Universidade e os múltiplos olhares de si mesma - Sistema de ...
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Utilizam<strong>os</strong> as histórias <strong>de</strong> vida d<strong>os</strong> professores <strong>de</strong> medicina tendo em vista em primeiro lugar<br />
o ponto <strong>de</strong> vista d<strong>os</strong> historiadores, no qual a história <strong>de</strong> vida se confun<strong>de</strong>, muitas vezes, com o fazer<br />
histórico. Deste ponto <strong>de</strong> vista, um d<strong>os</strong> problemas centrais está ligado à especificida<strong>de</strong> da<br />
documentação com a qual se escolheu trabalhar: a própria história <strong>de</strong> vida. Ao contrário das outras<br />
fontes usadas pelo historiador, feitas no passado, contemporâneas ao fato, a história <strong>de</strong> vida é<br />
realizada após o evento, em que o entrevistado fala sobre o passado p<strong>os</strong>icionado no presente.<br />
Diversamente <strong>de</strong> um documento cartorial, a narração realizada na entrevista é uma narração baseada<br />
na recordação, na rememoração <strong>de</strong> fat<strong>os</strong> acontecid<strong>os</strong> (Neves et al, 2005). Esses autores salientam<br />
que este é um caminho tortu<strong>os</strong>o, “pois som<strong>os</strong> reféns da memória, que (...) é absolutamente mutável,<br />
po<strong>de</strong>ndo-se até dizer que ela não existe a não ser enquanto processo em renovada construção”. E<br />
acrescentam: “na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar,<br />
com imagens e idéias <strong>de</strong> hoje, as experiências do passado”.<br />
Trabalham<strong>os</strong> também com o ponto <strong>de</strong> vista da sociologia, pois o <strong>de</strong>poimento é também um<br />
“registro d<strong>os</strong> atores sociais”. Catani et al (2001) as<strong>si</strong>nalam que há n<strong>os</strong> trabalh<strong>os</strong> <strong>de</strong> Bourdieu várias<br />
análises que fazem da educação e d<strong>os</strong> <strong>si</strong>stemas <strong>de</strong> en<strong>si</strong>no seu objeto central, cujo exame permite<br />
evi<strong>de</strong>nciar mecanism<strong>os</strong> do conhecimento social. Dessa forma, a educação po<strong>de</strong> também esclarecer<br />
as formas pelas quais <strong>os</strong> agentes conhecem as instituições e se reconhecem nelas. Segundo <strong>os</strong><br />
autores, para a sociologia da educação praticada por Bourdieu, a questão a ser pesquisada em cada<br />
caso particular <strong>de</strong>ve ser entendida sempre como modalida<strong>de</strong> do p<strong>os</strong>sível, quer dizer, o invariante na<br />
variante observada. Acrescente-se ainda que a história <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>sses professores da UFRJ foi<br />
utilizada como uma fonte que “respon<strong>de</strong> a <strong>de</strong>terminadas perguntas e objetiv<strong>os</strong> específic<strong>os</strong>”, n<strong>os</strong><br />
term<strong>os</strong> discutid<strong>os</strong> por Neves et al (2005), não <strong>de</strong>vendo o pesquisador abdicar do exercício da<br />
“interpretação do material empírico”, conforme n<strong>os</strong> alerta Bertaux::<br />
“O valor <strong>de</strong> uma interpretação sociológica se me<strong>de</strong> pela sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exprimir uma corrente<br />
subterrânea. Pouco importa a maneira como foi elaborada, é a sua existência que conta. Se o processo<br />
que ela aponta chega ou não a amadurecer, se assegura a hegemonia e reorganiza uma socieda<strong>de</strong><br />
inteira segundo sua própria lógica, ou se ela <strong>de</strong>saparece diante <strong>de</strong> outras tendências, isto é uma outra<br />
questão (1985, p.9).<br />
Para Becker (1999), a história <strong>de</strong> vida, se bem-feita, po<strong>de</strong> n<strong>os</strong> fornecer <strong>os</strong> <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong>ste<br />
processo cujo caráter, <strong>de</strong> outro modo, só seríam<strong>os</strong> capazes <strong>de</strong> especular. As<strong>si</strong>m, é por conferir<br />
uma base realista à n<strong>os</strong>sa imagem do processo subjacente que a história <strong>de</strong> vida serve a<strong>os</strong><br />
propó<strong>si</strong>t<strong>os</strong> <strong>de</strong> verificar pressup<strong>os</strong>ições, lançar luz sobre organizações e reorientar camp<strong>os</strong><br />
estagnad<strong>os</strong>. Joutard (2000) argumenta que mesmo no caso daqueles que dominam perfeitamente a<br />
escrita e n<strong>os</strong> <strong>de</strong>ixam memórias ou cartas, o oral n<strong>os</strong> revela o “in<strong>de</strong>scritível”, toda uma série <strong>de</strong>