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Migrações: Implicações Passadas, Presentes E - Unesp

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Paulo E. Teixeira; Antonio M. C. Braga;<br />

Rosana Baeninger (Org.)<br />

Sr.Lázaro: eu trabalhei 90 dias registrado numa empreiteira, mas com<br />

perseguição política. É o que desanima.<br />

Sr. Lázaro: eu penso em voltar aqui não é terra minha, é dos outros.<br />

Marilda: Do que sente saudades<br />

Sr. Lázaro: Ah. (enfático), eu sinto saudades de muita coisa, da família,<br />

da liberdade, aqui não tem liberdade, aqui na semana que não trabalha,<br />

a coisa fica mais difícil.<br />

Aqui é muito corrido, levanto às 4h30min da manhã, só o domingo para<br />

descanso, é mercado, etc. É um lugar que se ganha, mas para manter<br />

responsabilidade, é puxado.<br />

Sr. Lázaro: eu falo para meus conterrâneos, aqui é terra dos outros,<br />

não é terra da gente.<br />

D. Maria: para ser sincera, eu não tenho vontade de voltar, eu falo<br />

meu lugar, porque eu nasci e cresci lá. Mas meu lugar é aqui, fui muito<br />

humilhada, sofrida, nos problemas de família; ter necessidade de coisa em<br />

casa, é correr e sofrer humilhação. Lutei muito com doença, não tinha<br />

condições de tratar de meus filhos lá.<br />

Não sinto saudades do meu lugar de nada, de nada. 5<br />

Destacaríamos três aspectos desse fragmento da narrativa de Sr.<br />

Lázaro e de D. Maria. Primeiro, a representação do local de origem, o<br />

município de onde vieram, na Paraíba, como sendo “nosso lugar”, em<br />

contraste com “aqui”, no caso o município em que moravam naquele<br />

momento, Engenheiro Coelho, região de Campinas, estado de São Paulo.<br />

Embora já residindo há 10 anos na área canavieira, em São Paulo, e 3<br />

filhos já inseridos no mercado de trabalho, a expectativa, mesmo que<br />

nunca se realize, é retornar. Segundo, conquanto “nosso lugar” expresse<br />

um sentimento de pertencimento à localidade de origem, a experiência<br />

da migração faz com que também se construa um distanciamento crítico<br />

em relação às formas de dominação do “nosso lugar”. O discurso de que<br />

“aqui” (em São Paulo) há democracia e lá “é humilhado” expressa uma<br />

crítica das relações de dominação política fundamentadas no favoritismo,<br />

clientelismo e dependência personalizada. Terceiro, há diferenças entre<br />

as percepções do Sr. Lázaro e esposa, D. Maria elabora um discurso que<br />

5<br />

Nesse momento, Maria é muito enfática. Toda sua narrativa tem um tom de ressentimento e mágoa em relação<br />

à Paraíba.<br />

30

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