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Versão PDF - correio de venezuela

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4 Venezuela CORREIO DE CARACAS - 9 DE MAIO DE 2005<br />

todos falam <strong>de</strong> camões,<br />

mas quase ninguém sabe quem é<br />

Daniel Morais, director do Instituto Português da Cultura, faz um balanço sobre a evolução das comemorações<br />

do Dia <strong>de</strong> Portugal e da importância da visa e obra do poeta luso por excelência, Luí s <strong>de</strong> Camões.<br />

Nathali Gómez<br />

O10 <strong>de</strong> Junho é uma data importante<br />

para qualquer<br />

português que esteja <strong>de</strong>ntro<br />

ou fora do país. Neste<br />

dia, comemora-se o Dia <strong>de</strong> Portugal, o<br />

do poeta Camões e o das comunida<strong>de</strong>s<br />

portuguesas. Contudo, nem sempre foi<br />

assim, pois as comemorações tiveram<br />

outro significado consoante a etapa histó<br />

rica que atravessou a Nação lusa.<br />

antes do 25 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1974, data<br />

em que caiu a ditadura <strong>de</strong> antó nio <strong>de</strong><br />

Oliveira Salazar, o 10 <strong>de</strong> Junho era chamado<br />

<strong>de</strong> "Dia da raça". Este comemorou-se<br />

pela primeira vez em 1944, durante<br />

o período conhecido como o Estado<br />

Novo, na cerimó nia <strong>de</strong><br />

inauguração do Estádio nacional, sendo<br />

o principal objectivo exaltar o orgulho<br />

<strong>de</strong> um povo com uma suposta<br />

ascendência comum.<br />

a partir <strong>de</strong> 1960, tempo marcado pelo<br />

colonialismo e pela crise, tentou-se<br />

juntar a comemoração com as con<strong>de</strong>corações<br />

feitas aos mortos e feridos das<br />

guerras <strong>de</strong> Ultramar. finalmente, a partir<br />

<strong>de</strong> 1974, a conotação que tem actualmente<br />

é a <strong>de</strong> uma homenagem a<br />

todos os emigrantes portugueses que<br />

tiveram que sair do seu país, tanto por<br />

razões econó micas como por motivos<br />

políticos ou <strong>de</strong> guerra.<br />

Como nos explica Daniel morais, director<br />

do instituto Português <strong>de</strong> Cultura<br />

(iPC), a partir da revolução <strong>de</strong> 25<br />

<strong>de</strong> abril, os governantes manipularam<br />

a data para que fosse a ocasião perfeita<br />

para pensar e procurar a integração daquela<br />

parte <strong>de</strong> cidadãos que estavam fora<br />

<strong>de</strong> Portugal e que actualmente são<br />

40% da população total.<br />

"O conceito que conduzem os governantes<br />

da comemoração do 10 <strong>de</strong><br />

Junho é correctíssimo porque tentamos<br />

essencialmente que os portugueses que<br />

estão espalhados pelo mundo se i<strong>de</strong>ntifiquem<br />

com o seu país <strong>de</strong> origem", opina<br />

morais.<br />

Da mesma forma, segundo o director<br />

do iPC, na data se presta tributo às<br />

personalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stacas <strong>de</strong>ntro e fora<br />

do país através <strong>de</strong> imposição <strong>de</strong> con<strong>de</strong>corações.<br />

a pesar dos reconhecimentos,<br />

na Venezuela "não há sensibilização suficiente<br />

para um acto que <strong>de</strong>ve reunir<br />

todos os portugueses. Contudo, alguns<br />

meios associativos estão conscientes do<br />

Uma figUra<br />

Não se po<strong>de</strong> falar do aniversário do iPC sem esquecer uma referência a<br />

Daniel morais, que tem sido ao longo <strong>de</strong>stes 14 anos o seu principal pilar.<br />

Talvez em 1948, quando chegou a Caracas pela primeira vez na companhia<br />

<strong>de</strong> sua esposa, não imaginava que seria responsável neste país pela cultura<br />

portuguesa.<br />

No começo da sua estadia, Daniel morais <strong>de</strong>dicou-se primeiro ao ramo<br />

mobiliário. Depois à publicida<strong>de</strong>, ramo em que montou a empresa "Ecos<br />

<strong>de</strong> Portugal", cuja finalida<strong>de</strong> era divulgar a cultura e o associativismo <strong>de</strong>ntro<br />

da comunida<strong>de</strong> lusitana. Paralelamente realizava programas <strong>de</strong> rádio e escrevia<br />

artigos numa publicação que tinha o nome da sua organização. Dez<br />

anos <strong>de</strong>pois da sua chegada, em 1958, fundou com um grupo <strong>de</strong> amigos o<br />

Centro português <strong>de</strong> Caracas, a cuja primeira se<strong>de</strong> esteve situada em El<br />

Paraíso, para <strong>de</strong>pois instalar-se em Sebucan. anos mais tar<strong>de</strong> constituiu<br />

uma comissão pró - -se<strong>de</strong> do Centro português tendo como objectivo a<br />

construção <strong>de</strong> instalações pró prias.<br />

Em 1960 pertenceu à "asociació n Pro-Venezuela" e participou em campanhas<br />

a favor das colô nias estrangeiras no país. Em 1975, colaborou na<br />

constituição da Câ mara <strong>de</strong> Comércio, indú stria e Turismo Luso-Venezuelana,<br />

da qual foi fundador e vice-presi<strong>de</strong>nte durante um ano.<br />

Em 1985 integrou a comissão que organizou na Venezuela os actos comemorativos<br />

da morte do poeta português fernando Pessoa. Em 1990 fundou<br />

o instituto Português <strong>de</strong> Cultura, ó rgão para o <strong>de</strong>senvolvimento e difusão<br />

da cultura lusitana, que se instalou no Centro Português <strong>de</strong> Caracas.<br />

Pelo seu largo trabalho em prol da cultura e do associativismo português,<br />

Daniel morais recebeu diversas distinções do Estado Português e Venezuelano.<br />

significado real da data", expressa.<br />

O caso do Centro Português <strong>de</strong> Caracas<br />

(CPC), para morais, é muito importante<br />

porque se fundou um 10 <strong>de</strong><br />

Junho <strong>de</strong> 1958, dia que coinci<strong>de</strong> com o<br />

aniversário da morte <strong>de</strong> Luís <strong>de</strong> Camões,<br />

autor <strong>de</strong> "Os Lusíadas" que é consi<strong>de</strong>rado<br />

o maior poeta da língua portuguesa.<br />

Poeta conhecido<br />

e <strong>de</strong>sconhecido<br />

"Todos falamos <strong>de</strong> Camões, mas quase<br />

ninguém o conhece, nem sequer sabemos<br />

<strong>de</strong> pormenores da sua visa", afirma<br />

morais. apesar do autor ter exaltado<br />

na sua obra o valor universal da<br />

virtu<strong>de</strong>, o seu legado literário não tem<br />

estado ao alcance <strong>de</strong> muitas pessoas ou<br />

pela impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong><br />

certo nível <strong>de</strong> estudos, ou por <strong>de</strong>sinteresse<br />

ou <strong>de</strong>vido a simples <strong>de</strong>sconhecimento.<br />

a saída <strong>de</strong> muitos emigrantes portugueses<br />

por razões econó micas ou políticas<br />

fez com que estes não tivessem<br />

conhecimento suficiente da sua pró -<br />

pria cultura. "Não por culpa <strong>de</strong>les, mas<br />

porque não lhes <strong>de</strong>ram acesso", refere.<br />

Não obstante, actualmente tentamos<br />

aproveitar este potencial cultural <strong>de</strong>ntro<br />

das comunida<strong>de</strong>s e tentar captar o<br />

interesse <strong>de</strong> toda a camada jovem que a<br />

constitui.<br />

Para morais, Camões faz parte <strong>de</strong> um<br />

patrimó nio e uma riqueza que nalgumas<br />

ocasiões não é o suficientemente<br />

apreciada. Perante esta realida<strong>de</strong>, o iPC<br />

tem abordado o tema repetidas vezes<br />

e tem procurado forma <strong>de</strong> fazer nas comemorações<br />

do dia da pátria se faça<br />

mais divulgação da obra do poeta, tornando-a<br />

assim mais acessível a todos.<br />

"Os Lusíadas", a obra mais conhecida<br />

<strong>de</strong> Camões, é um poema épico (<strong>de</strong><br />

leitura e compreensão não muito fácil)<br />

que tenta contar <strong>de</strong> uma forma poética<br />

e mitoló gica a histó ria do povo português.<br />

Dai a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar a<br />

obra acessível a todos.<br />

Como parte das comemorações do<br />

10 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong>ste ano, o iPC tinha previsto<br />

trazer antó nio Victorino <strong>de</strong> almeida.<br />

Contudo, por diferentes razões,<br />

não foi possível. Por isso, a instituição<br />

vai se juntar às comemorações feitas no<br />

CPC, que vai fazer um pequeno recital<br />

dirigido pelo maestro <strong>venezuela</strong>no<br />

Jesú s ignacio Pérez Perazzo.

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