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105 ARTE POPULAR, ARTE ERUDITA E MULTICULTURALIDADE ...

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Nuno Saldanha<br />

postal ou publicadas nos oito volumes de A Arte e a Natureza em Portugal,<br />

da casa Emílio Biel, ou no Portugal Artístico da casa Magalhães e Moniz 41 .<br />

Outro autor que se insere claramente neste tipo de sentimento patriótico e<br />

na cionalista da «cultura republicana» é Veiga Simões, que faz uma entusiasta<br />

apologia daquilo a que chama o «Neo-Lusitanismo» (Simões, Set. de 1909) 42 .<br />

Este membro do Partido Republicano Radical, e colaborador do jornal República,<br />

acusa a falta de um ideal gerador, claramente concretizado em obras<br />

de arte, naquilo que considera ser a «característica basilar da época presente»<br />

(Simões, 1909, 201). Ataca o individualismo e o egoísmo schopenhauriano<br />

de uma época de decadência, entroncado em Nietzsche, e que gerara as<br />

«bizarras gerações dos symbolistas e esthetas francezes».<br />

Contra o materialismo da poesia contemporânea, e defendendo o ideal do<br />

universalismo, Veiga Simões via os inícios deste movimento nalgumas obras<br />

de Teófilo Braga, nomeadamente na Alma Portuguesa e em Tradições Populares,<br />

onde se podia encontrar o ideal nacional, articulado com o ideal universal<br />

e apoiado em bases científicas e filosóficas. Para além dele, estava a<br />

corrente regionalista do Conde de Monsaraz (A Musa Alentejana), pela<br />

penetrante observação da terra, ou João Correia de Oliveira, pela sua «psicologia<br />

regional estudada na alma da paisagem».<br />

Este mito do «portuguesismo» atinge o seu ponto mais alto em 1928, du ran -<br />

te a grande Exposição de Homenagem a José Malhoa, precisamente quando,<br />

segundo afirmava José-Augusto França, o pintor terá sido elevado a uma<br />

categoria carismática 43 .<br />

Depois da morte de Malhoa, o «mito» parece voltar a crescer, e esta imagem<br />

ficará para sempre ligada ao mestre, embora, muitas vezes, sem qualquer<br />

conteúdo justificativo, passando a constituir uma espécie de simples «epíteto»,<br />

tão comum aos artistas da Idade Moderna, que sistematicamente es -<br />

colhiam, ou recebiam, a alcunha de «Lusitano». De pintor nacional, transforma-se<br />

em pintor «nacionalista», modelo de portuguesismo e fonte de<br />

ins piração, como a ele se referia António Montês (Freitas, 1983, 40).<br />

Em 1933, a notícia da morte de Malhoa tornava a preencher os jornais com<br />

inú meras referências à sua vida e obra, tanto em Portugal como no Brasil,<br />

com a mesma importância com que, cinco anos antes, se falava dele, a pro-<br />

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