105 ARTE POPULAR, ARTE ERUDITA E MULTICULTURALIDADE ...
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III <strong>ARTE</strong> <strong>POPULAR</strong>, <strong>ARTE</strong> <strong>ERUDITA</strong> E <strong>MULTICULTURALIDADE</strong><br />
tura visual portuguesa, que ainda hoje subsiste, independentemente do<br />
gosto ou aversão que desperta 52 .<br />
E, um dos aspectos que efectivamente lhe granjeou tamanha admiração e<br />
êxito, foi precisamente a sua capacidade de saber interpretar e recriar o imaginário<br />
da cultura visual popular, a que a época aspirava. Para isso, fez<br />
recurso de diversos expedientes, que passavam desde a observação directa<br />
(não esquecer que Malhoa nasceu num meio rural das Caldas da Rainha e<br />
que passou a sua carreira a pintar em Figueiró dos Vinhos), à representação<br />
de costumes, atitudes e sentimentos do imaginário popular.<br />
Os quadros que alcançaram maior sucesso foram justamente aqueles em que<br />
o pintor melhor conseguiu exprimir estes aspectos.<br />
No quadro As Cócegas (Fig. 10), por exemplo,<br />
revela-se um aspecto deveras in teressante<br />
– em ambas as versões, de 1894 e<br />
1904 – e sintomático do seu recurso (e in -<br />
fluência) a imagens retiradas do universo<br />
visual popular, tal como Courbet fizera<br />
anteriormente.<br />
Meyer Schapiro, no seu brilhante ensaio<br />
sobre Courbet e o imaginário popular,<br />
Figura 10<br />
José Malhoa, As Cócegas, 1904<br />
chamara já a atenção para o papel crucial das bases imagéticas de algumas<br />
obras do realismo 53 . Efectivamente, alguns dos mais representativos quadros<br />
do Realismo, como o Enterro em Ornans (e Bom Dia Sr. Courbet), devem-se<br />
em grande parte à influência do imaginário popular.<br />
Em As Cócegas, esta obra parece socorrer-se não tanto da recolha directa do<br />
natural (embora ela tenha existido, pelo número de estudos conhecidos),<br />
mas através de elementos tomados do imaginário popular.<br />
A cena de sedução não parece surgir espontaneamente dum registo pessoal,<br />
mas de uma imagem corrente da cultura visual popular. De facto, podemos<br />
en contrar algumas imagens que reproduzem esta situação brejeira da vida<br />
rural, como a figurada num postal, produzido através de uma fotografia colorida,<br />
pela firma Bergeret et Cie., de Nancy (Fig. 11).<br />
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