COMUNICAÇÕES - Unimep

sob Stalin. Asja Lacis, que era cidadã soviética, foi morta num dos “expurgos” do
período stalinista.
Infeliz no amor, Benjamin tinha amigos de diversas tendências filosóficas, mas se
sentia só, pois seus amigos não gostavam uns dos outros e cada um o queria encaminhar
para sua própria linha político-filosófica. Gerschom Scholem queria que Benjamin se
dedicasse à teologia judaica e fosse, como ele, morar em Jerusalém, onde decidiu viver a
partir de 1923. Brecht desejava que Benjamin mergulhasse no comunismo. Adorno queria
que ele cultivasse o pensamento crítico, que o levaria à dialética negativa. Mas Benjamin,
embora próximo de todas essas correntes, procurava preservar sua liberdade de pensamento
e pesquisava tudo, em todas as direções que lhe pareciam interessantes.
Walter Benjamin viveu uma época de extraordinário florescimento cultural. Uma
época que produziu Freud, Kafka, Ernest Bloch, a Escola de Frankfurt - voltada para
a crítica da cultura contemporânea - da qual Benjamin foi um dos mais importantes
intelectuais.
Mas esta época assistiu também à destruição da cultura judeu-alemã. Como
muitos intelectuais de seu tempo, Benjamin tentou o exílio para sobreviver ao massacre
do nazismo. Foi viver em Paris. Mas, em maio de 1940, as tropas de Hitler invadiram
a Holanda, a Bélgica e Luxemburgo. Em 14 de junho do mesmo ano Paris foi ocupada,
e o governo francês, sediado em Vichy, assumiu o compromisso de colaborar com
Hitler. Benjamin entregou seus escritos a Georges Bataille, que os guardou na Biblioteca
Nacional. Encontrou-se com Arthur Koestler e ganhou metade dos seus tabletes de
morfina, para a possibilidade de precisar suicidar-se. Prevenido, foi em busca da última
saída: juntamente com um grupo de intelectuais alemães tentou a travessia clandestina
da França para a Espanha. Benjamin tinha problemas cardíacos. Mesmo assim
procurou fazer a passagem dos Pirineus, levando na maleta a última versão do Trabalho
das passagens. A Espanha já estava sob a ditadura de Franco, mas permitia que os
portadores de autorização para entrar nos Estados Unidos, como era o seu caso,
atravessassem o país para chegar a Portugal para, então, cruzar o Atlântico. No
entanto, quando eles chegaram, a polícia comunicou que, por ordem de Madri, a
autorização estava suspensa. Para Benjamin, isso significava campo de concentração.
Então, naquela noite, ele ingeriu os tabletes de morfina que tinha e morreu na manhã
seguinte, dia 27 de setembro de 1940.
O ESTUDANTE, A HISTÓRIA E A UTOPIA
Quando ainda era um estudante de ginásio, Benjamin se interessou pelas idéias
de Gustav Wyneken, pedagogo alemão que exerceu certa influência no início do século
XX, mas logo foi esquecido, pois, sob o impacto da Primeira Guerra, Wyneken se
deixou envolver pelo espírito belicista e pela exacerbação do sentimento nacionalista
e patriótico. Benjamin logo se afastou do pedagogo, escrevendo-lhe em uma carta:
“No senhor, a teoria tornou-se cega” (KONDER, 1988, p. 16).
Naquela época, Benjamin participava do Movimento da Juventude Livre Alemã,
colaborando na revista do movimento chamada Anfan. Seu pensamento era eclético,
marcado por influências de Nietzsche, Kant e voltado para a retomada de questões
metafísicas colocadas por Platão, Spinoza e pelos românticos.
COMUNICAÇÕES • Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNIMEP • Ano 13 • Nº 2 • p. 28-46 • nov. de 2006 29
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