COMUNICAÇÕES - Unimep

de corpo, que ao apoiar as práticas alternativas, dão a elas um caráter altamente
terapêutico. Tudo isso buscando evidenciar como essas práticas, suas justificativas e
seus resultados são, em última instância, traços constitutivos e formadores de um
contexto de acelerada transformação oriunda das crises da sociedade.
Como conseqüência, ao se ter como principal inquietação as questões relativas
à cultura corporal a serem pedagogizadas pelo professor de Educação Física, deve-se
ter o cuidado para diferenciar essa análise das de outros profissionais, que também
lidam com as atividades corporais com preocupações não pedagógicas, mas sim
terapêuticas ou artísticas. Entretanto, esse cuidado não deve negligenciar que o limite
entre o discurso pedagógico e o terapêutico é difícil de ser percebido quando se
focalizam as justificativas e as filiações filosóficas do “movimento alternativo”. Tratase
de um movimento educacional que enxerga a formação humana de um ponto
de vista terápico, da mesma maneira que se configura em uma terapia que se diz
superadora dos “limites” da modernidade ao enxergar a cura como um grande
processo educacional de “auto-descoberta”.
No desenvolvimento deste estudo verificamos que o desenvolvimento e a prática
das atividades corporais alternativas estão de tal forma relacionados com as dimensões
terapêuticas e médicas, que abordar essas atividades e fazer sua crítica, sem analisar
trabalhos que as concebem na dimensão clínica, não foi possível. Foi observado, também,
que as atividades corporais alternativas, tanto em sua dimensão recreativa e pedagógica,
quanto terapêutica, estão fortemente imbuídas das transformações políticas, culturais
e filosóficas que marcam o surgimento daquilo que Lyotard (1989) chama de condição
pós-moderna.
Esse conjunto de idéias vem de encontro às concepções que foram construídas
quando a sociedade capitalista dava seus primeiros passos, mas a endossa e apóia na
atualidade. O que passa a ser buscado é a libertação em relação à forma moderna de
cuidado e educação corporal, que, em última instância, são vistos como uma forma de
castigo e de instrumentalização. Nesse sentido, Nicolino (2003) não vê muita diferença
entre o mundo moderno e o medieval, a não ser pelo fato deste “punir” o corpo de
forma direta, ao passo que a modernidade “vigia” o corpo de forma a não precisar
tocá-lo.
Diagnosticar as relações sociais existentes entre as práticas corporais alternativas
e as transformações que ocorrem na sociedade é uma tarefa ainda a ser feita de
forma sistematizada, uma vez que a fragmentação dos estudos indica uma
predominância da idéia de que apenas essas atividades responderiam às necessidades
de emancipação dos homens, a partir do corpo e da sua educação.
2.1. PARA ALÉM DOS DUALISMOS E AQUÉM DA CRÍTICA: AS TERAPIAS
ALTERNATIVAS COMO EDUCAÇÃO DO CORPO
Clayton (2002) em um texto que analisa o modo como a “pós-modernidade”
pede um novo conceito de medicina, de paciente, de corpo e de doença, defende o
surgimento desse novo paradigma, dando a ele um caráter possibilitador de superar os
limites existentes na forma de se encarar os assuntos citados pelo referencial cartesiano.
Ao definir o objetivo do seu artigo Clayton diz:
166 COMUNICAÇÕES • Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNIMEP • Ano 13 • Nº 2 • p. 159-178 • nov. de 2006
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