Versão PDF - correio de venezuela
Versão PDF - correio de venezuela
Versão PDF - correio de venezuela
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
CORREIO DE CARACAS - 9 DE JUNHO DE 2005 OPINIÃO 23<br />
caRTas dOs leITORes<br />
Praia <strong>de</strong> areia na Ma<strong>de</strong>ira <br />
Sou filha <strong>de</strong> Portugueses naturais da<br />
ilha da Ma<strong>de</strong>ira e escrevo esta carta porque<br />
sou leitora do jornal EL NACIONAL<br />
e, para meu espanto, agora acompanho às<br />
sextas feiras as publicações do vosso suplemento.<br />
Foi um espanto e confesso que não sabia<br />
da existência da ilha do Porto Santo<br />
e muito menos <strong>de</strong> uma praia <strong>de</strong> areia daquelas<br />
dimensões. Por acaso falei em casa<br />
com os meus pais <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter feito uma<br />
enorme publicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Portugal entre os<br />
meus colegas <strong>de</strong> trabalho, no Banco Mercantil,<br />
em Caracas. Falando novamente<br />
em casa, a minha confusão foi gran<strong>de</strong> porque<br />
os meus pais também não sabiam da<br />
existência <strong>de</strong> uma praia <strong>de</strong> areia no Porto<br />
Santo. Reflecti um pouco <strong>de</strong>pois da tremenda<br />
baralhada que fiz ao consultar em<br />
casa sobre este pormenor geográfico.<br />
Os meus pais chegaram aqui (ambos)<br />
nos anos 60 e até hoje nunca regressaram<br />
à sua terra, nem sequer <strong>de</strong> passeio. Da<br />
mesma forma, o contacto com os portugueses<br />
tem sido pouco e a família realmente<br />
também é pouca na Venezuela.<br />
Para mim, o mais importante <strong>de</strong> tudo<br />
isto é tentar transmitir a importâ ncia<br />
Fartei-me <strong>de</strong> rir com a carta que li sobre<br />
os brinquedos da infâ ncia do passado.<br />
Sou também natural da Ma<strong>de</strong>ira e, ao<br />
contrário da infâ ncia do Sr. Valter, que<br />
apesar <strong>de</strong> pobre pareceu-me que foi feliz, da<br />
minha parte a minha infâ ncia também<br />
foi muito pobre mas nada feliz <strong>de</strong>vido às<br />
dificulda<strong>de</strong>s financeiras que passámos em<br />
casa. A alimentação era o que dava a<br />
fazenda, os brinquedos eram a foice, a<br />
podoa e a enxada. O dia mais feliz era<br />
quando o nosso pai não tomava uma<br />
bebe<strong>de</strong>ira e <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> fazer estragos em<br />
casa.<br />
Foi triste e seria motivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate, hoje<br />
em dia, tentar saber ao certo até que ponto<br />
viveram as crianças do nosso tempo a sua<br />
infâ ncia na Ma<strong>de</strong>ira, sobretudo nas zonas<br />
do campo.<br />
<strong>de</strong> mostrar um pouco <strong>de</strong> Portugal aos filhos<br />
<strong>de</strong> emigrantes e a todos os <strong>venezuela</strong>nos<br />
porque somos muitos que não sabemos<br />
nada <strong>de</strong> Portugal .<br />
Espero que continuem a mostrar Portugal<br />
e também espero um dia ler alguma<br />
coisa sobre a freguesia da minha mãe: o<br />
Campanário, na ilha da Ma<strong>de</strong>ira.<br />
Yolimar M. Pereira<br />
Podoa, foice e enxada como brinquedos<br />
À minha memó ria vêm-me aqueles dias<br />
<strong>de</strong> chuva em que íamos para a escola com<br />
uma "mulheilha" <strong>de</strong> saca às costas, tipo<br />
"capuchinho vermelho". E esta também<br />
ajudava no frio.<br />
Foram dias realmente tristes e, portanto,<br />
a infâ ncia no meu caso e dos meus irmãos<br />
não foi realmente nada feliz. No entanto,<br />
aqui estamos com saú <strong>de</strong>, o que já é muito<br />
bom.<br />
Sobre os jogos tradicionais, só me vem<br />
à memó ria a foice e a podoa, que era o que<br />
usávamos para trabalhar na fazenda.<br />
A nossa alegria nesse sentido era quando<br />
o meu avô e o meu pai nos compravam<br />
uma podoa nova para po<strong>de</strong>r seguir<br />
trabalhando na fazenda.<br />
Sidónio Gonçalves<br />
Emigrante há 51 anos na Venezuela.<br />
Gosto pela cultura nasce em cada um<br />
Sou luso-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte e costumo ler<br />
o vosso semanário. Tenho notado que,<br />
<strong>de</strong> uma forma reiterada, referem-se à<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se apoiar o ensino da<br />
língua portuguesa. Para mim, como<br />
luso-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, é estritamente<br />
necessário apren<strong>de</strong>r muito bem a língua<br />
portuguesa. Para além <strong>de</strong> na minha<br />
casa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequenos, nos terem<br />
ensinado a falar português, na Casa<br />
Portuguesa do estado Aragua, clube ao<br />
qual hoje estou associada, temos o<br />
privilégio <strong>de</strong> nos oferecerem a<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r esta línguas<br />
em três níveis, com um professor que<br />
está disposto a ensinar-nos tanto a<br />
língua como os cotumes, a mú sica, a<br />
histó ria e cultura geral: o professor<br />
Manuel <strong>de</strong> Oliveira, mais conhecido<br />
como o poeta Jorge <strong>de</strong> Amorim.<br />
Escola <strong>de</strong> formação para dirigentes<br />
Senhores, o problema da pouca<br />
afluência <strong>de</strong> gente aos cursos é<br />
abismador. Não basta dizer que<br />
precisamos <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, o problema<br />
está nas pessoas, pela minha<br />
experiência pró pria. Neste curso,<br />
quando comecei, as ca<strong>de</strong>iras da sala não<br />
chegavam tantas pessoas queriam<br />
apren<strong>de</strong>r português. No entanto, agora,<br />
quando já estamos a acabar o terceiro<br />
nível, só restam cinco pessoas.<br />
O interesse em apren<strong>de</strong>r português<br />
<strong>de</strong>be residir em cada um, fazer<br />
simplesmente publicida<strong>de</strong> dos cursos<br />
não chega. O gosto pela cultura e pelas<br />
tradições portuguesas nasce com cada<br />
um!!!!<br />
Jeniffer Ferreira Pontes<br />
Acompanho as publicações do vosso<br />
jornal e acho-o <strong>de</strong> uma extrema importâ<br />
ncia para a comunida<strong>de</strong> portuguesa,<br />
não só na Venezuela como no Mundo.<br />
De facto, as comunida<strong>de</strong>s lusas <strong>de</strong>veriam<br />
ser motivo <strong>de</strong> análise dos políticos <strong>de</strong><br />
Portugal.<br />
Coitados, pouco sabem que existem<br />
mais <strong>de</strong> seis milhões <strong>de</strong> portugueses a viverem<br />
fora <strong>de</strong> Portugal. Alguns até nem<br />
sabem o que é a Venezuela, on<strong>de</strong> fica e<br />
muito menos se vivem cá portugueses.<br />
Enfim...<br />
Antes <strong>de</strong> haja alguma confusão, quero<br />
dizer que sou portuguesa <strong>de</strong> nascimento<br />
e vivo em Portugal, embora viaje contentemente<br />
à Venezuela e tenha familiares<br />
e gran<strong>de</strong>s amigos neste belo País.<br />
Também conheço alguns clubes portugueses<br />
na Venezuela.<br />
Escrevo esta carta para comentar o<br />
vosso editorial da ultima edição, que se<br />
refere à forma <strong>de</strong> dirigir os clubes sociais<br />
portugueses.<br />
Da minha parte, honestamente confesso<br />
que admiro tudo o que fizeram e o<br />
que fazem para manter essa chama viva<br />
<strong>de</strong> Portugal em todos os lugares da Venezuela.<br />
No entanto, penso que muitas<br />
vezes as diligências têm que ser <strong>de</strong>vidamente<br />
tomadas para se assumir uma função<br />
<strong>de</strong> membro directivo importante <strong>de</strong><br />
um clube.<br />
De facto, <strong>de</strong>veria existir uma escola<br />
<strong>de</strong> formação para presi<strong>de</strong>ntes. E talvez a<br />
Embaixada <strong>de</strong> Portugal po<strong>de</strong>ria ajudar<br />
nesse sentido. Da mesma forma, penso<br />
que é muito importante preparar estes<br />
membros directivos para quando <strong>de</strong>ixem<br />
<strong>de</strong> exercer funções <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança na comunida<strong>de</strong>,<br />
pois o maior problema é que<br />
se acostumam ao protagonismo que têm<br />
e <strong>de</strong>pois não conseguem viver sem ele.<br />
Quanto às muitas criticas e pedidos<br />
que geralmente se fazem em relação às<br />
autorida<strong>de</strong>s portuguesas, não criem falsas<br />
ilusões.<br />
Os políticos portugueses nem sabem<br />
que vocês existem, da mesma forma que<br />
os diplomatas <strong>de</strong>signados por Portugal<br />
no Mundo só estão on<strong>de</strong> estão as comunida<strong>de</strong>s<br />
porque são praticamente obrigados<br />
e são bem pagos, para estarem nos<br />
países a representar o Estado português.<br />
Leitor <strong>de</strong>vidamente i<strong>de</strong>ntificado<br />
INQUéRITO<br />
Acha que os portugueses que resi<strong>de</strong>m em Rio Chico têm contribuí do para o crescimento comercial da zona Organizam iniciativas culturais própias do seu Paí s<br />
Urimar Palasos Raiza Pérez Geyser Betancourt Omaira Contreras<br />
"Aqui, a maioria dos negócios são <strong>de</strong><br />
portugueses e eles têm nos ajudado,<br />
arranjando emprego para o nosso povo. As<br />
expressões culturais dos lusitanos não são<br />
muitas. Só comemoram a Festa <strong>de</strong> Fátima.<br />
Entre os dois povos, há muito<br />
companheirismo e nunca os vi serem<br />
inconvenientes entre eles".<br />
"Os portugueses que vivem em Rio Chico têm<br />
ajudado muito os <strong>venezuela</strong>nos porque<br />
graças aos seus negócios existe intercâmbio<br />
comercial e há uma fonte <strong>de</strong> trabalho para a<br />
população local. São fiéis crentes da sua<br />
virgem e todos os anos fazem festas<br />
padroeiras das suas terras. Existe integração<br />
porque muitos <strong>de</strong>les se casaram com<br />
pessoas nativas <strong>de</strong> Rio Chico e esta é a<br />
melhor forma <strong>de</strong> mostrar que estão<br />
integrados".<br />
"Há uma elevada percentagem <strong>de</strong><br />
comerciantes que são <strong>de</strong> origem europeia e<br />
que têm criado fontes <strong>de</strong> trabalho para os<br />
habitantes daqui. Os portugueses <strong>de</strong> Rio<br />
Chico são fiéis às suas tradições, mas ao<br />
nível <strong>de</strong> comemorações folclóricas não são<br />
muito fraquinhos. Só veneram a virgem <strong>de</strong><br />
Fátima. De resto, não fazem mais nada.<br />
Entre portugueses e <strong>venezuela</strong>nos, há uma<br />
fiel relação <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e familiarida<strong>de</strong> pois<br />
ficaram amigos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro momento<br />
em que chegaram emigrantes à zona".<br />
"Os portugueses que estão aqui são os que<br />
têm aberto as portas laborais aos habitantes<br />
<strong>de</strong> Rio Chico que vivem na zona.<br />
Contribuem com a comercialização e são<br />
fontes <strong>de</strong> trabalho para o povo. Não têm<br />
muitas festas, só fazem uma anualmente,<br />
que é a <strong>de</strong> Fátima. De resto, não<br />
comemoram mais nada. O português e o<br />
<strong>venezuela</strong>no são amigos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre.<br />
Aqui todos são conhecidos e amigos da<br />
casa".