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se não com a performance, não com a aparência, não com o resultado, mas com o bem-estar do praticante, para com a “verdadeira” expressão de suas necessidades e desejos. Tudo isso conseguido não através da “malhação”, mas de um longo processo educativo de auto-conhecimento corporal. Utilizando-se, sobretudo, de autores que pensam o caráter alternativo dentro da medicina, vimos que eles afirmam a proeminência do corpo para a construção e popularização dessa “nova visão” sobre homem, ciência e sociedade. O caráter “alternativo”, tanto da medicina quanto das práticas corporais, acontece concomitantemente com o surgimento do ideário pós-moderno, descrente da racionalidade, da existência de uma realidade, da capacidade do homem em conhecêla e, principalmente, construí-la de acordo com um projeto coletivamente pré-concebido. Um outro limite verificado na defesa das práticas corporais alternativas é a falta de uma reflexão mais ampla, que busque efetivamente relacioná-las com questões sociais e históricas. Em íntima relação com o limite filosófico apontado no parágrafo anterior notamos que as práticas corporais alternativas formam um conjunto de concepções, que longe de refletir criticamente sobre a corporeidade do homem, a relativiza, a desvaloriza e tudo isso ao mesmo tempo em que a elogia da forma a mais intensa possível. É por isso que Brohm (2001) e Le Breton (2003) vêem que essas práticas agem por compensação: elogiam a harmonia, o autoconhecimento e o equilíbrio em uma sociedade em que valores opostos são exigidos e praticados cotidianamente. É com espanto que constatamos que os discursos sobre a “nova educação do corpo”, imbricados nas práticas corporais alternativas, acabe por corroborar uma teoria educacional ingenuamente liberal, em que os discursos pedagógicos holísticos, “complexos” e observadores da sensibilidade e integralidade humanas, reverteriam uma prática social baseada na fragmentação, no racionalismo tecnológico e na instrumentalização do corpo e da sua educação. Por outro lado, essas constatações devem sustentar que uma postura tão ingênua e limitada seria concluir que as práticas corporais alternativas e seu apelo educativo deveriam ser abandonados. O contrário é a posição defendida por este trabalho e que é apresentado como conclusão e ponto para elaboração de novas reflexões sobre as possibilidades educacionais dessas práticas corporais. Matthiesen (1999) observa que paralelamente a grande procura por essas atividades, a reflexão sobre elas por parte dos profissionais em educação deve se dar de forma mais intensa, justamente pelo fato de elas ainda não serem “hegemônicas”, mas sim “alternativas” (p.136). A área de educação física deve, assim, buscar entender e democratizar esse entendimento sobre os vínculos entre essas práticas, a educação corporal que advogam e as mudanças que acontecem na sociedade capitalista atual. Ao refletir a corporeidade dessa forma, ao reconhecer as vinculações entre a forma como o homem vê e educa sua corporeidade e a dos outros, podemos colaborar com a defesa de corporeidade historicamente situada, que não seja refém dos exageros racionalistas - tal como são as práticas ditas “tradicionais” - nem do irracionalismo da apologia do sensual, da aparência e do individualismo corporal - como é o caso das práticas alternativas, quando não passadas pelo crivo da análise. Senão, longe de cumprir a “promessa” de uma educação da corporeidade livre e libertadora das amarras sociais, as práticas corporais alternativas acabam por limitar ainda com mais força as 176 COMUNICAÇÕES • Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNIMEP • Ano 13 • Nº 2 • p. 159-178 • nov. de 2006 capitulo_11.pmd 176 11/13/2007, 4:05 PM
eduzidas possibilidades educacionais oferecidas por uma sociedade baseada na exploração produtiva e mercadológica do corpo. Uma sociedade contraditória em suas bases e que, por isso, é também contraditória em relação ao corpo: explora-o quando o elogia, e o instrumentaliza quando promove o desenvolvimento de suas forças e qualidades. Foi para a superação dessa dificuldade e para a problematização dessas contradições que passam pela sociedade, pelo corpo, pela educação, pela atuação do professor de educação física, pelas práticas corporais tradicionais e pelas práticas corporais alternativas, que esse trabalho espera ter oferecido uma colaboração. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, L. M. B. As Invenções do Corpo: modernidade e contramodernidade. Revista Motriz, vol.7, n.1, pp 33-39, jan-jun, 2001. BROHM, J. M. Le Corps Analyseur – essays de sociologie critique. Paris: Anthropos, 2001. CASTELLANI FILHO, L. Projeto de Reorganização da Trajetória Escolar no Ensino Fundamental: uma proposta pedagógica para a Educação Física. Revista da Educação Física, Maringá/UEM, 8(1), pp. 11-19, 1997. CLAYTON, B. Postmodern maladies. In: Current Sociology, London, v. 50(06), p. 839-851, 2002. Disponível em http://www.pineforge.com/isw4/overviews/pdfs/ Clayton.pdf COSTA, S. B.; PALAFOX, G. H.M. Características Especiais da Ginástica de Academia no seu Processo Evolutivo no Brasil. Revista da Educação Física, Maringá/UEM, 4 (1), pp. 54-60, 1993. DWORKIN, R. Science, faith and Alternative Medicine. In: Policy Review, n.108. Disponível em acesso 18/ 09/2005. DEUTSCH, S. Estados Emocionais e Movimento. Revista Motriz, vol. 9, n.1, pp.25- 28, jan/abr, 2003. LE BRETON, D. Anthropologie du corps e modernité. 3. ed. Paris: Quadrige Puf, 2003. LYOTARD, J. F. A condição pós-moderna. Lisboa: Gadiva, 1989. MARCELLINI A., TURPIN J.P., ROLLAND Y., RUFFIÉ S. Itinéraires thérapeutiques dans la société contemporaine Le recours aux thérapies alternatives: une éducation à un « autre corps. In: Corps et culture. Disponível em http://www.revues.org/corpsetculture/numero5/article8.html. Acesso 15 de Setembro de 2005. COMUNICAÇÕES • Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNIMEP • Ano 13 • Nº 2 • p. 159-178 • nov. de 2006 177 capitulo_11.pmd 177 11/13/2007, 4:05 PM
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