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COMUNICAÇÕES - Unimep

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uma formação rasteira, o que leva o indivíduo a ficar preso aos seus ditames, não<br />

podendo pensar sobre a sua própria vida, pois a sua formação não permite tal reflexão.<br />

Cada vez mais, está sob a ameaça desse homem danificado, pois, se hoje a escola é<br />

mais democratizada, isto se dá numa época de indiferença e pobreza. A educação tem<br />

se tornado o espaço maior da má-formação, pois incentiva a uniformização, o<br />

congelamento da vida, a compartimentalização de saberes, a moralização da educação.<br />

Portanto, pode-se efetivamente perceber que o último homem não deixa de ser o<br />

exemplo mais típico da mais aberrante figura que a sociedade massificada e irracional<br />

tende a configurar e que Zaratustra vê na praça do mercado.<br />

Dessa forma, em que medida, neste caso, a formação pode contribuir para<br />

emancipar homens criadores, afirmadores, capazes de exercer o caos em suas vidas<br />

para poder criar? É certo que se vive em sociedade, e se tem que exercer alguns<br />

mandos, mas também se tem que exigir a subversão. Criar o caos dentro de cada um<br />

não quer dizer que se tem que fazer uma desorientação da vida. O que se quer é<br />

reverter aquilo que aprisiona o querer, que torna o homem sem mando de si mesmo,<br />

de modo que o homem deve produzir conflitos para poder criar. Contudo, a educação,<br />

a igreja e a política desejam, sobretudo, o consenso, a igualdade, a universalização das<br />

idéias, como se todos fossem iguais. A educação serve para configurar a forma, cada<br />

vez o último-homem, dando ao homem a resignação, a fala contida, o corpo curvado,<br />

em que aos poucos o indivíduo vai sendo podado em todas as suas possibilidades de<br />

criação, transformando-o em um mero repetidor de experiências alheias, negando o<br />

que seria a possibilidade de torná-lo mais nobre.<br />

Assim, como é possível libertar-se do que é imposto, para configurar uma criação,<br />

se quase sempre a educação se converte em doutrina, em repetição para além dos<br />

experimentos próprios? O homem é alinhado a métodos e a regras. Até que ponto esse<br />

tipo educativo pode ser de grande serventia para a emancipação? É contra esse mau<br />

gosto estabelecido, essa alimentação pesada, essa vida endurecida, esse desfavorecimento<br />

da vida, que Zaratustra nos alerta, e o seu discurso se atualiza, pois ele sabe que tudo<br />

caminha para aniquilar as possibilidades de experiência do indivíduo. Tudo isso nega a<br />

vontade, a força e todo querer de ação, e em seu lugar se colocam como grandes virtudes<br />

a caridade, a solidariedade, a negação de si em prol do outro, em prol da submissão. E,<br />

provavelmente, Nietzsche percebia isto. Ir de encontro a essa caricatura de formação é<br />

pensar sobre a própria formação, desfazendo-a para o tornar-se o que é. Somente<br />

aprendendo no desaprender dessa formação rasteira é que se pode arriscar a pensar<br />

sobre si mesmo como criador. Entrementes, Zaratustra nos mostra duas perspectivas<br />

formativas das quais podemos tirar proveito como leitores: ou se pensa uma educação<br />

para o homem superado, ou se continua aceitando uma educação para homem nivelado.<br />

Essa última já está instaurada e requer máxima urgência que seja colocada em destaque.<br />

Chega de escamoteá-la, já está passando da hora de reconhecer que esse tipo de educação<br />

só contribui para destruir o homem. A primeira é ainda um projeto, não se fez realizável,<br />

nem sabemos como fazê-lo. A sua relevância está em destacar a sua necessidade, a sua<br />

promessa. Nem sabemos se isso é possível. Mas não é como um pragmático que Zaratustra<br />

pensa, nem é esse o seu propósito. Assim, é no exercício poético do pensar que se pode<br />

fazer a resistência num mundo que parece ter perdido o gosto e o sabor.<br />

72 COMUNICAÇÕES • Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNIMEP • Ano 13 • Nº 2 • p. 57-77 • nov. de 2006<br />

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11/13/2007, 3:09 PM

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