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Como Brasil e Itália enfrentam a situação ... - Comunità italiana

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atualidade<br />

Trabalho<br />

na mesa<br />

Questões como imigração, exploração infantil e direitos foram<br />

discutidos no <strong>Brasil</strong> por especialistas italianos<br />

O<br />

imigrante representa ou<br />

não um perigo para trabalhadores<br />

locais <strong>Como</strong><br />

o mercado de trabalho<br />

atual lida com o assédio moral e<br />

a exploração infantil Essas foram<br />

algumas das questões discutidas<br />

em dois eventos realizados<br />

no <strong>Brasil</strong> e que trouxeram, para o<br />

país, docentes italianos especializados<br />

no assunto.<br />

Segundo o professor de Direito<br />

Trabalhista Fabio Petrucci,<br />

o que está na pauta de debates,<br />

agora, é a “compatibilização”<br />

da disciplina de trabalho entre<br />

os vários países que compõem a<br />

União Européia.<br />

— O trabalho é a base da república<br />

<strong>italiana</strong> e também para<br />

a União Européia é um princípio<br />

básico. Na Itália, muito se tem<br />

falado, por exemplo, sobre a presença<br />

de romenos, que têm uma<br />

disciplina de trabalho, digamos,<br />

um pouco mais baixa que a de<br />

outros países — analisa Petrucci<br />

que leciona Direito Social e do<br />

Trabalho como docente convidado<br />

na Pontifícia Universidade Católica<br />

de Minas Gerais e Curitiba.<br />

Ele e outros três professores<br />

italianos participaram do 3º Seminário<br />

Ítalo-brasileiro de Direito<br />

do Trabalho, realizado no Rio;<br />

e o Seminário Internacional do<br />

Direito do Trabalho, em Fortaleza.<br />

Os encontros abordaram temas<br />

como trabalho infantil e assédio<br />

moral e a necessidade de<br />

Sílvia So u z a<br />

se estabelecer pontes que regulamentem<br />

e punam praticantes<br />

de irregularidades.<br />

De acordo com Petrucci, o<br />

preconceito com o que são vistos<br />

os imigrantes tende a diminuir<br />

quando esses estrangeiros<br />

não representam ameaças aos<br />

trabalhadores locais. Isso sem<br />

falar que, entrando na Itália legalmente,<br />

o imigrante está sujeito<br />

às mesmas regras que qualquer<br />

outro cidadão do país. Há,<br />

porém, problemas nesse trânsito<br />

que precisam ser acompanhados<br />

de perto.<br />

— Algumas questões exigem<br />

respostas mais urgentes como o<br />

trabalho infantil, por exemplo,<br />

que deve ser combatido com<br />

uma normativa penal rígida. E as<br />

mortes no ambiente de trabalho<br />

também. Na Itália, ocorrem mais<br />

no Sul e o setor de construção civil<br />

tem maior número de casos. A<br />

vinda ao <strong>Brasil</strong> apresenta discussões<br />

que só vão melhorar nossas<br />

pesquisas — comenta Petrucci.<br />

Para quem deseja encarar o<br />

trabalho na bota, o médico curitibano<br />

ítalo-brasileiro Pedro Reggiani<br />

Anzuategui criou o site www.<br />

minhaitalia.com.br onde muitas<br />

dicas podem ser encontradas. Ele<br />

observa que “o trabalhador tem<br />

força na Itália”.<br />

— Lá, a oferta de empregos<br />

é grande, principalmente nos níveis<br />

menos especializados. Isso<br />

faz com que o trabalhador não<br />

tenha aquele medo intenso de<br />

perder o emprego, como acontece<br />

com o trabalhador no <strong>Brasil</strong>,<br />

que se sujeita a coisas horríveis<br />

— afirma ele que morou cinco<br />

anos na Itália.<br />

Segundo Anzuategui, “o italiano<br />

enfrenta o patrão e impõe<br />

respeito”. O médico conta que<br />

várias vezes presenciou trabalhadores<br />

que se recusavam a fazer<br />

algum trabalho por ser “muito<br />

pesado” ou “não adequado para<br />

o seu perfil”. Ele afirma que o<br />

trabalho informal na Itália não é<br />

Fotos: Ernane Assumpção<br />

tão disseminado como no <strong>Brasil</strong>.<br />

Existe, “mas apenas entre círculos<br />

fechados como discotecas ou<br />

pequenas lojas”.<br />

Na maioria dos casos, o trabalho,<br />

na Itália, será formal,<br />

com todas as garantias sociais.<br />

Isso, porém, não livra os funcionários<br />

do assédio moral. Com<br />

o agravante que essa questão<br />

ainda não está bem resolvida<br />

em termos de legislação. O professor<br />

Antonio Pileggi, da Universidade<br />

de Roma, informa que<br />

entidades internacionais sinalizam<br />

que, na Itália, 4% dos trabalhadores<br />

seriam vítimas desse<br />

problema.<br />

— Nós, que lidamos diariamente<br />

com o assunto, sabemos<br />

que esse número é pequeno. Isso<br />

acontece porque a maioria das<br />

pessoas não denuncia os casos<br />

de assédio moral, com medo de<br />

retaliação — afirma.<br />

No <strong>Brasil</strong><br />

Até o mês de agosto, o quadro<br />

do emprego formal, no <strong>Brasil</strong>,<br />

era favorável aos trabalhadores.<br />

O Cadastro Geral de Empregados<br />

e Desempregados (Caged) registrou<br />

a criação de mais de 1,8<br />

Pequenos escravos<br />

Prostituição, trabalho forçado<br />

e imposição à pratica da<br />

mendicância são as principais<br />

causas de exploração sofridas<br />

por crianças provenientes do<br />

Leste Europeu e da África, na<br />

Itália. A denúncia faz parte do<br />

relatório “Pequenos Escravos”<br />

da divisão <strong>italiana</strong> da organização<br />

Save the Children. Nigéria<br />

e Romênia seriam os países<br />

que mais atuariam no tráfico de<br />

pessoas e segundo o documento,<br />

938 crianças e adolescentes<br />

exploradas foram atendidas na<br />

Itália entre 2000 e 2007.<br />

— O número de vítimas pode<br />

ser maior por que muitas<br />

crianças são ‘invisíveis’ não recebendo<br />

proteção ou qualquer<br />

tipo de assistência. As crianças<br />

são úteis para os grupos que se<br />

dedicam à exploração, pois são<br />

mais fáceis de aliciar e, no caso<br />

da mendicância, despertam<br />

compaixão. Além disso, os menores<br />

de 14 anos não são imputáveis<br />

criminalmente — explica<br />

a coordenadora da área de proteção<br />

da ONG, Carlotta Bellini.<br />

milhão de novas vagas preenchidas<br />

no país, superando a meta<br />

que o Ministério do Trabalho<br />

e Emprego (MTE) estabelecera<br />

para todo o ano de 2008. Nos<br />

primeiros oito meses de 2007, o<br />

mesmo índice ficou em 1,3 milhão<br />

de empregos. O recorde anterior,<br />

do ano de 2004, era de<br />

1,4 milhão.<br />

O percentual de pessoas no<br />

trabalho formal atingiu 49% do<br />

total dos ocupados, segundo dados<br />

do 1º quadrimestre de 2008<br />

Especialistas em Direito do Trabalho, os professores Antonio Pileggi e Fabio Petrucci<br />

comentam sobre trabalho escravo e assédio moral na Itália<br />

da Pesquisa Mensal de Emprego<br />

(PME) do Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de<br />

Geografia e Estatística (IBGE).<br />

Um dos grandes movimentos<br />

no setor trabalhista, no país,<br />

se deu em junho quando foi<br />

lançada, oficialmente, a Frente<br />

Nacional Contra o Trabalho Escravo.<br />

No momento, está em tramitação,<br />

no Congresso Nacional,<br />

a Proposta de Emenda Constitucional<br />

(PEC) 438 que determina<br />

a expropriação (sem pagamento<br />

de indenização) de propriedades<br />

Dicas de Reggiani<br />

onde for constatada a exploração<br />

de mão-de-obra escrava.<br />

Para o procurador Jonas Ratier<br />

Moreno, da Coordenadoria Nacional<br />

de Erradicação do Trabalho Escravo<br />

(Conaete) do Ministério Público<br />

do Trabalho (MPT), a aprovação<br />

da PEC seria uma resposta “à<br />

altura aos questionamentos internacionais<br />

à produção agropecuária<br />

brasileira”. Segundo ele, há acusações<br />

de que produtos brasileiros<br />

podem estar “sujos” pela utilização<br />

de mão-de-obra escrava.<br />

experiência adquirida por Reggiani na Itália fez com que, aqui<br />

A no <strong>Brasil</strong>, o médico transmitisse seus conhecimentos. No seu<br />

site, ele fala a respeito de profissões valorizadas, direitos trabalhistas,<br />

salários e até condições para quem tem dupla cidadania:<br />

● A Itália precisa de mão de obra de todo tipo, especializada e<br />

não especializada. Atividades como a de soldador, eletricista,<br />

mecânico e marceneiro geram trabalho quase que imediatamente.<br />

O emprego altamente especializado (título universitário) pode<br />

ser mais demorado para se encontrar, porém o retorno financeiro<br />

será maior.<br />

● As garantias sociais do trabalho existem e funcionam bem. Existe,<br />

além do 13° salário, o 14° salário, que é pago em julho. Alguns<br />

outros direitos dos trabalhadores são: garantia contra doenças e<br />

acidentes de trabalho, férias longas e remuneradas, licença maternidade<br />

(que pode ser de até 9 meses) e outras licenças garantidas<br />

por lei como greve e problemas pessoais.<br />

● O salário mínimo italiano é cerca de 900 euros. Com esta quantia<br />

um cidadão que não é casado e não tem filhos pode manter um carro,<br />

pagar um aluguel, ter celular, sair à noite, viajar e ir a restaurantes.<br />

São poucos os italianos que ganham salário mínimo e isto ocorre<br />

normalmente no início da carreira e com os menos qualificados.<br />

● Pode acontecer de os empregadores preferirem estrangeiros (com<br />

cidadania <strong>italiana</strong>) porque entendem que aqueles que vêm de países<br />

em desenvolvimento estão acostumados a trabalhar “bastante”,<br />

ou seja, não ligam de fazer hora extra ou trabalhar domingos<br />

ou feriados em troca de um incremento no salário. Em determinadas<br />

áreas, onde se precisa de conhecimentos específicos, pode não<br />

ser uma vantagem ser estrangeiro, mas em outras (por exemplo,<br />

trabalho com turismo, tradução, música, multinacionais), o fato<br />

de ser ítalo-brasileiro é uma vantagem franca.<br />

32 C o m u n i t à I t a l i a n a / No v e m b r o 2008<br />

N o v e m b r o 2008 / Co m u n i t à I t a l i a n a 33

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