03.07.2015 Views

Baixe o livro em pdf (1.926 KB) - Marxists Internet Archive

Baixe o livro em pdf (1.926 KB) - Marxists Internet Archive

Baixe o livro em pdf (1.926 KB) - Marxists Internet Archive

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Aqueles que não chegaram a conhecer seus pais, ou eram muito<br />

pequenos no momento de suas mortes e desaparecimentos, afirmam<br />

que construíram suas histórias a partir de fotografias e relatos, <strong>em</strong><br />

um processo difícil e doloroso. Como construir a imag<strong>em</strong> de um “pai”<br />

quando, por vezes, só se possu<strong>em</strong> duas fotos: uma, dele com 3 anos e<br />

outra, com 16 anos de idade?<br />

Muitos deles necessitaram criar suas identidades a partir<br />

das ausências de seus familiares. Isto significava, enquanto seus pais<br />

estavam vivos, assumir os riscos e as estratégias de sobrevivência na<br />

clandestinidade. Para isso, deveriam adotar outros nomes, saber pouco<br />

– ou nada – sobre a identidade dos pais, etc, o que levou muitos a<br />

experimentar<strong>em</strong> uma sensação de “mistério” na infância, reiterada<br />

por alguns depoimentos, e certa raiva posteriormente, como pode ser<br />

aferido por essa constatação: “Como sou filha de alguém e não sei o<br />

nome dos meus pais?”. Essas crianças tinham, ainda, a consciência de<br />

que não eram “comuns”. Algumas delas relatam que não possuíam um<br />

cotidiano normal, <strong>em</strong> que os pais têm profissões, etc.<br />

Em outro depoimento de 15 filhos, Tessa Lacerda relata a<br />

dificuldade dessa construção:<br />

Tentar construir essa imag<strong>em</strong>, porque eu não sei nada de como meu<br />

pai era. As coisas mais banais. Eu sei o que ele fez, e s<strong>em</strong>pre na<br />

minha cabeça fica uma coisa grandiosa, de herói, porque afinal de<br />

contas ele morreu por um ideal, e ele estava disposto a isso. Enfim,<br />

fica aquela coisa gigantesca, que me... até me oprime um pouco.<br />

Em outro trecho do documentário, Tessa afirma que, mais difícil<br />

que aceitar a morte do pai – o corpo nunca foi entregue à família –, foi<br />

entender a “imaterialidade da vida, porque eu não conheci meu pai”.<br />

93

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!