105 ARTE POPULAR, ARTE ERUDITA E MULTICULTURALIDADE ...
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Nuno Saldanha<br />
Para além do exemplar trabalho dos barristas, António Ferreira e Machado<br />
de Castro, com os seus famosos presépios, onde o popular e o «erudito» se<br />
con jugam de forma exemplar, ou dos desenhos e gravuras do Cavaleiro de<br />
Faria (António Leitão de Faria), apenas as obras do conhecido Morgado de<br />
Se túbal (José António Benedito Soares de Faria e Barros, 1752-1809), marca -<br />
ram o escasso cenário da arte portuguesa da segunda metade do século<br />
XVIII (cf. Araújo, 1991). Efectivamente, devem-se a este artista, alguns exemplares<br />
curiosos dentro desta temática – A Mulher da Roca e A fiandeira –, no<br />
seguimento da corrente naturalista setecentista internacional, que se assumem<br />
plenamente na temática de Género e não apenas, como sucedera em<br />
épocas anteriores, na inclusão de detalhes paisagísticos em vistas urbanas e<br />
campestres, ou no cenário da pintura religiosa.<br />
Não obstante a deficiente qualidade de muitos destes quadros, Almeida<br />
Garrett não deixa de os mencionar, nas Viagens na Minha Terra, elogiando a<br />
graça e naturalidade flamengas, e aludindo à sua pintura como «aqueles quadros<br />
tão verdadeiros». Seria também enaltecendo esse aspecto «realista» que<br />
Raczynski a ele se refere no seu Dictionnaire: «Il avait le talent de saisir la<br />
nature avec vérité» 15 . Alguns dos seus tipos populares, constituirão modelos<br />
pic tóricos, que seriam posteriormente retomados. Veja-se, por exemplo, a<br />
obra de Malhoa, Velha Fiando, de 1902, que parece parafrasear a obra homónima<br />
de José António Faria e Barros, executada dois séculos antes.<br />
O Portugal «pinturesco»<br />
Na viragem para a primeira metade do século XIX, caberá à geração romântica<br />
prosseguir com esta inclinação para representar os costumes e tipos po -<br />
pulares portugueses. De acordo com a tendência já iniciada em Setecentos,<br />
ela será sobretudo desenvolvida por artistas estrangeiros.<br />
Efectivamente, serão franceses e, depois, ingleses, italianos e alemães, quem<br />
ampliará esta temática no nosso território, tanto na pintura como na gravura,<br />
avulsa, ou na ilustração de diversas obras que se publicaram sobre<br />
Portugal.<br />
Os franceses marcam novamente a sua presença, nos guaches e têmperas de<br />
Félix Doumet, nas gravuras de Charles Legrand ou Henry L’Évêque. À<br />
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