de<br />

plástico, submerso em solução salina, por meio de<br />

uma leve tração do empurrador. Para se retirar o ar do<br />

sistema, injeta-se solução salina no carregador pelo<br />

braço lateral da válvula hemostática.<br />

ESTUDOS EM ANIMAIS<br />

Figura 2 - Ajustando o cabo empurrador na prótese. O cabo empurrador<br />

tem uma cápsula metálica na sua ponta e está desenhado para se<br />

ajustar ao microparafuso da prótese. A porção plana da cápsula<br />

metálica do cabo empurrador deve ser alinhada com a porção plana<br />

do microparafuso da prótese. Isto permite que a prótese seja<br />

corretamente posicionada durante o implante, com a porção plana<br />

superior do disco VE orientada para valva aórtica.<br />

Como ocorreu com outras próteses Amplatzer 22 ,<br />

a prótese para oclusão das CIVs PM foi submetida a<br />

abrangentes estudos em animais com resultados muito<br />

bons 23 . Após estes estudos terem sido publicados, a<br />

prótese foi ainda submetida a melhorias em seu desenho<br />

e em seu sistema de liberação, antes do seu primeiro<br />

uso em seres humanos.<br />

221


Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />

219-230.<br />

SELEÇÃO DOS PACIENTES<br />

O tratamento das CIVs PM tem sido classicamente<br />

indicado na presença de fluxo significativo da esquerda<br />

para direita, levando a sobrecarga de volume do<br />

VE, geralmente observada pelo ecocardiograma transtorácico<br />

9 . Como as crianças com CIVs PM grandes,<br />

usualmente, apresentam sintomas de insuficiência cardíaca<br />

e déficit de desenvolvimento, o tratamento cirúrgico<br />

geralmente é realizado dentro do primeiro ano de<br />

vida 9 . Pacientes com CIV de tamanho moderado, algo<br />

restritivas, que podem ser submetidos a manejo clínico,<br />

são candidatos à oclusão com a prótese assim que<br />

atinjam o peso de 8 a 10 kg 9 . Tem sido amplamente<br />

aceito que pequenas CIVs PM não levam à sobrecarga<br />

volumétrica do VE e não estão associadas a complicações<br />

vasculares pulmonares 2 . Portanto, a oclusão<br />

destes defeitos não é normalmente recomendada e<br />

profilaxia para endocardite é a única recomendação 2 .<br />

Contudo, evidências recentes sugerem que pequenas<br />

CIVs não sejam benignas a longo prazo 8 . Aumento na<br />

morbidade e mortalidade pode ser observado devido<br />

a arritmias, insuficiência cardíaca e endocardite 8 . Assim,<br />

um seguimento próximo é mandatário nestes pacientes.<br />

Os autores acreditam que, em certos casos, o fechamento<br />

de defeitos restritivos pode ser considerado individualizando-se<br />

o caso:<br />

• Déficit no desenvolvimento pondero-estatural<br />

não associado a outras doenças;<br />

• Quadros pulmonares recorrentes, levando a consultas<br />

de emergência e a hospitalizações;<br />

• Aumento progressivo do volume diastólico final<br />

do VE;<br />

• Desenvolvimento de arritmias ventriculares.<br />

Além disso, em países em desenvolvimento, especialmente<br />

em áreas rurais, onde o acesso ao serviço<br />

médico pode ser inadequado dificultando o acompanhamento<br />

clínico, a oclusão destes defeitos deve ser<br />

considerada. Como o tratamento cirúrgico não remove<br />

o risco de endocardite, e pode mesmo provocá-la 7 ,<br />

não se é possível evitar esta complicação com o tratamento<br />

cirúrgico 1 . Ainda não é conhecido se a oclusão<br />

de CIV utilizando-se a prótese elimina este risco. No<br />

outro extremo, um episódio prévio de endocardite<br />

geralmente é considerado como indicação para o fechamento,<br />

independente do tamanho da CIV 3 .<br />

A ECOCARDIOGRAFIA<br />

A ecocardiografia bidimensional transtorácica (ETT)<br />

com Doppler tem um papel importante na seleção de<br />

pacientes para oclusão com prótese. Projeções usuais<br />

são usadas para delinear o tamanho e localização das<br />

CIVs PM, tamanho das câmaras e função ventricular,<br />

anormalidades associadas e função de valvas atrioventriculares<br />

e aórtica 9 . A distância entre a valva aórtica<br />

é observada e, neste aspecto, a presença de uma borda<br />

de tecido entre a valva e a CIV de 2 mm é considerada<br />

como pré-requisito para a oclusão por prótese 9 . Embora<br />

o ETT seja uma ferramenta importante para a seleção<br />

dos pacientes para a oclusão por prótese, o ecocardiograma<br />

transesofágico (ETE) é geralmente usado para<br />

guiar o implante do dispositivo durante o procedimento.<br />

Contudo, o ETT, o ETE ou mesmo o ecocardiograma<br />

intracardíaco (REF), podem ser usados para monitorar<br />

o implante adequado da prótese, desde que se obtenham<br />

boas imagens 24 .<br />

PROCEDIMENTO DE IMPLANTE<br />

O procedimento é preferencialmente realizado sob<br />

anestesia geral, guiado por ETE contínuo 9 . São obtidos<br />

acessos venoso e arterial femoral com introdutores 6<br />

ou 7 Fr e 4 ou 5 Fr, respectivamente. Administra-se<br />

heparina (150 UI/kg, máximo de 10000 UI) e antibioticoterapia<br />

profilática. Cateterismo cardíaco padrão direita<br />

e esquerda é realizado, seguido de ventriculografia<br />

esquerda na projeção axial alongada. As angiografias<br />

da aorta em projeção oblíqua anterior esquerda e do<br />

VE, em hepatoclavicular, podem ser realizadas conforme<br />

a necessidade. Um cateter “Pig-tail” centimetrado<br />

é colocado na veia cava inferior (VCI) ou no peito para<br />

calibração 27 . O defeito é medido no fim da diástole, na<br />

projeção que permite a sua melhor visualização. O<br />

ETE é usado para serem obtidos os parâmetros anatômicos<br />

e funcionais. Os passos mais importantes do<br />

procedimento estão demonstrados nas Figuras 3 a 5<br />

e são descritos a seguir 9 .<br />

Cruzando a CIV pelo VE<br />

A CIV é cruzada de maneira retrógrada, usando<br />

um cateter de Judkins de artéria coronária direita 4 ou<br />

5 Fr, com a ajuda de um guia hidrofílico. Após cruzar<br />

o defeito, o cateter é deixado no ápice do VD e o guia<br />

hidrofílico é trocado por um guia maleável e flexível<br />

de 0,035 polegada de diâmetro e 300 cm de comprimento<br />

(Rope wire, AGA), o qual é manobrado para<br />

ficar na artéria pulmonar esquerda 27 .<br />

Laçando o guia<br />

O guia é laçado na artéria pulmonar esquerda<br />

com um cateter-laço e exteriorizado pela veia femoral<br />

direita, para se estabelecer uma alça artério-venosa<br />

estável. O cateter que cruzou retrogradamente a CIV<br />

é avançado sobre o guia, sendo deixado na junção da<br />

VCI e o átrio direito (AD). Para assegurar a passagem<br />

livre do guia, cateter e bainha pela valva tricúspide,<br />

um cateter tipo Berman Wedge com furo terminal é<br />

inicialmente usado para subir na artéria pulmonar esquerda,<br />

sendo posteriormente substituído por um cateter<br />

Judkins de artéria coronária direita terapêutico para a<br />

manobra de laçar o guia 27 .<br />

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Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />

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A B C<br />

D E F<br />

Figura 3 - Ventriculografias esquerdas em projeção axial alongada. A: Grande CIV PM medindo 9 mm. B: Após o defeito ter sido cruzado<br />

retrogradamente, o guia Rope é avançado para artéria pulmonar esquerda. C: O guia é laçado e exteriorizado pela veia femoral. D: A bainha<br />

de implante com o dilatador são avançados pela veia femoral até que toque o cateter retrógrado que foi deixado na VCI (Kissing). E: Após<br />

a bainha ser posicionada na aorta ascendente, o dilatador é recuado para dentro da bainha e o guia Rope é empurrado para o VE com a<br />

ajuda do cateter retrógrado. F: O dilatador é avançado sobre a alça do guia no VE atingindo o ápice, sendo seguido pela bainha.<br />

Escolha da prótese<br />

A prótese é selecionada para ser 1 a 2 mm maior<br />

que o tamanho da CIV 24-27 , estimada pelo ETE e pela<br />

angiografia, usando seu maior diâmetro no lado do<br />

VE, em diástole 27 . Em pacientes com formação de aneurismas,<br />

especialmente naqueles que tenham múltiplos<br />

orifícios de saída, a seleção da prótese não é tão<br />

simples 27 . Nestes casos, alguns autores (incluindo os<br />

do nosso grupo) preconizam a escolha de uma prótese<br />

1-2 mm maior que o orifício de saída. Nesta situação,<br />

o disco do lado esquerdo fica efetivamente dentro da<br />

formação aneurismática e distante da crista do septo<br />

interventricular. Outros preferem selecionar um dispositivo<br />

1-2 mm maior que o orifício do lado do VE.<br />

Nesta situação, a prótese cavalga a crista do septo<br />

interventricular e o disco do lado direito é que fica<br />

preenchendo a formação aneurismática. Não existem<br />

estudos para comprovar a superioridade de uma ou<br />

outra estratégia. Nos casos de CIV PM associada a<br />

aneurisma multifenestrado, geralmente o guia passa<br />

pelo orifício mais inferior. Nestas situações, alguns<br />

autores preconizam que a prótese para CIV PM fique<br />

orientada em posição reversa, ou seja, com a porção<br />

inferior do disco do lado esquerdo voltada para cima,<br />

de forma a cobrir o orifício de saída mais superior.<br />

Outros autores propõem o uso da prótese para CIV<br />

muscular, para preencher todo o saco aneurismático<br />

nestas situações.<br />

Progressão da bainha de implante<br />

A bainha de calibre apropriado é avançada com<br />

o dilatador pela veia femoral até que sua ponta toque<br />

a ponta do cateter que cruzou retrogradamente a CIV<br />

e foi deixado na junção da VCI e AD (técnica de<br />

Kissing) 27 . A alça artério-venosa é esticada por uma<br />

tração no guia, em ambos os lados do sistema e fixada<br />

com pinças cirúrgicas nas extremidades da bainha<br />

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Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />

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A B C<br />

D E F<br />

Figura 4 - Ventriculografias esquerdas. A: Após a retirada do guia, uma prótese de 10 mm é avançada pela bainha. B: O disco do lado esquerdo<br />

é aberto no VE e todo o sistema é puxado em direção ao septo. O marcador radiopaco aponta para baixo. C: A cintura é aberta na CIV e<br />

o disco do lado direito, no VD. D: Angiografia para confirmar a posição adequada da prótese. E: Pequeno fluxo residual após a liberação<br />

da prótese. A dilatação do VE é notável na imagem em diástole. F: Aortografia em projeção oblíqua anterior esquerda, verificando-se a distância<br />

entre a prótese e a valva. Não há insuficiência aórtica.<br />

venosa e do cateter arterial. A bainha longa é avançada<br />

da veia femoral para a aorta ascendente através da<br />

CIV, empurrando-se gentilmente a bainha e puxandose<br />

o cateter arterial. Uma vez que a bainha esteja na<br />

aorta ascendente, as pinças cirúrgicas são retiradas, a<br />

alça é afrouxada e o dilatador é recuado poucos centímetros<br />

para dentro da bainha. Esta é, então, tracionada<br />

lentamente até que sua ponta esteja logo acima da<br />

valva aórtica. O guia é empurrado pelo lado arterial<br />

para se formar uma curva, para, então, cruzar a valva<br />

aórtica e entrar no VE. O cateter arterial é também<br />

avançado para dar mais suporte ao guia para cruzar<br />

a valva e atingir a cavidade do VE. Esta manobra<br />

empurra a bainha na direção do VE, logo abaixo da<br />

valva aórtica. O dilatador é avançado sobre o guia,<br />

alcançando-se o ápice do VE, sendo seguido pela<br />

bainha. O dilatador é removido e uma nova angiografia<br />

é realizada pelo braço lateral da bainha para uma<br />

avaliação mais detalhada da CIV. O guia longo é retirado<br />

pelo lado venoso ou arterial 27 .<br />

Implante da prótese<br />

Após a prótese ser carregada, ela é avançada até<br />

que atinja a ponta da bainha. O disco do VE é liberado<br />

na porção média da cavidade ventricular, após a<br />

bainha ser distanciada do ápice 24-27 . Devido ao alinhamento<br />

da porção plana do microparafuso da prótese<br />

e da cápsula metálica do cabo empurrador, a prótese<br />

invariavelmente sai da bainha na orientação correta<br />

(com o marcador de platina na maior borda do disco<br />

esquerdo apontando para o ápice) 24-27 . Neste ponto, o<br />

ETE é fundamental para verificar se o disco da prótese<br />

não está preso nas cordoalhas da valva mitral 9 . Após<br />

liberação do disco esquerdo, a bainha e o empurrador<br />

são tracionados em unidade, até que o disco esquerdo<br />

toque o septo ventricular. A cintura da prótese e<br />

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Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />

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A C E G<br />

B D F H<br />

Figura 5 - Ecocardiograma transesofágico durante o procedimento. A e B: A CIV PM é mostrada usando-se projeções padrões e mapeamento<br />

de fluxo a cores. Há fluxo significante da esquerda para direita, levando à dilatação do VE. C: O guia Rope, usado para se estabelecer a<br />

alça artério-venosa, é visualizado na raiz da aorta e átrio direito, passando pela CIV e valva tricúspide. D: Ponta da bainha localizada próxima<br />

ao ápice do VE. E: O disco do lado esquerdo é aberto no VE, longe do aparato da valva mitral. F: O sistema inteiro é puxado em direção<br />

ao septo. G: A cintura e o disco do lado direito são abertos na CIV e no VD, respectivamente, recolhendo-se a bainha e avançando-se o<br />

cabo de implante. A prótese ainda está presa ao cabo de liberação. H: Após liberação, a prótese está em boa posição no septo. Há refluxo<br />

tricúspide mínimo.<br />

o disco direito são liberados com a técnica de duplo<br />

movimento, ou seja, se avança o cabo empurrador<br />

enquanto se puxa ligeiramente a bainha de liberação.<br />

A prótese fica mais curta com sua expansão. Quando<br />

o disco direito é liberado, recuando-se a bainha e<br />

mantendo-se uma ligeira tração no cabo, o dispositivo<br />

pode escorregar pela CIV ou o disco direito ficar preso<br />

na valva tricúspide.<br />

O posicionamento e a orientação adequados são<br />

confirmados pelo ETE e angiografias repetidas. O ETE<br />

é novamente fundamental para assegurar que o aparato<br />

da valva tricúspide não está envolvido pelo disco<br />

do VD 9 . Em pacientes pequenos ou que tenham defeitos<br />

restritivos por tecido tricuspídeo excessivo, incluindo<br />

aqueles com formação de aneurismas, pode ser difícil<br />

posicionar a ponta da bainha próximo ao ápice do<br />

VE. Nestes casos, sugere-se que se posicione a ponta<br />

da bainha na aorta descendente e que se empurre a<br />

prótese até sua extremidade distal. Nesta posição, a<br />

curvatura do arco aórtico mimetiza a curva em direção<br />

ao ápice, forçando a correta orientação da prótese.<br />

Outra opção é liberar parcialmente o disco do lado<br />

esquerdo na aorta ascendente, que assim assume um<br />

aspecto globulado. O sistema inteiro é puxado gentilmente<br />

para a via de saída do VE através da valva<br />

aórtica, tomando-se cuidado para o dispositivo não<br />

escorregar pela CIV. No trato de saída do VE, o restante<br />

do disco esquerdo é liberado. Se com esta manobra,<br />

a prótese não sair da bainha na orientação correta,<br />

deve-se liberar todo o dispositivo no VE e rodar a<br />

bainha e o cabo de liberação no sentido horário até<br />

o marcador apontar para o ápice. Atingida a orientação<br />

adequada, puxa-se o disco direito para dentro da bainha,<br />

completando-se o implante de forma descrita acima.<br />

A liberação final da prótese pode ser realizada de<br />

duas formas: desparafusando-se primeiramente o cabo<br />

de liberação, enquanto a prótese ainda está fixada na<br />

cápsula do cabo empurrador ou puxando-se o cabo<br />

empurrador sobre o cabo de liberação para depois<br />

desparafusá-lo. Uma vez que a prótese esteja liberada,<br />

o cabo e o empurrador são puxados para dentro da<br />

bainha para se evitar qualquer dano pela ponta do<br />

cabo 9 . São repetidos o ETE e a angiografia para se<br />

avaliar a posição final da prótese, fluxos residuais e<br />

função das valvas aórtica, mitral e tricúspide. Cefazolina<br />

(20 mg/kg) é usada para profilaxia durante o procedimento<br />

e a cada 8 horas (total de 3 doses). A hemostasia<br />

é obtida por compressão manual. Os pacientes acordam<br />

no laboratório de hemodinâmica e são transferidos<br />

para o setor de recuperação para observação clínica.<br />

Geralmente têm alta no dia seguinte e são orientados<br />

para o uso de aspirina (2-5 mg/kg, máximo de 100 mg)<br />

por 6 meses; evitar esportes de impacto por cerca de<br />

2-3 meses e manter recomendações para profilaxia de<br />

endocardite por 6 meses ou até que o fechamento<br />

completo seja documentado. São realizados na alta,<br />

com 1, 3, 6, 12 meses e anualmente os seguintes<br />

exames: radiografia de tórax, eletrocardiograma e ETT.<br />

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Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />

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EXPERIÊNCIA DOS AUTORES<br />

De dezembro de 2002 a dezembro de 2005, o<br />

fechamento percutâneo de CIV PM com a prótese<br />

Amplatzer foi tentado em 35 pacientes. Os resultados<br />

nos 10 primeiros pacientes foi apresentado em um<br />

congresso 28 e estão incluídos em um artigo prévio 27 . A<br />

mediana de idade e de peso foi 7 anos (limites: 3-51)<br />

e 22 kg (<strong>13</strong>-80), respectivamente. Como condições<br />

associadas encontrou-se em 1 paciente cada: pósoperatório<br />

cirúrgico de coarctação da aorta; pós-implante<br />

de stent em coarctação da aorta; pós-operatório de<br />

CIV PM com fluxo residual significativo; isomerismo<br />

esquerdo com bloqueio atrioventricular total; hipertensão<br />

arterial pulmonar grave e miocárdio não-compactado.<br />

Prolapso do folheto coronariano direito estava presente<br />

em 3 pacientes.<br />

A relação média de fluxo pulmonar (Qp) sobre<br />

sistêmico (Qs) foi 2,3±1,3 (1,5-5,5). O diâmetro da CIV<br />

variou de 3,5 a 10 mm (média 7,5±1,5) pelo ETT, de<br />

3 a 17 mm (7,7±4,2) pela angiografia e 2,5 a 15 mm<br />

(7,9±3,9) pelo ETE. O diâmetro médio da prótese foi<br />

10,5±4,1 mm (variando de 6-18, mediana 10). Os<br />

tempos de fluoroscopia e procedimento foram 38±16<br />

minutos (16-58) e 120±45 minutos (63-210), respectivamente.<br />

Um paciente tinha sido submetido a reparo<br />

cirúrgico de coarctação da aorta no período neonatal<br />

e também tinha valva aórtica bicúspide, valva mitral<br />

em pára-quedas e descontinuidade entre a valva mitral<br />

e aórtica.<br />

Aspectos morfológicos<br />

Os autores classificaram as CIVs PM em quatro<br />

padrões morfológicos básicos. Em 15 pacientes, a CIV<br />

estava associada com formação aneurismática do septo<br />

membranoso com um aspecto de “couve-flor” à angiografia<br />

(Figura 6). Múltiplos orifícios de saída no lado<br />

direito do aneurisma foram observados em 4 pacientes.<br />

Em dois, este padrão só pôde ser demonstrado após<br />

a repetição da angiografia pela bainha antes do implante.<br />

Orifícios encobertos por tecido tricuspídeo redundante,<br />

mas sem aneurisma, foram observados em 10 pacientes<br />

(Figura 6). Outros 8 pacientes possuíam defeitos<br />

com pouco ou nenhum tecido tricuspídeo adjacente.<br />

Três pacientes apresentavam CIVs associadas a prolapso<br />

do folheto coronariano direito da valva aórtica (Figura<br />

7). Em um destes, o prolapso parcialmente ocluía a<br />

CIV e havia insuficiência aórtica discreta. Nos outros<br />

2, havia formação aneurismática adjacente e não havia<br />

insuficiência valvar.<br />

Sucesso técnico<br />

Em um paciente houve insucesso técnico inicial<br />

no implante devido à ocorrência de bloqueio atrioventricular<br />

durante tentativas de passagem da bainha<br />

longa pela CIV para a aorta ascendente. O procedimento<br />

foi interrompido e um marca-passo de demanda foi<br />

deixado no paciente. Houve restabelecimento do ritmo<br />

sinusal, após 4 horas de observação clínica e administração<br />

de corticoesteróides. Um ano após esta tentativa<br />

infrutífera, este mesmo paciente foi submetido a novo<br />

procedimento com sucesso. Portanto, foram realizados<br />

36 procedimentos em 35 pacientes.<br />

Figura 6 - Ventriculografias esquerdas. A: Angiografia pela bainha<br />

longa, demonstrando que a CIV está associada à formação aneurismática,<br />

com aspecto de "couve-flor" e dois orifícios de saída no VD. B:<br />

Representação esquemática deste padrão morfológico. C: Angiografia<br />

demonstrando CIV parcialmente recoberta por tecido da valva tricúspide<br />

redundante. D: Representação esquemática deste padrão morfológico.<br />

Figura 7 - Ventriculografias esquerdas. A: Angiografia demonstrando<br />

pequena CIV, com pequeno envolvimento da valva tricúspide. B:<br />

Representação esquemática deste padrão morfológico. C: Angiografia<br />

demonstrando CIV associada a prolapso do folheto direito da valva<br />

aórtica, que oclui parcialmente o defeito. D: Representação esquemática<br />

deste padrão morfológico.<br />

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Complicações imediatas<br />

Além do paciente referido acima, outro apresentou<br />

bloqueio atrioventricular fugaz após a bainha cruzar<br />

a CIV. Neste paciente, houve restabelecimento imediato<br />

do ritmo sinusal após administração de atropina,<br />

sendo decidido dar continuidade ao procedimento<br />

que foi completado com sucesso. Em dois pacientes,<br />

houve aparecimento de ritmo juncional com boa freqüência<br />

ventricular durante o implante, melhorando<br />

após a liberação da prótese e recuperação anestésica.<br />

Em um dos menores pacientes desta série (14 kg), o<br />

disco do lado direito ficou preso no aparato da valva<br />

tricúspide, resultando em estenose tricúspide significativa<br />

(11 mmHg de gradiente médio) e fluxo da direita<br />

para esquerda pelo forame oval com dessaturação<br />

sistêmica. Não houve melhora do quadro após a liberação<br />

da prótese do cabo. O aparato da valva foi liberado<br />

da prótese usando-se um laço, resultando em imediata<br />

normalização da função da valva tricúspide e da saturação.<br />

Um paciente teve paralisia braquial temporária<br />

devido ao posicionamento do braço durante o procedimento.<br />

Em dois pacientes, houve aparecimento de<br />

gradientes sistólicos leves (10-20 mmHg) na via de<br />

saída do VE, detectados pela ecocardiografia. Estes<br />

gradientes desapareceram após 1 mês de seguimento.<br />

No dia seguinte ao procedimento, 2 pacientes apresentaram<br />

morfologia de bloqueio de ramo direito (BRD) e<br />

um, de ramo esquerdo (BRE), à eletrocardiografia.<br />

Eficácia<br />

Fechamento completo do defeito foi visto em 28/35<br />

(80%) dos pacientes, dentro das primeiras 24 horas<br />

após a oclusão e em 33/35 (95%), durante o seguimento.<br />

Dos 3 pacientes que apresentavam múltiplos orifícios<br />

de saída dentro do aneurisma, em 2 houve oclusão<br />

completa de todos os orifícios. O outro apresenta menos<br />

de 6 meses de acompanhamento.<br />

local foi implantada uma prótese 18 mm, com o marcador<br />

radiopaco voltado para cima (em posição de 9 horas),<br />

cobrindo o orifício superior. Todo o disco do lado<br />

esquerdo permaneceu dentro do aneurisma, havendo<br />

pinçamento do dispositivo em sua porção central pela<br />

CIV, o que levou à formação de aspecto em cogumelo<br />

da prótese. No dia seguinte ao implante, apresentava<br />

morfologia de BRE. Vinha clinicamente bem, em ritmo<br />

sinusal, sem medicação e com oclusão total do defeito.<br />

O óbito ocorreu em uma discoteca, tendo sido suspeitado<br />

do abuso de drogas e encaminhado para autópsia.<br />

Ao exame da peça anatômica, o dispositivo estava bem<br />

posicionado, completamente endotelizado e não havia<br />

lesões nas estruturas cardíacas adjacentes. Ainda aguardase<br />

o laudo técnico sobre o possível uso de drogas.<br />

No paciente que tinha prolapso discreto do folheto<br />

coronariano direito da valva aórtica e insuficiência<br />

aórtica discreta, houve aumento progressivo da insuficiência<br />

para grau moderado, permanecendo com função<br />

ventricular preservada. Não houve casos de insuficiência<br />

tricúspide ou aórtica significativas nos outros pacientes<br />

no acompanhamento. Um paciente apresentou trauma<br />

fechado de tórax, 5 meses após o procedimento,<br />

evoluindo bem inicialmente, apresentando, porém,<br />

acinesia septal detectada 2 anos após o implante. Todos<br />

os pacientes estavam clinicamente bem, com função<br />

ventricular normal, assintomáticos e sem uso de medicação<br />

no acompanhamento. Não houve nenhum<br />

episódio de embolização da prótese, tanto imediata<br />

quanto tardiamente, e nenhum caso de endocardite. A<br />

ecocardiografia mostrou o baixo perfil da prótese durante<br />

o seguimento (Figura 8).<br />

DISCUSSÃO<br />

Nossa experiência mostrou que o fechamento percutâneo<br />

da CIV PM com a nova prótese Amplatzer foi<br />

Seguimento<br />

Todos os pacientes, exceto três, tiveram alta no<br />

dia seguinte ao procedimento. O seguimento clínico<br />

médio foi de 18±8 meses. Um paciente apresentou<br />

morfologia de BRD e outro de BRE, entre 1 e 6 meses<br />

após o implante. Outro apresentou BAVT, entre 3 a 5<br />

meses após o procedimento. Este paciente possuía<br />

uma CIV PM de 10 mm, com extensão para a via de<br />

entrada, sendo implantada uma prótese 12 mm com<br />

sucesso, sem intercorrências. Nos retornos de 1 e 3<br />

meses, encontrava-se em ritmo sinusal e bem clinicamente.<br />

Progressivamente, começou a apresentar fadiga aos<br />

exercícios, acompanhada algumas vezes de tonturas.<br />

Quando procurou nosso serviço após 5 meses do<br />

implante, encontrava-se com BAVT, necessitando de<br />

implante de marca-passo definitivo. Outro paciente<br />

apresentou morte súbita, 2 anos e meio após o procedimento.<br />

Este paciente apresentava CIV PM associada<br />

à formação aneurismática com 2 orifícios de saída,<br />

com o maior e mais inferior medindo 10 mm. Neste<br />

Figura 8 - Ecocardiografia tridimensional mostrando o baixo perfil<br />

da prótese durante o seguimento. O corte ecocardiográfico é o<br />

paraesternal no eixo longo.<br />

227


Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />

219-230.<br />

exeqüível, geralmente segura e eficaz. A experiência<br />

internacional também mostra resultados iniciais animadores<br />

24-30 . Como observado com o uso de outras próteses<br />

Amplatzer, este novo dispositivo possui uma série de<br />

vantagens:<br />

• O sistema de implante é simples e “amigável”<br />

ao intervencionista;<br />

• Permite a recaptura e reposicionamento se necessário;<br />

• A cintura curta da prótese reduz a protrusão<br />

para ambos ventrículos e minimiza o contato<br />

com a valva tricúspide;<br />

• Devido à configuração não cêntrica do disco<br />

do VE, este permanece distante da valva aórtica<br />

sem interferir com sua função;<br />

• Leva a uma alta taxa de oclusão total.<br />

Do ponto de vista técnico, os autores têm a impressão<br />

que angiografias adicionais realizadas pela bainha<br />

de implante ou pelo cateter retrógrado durante o implante<br />

da prótese são úteis para melhor delineamento<br />

das CIVs associadas à formação aneurismática, principalmente<br />

nos casos onde há a suspeita de mais de um<br />

orifício de saída no VD 27 . Este diagnóstico é muito<br />

importante, visto que pode ter implicações na escolha<br />

da prótese e modificar a técnica de implante. A seleção<br />

do tamanho da prótese pode não ser simples em pacientes<br />

com formação aneurismática, como comentado<br />

acima. O superdimensionamento da prótese pode levar<br />

ao aspecto de cogumelo, com alongamento do dispositivo<br />

e possíveis protrusões. Isto se deve ao pinçamento<br />

da cintura pelo orifício de saída no aneurisma. O<br />

alongamento da prótese pode, teoricamente, ser evitado<br />

se deixarmos a cintura do dispositivo cavalgando<br />

a crista do septo e o disco do lado direito dentro do<br />

aneurisma, evitando puxá-lo pelo aneurisma até o VD.<br />

Questionamos se esta técnica pode aumentar o risco de<br />

embolização. Nos casos com orifício único de saída<br />

dentro do aneurisma, a escolha de uma prótese 1-2 mm<br />

maior que o defeito evita seu alongamento e funciona<br />

adequadamente. Mais dados são necessários para servirem<br />

de guia para ótima escolha da prótese neste<br />

padrão de morfologia. Além disso, o implante da prótese<br />

pode ser dificultado nestes casos e a orientação adequada<br />

da prótese pode não ser conseguida em aneurismas<br />

multifenestrados, especialmente quando a bainha<br />

está cruzando o orifício inferior, como nos casos<br />

descritos pelos autores. Embora recruzar o defeito pelo<br />

orifício superior possa ser necessário em alguns casos,<br />

a liberação da prótese com a orientação reversa não<br />

resultou em disfunção da valva aórtica em um caso<br />

em nossa série. Neste paciente, todo o disco esquerdo<br />

ficou localizado dentro do aneurisma e distante da<br />

valva. Não acreditamos que a morte súbita neste caso<br />

tenha ocorrido pela orientação reversa da prótese, já<br />

que a estrutura cardíaca encontrava-se preservada no<br />

espécime anatômico. A possibilidade de morte elétrica<br />

há que ser considerada, apesar de sua ocorrência<br />

muito tardia. O laudo final do exame toxicológico<br />

ajudará a esclarecer a causa da morte. Para pacientes<br />

sem formação aneurismática, especialmente quando<br />

há pouco ou nenhum tecido da valva tricúspide ao<br />

redor do defeito, a determinação das dimensões da<br />

CIV e a seleção da prótese é mais simples.<br />

Gradientes discretos transitórios na via saída do<br />

VE foram detectados em dois pacientes nesta série,<br />

com desaparecimento durante o acompanhamento provavelmente<br />

devido à redução progressiva no perfil da<br />

prótese, como acontece com a prótese Amplatzer para<br />

comunicação interatrial, associada à endotelização progressiva.<br />

Devido à proximidade da CIV PM da valva tricúspide,<br />

a prótese nesta região pode levar à interferência<br />

na função valvar, como visto em um dos casos. A<br />

abertura da cintura e do disco do lado direito com a<br />

técnica do duplo movimento, como descrito acima,<br />

ajuda a evitar esta complicação. Além disto, após a<br />

passagem retrógrada da CIV e captura do guia na artéria<br />

pulmonar esquerda com o laço, é fundamental averiguar<br />

pela ecocardiografia se todas as estruturas do VD<br />

encontram-se livres, sem tensão, quando se traciona o<br />

guia pela veia femoral. Além destas considerações técnicas<br />

para minimizar a disfunção e possíveis lesões da<br />

valva tricúspide 30 , a insuficiência desta valva pela mera<br />

presença da prótese não foi observada durante o seguimento<br />

na nossa experiência e de outros 24-30 .<br />

A decisão dos autores de ocluir CIV PM em pacientes<br />

com prolapso do folheto aórtico foi arbitrária<br />

e precipitada em um dos casos. Na experiência americana,<br />

na fase I de investigação, estes pacientes foram<br />

excluídos 30 . No caso com prolapso aórtico que parcialmente<br />

ocluía a CIV, a presença da prótese aparentemente<br />

interferiu com a função valvar, levando a aumento<br />

progressivo do grau de insuficiência. Por outro lado,<br />

nos outros dois pacientes com prolapso leve, sem<br />

insuficiência valvar e com aneurisma adjacente, o disco<br />

do lado esquerdo ficou localizado dentro do aneurisma<br />

e distante da valva, sem interferir em seu funcionamento.<br />

É discutido se a oclusão do fluxo abaixo da valva<br />

aórtica irá eliminar o efeito Venturi que é, provavelmente,<br />

a causa do processo de prolapso.<br />

A ocorrência de BAVT tardia em um caso em<br />

nossa série foi uma complicação que traz preocupação.<br />

Especulamos que a endotelização progressiva do dispositivo,<br />

aliada a processo inflamatório local, possa ter<br />

contribuído para a instalação do bloqueio. Em um<br />

levantamento recente, o Dr. John Bass, da Universidade<br />

de Minnesota, investigou a ocorrência de BAVT em<br />

diversos centros mundiais. Estes dados, ainda não publicados,<br />

foram mostrados no Ninth Pediatric Interventional<br />

Cardiac Symposium, em setembro de 2005, na Argentina.<br />

Esta complicação, que não levou à mortalidade,<br />

incide em 1,2 a 1,5% dos casos, com a maioria (70%)<br />

ocorrendo entre 3 e 14 dias de evolução. Apesar de<br />

228


Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />

219-230.<br />

não terem sido identificados fatores de risco associados<br />

a esta ocorrência (pela baixa incidência descrita),<br />

é discutido se a extensão para via de entrada seria um<br />

fator predisponente, assim como o superdimensionamento<br />

do dispositivo. A incidência de BAVT após a<br />

correção cirúrgica da CIV PM é provavelmente semelhante,<br />

entretanto, o bloqueio quase sempre ocorre<br />

enquanto o paciente ainda está internado, podendo ser<br />

facilmente reconhecido e prontamente tratado. Como a<br />

maioria dos pacientes já estava em seu domicílio quando<br />

ocorreu o BAVT após o implante percutâneo, esta<br />

complicação possui um potencial de gravidade maior,<br />

já que pode passar despercebida. Por isto, em serviços<br />

que dispõem de tal tecnologia, discute-se a utilização<br />

da telemetria caseira rotineira durante o primeiro mês<br />

após o implante da prótese. Com o acúmulo de casuística,<br />

os fatores de risco desta complicação serão reconhecidos<br />

e neutralizados em experiências futuras.<br />

A taxa de oclusão total durante o seguimento em<br />

nossa experiência foi semelhante à encontrada na literatura,<br />

em torno de 95% 24-30 , denotando a alta eficácia<br />

do dispositivo, que é comparável à taxa obtida pelo<br />

tratamento cirúrgico 3 . A endotelização da prótese deve<br />

ser responsável pelo declínio da taxa de fluxo residual<br />

com o tempo.<br />

Novos desenvolvimentos<br />

Objetivando otimizar o posicionamento da prótese,<br />

algumas modificações na prótese e no sistema de implante<br />

têm sido feitas e testadas em modelos experimentais,<br />

com resultados preliminares animadores 31 . Uma<br />

rosca foi colocada no centro do disco do VE, em<br />

posição oposta ao parafuso do disco do VD. O guia<br />

Rope foi modificado com a colocação de um parafuso<br />

em sua ponta. Antes da prótese ser avançada pela<br />

bainha, o disco esquerdo é parafusado no guia Rope<br />

e o disco direito, no cabo de implante, como já é feito.<br />

Ao invés de remover-se o guia Rope, ele é usado para<br />

criar uma tração no lado arterial. Em modelos animais,<br />

isto possibilitou ao operador posicionar a prótese mais<br />

facilmente, sendo tracionada para o VE com o guia, se<br />

a posição não era adequada. O reposicionamento<br />

também é mais fácil devido à continuidade cabo-próteseguia,<br />

que pode ser manipulado no lado arterial e<br />

venoso. A prótese é liberada da maneira usual e, após<br />

a confirmação de sua posição ótima, o guia Rope é<br />

desparafusado antes de desparafusar o cabo de implante<br />

para a liberação da prótese. Estas modificações<br />

podem resolver alguns problemas, como dobras na<br />

bainha, tração acidental da prótese para o VD e lesões<br />

inadvertidas no VE; levando a um menor tempo de<br />

fluoroscopia e procedimento. Esta técnica pode ser<br />

particularmente útil em crianças pequenas (


Silva R, et al. Fechamento Percutâneo das Comunicações Interventriculares Perimembranosas. Rev Bras Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3):<br />

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Pedra CAC, et al. Avaliação Hemodinâmica da Hipertensão Arterial Pulmonar Secundária a Cardiopatias Congênitas. Rev Bras<br />

Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 231-239.<br />

Artigo de Revisão<br />

Avaliação Hemodinâmica da Hipertensão Arterial<br />

Pulmonar Secundária a Cardiopatias Congênitas<br />

Carlos A. C. Pedra 1 , Juliana Neves 1 , S. Raul Arrieta 1 , Justo Santiago 1 , Daniel Arnoni 1 ,<br />

Fabio Figueiredo 1 , Sérgio L. N. Braga 1 , César A. Esteves 1 , Valmir F. Fontes 1<br />

RESUMO<br />

A hipertensão arterial pulmonar (HAP) secundária a cardiopatias<br />

congênitas é uma enfermidade comum em nosso<br />

meio devido a referências tardias para tratamento. Nos<br />

pacientes com HAP, a avaliação hemodinâmica é um método<br />

importante para definir a reversibilidade do quadro e a<br />

indicação operatória. Neste artigo, revisamos os principais<br />

aspectos sobre a avaliação hemodinâmica da HAP na sala<br />

de cateterismo, discutindo conceitos importantes para o<br />

cardiologista (pediátrico e de adultos), intensivista, ecocardiografista,<br />

cirurgião cardíaco e, principalmente, para o cardiologista<br />

invasivo (hemodinamicista).<br />

DESCRITORES: Hipertensão pulmonar. Cardiopatias congênitas.<br />

Óxido nítrico.<br />

SUMMARY<br />

Hemodynamic Assessment of Pulmonary Arterial<br />

Hypertension (PAH) Secondary to Congenital<br />

Heart Diseases<br />

Pulmonary arterial hypertension (PAH) secondary to congenital<br />

heart disease is a common condition in our environment<br />

due to late referrals for treatment. In patients with PAH, the<br />

hemodynamic assessment is an important tool to define the<br />

reversibility of the disease and suitability for surgery. In this<br />

paper, we review major aspects of PAH hemodynamic<br />

assessment in the catheterization laboratory, discussing important<br />

concepts for the cardiologist (pediatric and adult),<br />

intensivist, echocardiographer, cardiac surgeon and, mainly,<br />

for the invasive cardiologist.<br />

DESCRIPTORS: Pulmonary hypertension. Heart defects,<br />

congenital. Nitric oxide.<br />

Ahipertensão arterial pulmonar (HAP) é uma condição<br />

definida pela presença de pressão arterial<br />

pulmonar média > 25 mmHg em repouso ou<br />

> 30 mmHg em exercício 1,2 . Tais valores são aplicados<br />

principalmente na população adulta e com HAP idiopática.<br />

Independente de sua etiologia, a HAP caracteriza-se<br />

por aumento progressivo da resistência vascular<br />

pulmonar (RVP), culminando em falência ventricular<br />

direita e óbito se não for tratada precoce e adequadamente.<br />

Nos casos de HAP associada às cardiopatias<br />

congênitas, a correção oportuna do defeito, invariavelmente,<br />

previne o desenvolvimento das alterações histológicas<br />

graves e supostamente irreversíveis que caracterizam<br />

a doença vascular pulmonar vaso-oclusiva.<br />

Entretanto, como vivemos em um país de dimensões<br />

continentais e com grande heterogeneidade na qua-<br />

1<br />

Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP.<br />

Correspondência: Dr. Carlos A. C. Pedra. Instituto Dante Pazzanese<br />

de Cardiologia. Av. Dr. Dante Pazzanese, 500 - São Paulo, SP.<br />

CEP 04012-180 - Tel.: (11) 5085-4114 - Fax: (11) 5085-4196<br />

E-mail: cacpedra@uol.com.br<br />

Recebido: 11/05/2006 • Aceito em: 15/05/2006<br />

lidade do atendimento médico, são comuns as referências<br />

tardias, gerando dúvidas em relação à indicação<br />

de fechamento do defeito. Por isto, é fundamental<br />

que o cardiologista pediátrico, o ecocardiografista, o<br />

intensivista, o cirurgião cardíaco e, principalmente, o<br />

hemodinamicista tenham um mínimo de conhecimento<br />

para a correta interpretação da avaliação<br />

hemodinâmica da HAP na sala de cateterismo.<br />

O objetivo deste artigo é revisar, sucintamente, os<br />

principais aspectos do estudo hemodinâmico nesta<br />

condição. Não serão abordados a classificação da<br />

HAP e seus aspectos clínicos, fisiopatológicos e terapêuticos.<br />

Apesar do diagnóstico da HAP poder ser realizado<br />

de forma não-invasiva, o cateterismo é geralmente<br />

empregado para avaliação mais precisa dos níveis<br />

pressóricos na artéria pulmonar (AP) e para caracterização<br />

do débito (ou índice) cardíaco sistêmico (Qp) e<br />

pulmonar (Qs) e das resistências pulmonar e sistêmica<br />

(RVS). Além disto, realiza-se o teste com um vasodilatador<br />

pulmonar seletivo, que tem grande importância<br />

para se estimar o grau de reatividade da vasculatura<br />

pulmonar. Tais dados têm implicações prognósticas e<br />

terapêuticas, como veremos adiante.<br />

231


Pedra CAC, et al. Avaliação Hemodinâmica da Hipertensão Arterial Pulmonar Secundária a Cardiopatias Congênitas. Rev Bras<br />

Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 231-239.<br />

INDICAÇÕES DO ESTUDO HEMODINÂMICO<br />

O cateterismo está indicado toda vez que houver<br />

dúvidas em relação à reversibilidade do quadro de<br />

HAP e à indicação operatória nos pacientes com cardiopatias<br />

congênitas, geralmente com hiperfluxo pulmonar.<br />

Tais indicações devem ser sempre individualizadas,<br />

podendo variar significativamente em diferentes<br />

instituições. Como hoje em dia operam-se os pacientes<br />

com cardiopatias congênitas em idade mais precoce<br />

baseando-se apenas nos dados obtidos pela ecocardiografia,<br />

as indicações de cateterismo vêm se tornando<br />

mais restritas. Para exemplificar esta situação, devemos<br />

lembrar que em pacientes de baixa faixa etária<br />

(< 6-9 meses), com quadro clínico florido de insuficiência<br />

cardíaca (ICC) e com grandes comunicações nãorestritivas<br />

entre os ventrículos (ex: comunicação interventricular<br />

e defeito do septo atrioventricular em sua forma<br />

total) ou entre as grandes artérias (ex: persistência do<br />

canal arterial), a pressão sistólica na artéria pulmonar<br />

é sempre muito semelhante à pressão arterial sistêmica<br />

(princípio físico dos vasos comunicantes). Isto pode<br />

ser evidenciado pela ecocardiografia, utilizando-se o<br />

Doppler e a equação de Bernoulli para se estimar as<br />

diferenças pressóricas entre as câmaras cardíacas. Apesar<br />

do diagnóstico bem estabelecido de HAP, estes pacientes<br />

são raramente submetidos a cateterismo cardíaco antes<br />

da correção cirúrgica do defeito.<br />

CONCEITOS HEMODINÂMICOS BÁSICOS 3-6<br />

Os cálculos do débito (ou índice cardíaco, quando<br />

indexado para a superfície corpórea; o que é mais<br />

apropriado para crianças) e das RVP e RVS podem ser<br />

realizados de duas formas. Na primeira, utiliza-se o<br />

cateter de Swan-Ganz para obtenção das pressões e<br />

do débito cardíaco por termodiluição. Esta técnica é<br />

mais aplicada à beira do leito em unidades de terapia<br />

intensiva, em adultos, possuindo algumas limitações<br />

em crianças devido à presença de shunts intra ou<br />

extracardíacos e/ou ao perfil dos cateteres. No laboratório<br />

de cateterismo, o método empregado para os<br />

cálculos é o de Fick 7 , o qual leva em conta o consumo<br />

de oxigênio (VO 2<br />

) do paciente e a diferença do conteúdo<br />

arterial de oxigênio nos dois circuitos: sistêmico<br />

e pulmonar. As fórmulas e conceitos que se seguem<br />

serão expostos de forma resumida. O leitor que quiser<br />

aprofundamento e detalhamento é encorajado a procurar<br />

leitura específica.<br />

A pressão arterial na AP é definida pela seguinte<br />

equação:<br />

Pressão = Fluxo X Resistência. Portanto, a HAP<br />

pode ser causada por aumento excessivo do fluxo<br />

pulmonar e/ou elevação da resistência.<br />

O conteúdo arterial de oxigênio em ml/100 ml de<br />

sangue é dado pela seguinte fórmula: CaO 2<br />

= O 2<br />

ligado<br />

à hemoglobina + O 2<br />

dissolvido no plasma, ou seja:<br />

CaO 2<br />

= (1,36 X Hb X SatO 2<br />

) + (0,003 X PaO 2<br />

). Em<br />

situações habituais, nas quais os pacientes estão em<br />

ar ambiente (ou FiO 2<br />

< 30 - 40%), o valor do O 2<br />

dissolvido no plasma é irrisório e, por isto, é comumente<br />

desprezado nos cálculos basais no laboratório de hemodinâmica.<br />

O cálculo do índice cardíaco (IC) é realizado pela<br />

seguinte fórmula:<br />

IC = VO 2<br />

/ diferença artério-venosa do conteúdo<br />

arterial de O 2<br />

.<br />

Apesar dos valores do conteúdo arterial de O 2<br />

serem expressos em ml por 100 ml de sangue, o IC<br />

é expresso em litros por minuto. Portanto, deve-se<br />

multiplicar o denominador por 10. Em situações onde<br />

não há curto-circuito intracardíaco, considera-se saturação<br />

venosa mista aquela obtida na AP. Com isto, teríamos<br />

a seguinte fórmula para o cálculo do índice cardíaco:<br />

IC = VO 2<br />

(em litros/min/m 2 )/ (Sat aorta – Sat AP) X<br />

(Hb) X (1,36) X (10).<br />

Entretanto, devido à presença de shunts intra ou<br />

extracardíacos em pacientes com cardiopatias congênitas,<br />

considera-se a saturação venosa mista aquela obtida<br />

na veia cava superior (VCS) 8 . Com isto, pode-se calcular<br />

o índice pulmonar e o sistêmico, segundo as equações<br />

apresentadas a seguir:<br />

Índice pulmonar, também chamado de fluxo pulmonar<br />

ou Qp:<br />

Qp = VO 2<br />

/ (Sat VPu – Sat AP) X (Hb) X (1,36) X (10)<br />

Índice sistêmico, também chamado de fluxo sistêmico<br />

ou Qs:<br />

Qs = VO 2<br />

/ (Sat Ao – Sat VCS) X (Hb) X (1,36) X (10)<br />

O cálculo das resistências é dado pelas seguintes<br />

fórmulas:<br />

RVS = Pressão média Ao – Pressão média no AD/ Qs<br />

RVP = Pressão média na AP – pressão média do<br />

capilar pulmonar ou pressão média no átrio esquerdo<br />

(se não houver estenose de veia pulmonar) ou pressão<br />

diastólica final do ventrículo esquerdo (se não houver<br />

estenose mitral ou de veia pulmonar)/índice pulmonar<br />

(Qp). O numerador desta equação (APm – PCPm) é<br />

também chamado de gradiente transpulmonar.<br />

A unidade de resistência mais utilizada em cardiologia<br />

pediátrica é a unidade Wood (mmHg X min/l). Se<br />

multiplicarmos a unidade Wood por 80, obteremos a<br />

unidade mais utilizada em adultos, ou seja: dyne seg<br />

cm -5. É importante enfatizar que, nas fórmulas acima,<br />

tanto o Qp quanto o Qs foram indexados para superfície<br />

corpórea, já que esta variável sofre uma grande<br />

oscilação em crianças. Portanto, os cálculos das resistências<br />

já incluem esta indexação, tão importante para<br />

comparações.<br />

Os valores normais dos parâmetros hemodinâmicos<br />

encontrados em crianças estão expostos na Tabela 1.<br />

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Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 231-239.<br />

TABELA 1<br />

Valores normais do consumo de oxigênio, índice<br />

cardíaco, resistências vasculares, pressões e<br />

saturações nas câmaras cardíacas em crianças<br />

Consumo de oxigênio (VO 2<br />

)<br />

(ml O 2<br />

/min/m 2 )<br />

5-15 anos 110-160<br />

0-5 anos 140-200<br />

Índice cardíaco (l/min/m 2 ) 4-5<br />

Qp/Qs 1<br />

RVS (U Wood X m- 2) (indexada) 9-20<br />

RVP (U Word X m -2) (indexada) < 2<br />

RVP/RVS < 0,15<br />

Pressões (mmHg)<br />

ADm 3 (0-10)<br />

VD 24/5 (20/2 - 30/10)<br />

TP 24/10 (20/8 - 30/15)<br />

TPm <strong>13</strong> (10-20)<br />

Capilar m 8 (5-12)<br />

VE 96/5 (60/4 - 120/12)<br />

Aorta 96/60 (60/25 - 120/80)<br />

Saturações (%)<br />

VCS 74 (67-83)<br />

AD 75 (65-87)<br />

VD 75 (67-84)<br />

TP 75 (67-84)<br />

Ao 95 (93-98)<br />

AE 95 (93-98)<br />

INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS<br />

Classicamente, os pacientes com relações Qp/Qs<br />

≥ 2, RVP/RVS ≤ 0,4-0,5 aliados à RVP ≤ 5 U Wood X<br />

m-2 são considerados como portadores de HAP reversível<br />

e, portanto, operáveis 3 . Aqueles com Qp/Qs ≤ 1,5,<br />

RVP/RVS ≥ 0,7 aliados à RVP ≥ 8-10 U Wood X m-2<br />

apresentam mortalidade cirúrgica muito elevada e, geralmente,<br />

não evoluem com queda da pressão pulmonar<br />

e da RVP, após a oclusão do defeito 3 . Daí o termo<br />

hipertensão pulmonar “irreversível”. Estes pacientes<br />

são portadores de lesão histológica pulmonar de grau<br />

avançado, com obstrução do lúmen arterial 9 e relação<br />

alvéolo-arterial alta nos vasos mais periféricos 10 , caracterizando<br />

doença vascular pulmonar vaso-oclusiva.<br />

Aqueles portadores de valores intermediários entre estes<br />

dois extremos são considerados duvidosos, tornandose<br />

candidatos à realização de biópsia pulmonar para<br />

definição da estratégia terapêutica.<br />

É importante lembrar que estes números definidos<br />

acima foram baseados em estudos da década de 60 e<br />

70, realizados em diferentes centros, com metodologias<br />

variadas, em cardiopatias distintas, com protocolos<br />

diversos de sedação e tempo de cateterismo e uso de<br />

parâmetros não-uniformes para definição de “irreversibilidade”<br />

11-15 . Além disto, as técnicas de circulação<br />

extracorpórea e ventilação mecânica, manejo do baixo<br />

débito cardíaco e da HAP na unidade de terapia intensiva<br />

eram muito mais limitadas naquela época. Por<br />

isto, estudos mais recentes parecem apontar para melhores<br />

prognósticos, mesmo nos pacientes com parâmetros<br />

hemodinâmicos menos favoráveis. Em um estudo<br />

do final da década de 80 16 , pacientes com RVP < 7 U<br />

Wood (indexada) após uso de vasodilatador (isoproterenol)<br />

apresentaram boa evolução operatória, independente<br />

dos parâmetros hemodinâmicos basais. Nesta<br />

série, o encontro da relação RVP/RVS > 0,75 foi indicativo<br />

de RVP muito elevada, estando associado à<br />

evolução operatória desfavorável. Em outro estudo mais<br />

recente 17 , resultados cirúrgicos encorajadores de longo<br />

prazo foram relatados em pacientes operados de comunicação<br />

interventricular não-restritiva, com RVP elevada<br />

(> 6 U Wood indexada). Nesta série, a mediana de<br />

idade dos pacientes foi de 7,5 anos, a RVP foi 7,6 ±<br />

1,8 U Wood, o Qp/Qs foi 1,9 ± 0,5 e a relação RVP/<br />

RVS foi 0,41 ± 0,12. Quase 80% dos pacientes apresentaram<br />

desfechos favoráveis em um seguimento médio<br />

de 8,7 anos, apresentando-se assintomáticos e com<br />

redução significativa das pressões na artéria pulmonar.<br />

Conceitualmente, devemos diferenciar irreversibilidade<br />

da HAP e operabilidade do paciente. A irreversibilidade<br />

da HAP é definida pela presença de lesão<br />

histológica pulmonar de grau avançado, com obstrução<br />

do lúmen arterial 9 e relação alvéolo-arterial alta nos<br />

vasos mais periféricos 10 , caracterizando a tão chamada<br />

doença vascular pulmonar vaso-oclusiva. Tais características<br />

são, geralmente, encontradas em pacientes com<br />

grau ≥ III na classificação de Heath-Edwards 9 . Nestes<br />

pacientes, a oclusão do defeito cardíaco não interferiria<br />

na evolução do quadro pulmonar em longo prazo.<br />

Entretanto, na prática, observa-se que muitos destes<br />

pacientes com lesões de grau avançado ainda apresentam<br />

fluxo pulmonar excessivo, com relação Qp/Qs<br />

> 2 e relação RVP/RVS < 0,5. Nestas condições, o<br />

paciente ainda se beneficiaria agudamente da oclusão<br />

do defeito, com melhora dos sintomas pulmonares e<br />

da insuficiência cardíaca. Nestes casos duvidosos (geralmente<br />

com grau III na classificação de Heath-Edwards),<br />

pode-se optar pela indicação cirúrgica, deixando um<br />

pequeno defeito residual (em nível atrial, ventricular<br />

ou arterial) para descompressão do VD em situações<br />

de crises de HP no pós-operatório imediato e durante<br />

o seguimento, se realmente houver progressão dos<br />

níveis da RVP.<br />

Além da análise histológica qualitativa de Heath e<br />

Edwards 9 , a abordagem quantitativa ou morfométrica<br />

da biópsia pulmonar, proposta por Rabinovitch et al. 10 ,<br />

e a idade do paciente no momento da correção também<br />

apresentaram boa correlação com a evolução hemodinâmica<br />

pós-operatória, em um estudo clássico publicado<br />

pelo grupo de Boston 18 . Pacientes operados com menos<br />

de 9 meses apresentaram ótima evolução, independente<br />

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Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 231-239.<br />

do padrão histológico inicial, com normalização da<br />

PAPm e/ou da RVP medidos 1 ano após a cirurgia.<br />

Entre aqueles operados com idade > 9 meses, houve<br />

normalização dos dados hemodinâmicos nos portadores<br />

de graus I de Heath e Edwards associados a<br />

graus A e B de Rabinovitch. Entretanto, observou-se<br />

manutenção dos dados hemodinâmicos em patamares<br />

elevados em metade dos portadores de grau B de<br />

Rabinovitch associado a grau II de Heath e Edwards<br />

ou naqueles com grau C de Rabinovitch associado a<br />

grau I ou II de Heath e Edwards. A PAPm e a RVP<br />

mantiveram-se elevadas em todos os pacientes com<br />

grau C de Rabinovitch operados após os 2 anos de<br />

idade, com níveis ainda mais altos naqueles associados<br />

a grau III de Heath e Edwards.<br />

É importante lembrar de alguns raros pacientes<br />

com defeitos amplos, não-restritivos (geralmente portadores<br />

de CIVs), que jamais cursam com sinais de ICC<br />

devido à persistência do padrão fetal de HAP. Estes<br />

pacientes comportam-se como àqueles que têm hipertensão<br />

pulmonar “irreversível”, com Qp/Qs ≤ 1,5, RVP/<br />

RVS ≥ 0,7 e RVP ≥ 8-10 U Wood X m-2. Também são<br />

portadores de lesão histológica pulmonar de grau avançado,<br />

com obstrução do lúmen arterial e relação alvéoloarterial<br />

alta nos vasos mais periféricos, caracterizando<br />

doença vascular pulmonar vaso-oclusiva. A correção<br />

cirúrgica do defeito está contra-indicada nestes casos.<br />

Baseado nos dados expostos acima, algumas questões<br />

ainda permeiam a prática clínica: Pacientes com<br />

lesões histológicas com grau ≥ III de Heath e Edwards,<br />

mas com dados hemodinâmicos favoráveis, teriam evolução<br />

inexorável para a Síndrome de Eisenmeiger após<br />

a oclusão do defeito, na qual a RVP seria igual ou<br />

maior que a RVS, causando cianose progressiva? Mesmo<br />

que o quadro histológico não regrida após a correção,<br />

não seria possível uma estabilização do processo com<br />

conseqüente manutenção dos níveis pressóricos na<br />

artéria pulmonar em patamares aceitáveis, compatíveis<br />

com uma boa qualidade de vida e longevidade? Com<br />

o arsenal terapêutico disponível hoje em dia para tratamento<br />

da hipertensão pulmonar, tanto na unidade<br />

de terapia intensiva quanto em nível ambulatorial, não<br />

valeria a pena abordar também estes casos limítrofes,<br />

deixando alguma “válvula de escape” para descompressão<br />

do VD? Pacientes com padrões hemodinâmicos<br />

e angiográficos semelhantes e limítrofes associados a<br />

grau III na classificação de Heath e Edwards, mas com<br />

idades diferentes (ex: 1 ano e 10 anos), teriam prognóstico<br />

semelhante? Fazendo esta questão de outra<br />

forma: não seria possível que o paciente de menor<br />

idade apresentasse maior capacidade de remodelamento<br />

vascular após a oclusão do defeito, evoluindo de forma<br />

mais satisfatória? Esta e outras questões ainda carecem<br />

de respostas mais definitivas, constituindo-se em ótimos<br />

campos para pesquisa clínica futura. Outro aspecto<br />

que merece comentários é que o padrão histológico<br />

obtido em um espécime isolado do parênquima pulmonar,<br />

teoricamente, pode não refletir o que acontece no<br />

restante do pulmão; ou seja, estas alterações não seriam<br />

homogêneas e comuns a todos segmentos pulmonares.<br />

Considerando as diferenças normais de ventilação e<br />

perfusão dos diferentes segmentos pulmonares (também<br />

chamadas de zonas de West), tal hipótese não é de<br />

todo descabida. Entretanto, do ponto de vista prático,<br />

tendemos a considerar que as alterações histológicas<br />

sejam homogêneas e representativas de todo o pulmão.<br />

TESTE DA VASODILATAÇÃO PULMONAR<br />

O teste da vasodilatação pulmonar em pacientes<br />

com cardiopatias congênitas foi por muito tempo realizado<br />

com drogas vasodilatadoras não seletivas, como<br />

a tolazolina, o nitroprussiato e o isoproterenol 3 . Além<br />

de seus efeitos sistêmicos indesejáveis causando hipotensão<br />

arterial, estas drogas podiam levar à dilatação<br />

vascular pulmonar em áreas mal ventiladas, acarretando<br />

desequilíbrios entre a perfusão e a ventilação pulmonar,<br />

com conseqüente hipoxemia. Por outro lado,<br />

é sabido que os vasodilatadores pulmonares seletivos<br />

evitam os efeitos colaterais sistêmicos. Além disto, os<br />

agentes inalatórios, como o óxido nítrico (NO), atingem<br />

os locais bem ventilados, minimizando a ocorrência<br />

de hipoxemia secundária a desequilíbrios entre a ventilação<br />

e perfusão pulmonar.<br />

Muitos centros utilizaram apenas o oxigênio como<br />

droga vasodilatadora pulmonar 3 . Entretanto, alguns autores<br />

questionaram a validade desta prática. Para uns, o<br />

oxigênio parece reduzir a pressão na AP apenas nos<br />

pacientes que já apresentam diminuição da saturação<br />

nas veias pulmonares, ou seja: naqueles que apresentam<br />

um shunt pulmonar (ex: atelectasias) e não-cardíaco 5 .<br />

Para outros, a resposta hemodinâmica ao oxigênio<br />

não tem valor preditivo para identificar os pacientes<br />

de alto risco cirúrgico ou aqueles que apresentarão<br />

queda da RVP após a oclusão do defeito 19 . Talvez, os<br />

pacientes que vivem em altitudes elevadas sejam mais<br />

sensíveis à administração deste agente e apresentem<br />

quedas mais significativas da pressão na AP.<br />

A disponibilidade do uso clínico do NO mudou<br />

a forma de realização do teste de vasodilatação pulmonar,<br />

em pacientes com cardiopatias congênitas. Vários<br />

estudos demonstraram que o uso do NO nestes pacientes<br />

reduz as pressões na artéria pulmonar e a RVP e<br />

aumenta a relação Qp/Qs, principalmente quando administrado<br />

em conjunto com altas concentrações de oxigênio<br />

20-23 . Apesar das concentrações de NO utilizadas<br />

na literatura serem muito variadas, parece que o uso<br />

de concentrações mais elevadas (80 ppm), por um<br />

período de exposição limitado (15-30 minutos), produz<br />

efeitos de vasodilatação seletiva mais significativos, sem<br />

afetar a circulação sistêmica ou produzir efeitos colaterais<br />

ou aumentar a concentração de metahemoglobina 20-23 .<br />

Recentemente, demonstrou-se que o iloprost inalatório<br />

apresenta efeitos semelhantes ao NO em pacientes com<br />

HAP secundária a cardiopatias congênitas 24 .<br />

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Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 231-239.<br />

Na prática, o teste da vasodilatação pulmonar em<br />

pacientes com cardiopatias congênitas se assemelha<br />

àquele empregado para avaliação da HAP idiopática.<br />

Entretanto, como estes pacientes geralmente estão intubados,<br />

sob ventilação mecânica, utiliza-se uma traquéia<br />

de cerca de 30 cm entre o ventilador e o paciente. O<br />

NO é administrado na porção proximal da traquéia<br />

(distante do tubo endotraqueal) e sua concentração é<br />

mensurada na porção distal (próxima ao paciente).<br />

Após obtenção dos dados em condições basais, inicia-se<br />

a administração de NO em concentrações de<br />

10-80 ppm, por cerca de 10-20 minutos, mantendose<br />

a FiO 2<br />

< 30-40%. Devido à presença da traquéia,<br />

deve-se ficar atento para que não haja um incremento<br />

excessivo do espaço morto ventilatório, com conseqüente<br />

aumento do pCO 2<br />

e piora dos níveis pressóricos na<br />

AP. Para evitar tal ocorrência, muitas vezes, é necessário<br />

aumentar o volume corrente no ventilador. Obtidos<br />

novamente os dados nestas condições, aumenta-se a<br />

FiO 2<br />

para > 80%, por mais cerca de 10-20 minutos.<br />

Novos dados são então coletados. Em muitos centros,<br />

o NO é administrado somente com altas concentrações<br />

de oxigênio (FiO 2<br />

> 80%). É fundamental lembrar que<br />

nestas situações com FiO 2<br />

elevada, a paO 2<br />

na veia<br />

pulmonar e na aorta podem aumentar significativamente.<br />

Portanto, nestas condições, o oxigênio dissolvido no<br />

plasma (0,003 X PaO 2<br />

) deverá ser incluído nos cálculos<br />

do conteúdo arterial de oxigênio, segundo as fórmulas<br />

descritas acima.<br />

Considera-se um teste positivo aquele no qual<br />

houve uma queda significativa na pressão na AP e/ou<br />

na RVP de pelo menos 20%, sem modificação ou com<br />

incremento do índice cardíaco (Qs). Em nossa experiência,<br />

no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia (dados<br />

não publicados), temos a impressão que um teste<br />

de vasodilatação positivo só ocorra em alguns poucos<br />

pacientes que já apresentam dados basais favoráveis,<br />

ou seja, com Qp/Qs > 2, RVP/RVS < 0,5 e RVP < 5 U<br />

Wood X m-2. Portanto, o valor do teste de vasodilatação<br />

para diferenciar os pacientes com HAP fixa daqueles<br />

com HAP reversível seria questionável. Estes pacientes,<br />

provavelmente, não apresentam uma redução do<br />

lúmen arterial decorrente de proliferação intimal, mas<br />

sim uma hipertrofia da camada média e, por isto,<br />

seriam suscetíveis aos efeitos relaxantes do NO. Por<br />

isto, temos a impressão que estes pacientes portadores<br />

de HAP grave, mas com cálculos basais favoráveis e<br />

que demonstraram uma resposta positiva ao teste com<br />

NO, podem se beneficiar da administração de vasodilatadores<br />

pulmonares seletivos (NO, sildenafil) para<br />

o manejo das crises de HAP, no período peri-operatório,<br />

reduzindo os riscos cirúrgicos ou intervencionistas.<br />

ANGIOGRAFIA CAPILAR PULMONAR<br />

A angiografia capilar pulmonar também é utilizada<br />

na avaliação da gravidade da HAP 25,26 . Um cateter<br />

balonado de furo terminal é avançado à AP e impactado<br />

em um ramo intermédio do lobo médio ou inferior.<br />

Cerca de 3-8 ml de contraste são injetados com o<br />

balão insuflado, o que leva à opacificação da rede<br />

arterial. O balão é, então, esvaziado, o que permite a<br />

lavagem do contraste que, assim, opacifica a rede<br />

capilar e a venosa. A injeção deve ser realizada, de<br />

preferência, nas bases de ambos os pulmões. O padrão<br />

normal é caracterizado por uma rede arterial com<br />

vasos de paredes regulares, com redução progressiva<br />

do seu diâmetro e que atingem a periferia pulmonar<br />

(Figura 1). A fase capilar é homogênea e há rápido<br />

retorno de contrate para o AE. Nos pacientes com<br />

HAP associada à doença pulmonar vaso-oclusiva em<br />

fase terminal, a fase arterial é caracterizada pela presença<br />

de vasos com paredes irregulares, apresentando tortuosidades<br />

e interrupções abruptas proximais, com redução<br />

inequívoca do número dos vasos que atingem a<br />

periferia (Figura 2). Este aspecto, muitas vezes, é referido<br />

como em “árvore de ameixeira”. Muitas vezes, a<br />

tortuosidade vascular é tão intensa que apresenta aspecto<br />

em “saca-rolha”. A fase capilar é heterogênea, com<br />

áreas pulmonares que permanecem “borradas”, devido<br />

à retenção distal do contraste, que demora significativamente<br />

para voltar ao AE. Entre estes dois extremos, há<br />

casos com aspecto intermediário, o que dificulta o diagnóstico<br />

angiográfico preciso do grau evolutivo da HAP.<br />

Apesar de ter um caráter subjetivo em sua apreciação,<br />

a angiografia capilar pulmonar apresenta uma<br />

boa correlação com os dados hemodinâmicos 25-27 . For-<br />

Figura 1 - Injeção de contraste na rede arterial pulmonar em espécime<br />

post-mortem. Nota-se padrão normal de ramificação pulmonar,<br />

com as artérias apresentando redução progressiva de calibre até a<br />

periferia, com rede periférica abundante.<br />

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Figura 2 - Injeção de contraste por cateter balonado impactado em artéria pulmonar distal, em um paciente de 2 anos de idade, com defeito<br />

do septo atrioventricular em sua forma completa. No painel esquerdo, durante a fase arterial, nota-se tortuosidade intensa das artérias pulmonares<br />

mais distais, com várias amputações abruptas. A circulação periférica é pobre. No painel direito, já na transição entre a fase capilar e a levofase,<br />

nota-se heterogeneidade na retenção de contraste nos capilares, com retorno retardado ao átrio esquerdo. O Qp/Qs deste paciente foi 1,3, a<br />

RVP foi 10,5 U Wood (indexada) e a RVP/RVS foi 0,8. A biópsia revelou grau IV de Heath-Edwards. Ficou mantido em evolução clínica.<br />

mas mais objetivas de avaliação, que incluíram a contagem<br />

do número dos vasos periféricos, foram propostas<br />

na literatura com boa correlação clínica 26 .<br />

ULTRA-SOM INTRAVASCULAR<br />

Em um estudo recente 27 , o ultra-som intravascular<br />

revelou espessamento das camadas íntima e média da<br />

parede das artérias pulmonares de 2,5 a 5 mm e<br />

redução da pulsatilidade destes vasos nos pacientes<br />

com HAP, quando comparado a controles. Tais achados<br />

tiveram boa correlação com os padrões encontrados<br />

na angiografia capilar, mas não apresentaram boa<br />

correlação com os padrões de resposta do teste de<br />

vasoreatividade ao NO e ao oxigênio. O papel desta<br />

modalidade diagnóstica na estratificação dos pacientes<br />

com HAP ainda está para ser estabelecido, principalmente<br />

em relação à sua capacidade de substituir a<br />

biópsia pulmonar.<br />

LIMITAÇÕES MAIS COMUNS NA OBTENÇÃO<br />

DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS<br />

RESULTADOS 3-6<br />

1. Os cálculos das resistência são matematicamente<br />

derivados da lei de Poiseulle, definidas pela equação:<br />

R = 8 n l/p R 4 , onde n é a constante da viscosidade<br />

do fluído, l é o comprimento do sistema e R é o raio<br />

do vaso. Entretanto, esta lei assume que a viscosidade<br />

do fluído, o raio do vaso e o comprimento do sistema<br />

sejam constantes; que as pressões e o fluxo sejam não<br />

pulsáteis e que a quantidade de fluxo que entra e sai<br />

do sistema seja igual. Na prática, nenhuma destas<br />

prerrogativas ocorre no sistema cardiovascular. Portanto,<br />

o que se faz é obter uma mera estimativa da<br />

RVP. Pela equação, percebe-se que o principal determinante<br />

da resistência ao fluxo é o raio do vaso em<br />

questão. Portanto, em última análise, poderíamos dizer<br />

que o cálculo da RVP estima o grau de obstrução do<br />

lúmen vascular, acarretando redução de seu raio 15 .<br />

2. Condições gerais: Geralmente, as crianças com<br />

cardiopatias congênitas e HAP são submetidas ao estudo<br />

hemodinâmico sob anestesia geral ou sedação profunda.<br />

É necessário que haja uma ventilação adequada para<br />

não ocorrer hipercapnia com conseqüente vasoconstrição<br />

e hipertensão pulmonar. O controle da temperatura<br />

também é fundamental para que não ocorra acidose<br />

metabólica secundária à hipotermia ou aumento do<br />

consumo de oxigênio devido à hipertermia. Além disto,<br />

os níveis de Hb e Ht devem estar adequados para a<br />

cardiopatia de base, acianogênica ou cianogênica.<br />

3. O consumo de O 2<br />

(VO 2<br />

) pode ser medido com<br />

o paciente acordado, em ventilação espontânea, utilizando-se<br />

aparelhos especiais, geralmente não disponíveis<br />

nos laboratórios de cateterismo no Brasil. Na prática,<br />

o que se faz é assumir o VO 2<br />

baseado em valores já<br />

anteriormente estabelecidos para sexo, diferentes idades<br />

e freqüências cardíacas 28-30 . Tais valores, apesar de<br />

estarem facilmente disponíveis em livros textos, apresentam<br />

grande variação de seu desvio-padrão e podem<br />

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Pedra CAC, et al. Avaliação Hemodinâmica da Hipertensão Arterial Pulmonar Secundária a Cardiopatias Congênitas. Rev Bras<br />

Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 231-239.<br />

não refletir os valores reais referentes àquele paciente<br />

específico estudado e induzir a possíveis erros de<br />

interpretação. Além disto, o paciente que está anestesiado<br />

ou sedado apresenta redução dos valores de<br />

VO 2<br />

, quando comparados aos níveis normais.<br />

4. A mensuração da saturação nas diferentes câmaras<br />

cardíacas deve ser preferencialmente realizada por<br />

aparelhos de espectrofotometria, que fazem uma leitura<br />

direta da saturação da hemoglobina, baseada em<br />

níveis de absorção de luz. Os níveis de saturação<br />

derivados da gasometria são menos acurados, já que<br />

sua medida é indireta, feita por um normograma dependente<br />

do pH e da paO 2<br />

.<br />

5. Pacientes que apresentam baixo débito cardíaco<br />

em condições basais (saturação venosa mista na VCS<br />

baixa, com uma diferença artério-venosa na saturação<br />

de mais de 30%) devem ser investigados para tal.<br />

Podem estar submedicados para ICC, hipovolêmicos,<br />

acidóticos, mal ventilados, tamponados, entre outros.<br />

Nesta situação, o método de Fick torna-se muito sensível<br />

para detecção de shunts intracardíacos, o que pode<br />

levar a uma superestimativa do salto oximétrico entre<br />

VCS e a AP e, conseqüentemente, do Qp, com redução<br />

do cálculo da RVP. Por outro lado, pacientes com<br />

diferença artério-venosa de saturação muito pequena<br />

podem estar recebendo oxigênio em altas concentrações<br />

inadvertidamente ou, mais raramente, estar em<br />

vigência de uma síndrome de resposta inflamatória<br />

sistêmica, principalmente decorrente de processo infeccioso.<br />

Nesta condição, a detecção de shunts intracardíacos<br />

pelo método de Fick fica prejudicada.<br />

6. A presença de shunts obrigatórios, definidos<br />

por aqueles que ocorrem independente dos níveis de<br />

RVP ou RVS, pode falsear o cálculo do Qp e do Qs<br />

e, conseqüentemente, da RVP e RVS. Um exemplo<br />

clássico desta situação é o paciente com defeito do<br />

septo atrioventricular (DSAV) em sua forma total, que<br />

apresenta shunt obrigatório do ventrículo esquerdo<br />

para o átrio direito pelo cleft da valva atrioventricular<br />

única. Mesmo na presença de hipertensão pulmonar<br />

grave com aspecto histológico irreversível, ocorrerá<br />

sempre um incremento da saturação de O 2<br />

da VCS<br />

para o AD, com conseqüente contaminação da APu.<br />

7. A presença de dupla fonte de fluxo pulmonar<br />

dificulta a correta estimativa dos níveis de saturação<br />

na artéria pulmonar. Exemplos clássicos desta situação<br />

são a persistência do canal arterial, a presença de<br />

colaterais sistêmico-pulmonares e a anastomose de<br />

Glenn em pacientes que permanecem com a via de<br />

saída pulmonar do coração univentricular aberta. Nesta<br />

situação, faz-se uma média entre os valores de saturação<br />

obtidos nas 2 artérias pulmonares e no TP.<br />

8. As estenoses unilaterais das artérias pulmonares<br />

determinam maior resistência arterial no pulmão acometido,<br />

desviando o fluxo para o pulmão contra-lateral.<br />

Nestas situações, torna-se impossível o cálculo da RVP<br />

relativo a ambos os pulmões.<br />

9. A coartação da aorta também determina resistências<br />

diferentes nos vasos da porção superior e inferior<br />

do corpo. Portanto, a RVS global não poderá ser calculada.<br />

10. Em pacientes com RVP elevada e shunt direitoesquerdo<br />

pelo canal arterial, o débito sistêmico para<br />

a porção inferior do corpo é maior que para a parte<br />

superior do corpo, não havendo como realizar de<br />

forma precisa o cálculo do Qs e, conseqüentemente,<br />

da RVS.<br />

11. Em pacientes com insuficiência pulmonar grave<br />

e redução significativa da pressão diastólica da artéria<br />

pulmonar e, conseqüentemente, da pressão média, o<br />

cálculo da RVP fica prejudicado.<br />

EXEMPLOS DE EVOLUÇÃO DA HAP EM<br />

PACIENTE COM AMPLA COMUNICAÇÃO<br />

INTERATRIAL PERIMEMBRANOSA NÃO<br />

TRATADA<br />

A Figura 3 mostra exemplos de diferentes estágios<br />

na evolução do grau de HAP, em um paciente com<br />

comunicação interventricular ampla, não restritiva. Na<br />

Figura 3A, um paciente hipotético com cerca de 6<br />

meses de idade apresenta HAP grave, com níveis pressóricos<br />

sistólicos iguais na AP e na Ao devido à transmissão<br />

da pressão do território sistêmico para o pulmonar.<br />

A corrida oximétrica demonstra um salto significativo<br />

da VCS para a AP, denotando alto fluxo pulmonar,<br />

com uma relação Qp/Qs de 3 para 1. A pressão no AE<br />

e a pressão diastólica final no VE são elevadas devido<br />

ao grande retorno venoso pulmonar. Isto causa uma<br />

redução na magnitude do gradiente transpulmonar.<br />

Devido ao hiperfluxo pulmonar maciço e o gradiente<br />

transpulmonar discretamente elevado, a RVP, apesar<br />

de mais alta que níveis normais, se encontra em patamares<br />

aceitáveis para cirurgia. Tal exemplo retrata a<br />

importância do cálculo da RVP. A obtenção isolada<br />

dos níveis pressóricos na AP tem pouco valor diagnóstico<br />

e prognóstico nos pacientes com HAP associado a<br />

cardiopatias congênitas. A indicação de tratamento<br />

neste caso é inequívoca.<br />

Com o passar do tempo, as alterações histológicas<br />

evolutivas provocadas pelo hiperfluxo associado ao<br />

aumento de pressão na AP levam à oclusão do lúmen<br />

arterial. Com isto, ocorre uma elevação progressiva da<br />

pressão diastólica e média na artéria pulmonar e redução<br />

do retorno venoso pulmonar e das pressões de enchimento<br />

do coração esquerdo, com conseqüente aumento<br />

do gradiente transpulmonar. A obstrução do lúmen<br />

arterial acarreta redução progressiva do fluxo pulmonar.<br />

Os sintomas pulmonares e de ICC melhoram muito<br />

nesta fase (“lua de mel”), apesar de ainda ocorrer<br />

discreto shunt em nível ventricular. Fica fácil perceber<br />

na Figura 3B que, nesta situação, a HAP ocorre predominantemente<br />

por elevação da RVP. A reversibilidade<br />

do quadro neste exemplo é duvidosa. Os dados clíni-<br />

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Pedra CAC, et al. Avaliação Hemodinâmica da Hipertensão Arterial Pulmonar Secundária a Cardiopatias Congênitas. Rev Bras<br />

Cardiol Invas 2005; <strong>13</strong>(3): 231-239.<br />

A B C<br />

Figura 3 - Diagramas de um paciente hipotético com comunicação interventricular perimembranosa ampla, não restritiva. Nota-se quadro de<br />

hipertensão arterial pulmonar grave em diversos estágios evolutivos. Ver texto para melhor entendimento.<br />

cos devem ser levados em consideração, assim como<br />

o padrão encontrado na angiografia capilar pulmonar.<br />

Nestas situações, discute-se a indicação da biópsia<br />

pulmonar para ajudar na estratificação do paciente<br />

quanto a seu prognóstico em longo prazo.<br />

A Figura 3C retrata o mesmo paciente em uma<br />

situação terminal, na qual a RVP é maior que a RVS<br />

e o Qs é maior que o Qp. Esta situação, também<br />

denominada de Síndrome de Eisenmeiger, é irreversível.<br />

Estes pacientes padecem de cianose crônica progressiva<br />

com todas as suas conseqüências sistêmicas (poliglobulia,<br />

cefaléia, sangramentos, tromboses, escoliose,<br />

alterações articulares e renais, gota, etc.). A ocorrência<br />

da falência ventricular direita em algum momento da<br />

evolução é a regra.<br />

CONCLUSÕES<br />

A avaliação da HAP por meio do cateterismo em<br />

pacientes com cardiopatias congênitas é fundamental<br />

para determinação da irreversibilidade do quadro e<br />

dos critérios de intervenção. Entretanto, os dados obtidos<br />

por este método invasivo devem ser avaliados a luz de<br />

suas limitações e em conjunto com outros dados clínicos,<br />

ecocardiográficos e angiográficos. Algumas vezes,<br />

toda esta informação não é suficiente para uma tomada<br />

de decisão, devendo ser considerada a realização<br />

da biópsia pulmonar.<br />

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