PORTO sempre074Em Tribunal: Câmara julgada por…não atribuir subsídio. justiçaO Teatro Art´Imagem pretendereceber um subsídio de 20.000€ para ajudar a pagar o evento“Fazer a Festa” realiza<strong>do</strong> noano de 2006.Efectivamente, quan<strong>do</strong>, nessaaltura, o Verea<strong>do</strong>r da Culturapropôs ao Executivo municipala atribuição <strong>do</strong> deseja<strong>do</strong>subsídio, este foi reprova<strong>do</strong>com os votos contra <strong>do</strong> PS e<strong>do</strong> PCP, os votos favoráveis<strong>do</strong> PSD e a abstenção <strong>do</strong>CDS/PP ou seja, 6 votoscontra, 5 a favor e 2abstenções.Pouco tempo depois, oPresidente da Câmaradecidiu não agendar maisnenhuma proposta de atribuiçãode subsídios em dinheiro e afun<strong>do</strong> perdi<strong>do</strong> por sua iniciativa,acaban<strong>do</strong> assim, em largaescala, com a notória subsidiodependência em que muitasinstituições se tinhamdeixa<strong>do</strong> cair.Este subsídio emdinheiro ao TeatroArt´Imagemchumba<strong>do</strong> pela oposição, foi, assim, um<strong>do</strong>s últimos a ser decidi<strong>do</strong> pelo actualExecutivo.Os apoios da Câmara passaram, assim,a ser to<strong>do</strong>s em espécie, salvo paraas suas próprias associadas.A companhia de Teatropretende, agora, que oTribunal altere a decisãopolítica <strong>do</strong> Executivo.Uma cláusula polémicaA oposição chumbou o subsídio porque, no contrato, que aCMP deveria assinar com o Grupo de Teatro, a autarquiapropunha que aquela entidade se abstivesse de fazer críticasa esse mesmo acor<strong>do</strong>. Entende a CMP que, quan<strong>do</strong> alguémassina um contrato, é porque está de acor<strong>do</strong> com ele e nãodeve ter a má-fé de assinar para depois criticar o que subscreveu.O PS e a CDU, que são contra esta regra de conduta, defendemque todas as instituições têm o direito de dizer mal da Câmara<strong>do</strong> <strong>Porto</strong>, mesmo relativamente a matérias em que estabelecemparcerias e leal colaboração.Tempos ModernosNos tempos que correm, pode acontecer o que, à partida, sepoderia julgar inverosímil em democracia e, assim, o TeatroArt'Imagem moveu uma acção à CMP para que o Tribunal mandepagar um subsídio que a CMP, por votação democrática, decidiunão dar.O “julgamento <strong>do</strong> subsídio” iniciou-se este mês de Abril, edada a importância que o Art'Imagem e a justiça atribuem àmatéria, este tem mais de 20 testemunhas e ocuparáseguramente largas horas das mais diversas pessoas. Tambémneste caso, o Presidente da CMP, Rui Rio, irá mais uma vezresponder em Tribunal pela não atribuição <strong>do</strong> subsídio.
. portuenses ilustresEduar<strong>do</strong> Santos Silvapor José da Cruz SantosÀ memória <strong>do</strong> seu filho, Dr. ArturSantos Silva, sau<strong>do</strong>so amigo,ilustre advoga<strong>do</strong>, e exemplo decoragem cívica.É <strong>do</strong> tempo <strong>do</strong> Doutor Eduar<strong>do</strong> SantosSilva como Presidente da Câmara <strong>do</strong><strong>Porto</strong>, preocupa<strong>do</strong> com omelhoramento da cidade a nívelarquitectónico, a construção <strong>do</strong>Merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> Bolhão, da Avenida <strong>do</strong>sAlia<strong>do</strong>s ...Quase cinquenta anos passa<strong>do</strong>s sobrea sua morte, talvez o melhor começopara esta pequena homenagem àmemória <strong>do</strong> Doutor Eduar<strong>do</strong> Santos Silvaseja lembrar as palavras de AquilinoRibeiro: Julgo que, uma vez implantadaa República, Santos Silva se repartiuentre os <strong>do</strong>entes, fazen<strong>do</strong> de cada umamigo, e a família <strong>do</strong>nde brotou umageração honrada, liberal, talentosa e semfrio nos olhos. Uma das condições <strong>do</strong>shomens de carácter é imprimir essecarácter à prole.Naquele que foi considera<strong>do</strong> o primeirocidadão <strong>do</strong> <strong>Porto</strong>, no dizer <strong>do</strong> grandejornalista António Ramos de Almeida,Jaime Cortesão admirava: o homem deprofunda humanidade, que exerceu ogoverno, como um mestre de civismo,tolerância e compreensão entre oshomens; a medicina como sacerdócio; eo ensino como um apostola<strong>do</strong>[…]. Felizesnós que o temos por amigo; feliz o <strong>Porto</strong>que o tem como herdeiro e símbolo dassuas melhores virtudes; feliz o povoportuguês que nele pode rever-se, comonum espelho ideal.Nestes tempos em que se procuraobscenamente apagar a memória <strong>do</strong>smalefícios e crimes de mais de quatrodécadas de fascismo salazarista, não selêem sem comoção as palavrasdesassombradas com que Eduar<strong>do</strong> SantosSilva, pouco tempo antes de morrer,num <strong>do</strong>s sinistros tribunais plenários,testemunhou a favor de Guilherme daCosta Carvalho, amigo <strong>do</strong> seu filhoOsval<strong>do</strong>, ambos resistentes antifascistase destaca<strong>do</strong>s militantes <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong>Comunista Português.Com a devida vénia, trazemos para aquialguns elementos biográficos colhi<strong>do</strong>sno importante e insubstituível trabalho<strong>do</strong> Prof. Gaspar Martins Pereira sobreEduar<strong>do</strong> Santos Silva, publica<strong>do</strong> em2002:“Eduar<strong>do</strong> Santos Silva nasceu no <strong>Porto</strong>em 1879, filho de um comerciante. Desdemuito ce<strong>do</strong> que se habituou a ouvir falar<strong>do</strong> ideal republicano, a cujo movimentoseu pai Dionísio tinha aderi<strong>do</strong>. Com 13anos Eduar<strong>do</strong> já assinava os seus escritospolíticos como “um republicano”.Paraajudar o pai, aos 16 anos foi trabalharcomo escriturário num notário em VilaNova de Gaia; ingressou em 1898 naEscola Médico-Cirurgica <strong>do</strong> <strong>Porto</strong>, dirigidapela grande figura de Ricar<strong>do</strong> Jorge. Em1893 apresentou a sua dissertação“Fadiga Intelectual em Pedagogia” sen<strong>do</strong>aprovada com alta classificação.Em 1906, e ten<strong>do</strong> já termina<strong>do</strong> o cursopresta provas para ingressar no ensinosecundário.Acumula o cargo de médico adjunto de<strong>do</strong>enças infecciosas no Hospital JoaquimUrbano com as aulas no Liceu Central <strong>do</strong><strong>Porto</strong>; cria no ano seguinte com outros médicosda cidade, o Posto Médico da Batalha.Em 1909 vai para Paris para seespecializar , ligan<strong>do</strong>-se bastante aosrepublicanos portugueses que aí viviam.No ano seguinte regressa a Portugal,retoman<strong>do</strong> as aulas no Liceu AlexandreHerculano e abre um consultório. Em1911 é nomea<strong>do</strong> Director da EscolaNormal <strong>do</strong> <strong>Porto</strong> e Reitor <strong>do</strong> LiceuRodrigues de Freitas. Em 1912, éPresidente da Comissão Republicana <strong>do</strong><strong>Porto</strong>. Vai ter um papel muito importantena instrução, com um senti<strong>do</strong> demodernidade grande para a época. ACâmara <strong>do</strong> <strong>Porto</strong> sob a sua presidênciatorna-se pioneira na organização <strong>do</strong>ensino a vários níveis. Fun<strong>do</strong>u oConservatório de Música <strong>do</strong> <strong>Porto</strong>.No entanto, a ditadura de Pimenta deCastro, em 1915, interrompeu agovernação de Santos Silva, que serevoltou contra o envolvimento <strong>do</strong>smilitares na vida política. No entanto, ofim desta muito breve ditadura levou-ode novo à sua Câmara. Até 1922 vai sereleito várias vezes para a edilidadeportuense.Com a ditadura de Sidónio Pais envolveusena preparação clandestina de umarevolta militar o que lhe valeu ser presono Quartel <strong>do</strong> Carmo. Com o eclodir da1ª Guerra Mundial é incorpora<strong>do</strong> no CorpoExpedicionário Português partin<strong>do</strong> paraFrança como capitão-médico.Com o assassinato de Sidónio Pais,regressa a Portugal, com a Cruz de Guerra,retoman<strong>do</strong> a actividade política eautárquica.Com o fim da guerra e as novas ideiassurgidas nos outros países, muitosrepublicanos vão afastar-se da políticaactiva. Santos Silva é por duas vezeschama<strong>do</strong> para Ministro da Instrução.Com o 28 de Maio termina o Governo <strong>do</strong>qual fazia parte. A oposição republicanainicia o seu combate à ditadura.PORTO sempre075Santos Silva retomou a sua actividade de médico e professor.Convida<strong>do</strong> para Director Clínico <strong>do</strong> Hospital Semide, man<strong>do</strong>uinstalar um Dispensário e um Serviço de Preservação Infantilcontra a Tuberculose. Este Hospital passou a envolvê-lo atempo inteiro. Não se afastou, no entanto, da políticaparticipan<strong>do</strong> em movimentos contra a ditadura.Durante a revolução de Fevereiro de 1927, a sua casa da Rua<strong>do</strong> Bonfim foi o local onde se realizavam as reuniões epernoitavam alguns <strong>do</strong>s militares.Entre 1926 e 1933, foi preso 2 vezes, a última das quaisdeporta<strong>do</strong> para Angra <strong>do</strong> Heroísmo, onde nunca chegou, poisfoi à última hora manda<strong>do</strong> desembarcar no Funchal. Aí montouconsultório e mais tarde apoiou gratuitamente uma Instituiçãode Assistência Infantil.Com o fim da Guerra , a vitória <strong>do</strong>s Trabalhistas em Inglaterra,Salazar decidiu marcar eleições. É nessa altura que se formao M.U.D. (Movimento de Unidade Democrática).Eduar<strong>do</strong> SantosSilva e os <strong>do</strong>is filhos mais velhos vão participar em algumasactividades políticas deste movimento. E assim, com 66 anos,Santos Silva regressa à política.Os atritos com a nova direcção administrativa <strong>do</strong> HospitalRodrigues Semide, abertamente pró-salazarista, levam-no aapresentar o pedi<strong>do</strong> de exoneração de Director Clínico; emMarço de 1948, pediu também a exoneração <strong>do</strong> cargo deDirector de Enfermaria. Fica assim definitivamente afasta<strong>do</strong>desse Hospital.O regime salazarista fortalecia-se reprimin<strong>do</strong> cada vez maiscom a nova PVDE (depois PIDE) qualquer tipo de actividadepolítica que lhe fizesse oposição.Em 1949, na campanha <strong>do</strong> General Norton de Matos, Eduar<strong>do</strong>Santos Silva preside à Comissão Distrital da Candidatura no<strong>Porto</strong>. Há uma Oposição Democrática , em regime de “liberdadecontrolada” na qual Santos Silva vai participar activamente.Nesse âmbito, logo após o falecimento de Abel Salazar, juntocom Ruy Luís Gomes, Alberto Saavedra, António Lello, Arman<strong>do</strong>de Castro vai integrar a Comissão Executiva da Fundação AbelSalazar.Em 1955 termina a sua carreira médica com 76 anos de idadee 52 de vida profissional.Continua a ser uma referência para os democratas portugueses.Está sempre disponível para unir e reforçar a oposição aoregime.Nas eleições de 1958, o Engº Cunha Leal vai surgir como ocandidato de toda a oposição para a Presidência da República.No <strong>Porto</strong>, numa sessão comemorativa <strong>do</strong> 31 de Janeiro SantosSilva faz o discurso de apoio a esta candidatura. Sen<strong>do</strong> CunhaLeal uma figura polémica, mal visto por alguns republicanos,em Abril anuncia a sua decisão de não se candidatar. Surgeentão o nome <strong>do</strong> General Humberto Delga<strong>do</strong>, proposto porAntónio Sérgio.No <strong>Porto</strong> aponta-se o nome de Santos Silva, convida<strong>do</strong> pelaOposição Democrática, porque como é dito numa carta a eledirigida, “ a Personalidade Moral e Intelectual de V.Exª é sópor si garante <strong>do</strong> melhor êxito nacional da próxima campanhaoposicionista para a mais alta Magistratura da República”.Venceu, no entanto, a tese de António Sérgio, assim como aapresentação <strong>do</strong> candidato por ele proposto; Eduar<strong>do</strong> SantosSilva, apoiou também esta candidatura. No <strong>Porto</strong>, dirige elepróprio as primeiras palavras de saudação ao General.Em 1959, com 80 anos, Eduar<strong>do</strong> Santos Silva foi homenagea<strong>do</strong>num jantar no Restaurante <strong>do</strong> Centro Transmontano, no PalácioAtlântico. Continua a encarnar o ideal republicano, participan<strong>do</strong>em Janeiro de 1960, como sempre, na romagem aos mortos<strong>do</strong> 31 de Janeiro.Eduar<strong>do</strong> Santos Silva morre em Setembro de 1960. O seufuneral fez parar a cidade e as pessoas afluíram em peso aocemitério <strong>do</strong> Pra<strong>do</strong> <strong>do</strong> Repouso, onde se disse adeus ao primeirocidadão <strong>do</strong> <strong>Porto</strong>.”