CURRICULUM VITAE - CAP - Agricultores de Portugal
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Centro <strong>de</strong> Investigação Sobre Economia Portuguesa<br />
INSTITUTO SUPERIOR DE ECONOMIA E GESTÃO<br />
UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA<br />
FORMAÇÃO DOS PREÇOS E DAS MARGENS<br />
NOS SECTORES DO LEITE E DAS CARNES DE<br />
BOVINO E DE OVINO – UMA ANÁLISE PARA O<br />
PERÍODO 2000-2009<br />
RELATÓRIO<br />
Junho <strong>de</strong> 2011
ÍNDICE<br />
1 – Introdução 3<br />
1.1 – Objecto do estudo 3<br />
1.2 – Estrutura do trabalho 3<br />
2 – Preços e margens no sector do leite 5<br />
2.1 – Conceitos e dados utilizados 5<br />
2.2 – Cálculo dos preços e das margens e análise dos resultados 7<br />
3 – Preços e margens no sector da carne <strong>de</strong> bovino 16<br />
3.1 – Conceitos e dados utilizados 16<br />
3.2 – Cálculo dos preços e das margens e análise dos resultados 19<br />
4 – Preços e margens no sector da carne <strong>de</strong> ovino 28<br />
4.1 – Conceitos e dados utilizados 28<br />
4.2 – Cálculo dos preços e das margens e análise dos resultados 30<br />
5 – Conclusões 40<br />
2
1 – INTRODUÇÃO<br />
1.1 – OBJECTO DO ESTUDO<br />
A Confe<strong>de</strong>ração dos <strong>Agricultores</strong> <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong> (<strong>CAP</strong>) convidou o Centro <strong>de</strong> Investigação<br />
Sobre Economia Portuguesa (CISEP) do Instituto Superior <strong>de</strong> Economia e Gestão da<br />
Universida<strong>de</strong> Técnica <strong>de</strong> Lisboa (ISEG/UTL) a fazer uma proposta para a realização <strong>de</strong> um<br />
estudo sobre a evolução registada na formação dos preços e das margens nos sectores do leite<br />
e da carne (<strong>de</strong> bovino e <strong>de</strong> ovino). É neste contexto que o CISEP elabora o presente estudo,<br />
tendo, como objectivos:<br />
- Determinar a estrutura <strong>de</strong> formação dos preços finais do leite e da carne (<strong>de</strong> bovino e<br />
<strong>de</strong> ovino), em função dos sectores intervenientes na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>sses bens –<br />
produção, transformação e distribuição – e analisar a sua evolução, ao longo da última<br />
década para a qual existem dados disponíveis.<br />
- Determinar as margens <strong>de</strong> cada sector interveniente na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção do leite e<br />
da carne – produção, transformação e distribuição – e analisar a sua evolução, ao<br />
longo da última década para a qual existem dados disponíveis. O objectivo último<br />
seria a obtenção <strong>de</strong> margens líquidas (lucros) para cada sector, mas, caso se verifique a<br />
não existência <strong>de</strong> dados que permitam essa obtenção, o estudo terá <strong>de</strong> ficar pela<br />
<strong>de</strong>terminação das margens brutas.<br />
- Comparar os sectores do leite e da carne (<strong>de</strong> bovino e <strong>de</strong> ovino) quanto à análise <strong>de</strong><br />
preços e margens efectuada.<br />
- Tirar as conclusões possíveis, em função da informação analisada.<br />
1.2 – ESTRUTURA DO TRABALHO<br />
Para atingir os objectivos atrás expressos, o presente trabalho segue a seguinte estrutura:<br />
- Inicia-se com uma introdução (Capítulo 1), na qual se apresentam os objectivos (ponto<br />
1.1) e a estrutura do trabalho (ponto 1.2).<br />
3
- O Capítulo 2 aborda a formação dos preços e das margens no sector do leite. Começa<br />
pela <strong>de</strong>finição dos conceitos utilizados e apresentação dos dados disponíveis (ponto<br />
2.1) e prossegue com o cálculo propriamente dito dos preços e das margens do leite e a<br />
correspon<strong>de</strong>nte análise dos resultados obtidos, com algumas conclusões que daí se<br />
retiram (ponto 2.2).<br />
- O Capítulo 3 aborda a formação dos preços e das margens no sector da carne <strong>de</strong><br />
bovino e tem uma estrutura idêntica à do Capítulo 2.<br />
- O Capítulo 4 aborda a formação dos preços e das margens no sector da carne <strong>de</strong> ovino<br />
e tem uma estrutura idêntica à do Capítulo 2.<br />
- Finalmente, o Capítulo 5 apresenta as conclusões gerais do trabalho.<br />
4
2 – PREÇOS E MARGENS NO SECTOR DO LEITE<br />
2.1 – CONCEITOS E DADOS UTILIZADOS<br />
Na produção <strong>de</strong> leite po<strong>de</strong>mos distinguir três fases na elaboração do produto: a montante<br />
temos o sector da produção (composto por explorações agrícolas que obtêm o leite cru <strong>de</strong><br />
vaca); numa fase intermédia, temos o sector da transformação (composto por unida<strong>de</strong>s<br />
empresariais que transformam o leite cru <strong>de</strong> vaca nos diversos tipos <strong>de</strong> leite e produtos lácteos<br />
que irão ser vendidos aos consumidores); a jusante temos o sector da distribuição (composto<br />
pelos retalhistas que ven<strong>de</strong>m o leite e os produtos lácteos aos consumidores). Haverá<br />
situações em que a mesma entida<strong>de</strong> está presente em mais do que uma fase, mas, em termos<br />
gerais, é válida a situação <strong>de</strong>scrita atrás, com uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção em três fases separadas.<br />
O preço final do leite, pago pelos consumidores, reflecte esta ca<strong>de</strong>ia produtiva, sendo o<br />
somatório do valor acrescentado gerado em cada um dos sectores. A esta parte do preço final<br />
gerada num dado sector (produção, transformação ou distribuição) chama-se, usualmente, a<br />
margem bruta <strong>de</strong>sse sector. Assim, a margem bruta <strong>de</strong> cada sector obtém-se da seguinte<br />
forma:<br />
a) Margem bruta da produção = preço <strong>de</strong> venda do leite à transformação pelos produtores.<br />
b) Margem bruta da transformação = preço <strong>de</strong> venda do leite à distribuição pelos<br />
transformadores – custo <strong>de</strong> aquisição do leite pelos transformadores à produção.<br />
c) Margem bruta da distribuição = preço <strong>de</strong> venda do leite aos consumidores pelos<br />
distribuidores – custo <strong>de</strong> aquisição do leite pelos distribuidores à transformação.<br />
Repare-se que a margem bruta <strong>de</strong> um dado sector não é o lucro (também chamado <strong>de</strong> margem<br />
líquida) <strong>de</strong>sse sector, pois, no sector da produção, não se <strong>de</strong>duzem os custos às receitas e, nos<br />
sectores da transformação e da distribuição, o único custo que se <strong>de</strong>duz às receitas é o custo<br />
<strong>de</strong> aquisição do input leite (o input principal) ao sector a montante. Para se terem as margens<br />
líquidas ou lucros <strong>de</strong> cada sector, ter-se-iam <strong>de</strong> apurar os custos <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> cada sector, o<br />
que não foi possível, por não haver dados disponíveis. Assim sendo, optou-se pelo cálculo das<br />
margens brutas, tendo os dados sido obtidos a partir das seguintes fontes:<br />
– O preço do leite na produção, isto é, o preço <strong>de</strong> venda do leite pelo produtor ao<br />
transformador, foi retirado das “Estatísticas Agrícolas”, publicadas pelo Instituto<br />
5
Nacional <strong>de</strong> Estatística (INE), recolhendo-se o preço do “Leite cru <strong>de</strong> vaca (teor real <strong>de</strong><br />
MG)”. Este preço vem expresso em euros por hectolitro, sendo que, em 2009, vem em<br />
euros por 100 quilos, tendo-se usado, como conversão, a regra “1 litro = 1,031 quilos”,<br />
a qual se encontra presente nas Estatísticas Agrícolas, para o “leite inteiro <strong>de</strong> vaca”.<br />
– O preço do leite na transformação, isto é, o preço <strong>de</strong> venda do leite pelo transformador<br />
ao distribuidor, foi retirado das “Estatísticas da Produção Industrial”, publicadas pelo<br />
INE, recolhendo-se o preço do “Leite Pasteurizado e Ultrapasteurizado, não<br />
concentrados, nem adicionados <strong>de</strong> açúcar ou outros edulcorantes, gordo e meio gordo (≥<br />
6% teor <strong>de</strong> matérias gordas > 1%), em embalagens imediatas <strong>de</strong> conteúdo líquido ≤ 2<br />
Litros”. Este preço vem expresso em euros por hectolitro, até 2005, e em euros por 100<br />
quilos, a partir <strong>de</strong> 2006, tendo-se usado, como conversão, a regra referida no parágrafo<br />
anterior.<br />
– Para o preço do leite na distribuição, isto é, o preço <strong>de</strong> venda do leite pelo distribuidor<br />
(retalhista) ao consumidor final, não foi possível utilizar dados do INE, pois os dados<br />
publicados não individualizam ao nível do produto leite. Em alternativa, utilizou-se a<br />
informação constante do “Relatório Final sobre Relações Comerciais entre a<br />
Distribuição Alimentar e os seus Fornecedores”, publicado pela Autorida<strong>de</strong> da<br />
Concorrência (AdC), em Outubro <strong>de</strong> 2010, com base num inquérito que esta entida<strong>de</strong><br />
efectuou a 5 gran<strong>de</strong>s grupos retalhistas, os quais representam, em média, cerca <strong>de</strong> 40%<br />
das compras globais <strong>de</strong> lacticínios aos transformadores. Recolheu-se o preço do leite<br />
UHT, como um preço médio <strong>de</strong> todas as tipologias e marcas comerciais (incluindo as<br />
“marcas brancas” ou “marcas da distribuição”) <strong>de</strong> leite UHT disponíveis para o<br />
consumidor final. Este preço vem expresso em euros por litro.<br />
Com o objectivo <strong>de</strong> comparar a evolução dos preços do leite na produção com a evolução dos<br />
custos dos meios <strong>de</strong> produção agrícolas, recolheram-se dados das “Estatísticas Agrícolas”,<br />
nomeadamente o “Índice <strong>de</strong> preços dos meios <strong>de</strong> produção na agricultura”, com as suas duas<br />
vertentes: uma para os “Bens e serviços <strong>de</strong> consumo corrente na agricultura”; outra para os<br />
“Bens e serviços <strong>de</strong> investimento na agricultura”. Para o período consi<strong>de</strong>rado (2000-2009),<br />
estes índices <strong>de</strong> preços aparecem com três anos base distintos (base em 1995, para os anos<br />
2000 a 2004; base em 2000, para os anos 2005 a 2008; e base em 2005, para o ano <strong>de</strong> 2009),<br />
tendo-se convertido toda a série para a base <strong>de</strong> 2000.<br />
6
Em termos gerais, os dados recolhidos sobre os diversos preços do leite são muito credíveis,<br />
pois têm a sua fonte na autorida<strong>de</strong> estatística nacional (o INE), com excepção do preço do<br />
leite na distribuição. Mas, mesmo neste caso, a fonte dos dados (a AdC) e a dimensão da<br />
amostra não suscitam reservas quanto à credibilida<strong>de</strong> dos mesmos.<br />
2.2 – CÁLCULO DOS PREÇOS E DAS MARGENS<br />
Com base nos conceitos e na informação referenciada no ponto anterior, obtiveram-se os<br />
seguintes valores para os preços do leite:<br />
QUADRO 1<br />
Evolução dos preços do leite (preços à saída <strong>de</strong> cada sector, em euros por litro)<br />
Sectores<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Preço à saída do sector (em euros por litro)<br />
Produção 0,31 0,33 0,34 0,33 0,33 0,32 0,31 0,36 0,40 0,29<br />
Transformação 0,50 0,53 0,53 0,53 0,51 0,50 0,50 0,56 0,63 0,54<br />
Distribuição 0,56 0,57 0,57 0,55 0,54 0,54 0,55 0,58 0,67 0,58<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, das Estatísticas da Produção Industrial, INE,<br />
e do Relatório Final sobre Relações Comerciais entre a Distribuição Alimentar e os seus Fornecedores, AdC.<br />
7
GRÁFICO 1<br />
Evolução dos preços do leite (preços à saída <strong>de</strong> cada sector, em euros por litro)<br />
0,80<br />
0,70<br />
0,60<br />
€ por litro<br />
0,50<br />
0,40<br />
0,30<br />
0,20<br />
0,10<br />
Produção<br />
Transformação<br />
Distribuição<br />
0,00<br />
2000200120022003200420052006200720082009<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, das Estatísticas da Produção<br />
Industrial, INE, e do Relatório Final sobre Relações Comerciais entre a Distribuição Alimentar e os<br />
seus Fornecedores, AdC.<br />
Como se po<strong>de</strong> ver, pelo Gráfico 1, os preços do leite observaram uma estabilida<strong>de</strong> até 2006,<br />
tendo sofrido um aumento em 2007 e 2008, a que se seguiu uma forte diminuição em 2009.<br />
Outra forma <strong>de</strong> olhar para a evolução dos preços do leite é através das taxas <strong>de</strong> crescimento<br />
anuais, ou seja, a percentagem <strong>de</strong> variação <strong>de</strong> um ano em relação ao ano anterior, o que<br />
aparece reflectido no Quadro 2 e no Gráfico 2:<br />
QUADRO 2<br />
Evolução dos preços do leite (preços à saída <strong>de</strong> cada sector, em euros por litro) – taxas<br />
<strong>de</strong> crescimento anuais<br />
Sectores<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Taxa <strong>de</strong> crescimento do preço à saída <strong>de</strong> cada sector (em % em relação ao ano anterior)<br />
Produção - 7,51 2,34 -2,37 0,85 -2,50 -4,30 15,85 12,07 -27,11<br />
Transformação - 6,01 -1,13 -0,28 -2,83 -1,52 -0,83 12,02 13,10 -14,18<br />
Distribuição - 2,69 0,17 -4,70 -0,55 -0,18 0,55 6,59 14,95 -13,75<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, das Estatísticas da Produção Industrial, INE,<br />
e do Relatório Final sobre Relações Comerciais entre a Distribuição Alimentar e os seus Fornecedores, AdC.<br />
8
GRÁFICO 2<br />
Evolução dos preços do leite (preços à saída <strong>de</strong> cada sector, em euros por litro) – taxas<br />
<strong>de</strong> crescimento anuais<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
% -5<br />
Produção<br />
-10<br />
Transformação<br />
-15<br />
Distribuição<br />
-20<br />
-25<br />
-30<br />
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, das Estatísticas da Produção<br />
Industrial, INE, e do Relatório Final sobre Relações Comerciais entre a Distribuição Alimentar e os<br />
seus Fornecedores, AdC.<br />
As variações registadas foram comuns aos preços do leite nos três sectores (produção,<br />
transformação e comercialização), embora a diminuição registada em 2009 tenha sido muito<br />
mais acentuada no sector da produção (ver o Quadro 2), on<strong>de</strong> atingiu os 27%, cerca do dobro<br />
da verificada nos outros dois sectores. Esta evolução dos preços a partir <strong>de</strong> 2006 justifica-se<br />
por um aumento consistente da procura <strong>de</strong> leite, entre 2003 e 2007, ao passo que a oferta se<br />
manteve relativamente estável, em função das quotas leiteiras fixadas, no contexto da Política<br />
Agrícola Comum. O aumento da procura e a rigi<strong>de</strong>z da oferta levaram ao aumento inevitável<br />
dos preços em 2007 e em 2008, movimento este que se inflectiu em 2009, uma vez que,<br />
<strong>de</strong>vido a pressões várias, a Comissão Europeia aprovou um aumento das quotas leiteiras em<br />
2008 (aumento da oferta), o que conduziu a uma inversão no aumento dos preços, os quais<br />
diminuíram em 2009.<br />
A parte do preço final do leite gerada em cada sector, ou seja, a margem bruta <strong>de</strong> cada sector,<br />
po<strong>de</strong> ver-se no Quadro 3 e no Gráfico 3 (em euros por litro) e no Quadro 4 e no Gráfico 4 (em<br />
percentagem do preço final):<br />
9
QUADRO 3<br />
Evolução das margens brutas do leite em cada sector, em euros por litro<br />
Sectores<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Parte do preço final do leite gerada em cada sector (em euros por litro)<br />
Produção 0,31 0,33 0,34 0,33 0,33 0,32 0,31 0,36 0,40 0,29<br />
Transformação 0,20 0,20 0,19 0,20 0,18 0,18 0,19 0,20 0,23 0,25<br />
Distribuição 0,05 0,04 0,05 0,02 0,03 0,04 0,05 0,02 0,04 0,03<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, das Estatísticas da Produção Industrial, INE,<br />
e do Relatório Final sobre Relações Comerciais entre a Distribuição Alimentar e os seus Fornecedores, AdC.<br />
GRÁFICO 3<br />
Evolução das margens brutas do leite em cada sector, em euros por litro<br />
0,45<br />
0,40<br />
0,35<br />
0,30<br />
€ por litro<br />
0,25<br />
0,20<br />
0,15<br />
0,10<br />
0,05<br />
0,00<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Produção<br />
Transformação<br />
Distribuição<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, das Estatísticas da Produção<br />
Industrial, INE, e do Relatório Final sobre Relações Comerciais entre a Distribuição Alimentar e os<br />
seus Fornecedores, AdC.<br />
QUADRO 4<br />
Evolução das margens brutas do leite em cada sector, em percentagem por cada sector<br />
Sectores<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Parte do preço final do leite gerada em cada sector (em % por cada sector)<br />
Produção 54,91 57,49 58,73 60,16 61,01 59,59 56,72 61,65 60,10 50,80<br />
Transformação 35,39 35,74 33,28 36,11 33,06 33,21 34,81 34,54 34,54 43,38<br />
Distribuição 9,70 6,77 7,99 3,72 5,93 7,19 8,46 3,81 5,35 5,82<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, das Estatísticas da Produção Industrial, INE,<br />
e do Relatório Final sobre Relações Comerciais entre a Distribuição Alimentar e os seus Fornecedores, AdC.<br />
10
GRÁFICO 4<br />
Evolução das margens brutas do leite em cada sector, em percentagem por cada sector<br />
100%<br />
90%<br />
80%<br />
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Distribuição<br />
Transformação<br />
Produção<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, das Estatísticas da Produção<br />
Industrial, INE, e do Relatório Final sobre Relações Comerciais entre a Distribuição Alimentar e os<br />
seus Fornecedores, AdC.<br />
Quanto às margens brutas, po<strong>de</strong>m tirar-se as seguintes conclusões:<br />
– O sector da produção representa sempre mais <strong>de</strong> 50% do preço final do leite, atingindo<br />
o máximo <strong>de</strong> quase 62%, em 2007, e o mínimo <strong>de</strong> quase 51%, em 2009 (ver o Quadro<br />
4).<br />
– O sector da transformação mantém-se estável, com uma margem bruta em torno dos<br />
35% do preço final do leite, até 2008, tendo observado um significativo aumento para<br />
43% do preço final do leite, em 2009 (ver o Quadro 4).<br />
– O sector da distribuição, que começa com uma margem bruta <strong>de</strong> quase 10% do preço<br />
final do leite, em 2000, observa uma diminuição <strong>de</strong>sse peso, até atingir o mínimo <strong>de</strong><br />
quase 4%, em 2003 e 2007. Em 2008 e 2009 as margens brutas da distribuição têm<br />
recuperado do mínimo <strong>de</strong> 2007 e apresentam valores que se aproximam dos 6% (ver o<br />
Quadro 4).<br />
11
A evolução da margem bruta <strong>de</strong> cada sector, po<strong>de</strong> ver-se no Quadro 5 e no Gráfico 5, on<strong>de</strong><br />
estão expressas as taxas <strong>de</strong> crescimento anuais, ou seja, a percentagem <strong>de</strong> variação <strong>de</strong> um ano<br />
em relação ao ano anterior:<br />
QUADRO 5<br />
Evolução das margens brutas do leite em cada sector – taxas <strong>de</strong> crescimento anuais<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Taxa <strong>de</strong> crescimento da parte do preço final do leite gerada em cada sector (em % em relação ao ano anterior)<br />
Produção - 7,51 2,34 -2,37 0,85 -2,50 -4,30 15,85 12,07 -27,11<br />
Transformação - 3,69 -6,71 3,40 -8,96 0,29 5,40 5,77 14,94 8,32<br />
Distribuição - -28,26 18,16 -55,59 58,45 21,03 18,33 -52,05 61,65 -6,20<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, das Estatísticas da Produção Industrial,<br />
INE, e do Relatório Final sobre Relações Comerciais entre a Distribuição Alimentar e os seus Fornecedores,<br />
AdC.<br />
GRÁFICO 5<br />
Evolução das margens brutas do leite em cada sector – taxas <strong>de</strong> crescimento anuais<br />
80<br />
60<br />
40<br />
%<br />
20<br />
0<br />
-20<br />
-40<br />
-60<br />
Produção<br />
Transformação<br />
Distribuição<br />
-80<br />
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, das Estatísticas da Produção<br />
Industrial, INE, e do Relatório Final sobre Relações Comerciais entre a Distribuição Alimentar e os<br />
seus Fornecedores, AdC.<br />
A análise da evolução das margens brutas permite <strong>de</strong>tectar uma ligação forte entre as margens<br />
brutas da transformação e da distribuição, o que se po<strong>de</strong> ver pelas respectivas taxas <strong>de</strong><br />
12
crescimento anuais (Gráfico 5): se a margem bruta da transformação aumenta, num dado ano,<br />
então, nesse mesmo ano, a margem bruta da distribuição diminui e vice-versa (este facto<br />
verifica-se em 6 dos 9 anos para os quais se calcularam as taxas <strong>de</strong> crescimento). Isto indicia<br />
que a distribuição ajusta as suas margens em função das margens da transformação, por forma<br />
a amortecer o impacto no preço final do leite. Assim, se a transformação diminui a sua<br />
margem bruta, a distribuição tem espaço para aumentar a sua margem bruta, sem isso se<br />
reflectir <strong>de</strong>masiado no preço final do leite. Ao invés, se a transformação aumenta a sua<br />
margem bruta, a distribuição reduz a sua, por forma a não provocar um significativo aumento<br />
do preço do leite ao consumidor final. Em suma, a distribuição tenta manter o preço do leite<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> valores relativamente baixos (sobretudo nas marcas brancas, como o <strong>de</strong>monstra o<br />
estudo da AdC, referido no ponto 2.1), usando-o como um produto, não tanto para a obtenção<br />
<strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> margem, mas mais como âncora para atrair o consumidor e levá-lo a adquirir<br />
outros produtos (incluindo produtos no grupo dos lacticínios).<br />
Em conclusão, o sector da produção é aquele que absorve a maior parte do preço final do leite<br />
(no entanto, não se po<strong>de</strong> esquecer que o sector da produção é o que apresenta maiores custos<br />
<strong>de</strong> produção, pelo que, em termos <strong>de</strong> margem líquida, a situação será diferente, como é<br />
discutido mais abaixo), apesar <strong>de</strong> esse peso vir a diminuir, o que resulta do gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>créscimo<br />
do preço do leite no produtor verificado em 2009. Em contrapartida, os sectores da<br />
transformação e da distribuição vêem a sua margem bruta aumentar (em especial o sector da<br />
transformação), pois os respectivos preços não registaram uma diminuição tão acentuada<br />
como os preços no produtor (em 2009).<br />
Para comparar a evolução do preço do leite na produção com a evolução dos custos dos meios<br />
<strong>de</strong> produção agrícola, po<strong>de</strong> ver-se o Quadro 6 e o Gráfico 6, sendo que os índices <strong>de</strong> preços e<br />
<strong>de</strong> custos têm a base fixa no ano 2000:<br />
13
QUADRO 6<br />
Evolução dos índices do preço do leite na produção e dos custos dos meios <strong>de</strong> produção<br />
agrícola<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Índice com base em 2000<br />
Preço do leite na<br />
produção 100 107,51 110,02 107,41 108,32 105,61 101,08 117,10 131,23 95,66<br />
Custo dos bens e serviços<br />
<strong>de</strong> consumo corrente na<br />
agricultura 100 108,33 103,47 107,64 113,00 116,79 118,54 127,57 140,81 137,07<br />
Custos dos bens e<br />
serviços <strong>de</strong> investimento<br />
na agricultura 100 101,29 104,37 107,71 110,28 113,99 115,29 117,49 123,40 123,73<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE.<br />
GRÁFICO 6<br />
Evolução dos índices do preço do leite na produção e dos custos dos meios <strong>de</strong> produção<br />
agrícola<br />
150<br />
140<br />
130<br />
120<br />
110<br />
100<br />
90<br />
80<br />
Preço do leite na<br />
produção<br />
Custo dos bens e<br />
serviços <strong>de</strong> consumo<br />
corrente na agricultura<br />
Custo dos bens e<br />
serviços <strong>de</strong><br />
investimento na<br />
agricultura<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE.<br />
Quanto à comparação da evolução dos preços do leite na produção com a evolução dos custos<br />
dos meios <strong>de</strong> produção agrícolas, observa-se que os custos divergem dos preços, com uma<br />
tendência <strong>de</strong> crescimento regular face a um <strong>de</strong>créscimo dos preços: em 2009, os custos dos<br />
meios <strong>de</strong> produção agrícola estavam muito acima dos valores observados em 2000 (24% para<br />
os bens e serviços <strong>de</strong> investimento na agricultura e 37% para os bens e serviços <strong>de</strong> consumo<br />
corrente na agricultura), enquanto que o preço do leite na produção se encontrava mais <strong>de</strong> 4%<br />
abaixo do seu valor em 2000. Esta evolução é um bom indicador da diminuição da margem<br />
14
líquida dos agricultores produtores <strong>de</strong> leite, o que conduziu a uma <strong>de</strong>gradação do seu<br />
rendimento, durante a primeira década do século XXI.<br />
15
3 – PREÇOS E MARGENS NO SECTOR DA CARNE DE BOVINO<br />
3.1 – CONCEITOS E DADOS UTILIZADOS<br />
Tal como na produção <strong>de</strong> leite, na produção <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> bovino também po<strong>de</strong>mos distinguir<br />
três fases na elaboração do produto: a montante temos o sector da produção (composto por<br />
explorações agrícolas que criam o gado bovino); numa fase intermédia, temos o sector da<br />
transformação (composto por intermediários que adquirem o gado bovino aos criadores,<br />
fazendo eventualmente alguma engorda, o abate dos animais, a <strong>de</strong>smancha das carcaças em<br />
peças e a distribuição grossista pelos comerciantes); a jusante temos o sector da distribuição<br />
(composto pelos comerciantes que, nos talhos, supermercados e hipermercados ven<strong>de</strong>m a<br />
carne <strong>de</strong> bovino ao consumidor). Haverá situações em que a mesma entida<strong>de</strong> está presente em<br />
mais do que uma fase (nomeadamente na produção e na transformação), mas, na generalida<strong>de</strong><br />
dos casos, a situação é a <strong>de</strong>scrita atrás, com uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção em três fases separadas.<br />
O preço final da carne <strong>de</strong> bovino, pago pelos consumidores, reflecte esta ca<strong>de</strong>ia produtiva,<br />
sendo o somatório do valor acrescentado gerado em cada um dos sectores. Tal como foi dito,<br />
no ponto 2.1, para o caso do leite, a esta parte do preço final gerada num dado sector<br />
(produção, transformação ou distribuição) chama-se, usualmente, a margem bruta <strong>de</strong>sse<br />
sector. Assim, a margem bruta <strong>de</strong> cada sector obtém-se da seguinte forma:<br />
a) Margem bruta da produção = preço <strong>de</strong> venda da carne <strong>de</strong> bovino à transformação pelos<br />
produtores.<br />
b) Margem bruta da transformação = preço <strong>de</strong> venda da carne <strong>de</strong> bovino à distribuição<br />
pelos transformadores – custo <strong>de</strong> aquisição da carne <strong>de</strong> bovino pelos transformadores à<br />
produção.<br />
c) Margem bruta da distribuição = preço <strong>de</strong> venda da carne <strong>de</strong> bovino aos consumidores<br />
pelos distribuidores – custo <strong>de</strong> aquisição da carne <strong>de</strong> bovino pelos distribuidores à<br />
transformação.<br />
Repare-se que a margem bruta <strong>de</strong> um dado sector não é o lucro (também chamado <strong>de</strong> margem<br />
líquida) <strong>de</strong>sse sector, pois, no sector da produção, não se <strong>de</strong>duzem os custos às receitas e, nos<br />
sectores da transformação e da distribuição, o único custo que se <strong>de</strong>duz às receitas é o custo<br />
<strong>de</strong> aquisição do input carne <strong>de</strong> bovino (o input principal) ao sector a montante. Para se terem<br />
16
as margens líquidas ou lucros <strong>de</strong> cada sector, ter-se-iam <strong>de</strong> apurar os custos <strong>de</strong> produção <strong>de</strong><br />
cada sector, o que não foi possível, por não haver dados disponíveis. Assim sendo, optou-se<br />
pelo cálculo das margens brutas, tendo os dados sido obtidos a partir das seguintes fontes:<br />
– O preço da carne <strong>de</strong> bovino na produção, isto é, o preço <strong>de</strong> venda da carne <strong>de</strong> bovino<br />
pelo produtor ao transformador, foi retirado das “Estatísticas Agrícolas”, publicadas<br />
pelo INE, recolhendo-se os seguintes preços: do “Novilho 6/8 meses”, “Novilho 8/12<br />
meses”, “Novilha 6/8 meses” e “Novilha 8/12 meses”. Estes preços vêm expressos em<br />
euros por quilograma <strong>de</strong> animal vivo. Para os anos <strong>de</strong> 2000, 2001, 2002 e 2003 estes<br />
preços não estão directamente expressos nas Estatísticas Agrícolas, tendo sido<br />
calculados com base no "índice <strong>de</strong> preços dos bovinos adultos" publicado nas mesmas<br />
Estatísticas Agrícolas.<br />
Em relação aos preços do “Novilho 6/8 meses” e do “Novilho 8/12 meses” fez-se a<br />
média aritmética simples dos dois, tendo-se ficado com um preço do “Novilho”. Em<br />
relação aos preços da “Novilha 6/8 meses” e da “Novilha 8/12 meses” fez-se a média<br />
aritmética simples dos dois, tendo-se ficado com um preço da “Novilha”.<br />
Com os dois preços assim obtidos – o do “Novilho” e o da “Novilha” – fez-se uma<br />
média pon<strong>de</strong>rada dos mesmos, sendo os pon<strong>de</strong>radores a “quantida<strong>de</strong> abatida e aprovada<br />
para consumo <strong>de</strong> novilho, em Kg” e a “quantida<strong>de</strong> abatida e aprovada para consumo <strong>de</strong><br />
novilha, em Kg”, quantida<strong>de</strong>s estas retiradas das Estatísticas Agrícolas. O preço assim<br />
obtido, com esta média pon<strong>de</strong>rada, ficou a ser o preço da carne <strong>de</strong> bovino na produção.<br />
– O preço da carne <strong>de</strong> bovino na transformação, isto é, o preço <strong>de</strong> venda da carne <strong>de</strong><br />
bovino pelo transformador ao distribuidor, foi retirado das “Estatísticas Agrícolas”,<br />
recolhendo-se os preços do “Novilho 12/18 meses” e da “Novilha 12/18 meses”. Estes<br />
preços vêm expressos em euros por quilograma <strong>de</strong> animal morto (carcaça). Com estes<br />
dois preços fez-se uma média pon<strong>de</strong>rada dos mesmos, sendo os pon<strong>de</strong>radores a<br />
“quantida<strong>de</strong> abatida e aprovada para consumo <strong>de</strong> novilho, em Kg” e a “quantida<strong>de</strong><br />
abatida e aprovada para consumo <strong>de</strong> novilha, em Kg”, quantida<strong>de</strong>s estas retiradas das<br />
Estatísticas Agrícolas. O preço assim obtido, com esta média pon<strong>de</strong>rada, ficou a ser o<br />
preço da carne <strong>de</strong> bovino na transformação.<br />
– Para o preço da carne <strong>de</strong> bovino na distribuição, isto é, o preço <strong>de</strong> venda da carne <strong>de</strong><br />
bovino pelo distribuidor ao consumidor final, não foi possível utilizar exclusivamente<br />
dados do INE, pois os dados publicados não individualizam ao nível do produto carne<br />
17
<strong>de</strong> bovino. Assim, inquiriu-se a Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes<br />
<strong>de</strong> Carnes, a qual indicou os preços da “Carne <strong>de</strong> bovino <strong>de</strong> 1ª” (não são aqui<br />
consi<strong>de</strong>rados os preços <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> bovino extra, como o lombo e a vazia) e da “Carne<br />
<strong>de</strong> bovino <strong>de</strong> 2ª”, em euros por quilograma, para o ano <strong>de</strong> 2005. Como estes preços<br />
foram disponibilizados apenas para o ano <strong>de</strong> 2005, foram extrapolados para os restantes<br />
anos do período em análise (2000 a 2004 e 2006 a 2009), usando o Índice <strong>de</strong> Preços no<br />
Consumidor relativo aos “Produtos alimentares não transformados”, publicado pelo<br />
INE. Para o período consi<strong>de</strong>rado (2000-2009) este índice <strong>de</strong> preços aparece com três<br />
anos base distintos (base em 1997, para os anos 2000 a 2002; base em 2002, para os<br />
anos 2003 a 2008; e base em 2008, para o ano <strong>de</strong> 2009), tendo-se convertido toda a série<br />
para a base <strong>de</strong> 1997.<br />
Em relação aos dois preços assim obtidos – o da “Carne <strong>de</strong> bovino <strong>de</strong> 1ª” e o da “Carne<br />
<strong>de</strong> bovino <strong>de</strong> 2ª” – foi calculada a média aritmética simples, tendo-se ficado com o<br />
preço da “Carne <strong>de</strong> bovino”.<br />
Finalmente, a este preço foi aplicada a “taxa <strong>de</strong> aproveitamento transformadordistribuidor”<br />
<strong>de</strong> 0,72, uma vez que, da carne <strong>de</strong> bovino adquirida pelo distribuidor ao<br />
transformador, se aproveitam, em média, 72% (valor indicado por organizações do<br />
sector) para serem vendidos pelo distribuidor ao consumidor final (os restantes 23% são<br />
<strong>de</strong>sperdício – ossos e gorduras). Obtém-se, assim, o preço da carne <strong>de</strong> bovino na<br />
distribuição.<br />
Com o objectivo <strong>de</strong> comparar a evolução dos preços da carne <strong>de</strong> bovino na produção com a<br />
evolução dos custos dos meios <strong>de</strong> produção agrícolas, utilizou-se o “Índice <strong>de</strong> preços dos<br />
meios <strong>de</strong> produção na agricultura”, publicado nas Estatísticas Agrícolas, como já foi referido<br />
no ponto 2.1, relativamente ao sector do leite.<br />
Em relação à qualida<strong>de</strong> dos dados recolhidos sobre os diversos preços da carne <strong>de</strong> bovino,<br />
po<strong>de</strong>-se inferir que a mesma não é homogénea. No caso dos preços na produção e na<br />
transformação utilizaram-se dados da autorida<strong>de</strong> estatística nacional (o INE), o que lhes<br />
confere uma boa credibilida<strong>de</strong>. O único senão é a inexistência <strong>de</strong> um preço único para a carne<br />
<strong>de</strong> bovino, o que obrigou a fazer médias <strong>de</strong> diferentes tipologias <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> bovino (como<br />
acima se explicou), o que conduz a resultados não tão exactos, comparativamente com a<br />
hipótese alternativa <strong>de</strong> ser o próprio INE a ter efectuado esse tratamento, com base nos dados<br />
originais. Quanto aos preços na distribuição, não foi possível recorrer a fontes estatísticas<br />
18
oficiais, tendo sido utilizada informação não oficial <strong>de</strong> uma associação do sector, ainda para<br />
mais apresentada para um único ano, o que representa uma limitação significativa (a qual se<br />
tentou ultrapassar com base na ventilação <strong>de</strong>sse valor, usando um índice <strong>de</strong> preços, esse sim já<br />
produzido pelo INE, como acima se explicou).<br />
3.2 – CÁLCULO DOS PREÇOS E DAS MARGENS<br />
Com base nos conceitos e na informação referenciada no ponto anterior, obtiveram-se os<br />
seguintes valores para os preços da carne <strong>de</strong> bovino:<br />
QUADRO 7<br />
Evolução dos preços da carne <strong>de</strong> bovino (preços à saída <strong>de</strong> cada sector, em euros por<br />
quilograma)<br />
Sectores<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Preço da carne <strong>de</strong> bovino à saída do sector (em euros por quilograma)<br />
Produção 2,72 2,50 2,74 2,73 2,45 2,19 2,65 2,36 1,95 2,10<br />
Transformação 3,22 3,09 3,21 3,20 2,90 2,91 3,44 3,27 2,89 3,11<br />
Distribuição 4,87 5,10 5,09 5,22 5,19 5,26 5,52 5,46 5,50 5,16<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, do Índice <strong>de</strong> Preços no Consumidor, INE, e<br />
da Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
19
2000<br />
2001<br />
2002<br />
2003<br />
2004<br />
2005<br />
2006<br />
2007<br />
2008<br />
2009<br />
GRÁFICO 7<br />
Evolução dos preços da carne <strong>de</strong> bovino (preços à saída <strong>de</strong> cada sector, em euros por<br />
quilograma)<br />
6,00<br />
5,00<br />
4,00<br />
€ por<br />
quilograma<br />
3,00<br />
2,00<br />
1,00<br />
Produção<br />
Transformação<br />
Distribuição<br />
0,00<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, do Índice <strong>de</strong> Preços no<br />
Consumidor, INE, e da Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
Como se po<strong>de</strong> ver pelo Gráfico 7, os preços da carne <strong>de</strong> bovino tiveram um comportamento<br />
muito estável, ao longo do período consi<strong>de</strong>rado (2000-2009), com a excepção do preço na<br />
produção, o qual apresenta uma queda consistente.<br />
Outra forma <strong>de</strong> olhar para a evolução dos preços da carne <strong>de</strong> bovino é através das taxas <strong>de</strong><br />
crescimento anuais, ou seja, a percentagem <strong>de</strong> variação <strong>de</strong> um ano em relação ao ano anterior,<br />
o que aparece reflectido no Quadro 8 e no Gráfico 8:<br />
QUADRO 8<br />
Evolução dos preços da carne <strong>de</strong> bovino (preços à saída <strong>de</strong> cada sector, em euros por<br />
quilograma) – taxas <strong>de</strong> crescimento anuais<br />
Sectores<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Taxa <strong>de</strong> crescimento do preço da carne <strong>de</strong> bovino à saída <strong>de</strong> cada sector (em % em relação ao ano anterior)<br />
Produção - -8,05 9,36 -0,19 -10,45 -10,51 21,09 -10,93 -17,40 7,76<br />
Transformação - -4,06 4,06 -0,25 -9,63 0,57 18,26 -5,08 -11,48 7,42<br />
Distribuição - 4,66 -0,08 2,50 -0,49 1,18 5,04 -1,11 0,75 -6,16<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, do Índice <strong>de</strong> Preços no Consumidor, INE, e<br />
da Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
20
GRÁFICO 8<br />
Evolução dos preços da carne <strong>de</strong> bovino (preços à saída <strong>de</strong> cada sector, em euros por<br />
quilograma) – taxas <strong>de</strong> crescimento anuais<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
%<br />
5<br />
0<br />
-5<br />
-10<br />
-15<br />
-20<br />
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Produção<br />
Transformação<br />
Distribuição<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, do Índice <strong>de</strong> Preços no<br />
Consumidor, INE, e da Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
Em termos da taxa <strong>de</strong> crescimento, é <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar a tendência quase idêntica entre os preços na<br />
produção e na transformação: sempre que um aumenta, o outro aumenta, e sempre que um<br />
diminui, o outro também diminui, com excepção do ano <strong>de</strong> 2005 (veja-se o Quadro 8). A taxa<br />
<strong>de</strong> crescimento dos preços na produção e na transformação apresenta dois valores não<br />
consonantes com o restante comportamento (veja-se o Gráfico 8):<br />
– Em 2006, regista-se um aumento <strong>de</strong> 21,09%, para os preços na produção, e <strong>de</strong> 18,26%,<br />
para os preços na transformação, o que se po<strong>de</strong>rá justificar pela diminuição da produção<br />
<strong>de</strong> carne <strong>de</strong> bovino em 11%, como resultado <strong>de</strong> uma seca severa em 2005 (Estatísticas<br />
Agrícolas 2006).<br />
– Em 2008, observa-se um movimento inverso, com diminuições na or<strong>de</strong>m dos 17,4%,<br />
para os preços na produção, e dos 11,48%, para os preços na transformação, o que se<br />
po<strong>de</strong>rá justificar pelo aumento da produção <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> bovino em 18%, num<br />
movimento <strong>de</strong> retoma da activida<strong>de</strong> face aos maus anos anteriores (Estatísticas<br />
Agrícolas 2008).<br />
21
A parte do preço final da carne <strong>de</strong> bovino gerada em cada sector, ou seja, a margem bruta <strong>de</strong><br />
cada sector, po<strong>de</strong> ver-se no Quadro 9 e no Gráfico 9 (em euros por quilograma) e no Quadro<br />
10 e no Gráfico 10 (em percentagem do preço final):<br />
QUADRO 9<br />
Evolução das margens brutas da carne <strong>de</strong> bovino em cada sector, em euros por<br />
quilograma<br />
Sectores<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Parte do preço final da carne <strong>de</strong> bovino gerada em cada sector (em euros por quilograma)<br />
Produção 2,72 2,50 2,74 2,73 2,45 2,19 2,65 2,36 1,95 2,10<br />
Transformação 0,50 0,59 0,48 0,47 0,45 0,72 0,79 0,91 0,94 1,01<br />
Distribuição 1,65 2,01 1,88 2,02 2,30 2,34 2,08 2,19 2,61 2,05<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, do Índice <strong>de</strong> Preços no Consumidor, INE, e<br />
da Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
GRÁFICO 9<br />
Evolução das margens brutas da carne <strong>de</strong> bovino em cada sector, em euros por<br />
quilograma<br />
3,00<br />
2,50<br />
2,00<br />
€ por<br />
quilograma<br />
1,50<br />
1,00<br />
0,50<br />
Produção<br />
Transformação<br />
Distribuição<br />
0,00<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, do Índice <strong>de</strong> Preços no Consumidor,<br />
INE, e da Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
22
QUADRO 10<br />
Evolução das margens brutas da carne <strong>de</strong> bovino em cada sector, em percentagem por<br />
cada sector<br />
Sectores<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Parte do preço final da carne <strong>de</strong> bovino gerada em cada sector (em % por cada sector)<br />
Produção 55,86 49,08 53,72 52,31 47,07 41,63 48,00 43,23 35,44 40,70<br />
Transformação 10,21 11,49 9,36 9,08 8,67 13,78 14,39 16,65 17,17 19,52<br />
Distribuição 33,93 39,43 36,92 38,61 44,26 44,59 37,62 40,12 47,39 39,77<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, do Índice <strong>de</strong> Preços no Consumidor, INE, e<br />
da Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
GRÁFICO 10<br />
Evolução das margens brutas da carne <strong>de</strong> bovino em cada sector, em percentagem por<br />
cada sector<br />
100%<br />
90%<br />
80%<br />
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Distribuição<br />
Transformação<br />
Produção<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, do Índice <strong>de</strong> Preços no<br />
Consumidor, INE, e da Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
Quanto às margens brutas, po<strong>de</strong>m tirar-se as seguintes conclusões:<br />
– O sector da produção tem vindo a per<strong>de</strong>r peso <strong>de</strong> uma forma constante, representando<br />
mais <strong>de</strong> 55% do preço final da carne <strong>de</strong> bovino, em 2000, <strong>de</strong>sce para níveis em volta<br />
dos 40%, nos últimos três anos do período consi<strong>de</strong>rado (ver o Quadro 10 e o Gráfico<br />
10).<br />
– O sector da transformação vê a sua contribuição para a geração do preço final da carne<br />
<strong>de</strong> bovino crescer para o dobro (<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 10%, em 2000, para cerca <strong>de</strong> 20%, em<br />
23
2009), como se po<strong>de</strong> ver no Quadro 10. Em 2005, a taxa <strong>de</strong> crescimento da margem<br />
bruta na transformação atinge um valor muito elevado (60,7% – veja-se o Gráfico 11), o<br />
que se po<strong>de</strong>rá justificar pelo levantamento do embargo à exportação <strong>de</strong> bovinos (em<br />
Novembro <strong>de</strong> 2004), que veio facilitar o escoamento da produção nacional,<br />
particularmente para Espanha, ou seja, registou-se um aumento da procura externa<br />
(Estatísticas Agrícolas 2005).<br />
– O sector da distribuição, que começa com uma margem bruta <strong>de</strong> quase 34% do preço<br />
final da carne <strong>de</strong> bovino, em 2000, observa um aumento <strong>de</strong>sse peso, até atingir o<br />
máximo <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 47%, em 2008, situando-se em quase 40%, em 2009 (ver o Quadro<br />
10).<br />
A evolução da margem bruta <strong>de</strong> cada sector po<strong>de</strong> ver-se no Quadro 11 e no Gráfico 11, on<strong>de</strong><br />
estão expressas as taxas <strong>de</strong> crescimento anuais, ou seja, a percentagem <strong>de</strong> variação <strong>de</strong> um ano<br />
em relação ao ano anterior:<br />
QUADRO 11<br />
Evolução das margens brutas da carne <strong>de</strong> bovino em cada sector – taxas <strong>de</strong> crescimento<br />
anuais<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Sectores Taxa <strong>de</strong> crescimento da parte do preço final da carne <strong>de</strong> bovino gerada em cada sector (em % em relação ao ano<br />
anterior)<br />
Produção - -8,05 9,36 -0,19 -10,45 -10,51 21,09 -10,93 -17,40 7,76<br />
Transformação - 17,75 -18,55 -0,63 -4,93 60,70 9,71 14,42 3,91 6,71<br />
Distribuição - 21,64 -6,45 7,20 14,05 1,94 -11,39 5,48 18,99 -21,24<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, do Índice <strong>de</strong> Preços no Consumidor, INE, e<br />
da Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
24
GRÁFICO 11<br />
Evolução das margens brutas da carne <strong>de</strong> bovino em cada sector – taxas <strong>de</strong> crescimento<br />
anuais<br />
%<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
-10<br />
-20<br />
-30<br />
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Produção<br />
Transformação<br />
Distribuição<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE, do Índice <strong>de</strong> Preços no<br />
Consumidor, INE, e da Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
Existe uma correlação inversa entre as margens brutas da produção e da distribuição, o que se<br />
po<strong>de</strong> ver pelas respectivas taxas <strong>de</strong> crescimento anuais (Quadro 11 e Gráfico 11): se a<br />
margem bruta da produção aumenta, num dado ano, então, nesse mesmo ano, a margem bruta<br />
da distribuição diminui e vice-versa. Isto indicia que a distribuição ajusta as suas margens em<br />
função das margens da produção, por forma a amortecer o impacto no preço final da carne <strong>de</strong><br />
bovino, mantendo uma certa estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste. No entanto, a tendência é que, a um aumento<br />
da margem bruta da produção corresponda uma diminuição menor da margem bruta da<br />
distribuição, e a uma diminuição da margem bruta da produção corresponda um aumento<br />
maior da margem bruta da distribuição, levando a margem bruta da distribuição a ganhar peso<br />
na estrutura do preço final da carne <strong>de</strong> bovino (e a margem bruta da produção a per<strong>de</strong>r peso),<br />
como já se viu atrás.<br />
Em conclusão, os sectores da transformação e da distribuição observam um aumento da sua<br />
contribuição para a formação do preço final da carne <strong>de</strong> bovino. Este facto tem a sua<br />
justificação no <strong>de</strong>créscimo constante do preço no sector da produção, com reflexos na<br />
diminuição da sua margem líquida, como se verá mais abaixo.<br />
25
Para comparar a evolução do preço da carne bovino na produção com a evolução dos custos<br />
dos meios <strong>de</strong> produção agrícola, po<strong>de</strong> ver-se o Quadro 12 e o Gráfico 12, sendo que os índices<br />
<strong>de</strong> preços e <strong>de</strong> custos têm a base fixa no ano 2000:<br />
QUADRO 12<br />
Evolução dos índices do preço da carne <strong>de</strong> bovino na produção e dos custos dos meios <strong>de</strong><br />
produção agrícola<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Índice com base em 2000<br />
Preço da carne <strong>de</strong> bovino<br />
na produção 100 91,95 100,56 100,37 89,88 80,44 97,40 86,75 71,66 77,22<br />
Custo dos bens e serviços<br />
<strong>de</strong> consumo corrente na 100 108,33 103,47 107,64 113,00 116,79 118,54 127,57 140,81 137,07<br />
agricultura<br />
Custo dos bens e serviços<br />
<strong>de</strong> investimento na<br />
agricultura<br />
100 101,29 104,37 107,71 110,28 113,99 115,29 117,49 123,40 123,73<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE.<br />
GRÁFICO 12<br />
Evolução dos índices do preço da carne <strong>de</strong> bovino na produção e dos custos dos meios <strong>de</strong><br />
produção agrícola<br />
150<br />
140<br />
130<br />
120<br />
110<br />
100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
Preço da carne <strong>de</strong> bovino<br />
na produção<br />
Custo dos bens e<br />
serviços <strong>de</strong> consumo<br />
corrente na agricultura<br />
Custo dos bens e<br />
serviços <strong>de</strong> investimento<br />
na agricultura<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE.<br />
26
Quanto à comparação da evolução dos preços da carne <strong>de</strong> bovino na produção com a evolução<br />
dos custos dos meios <strong>de</strong> produção agrícolas, observa-se uma clara divergência dos custos em<br />
relação aos preços: os custos crescem e os preços <strong>de</strong>crescem (vejam-se o Quadro 12 e o<br />
Gráfico 12). Em 2009, os custos dos meios <strong>de</strong> produção agrícola estavam muito acima dos<br />
valores observados em 2000 (24% para os bens e serviços <strong>de</strong> investimento na agricultura e<br />
37% para os bens e serviços <strong>de</strong> consumo corrente na agricultura), enquanto que o preço da<br />
carne <strong>de</strong> bovino na produção se encontrava mais <strong>de</strong> 20% abaixo do seu valor em 2000. Esta<br />
evolução atesta bem o <strong>de</strong>créscimo da margem líquida dos agricultores produtores <strong>de</strong> carne <strong>de</strong><br />
bovino e a consequente <strong>de</strong>gradação do seu rendimento, durante a primeira década do século<br />
XXI.<br />
27
4 – PREÇOS E MARGENS NO SECTOR DA CARNE DE OVINO<br />
4.1 – CONCEITOS E DADOS UTILIZADOS<br />
Tal como nas produções <strong>de</strong> leite e <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> bovino, na produção <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> ovino também<br />
po<strong>de</strong>mos distinguir três fases na elaboração do produto: a montante temos o sector da<br />
produção (composto por explorações agrícolas que criam o gado ovino, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascimento,<br />
até o animal atingir um certo peso); numa fase intermédia, temos o sector da transformação<br />
(composto por intermediários que adquirem o gado ovino aos criadores, fazendo o seu abate,<br />
armazenamento e a distribuição grossista pelos comerciantes); a jusante temos o sector da<br />
distribuição (composto pelos comerciantes que, nos talhos, supermercados e hipermercados<br />
ven<strong>de</strong>m a carne <strong>de</strong> ovino aos consumidores). Haverá situações em que a mesma entida<strong>de</strong> está<br />
presente em mais do que uma fase (nomeadamente na produção e na transformação), mas, na<br />
generalida<strong>de</strong> dos casos, a situação é a <strong>de</strong>scrita atrás, com uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção em três<br />
fases separadas.<br />
O preço final da carne <strong>de</strong> ovino, pago pelos consumidores, reflecte esta ca<strong>de</strong>ia produtiva,<br />
sendo o somatório do valor acrescentado gerado em cada um dos sectores. Tal como foi dito,<br />
no ponto 2.1, para o caso do leite, a esta parte do preço final gerada num dado sector<br />
(produção, transformação ou distribuição) chama-se, usualmente, a margem bruta <strong>de</strong>sse<br />
sector. Assim, a margem bruta <strong>de</strong> cada sector obtém-se da seguinte forma:<br />
a) Margem bruta da produção = preço <strong>de</strong> venda da carne <strong>de</strong> ovino à transformação pelos<br />
produtores.<br />
b) Margem bruta da transformação = preço <strong>de</strong> venda da carne <strong>de</strong> ovino à distribuição pelos<br />
transformadores – custo <strong>de</strong> aquisição da carne <strong>de</strong> ovino pelos transformadores à<br />
produção.<br />
c) Margem bruta da distribuição = preço <strong>de</strong> venda da carne <strong>de</strong> ovino aos consumidores<br />
pelos distribuidores – custo <strong>de</strong> aquisição da carne <strong>de</strong> ovino pelos distribuidores à<br />
transformação.<br />
Repare-se que a margem bruta <strong>de</strong> um dado sector não é o lucro (também chamado <strong>de</strong> margem<br />
líquida) <strong>de</strong>sse sector, pois, no sector da produção, não se <strong>de</strong>duzem os custos às receitas e, nos<br />
sectores da transformação e da distribuição, o único custo que se <strong>de</strong>duz às receitas é o custo<br />
28
<strong>de</strong> aquisição do input carne <strong>de</strong> ovino (o input principal) ao sector a montante. Para se terem as<br />
margens líquidas ou lucros <strong>de</strong> cada sector, ter-se-iam <strong>de</strong> apurar os custos <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> cada<br />
sector, o que não foi possível, por não haver dados disponíveis. Assim sendo, optou-se pelo<br />
cálculo das margens brutas, tendo os dados sido obtidos a partir das seguintes fontes:<br />
– O preço da carne <strong>de</strong> ovino na produção foi obtido com base em dados do SIMA -<br />
Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Mercados Agrícolas, do Gabinete <strong>de</strong> Planeamento e Políticas<br />
do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas. É o preço médio<br />
anual <strong>de</strong> borregos inferiores a 12 quilogramas. Está expresso em euros por cada<br />
quilograma <strong>de</strong> animal vivo.<br />
– O preço da carne <strong>de</strong> ovino na transformação foi obtido a partir da Fe<strong>de</strong>ração Nacional<br />
das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes, a qual indicou os “preços <strong>de</strong> aquisição da<br />
carne <strong>de</strong> borrego ao transformador, tendo por referência borregos <strong>de</strong> 12 quilogramas”,<br />
em euros por quilograma <strong>de</strong> carcaça, para o ano <strong>de</strong> 2005. Como estes preços foram<br />
disponibilizados apenas para o ano <strong>de</strong> 2005, foram extrapolados para os restantes anos<br />
do período em análise (2000 a 2004 e 2006 a 2009), usando o índice <strong>de</strong> preços do "abate<br />
<strong>de</strong> animais, preparação e conservação da carne e <strong>de</strong> produtos à base <strong>de</strong> carne",<br />
publicado pelo INE. Este índice apresenta-se numa base mensal, pelo que, numa<br />
primeira operação, calcularam-se as médias anuais <strong>de</strong>sses valores mensais. Em seguida,<br />
como, para o período consi<strong>de</strong>rado (2000-2009), o índice <strong>de</strong> preços aparece com dois<br />
anos base distintos (base em 2000, para os anos 2000 a 2008; e base em 2005, para o<br />
ano 2009), converteu-se toda a série para a base <strong>de</strong> 2000.<br />
– O preço da carne <strong>de</strong> ovino na distribuição, isto é, o preço <strong>de</strong> venda da carne <strong>de</strong> ovino<br />
pelo distribuidor ao consumidor final, foi obtido a partir da Fe<strong>de</strong>ração Nacional das<br />
Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes, a qual indicou os “preços <strong>de</strong> venda da carne<br />
<strong>de</strong> borrego ao consumidor, tendo por referência borregos <strong>de</strong> 12 quilogramas”, em euros<br />
por quilograma, para o ano <strong>de</strong> 2005. Como estes preços foram disponibilizados apenas<br />
para o ano <strong>de</strong> 2005, foram extrapolados para os restantes anos do período em análise<br />
(2000 a 2004 e 2006 a 2009), usando o Índice <strong>de</strong> Preços no Consumidor relativo aos<br />
“Produtos alimentares não transformados”, publicado pelo INE. Para o período<br />
consi<strong>de</strong>rado (2000-2009) este índice <strong>de</strong> preços aparece com três anos base distintos<br />
(base em 1997, para os anos 2000 a 2002; base em 2002, para os anos 2003 a 2008; e<br />
base em 2008, para o ano <strong>de</strong> 2009), tendo-se convertido toda a série para a base <strong>de</strong><br />
1997.<br />
29
Ao preço assim obtido, foi aplicada a “taxa <strong>de</strong> aproveitamento transformadordistribuidor”<br />
<strong>de</strong> 0,9, uma vez que, da carne <strong>de</strong> ovino adquirida pelo distribuidor ao<br />
transformador, se aproveitam, em média, 90% (valor indicado por organizações do<br />
sector) para serem vendidos pelo distribuidor ao consumidor final (os restantes 10% são<br />
<strong>de</strong>sperdício – ossos e gorduras). Obtém-se, assim, o preço da carne <strong>de</strong> ovino na<br />
distribuição.<br />
Com o objectivo <strong>de</strong> comparar a evolução dos preços da carne <strong>de</strong> ovino na produção com a<br />
evolução dos custos dos meios <strong>de</strong> produção agrícolas, utilizou-se o “Índice <strong>de</strong> preços dos<br />
meios <strong>de</strong> produção na agricultura”, publicado nas Estatísticas Agrícolas, como já foi referido<br />
no ponto 2.1, relativamente ao sector do leite.<br />
Em relação à qualida<strong>de</strong> dos dados recolhidos sobre os diversos preços da carne <strong>de</strong> ovino, em<br />
termos gerais po<strong>de</strong>-se afirmar que os dados apresentam algumas limitações, exceptuando os<br />
preços na produção, para os quais se usaram dados <strong>de</strong> estatísticas oficiais. No caso dos preços<br />
na transformação e na distribuição recorreu-se a dados cedidos por uma associação do sector,<br />
com valores apenas para um dos anos do período consi<strong>de</strong>rado, o que obrigou a uma ventilação<br />
pelos restantes anos, com base em índices <strong>de</strong> preços publicados pelo INE (a explicação<br />
pormenorizada da construção dos preços na transformação e na distribuição foi acima<br />
referida). Esta <strong>de</strong>dução dos preços apresenta limitações <strong>de</strong> inferência não quantificáveis, pois<br />
não se tem a garantia absoluta <strong>de</strong> os índices <strong>de</strong> preços utilizados apresentarem uma boa<br />
a<strong>de</strong>rência à evolução efectivamente verificada nos “verda<strong>de</strong>iros” preços.<br />
4.2 – CÁLCULO DOS PREÇOS E DAS MARGENS<br />
Com base nos conceitos e na informação referenciada no ponto anterior, obtiveram-se os<br />
seguintes valores para os preços da carne <strong>de</strong> ovino:<br />
30
QUADRO 13<br />
Evolução dos preços da carne <strong>de</strong> ovino (preços à saída <strong>de</strong> cada sector, em euros por<br />
quilograma)<br />
Sectores<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Preço da carne <strong>de</strong> ovino à saída do sector (em euros por quilograma)<br />
Produção 3,19 3,69 3,66 3,57 3,55 3,49 3,57 3,52 3,46 3,76<br />
Transformação 6,76 7,61 6,97 7,13 7,09 7,20 7,53 7,51 7,55 7,36<br />
Distribuição 7,34 7,68 7,67 7,86 7,82 7,92 8,32 8,22 8,29 7,77<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados do SIMA - Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Mercados Agrícolas, Gabinete <strong>de</strong><br />
Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, do Índice <strong>de</strong><br />
Preços no Consumidor, INE, dos Índices <strong>de</strong> Preços na Produção Industrial no Mercado Interno, INE, e da<br />
Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
GRÁFICO 13<br />
Evolução dos preços da carne <strong>de</strong> ovino (preços à saída <strong>de</strong> cada sector, em euros por<br />
quilograma)<br />
9,00<br />
8,00<br />
7,00<br />
6,00<br />
€ por<br />
quilograma<br />
5,00<br />
4,00<br />
3,00<br />
2,00<br />
1,00<br />
0,00<br />
Produção<br />
Transformação<br />
Distribuição<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados do SIMA - Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Mercados Agrícolas,<br />
Gabinete <strong>de</strong> Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e<br />
das Pescas, do Índice <strong>de</strong> Preços no Consumidor, INE, dos Índices <strong>de</strong> Preços na Produção Industrial<br />
no Mercado Interno, INE, e da Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
Como se po<strong>de</strong> ver, pelo Gráfico 13, os preços da carne <strong>de</strong> ovino tiveram um comportamento<br />
relativamente estável, ao longo do período consi<strong>de</strong>rado (2000-2009), apresentando uma<br />
subida muito ligeira, entre o início e o fim do período.<br />
31
Outra forma <strong>de</strong> olhar para a evolução dos preços da carne <strong>de</strong> ovino é através das taxas <strong>de</strong><br />
crescimento anuais, ou seja, a percentagem <strong>de</strong> variação <strong>de</strong> um ano em relação ao ano anterior,<br />
o que aparece reflectido no Quadro 14 e no Gráfico 14:<br />
QUADRO 14<br />
Evolução dos preços da carne <strong>de</strong> ovino (preços à saída <strong>de</strong> cada sector, em euros por<br />
quilograma) – taxas <strong>de</strong> crescimento anuais<br />
Sectores<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Taxa <strong>de</strong> crescimento do preço da carne <strong>de</strong> ovino à saída <strong>de</strong> cada sector (em % em relação ao ano anterior)<br />
Produção - 15,92 -0,98 -2,43 -0,60 -1,66 2,42 -1,37 -1,75 8,59<br />
Transformação - 12,62 -8,46 2,29 -0,52 1,54 4,60 -0,32 0,52 -2,44<br />
Distribuição - 4,66 -0,08 2,50 -0,49 1,18 5,04 -1,11 0,75 -6,16<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados do SIMA - Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Mercados Agrícolas, Gabinete <strong>de</strong><br />
Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, do Índice <strong>de</strong><br />
Preços no Consumidor, INE, dos Índices <strong>de</strong> Preços na Produção Industrial no Mercado Interno, INE, e da<br />
Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
GRÁFICO 14<br />
Evolução dos preços da carne <strong>de</strong> ovino (preços à saída <strong>de</strong> cada sector, em euros por<br />
quilograma) – taxas <strong>de</strong> crescimento anuais<br />
20<br />
15<br />
10<br />
%<br />
5<br />
0<br />
Produção<br />
Transformação<br />
Distribuição<br />
-5<br />
-10<br />
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados do SIMA - Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Mercados<br />
Agrícolas, Gabinete <strong>de</strong> Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura, do<br />
Desenvolvimento Rural e das Pescas, do Índice <strong>de</strong> Preços no Consumidor, INE, dos Índices<br />
<strong>de</strong> Preços na Produção Industrial no Mercado Interno, INE, e da Fe<strong>de</strong>ração Nacional das<br />
Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
32
A evolução dos preços da carne <strong>de</strong> ovino, com algumas semelhanças nos três preços<br />
consi<strong>de</strong>rados (na produção, na transformação e na distribuição), reflecte-se nas suas taxas <strong>de</strong><br />
crescimento anuais, as quais, na maioria dos casos, têm o mesmo sentido (crescimento ou<br />
<strong>de</strong>crescimento) e valor semelhante (veja-se o Gráfico 14). Este comportamento relativamente<br />
estável e similar dos preços apresenta duas excepções:<br />
– De 2000 a 2002 (veja-se o Quadro 14). Todos os preços observam fortes crescimentos,<br />
<strong>de</strong> 2000 para 2001 (15,92% na produção, 12,62% na transformação e 4,66% na<br />
distribuição) e, <strong>de</strong> 2001 para 2002, o preço na transformação corrige este crescimento,<br />
ao apresentar uma forte <strong>de</strong>scida <strong>de</strong> 8,46% (enquanto que os preços na produção e na<br />
distribuição se mantém estáveis, observando <strong>de</strong>créscimos muito ligeiros). O<br />
crescimento dos preços observado em 2001 fica a <strong>de</strong>ver-se a uma redução da produção<br />
em 9,2%, como resultado <strong>de</strong> uma menor oferta <strong>de</strong> borregos para abate (Estatísticas<br />
Agrícolas 2001). A forte redução do preço da transformação em 2002 po<strong>de</strong>rá ganhar<br />
justificação no aumento da produção em 8,6%, como resultado da oferta <strong>de</strong> borregos<br />
mais pesados para abate (Estatísticas Agrícolas 2002).<br />
– De 2000 para 2009 (veja-se o Quadro 14). Aqui, o preço na produção apresenta um<br />
forte crescimento (8,59%), ao passo que os preços na transformação e na distribuição<br />
diminuem (2,44% e 6,16%, respectivamente). O aumento do preço na produção po<strong>de</strong>rá<br />
ficar a <strong>de</strong>ver-se a um aumento dos custos do produtor, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> condições<br />
climatéricas adversas, que não proporcionaram alimentação natural aos animais em<br />
quantida<strong>de</strong>, para além <strong>de</strong> condições sanitárias <strong>de</strong>sfavoráveis para o gado ovino, em<br />
particular a doença da língua azul (Estatísticas Agrícolas 2009). A diminuição dos<br />
preços na transformação e, em particular, na distribuição (que originou uma quebra <strong>de</strong><br />
44,16% da margem bruta <strong>de</strong>ste sector – veja-se, mais à frente, o Gráfico 17) po<strong>de</strong>rá<br />
justificar-se por uma quebra no consumo <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> ovino (Estatísticas Agrícolas<br />
2009).<br />
A parte do preço final da carne <strong>de</strong> ovino gerada em cada sector, ou seja, a margem bruta <strong>de</strong><br />
cada sector, po<strong>de</strong> ver-se no Quadro 15 e no Gráfico 15 (em euros por quilograma) e no<br />
Quadro 16 e no Gráfico 16 (em percentagem do preço final):<br />
33
QUADRO 15<br />
Evolução das margens brutas da carne <strong>de</strong> ovino em cada sector, em euros por<br />
quilograma<br />
Sectores<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Parte do preço final da carne <strong>de</strong> ovino gerada em cada sector (em euros por quilograma)<br />
Produção 3,19 3,69 3,66 3,57 3,55 3,49 3,57 3,52 3,46 3,76<br />
Transformação 3,57 3,92 3,31 3,56 3,54 3,71 3,96 3,98 4,08 3,60<br />
Distribuição 0,58 0,07 0,70 0,74 0,73 0,72 0,78 0,72 0,74 0,41<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados do SIMA - Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Mercados Agrícolas, Gabinete <strong>de</strong><br />
Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, do Índice <strong>de</strong><br />
Preços no Consumidor, INE, dos Índices <strong>de</strong> Preços na Produção Industrial no Mercado Interno, INE, e da<br />
Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
GRÁFICO 15<br />
Evolução das margens brutas da carne <strong>de</strong> ovino em cada sector, em euros por<br />
quilograma<br />
4,50<br />
4,00<br />
3,50<br />
3,00<br />
€ por<br />
quilograma<br />
2,50<br />
2,00<br />
1,50<br />
1,00<br />
0,50<br />
Produção<br />
Transformação<br />
Distribuição<br />
0,00<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados do SIMA - Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Mercados Agrícolas, Gabinete<br />
<strong>de</strong> Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, do<br />
Índice <strong>de</strong> Preços no Consumidor, INE, dos Índices <strong>de</strong> Preços na Produção Industrial no Mercado Interno,<br />
INE e da Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
34
QUADRO 16<br />
Evolução das margens brutas da carne <strong>de</strong> ovino em cada sector, em percentagem por<br />
cada sector<br />
Sectores<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Parte do preço final da carne <strong>de</strong> ovino gerada em cada sector (em % por cada sector)<br />
Produção 43,43 48,10 47,67 45,38 45,32 44,06 42,96 42,84 41,78 48,35<br />
Transformação 48,71 51,05 43,17 45,27 45,29 46,89 47,61 48,44 49,30 46,34<br />
Distribuição 7,86 0,85 9,16 9,35 9,38 9,06 9,44 8,71 8,92 5,31<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados do SIMA - Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Mercados Agrícolas, Gabinete <strong>de</strong><br />
Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, do Índice <strong>de</strong><br />
Preços no Consumidor, INE, dos Índices <strong>de</strong> Preços na Produção Industrial no Mercado Interno, INE e da<br />
Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
GRÁFICO 16<br />
Evolução das margens brutas da carne <strong>de</strong> ovino em cada sector, em percentagem por<br />
cada sector<br />
100,00<br />
90,00<br />
80,00<br />
70,00<br />
60,00<br />
50,00<br />
40,00<br />
30,00<br />
20,00<br />
10,00<br />
0,00<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Distribuição<br />
Transformação<br />
Produção<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados do SIMA - Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Mercados Agrícolas,<br />
Gabinete <strong>de</strong> Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e<br />
das Pescas, do Índice <strong>de</strong> Preços no Consumidor, INE, dos Índices <strong>de</strong> Preços na Produção Industrial<br />
no Mercado Interno, INE e da Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
Quanto às margens brutas, po<strong>de</strong>m tirar-se as seguintes conclusões:<br />
– O sector da produção observa um aumento do seu peso, aproximando-se dos 50% do<br />
preço final da carne <strong>de</strong> ovino: em 2009, o preço da carne <strong>de</strong> ovino no sector da<br />
produção era responsável por quase 48,35% do preço final da carne <strong>de</strong> ovino, enquanto<br />
35
que, em 2000, esse valor andava pelos 43,43%, apesar <strong>de</strong> esta subida se ter atingido no<br />
último ano do período consi<strong>de</strong>rado e das flutuações ao longo do período, o que po<strong>de</strong>rá<br />
levantar algumas dúvidas quanto à consistência <strong>de</strong>sse aumento do peso do preço no<br />
produtor no preço final da carne <strong>de</strong> ovino (veja-se o Quadro 16).<br />
– O sector da transformação vê a sua contribuição para a geração do preço final da carne<br />
<strong>de</strong> ovino manter-se relativamente estável, grosso modo entre os 45% e os 50% (veja-se<br />
o Quadro 16).<br />
– Do que se disse, nos dois parágrafos anteriores, resulta que o sector da distribuição<br />
observa uma diminuição da sua contribuição para o preço final da carne <strong>de</strong> ovino, <strong>de</strong><br />
7,86%, em 2000, para 5,31%, em 2009, embora tenha observado oscilações nos anos<br />
intermédios (veja-se o Quadro 16).<br />
A evolução da margem bruta <strong>de</strong> cada sector, po<strong>de</strong> ver-se no Quadro 17 e no Gráfico 17, on<strong>de</strong><br />
estão expressas as taxas <strong>de</strong> crescimento anuais, ou seja, a percentagem <strong>de</strong> variação <strong>de</strong> um ano<br />
em relação ao ano anterior:<br />
QUADRO 17<br />
Evolução das margens brutas da carne <strong>de</strong> ovino em cada sector – taxas <strong>de</strong> crescimento<br />
anuais<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Sectores<br />
Taxa <strong>de</strong> crescimento da parte do preço final da carne <strong>de</strong> ovino gerada em cada sector (em % em relação ao ano<br />
anterior)<br />
Produção - 15,92 -0,98 -2,43 -0,60 -1,66 2,42 -1,37 -1,75 8,59<br />
Transformação - 9,67 -15,50 7,50 -0,44 4,74 6,65 0,63 2,52 -11,79<br />
Distribuição - -88,65 974,83 4,61 -0,16 -2,32 9,45 -8,70 3,14 -44,16<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados do SIMA - Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Mercados Agrícolas, Gabinete <strong>de</strong><br />
Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, do Índice <strong>de</strong><br />
Preços no Consumidor, INE, dos Índices <strong>de</strong> Preços na Produção Industrial no Mercado Interno, INE e da<br />
Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
36
GRÁFICO 17<br />
Evolução das margens brutas da carne <strong>de</strong> ovino em cada sector – taxas <strong>de</strong> crescimento<br />
anuais<br />
20,00<br />
10,00<br />
0,00<br />
%<br />
-10,00<br />
-20,00<br />
-30,00<br />
-40,00<br />
Produção<br />
Transformação<br />
Distribuição<br />
-50,00<br />
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados do SIMA - Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Mercados Agrícolas,<br />
Gabinete <strong>de</strong> Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das<br />
Pescas, do Índice <strong>de</strong> Preços no Consumidor, INE, dos Índices <strong>de</strong> Preços na Produção Industrial no<br />
Mercado Interno, INE e da Fe<strong>de</strong>ração Nacional das Associações dos Comerciantes <strong>de</strong> Carnes.<br />
A análise das taxas <strong>de</strong> crescimento anuais (Quadro 17 e Gráfico 17) não permite constatar um<br />
padrão <strong>de</strong> relação entre as diferentes margens brutas, uma vez que tanto acontece elas<br />
variarem no mesmo sentido, como em sentidos contrários, sem nenhuma predominância. O<br />
Gráfico 17 omite os anos <strong>de</strong> 2001 e 2002, por causa da gran<strong>de</strong> variação do preço da<br />
transformação, <strong>de</strong> 2000 para 2001 (crescimento) e <strong>de</strong> 2001 para 2002 (diminuição). O<br />
segundo movimento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> diminuição não foi acompanhado pelos preços na produção e<br />
na distribuição (como acima se referiu), o que conduziu a um esmagamento da margem bruta<br />
da distribuição, cujos valores absolutos são pequenos, pelo que uma variação <strong>de</strong> alguns<br />
cêntimos po<strong>de</strong>rá ser muito significativa, em termos percentuais. Como se po<strong>de</strong> ver, no Quadro<br />
17, a margem bruta da distribuição <strong>de</strong>sce <strong>de</strong> 0,58 euros, em 2000, para apenas 0,07 euros, em<br />
2001 (uma diminuição <strong>de</strong> 88,65%), aumentando para 0,70 euros, em 2002 (ou seja, um<br />
aumento <strong>de</strong> praticamente 1000%). Este gran<strong>de</strong> aumento da margem bruta da distribuição, em<br />
2002, po<strong>de</strong> ser justificado pela acentuada diminuição dos preços na transformação, por<br />
contraponto a uma diminuição muito menos significativa dos preços na distribuição, como<br />
atrás se referiu. Foi precisamente por estas elevadas taxas <strong>de</strong> variação (as quais, no entanto,<br />
37
em valores absolutos, correspon<strong>de</strong>m a variações <strong>de</strong> 63 cêntimos, no máximo), que se<br />
omitiram os anos <strong>de</strong> 2001 e 2002 no Gráfico 17, cuja leitura iria ficar prejudicada.<br />
Embora os dados não sejam totalmente esclarecedores, po<strong>de</strong>rá aventar-se a hipótese <strong>de</strong>, na<br />
fileira da carne <strong>de</strong> ovino, o sector da produção estar a conquistar alguma margem bruta ao<br />
sector da distribuição. No entanto, o facto <strong>de</strong> o sector da produção ser o que apresenta maiores<br />
custos <strong>de</strong> produção, não permite tirar a mesma conclusão em relação à margem líquida, como<br />
se verá mais abaixo.<br />
Para comparar a evolução do preço da carne ovino na produção com a evolução dos custos<br />
dos meios <strong>de</strong> produção agrícola, po<strong>de</strong> ver-se o Quadro 18 e o Gráfico 18, sendo que os índices<br />
<strong>de</strong> preços e <strong>de</strong> custos têm a base fixa no ano 2000:<br />
QUADRO 18<br />
Evolução dos índices do preço da carne <strong>de</strong> ovino na produção e dos custos dos meios <strong>de</strong><br />
produção agrícola<br />
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009<br />
Índice com base em 2000<br />
Preço da carne <strong>de</strong> ovino<br />
na produção 100 115,92 114,78 111,99 111,32 109,47 112,12 110,59 108,66 118,00<br />
Custo dos bens e serviços<br />
<strong>de</strong> consumo corrente na 100 108,33 103,47 107,64 113,00 116,79 118,54 127,57 140,81 137,07<br />
agricultura<br />
Custo dos bens e serviços<br />
<strong>de</strong> investimento na<br />
agricultura<br />
100 101,29 104,37 107,71 110,28 113,99 115,29 117,49 123,40 123,73<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE e do SIMA - Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong><br />
Mercados Agrícolas, Gabinete <strong>de</strong> Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento<br />
Rural e das Pescas.<br />
38
GRÁFICO 18<br />
Evolução dos índices do preço da carne <strong>de</strong> ovino na produção e dos custos dos meios <strong>de</strong><br />
produção agrícola<br />
150<br />
140<br />
130<br />
120<br />
110<br />
100<br />
90<br />
Preço da carne <strong>de</strong> ovino<br />
na produção<br />
Custo dos bens e<br />
serviços <strong>de</strong> consumo<br />
corrente na agricultura<br />
Custo dos bens e<br />
serviços <strong>de</strong><br />
investimento na<br />
agricultura<br />
Fonte: construído a partir <strong>de</strong> dados das Estatísticas Agrícolas, INE e do SIMA - Sistema <strong>de</strong><br />
Informação <strong>de</strong> Mercados Agrícolas, Gabinete <strong>de</strong> Planeamento e Políticas do Ministério da<br />
Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas.<br />
Quanto à comparação da evolução dos preços da carne <strong>de</strong> ovino na produção com a evolução<br />
dos custos dos meios <strong>de</strong> produção agrícolas, observa-se que os custos crescem muito acima<br />
dos preços e a diferença só não é maior, porque, no último ano do período consi<strong>de</strong>rado<br />
(2009), os preços no produtor inflectiram a sua tendência <strong>de</strong> ligeira <strong>de</strong>scida e tiveram uma<br />
subida significativa (ver o Quadro 18 e o Gráfico 18). Existe aqui uma evidência clara do<br />
<strong>de</strong>créscimo da margem líquida dos agricultores produtores <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> ovino e da<br />
consequente <strong>de</strong>gradação do seu rendimento, durante a primeira década do século XXI.<br />
39
5 – CONCLUSÕES<br />
Ao longo do trabalho já foram sendo sistematizadas algumas conclusões, nomeadamente nos<br />
pontos 2.3 (sobre o sector do leite), 3.3 (sobre o sector da carne <strong>de</strong> bovino) e 4.3 (sobre o<br />
sector da carne <strong>de</strong> ovino). No presente capítulo referem-se apenas algumas conclusões gerais,<br />
que permitem ter uma visão <strong>de</strong> conjunto sobre os três sectores abordados no estudo.<br />
Existe uma tendência geral para uma certa estabilização ou até diminuição dos preços<br />
(excepto no caso da carne <strong>de</strong> ovino, on<strong>de</strong> se regista uma ligeira subida em todos os preços<br />
analisados), em especial nos preços à saída da produção.<br />
Os preços no produtor representam cerca <strong>de</strong> 50% do preço final (no consumidor), o que se<br />
passa nos três sectores analisados.<br />
Existe uma relação inversa entre a variação <strong>de</strong> algumas margens brutas (quando umas<br />
aumentam as outras diminuem): margem bruta na transformação versus margem bruta na<br />
distribuição (no sector do leite); margem bruta na produção versus margem bruta na<br />
distribuição (no sector da carne <strong>de</strong> bovino). Este facto indicia uma espécie <strong>de</strong> compensação<br />
(pelo menos, parcial) entre as margens brutas, por forma a minimizar os impactos no preço<br />
final (no consumidor), isto no caso dos sectores do leite e da carne <strong>de</strong> bovino.<br />
Finalmente, o aumento dos custos <strong>de</strong> produção agrícola, constante e significativo ao longo <strong>de</strong><br />
todo o período analisado (2000-2009), conjugado com a diminuição dos preços à saída da<br />
produção (ligeiro aumento, no caso da carne <strong>de</strong> ovino), mostra bem como a margem líquida<br />
dos produtores agrícolas <strong>de</strong> leite, <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> bovino e <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> ovino, tem diminuído, ao<br />
longo da primeira década do século XXI, com a consequente erosão da sua margem líquida.<br />
40