Download - Câmara Municipal do Porto

. portuenses ilustresEduardo Santos Silvapor José da Cruz SantosÀ memória do seu filho, Dr. ArturSantos Silva, saudoso amigo,ilustre advogado, e exemplo decoragem cívica.É do tempo do Doutor Eduardo SantosSilva como Presidente da Câmara doPorto, preocupado com omelhoramento da cidade a nívelarquitectónico, a construção doMercado do Bolhão, da Avenida dosAliados ...Quase cinquenta anos passados sobrea sua morte, talvez o melhor começopara esta pequena homenagem àmemória do Doutor Eduardo Santos Silvaseja lembrar as palavras de AquilinoRibeiro: Julgo que, uma vez implantadaa República, Santos Silva se repartiuentre os doentes, fazendo de cada umamigo, e a família donde brotou umageração honrada, liberal, talentosa e semfrio nos olhos. Uma das condições doshomens de carácter é imprimir essecarácter à prole.Naquele que foi considerado o primeirocidadão do Porto, no dizer do grandejornalista António Ramos de Almeida,Jaime Cortesão admirava: o homem deprofunda humanidade, que exerceu ogoverno, como um mestre de civismo,tolerância e compreensão entre oshomens; a medicina como sacerdócio; eo ensino como um apostolado[…]. Felizesnós que o temos por amigo; feliz o Portoque o tem como herdeiro e símbolo dassuas melhores virtudes; feliz o povoportuguês que nele pode rever-se, comonum espelho ideal.Nestes tempos em que se procuraobscenamente apagar a memória dosmalefícios e crimes de mais de quatrodécadas de fascismo salazarista, não selêem sem comoção as palavrasdesassombradas com que Eduardo SantosSilva, pouco tempo antes de morrer,num dos sinistros tribunais plenários,testemunhou a favor de Guilherme daCosta Carvalho, amigo do seu filhoOsvaldo, ambos resistentes antifascistase destacados militantes do PartidoComunista Português.Com a devida vénia, trazemos para aquialguns elementos biográficos colhidosno importante e insubstituível trabalhodo Prof. Gaspar Martins Pereira sobreEduardo Santos Silva, publicado em2002:“Eduardo Santos Silva nasceu no Portoem 1879, filho de um comerciante. Desdemuito cedo que se habituou a ouvir falardo ideal republicano, a cujo movimentoseu pai Dionísio tinha aderido. Com 13anos Eduardo já assinava os seus escritospolíticos como “um republicano”.Paraajudar o pai, aos 16 anos foi trabalharcomo escriturário num notário em VilaNova de Gaia; ingressou em 1898 naEscola Médico-Cirurgica do Porto, dirigidapela grande figura de Ricardo Jorge. Em1893 apresentou a sua dissertação“Fadiga Intelectual em Pedagogia” sendoaprovada com alta classificação.Em 1906, e tendo já terminado o cursopresta provas para ingressar no ensinosecundário.Acumula o cargo de médico adjunto dedoenças infecciosas no Hospital JoaquimUrbano com as aulas no Liceu Central doPorto; cria no ano seguinte com outros médicosda cidade, o Posto Médico da Batalha.Em 1909 vai para Paris para seespecializar , ligando-se bastante aosrepublicanos portugueses que aí viviam.No ano seguinte regressa a Portugal,retomando as aulas no Liceu AlexandreHerculano e abre um consultório. Em1911 é nomeado Director da EscolaNormal do Porto e Reitor do LiceuRodrigues de Freitas. Em 1912, éPresidente da Comissão Republicana doPorto. Vai ter um papel muito importantena instrução, com um sentido demodernidade grande para a época. ACâmara do Porto sob a sua presidênciatorna-se pioneira na organização doensino a vários níveis. Fundou oConservatório de Música do Porto.No entanto, a ditadura de Pimenta deCastro, em 1915, interrompeu agovernação de Santos Silva, que serevoltou contra o envolvimento dosmilitares na vida política. No entanto, ofim desta muito breve ditadura levou-ode novo à sua Câmara. Até 1922 vai sereleito várias vezes para a edilidadeportuense.Com a ditadura de Sidónio Pais envolveusena preparação clandestina de umarevolta militar o que lhe valeu ser presono Quartel do Carmo. Com o eclodir da1ª Guerra Mundial é incorporado no CorpoExpedicionário Português partindo paraFrança como capitão-médico.Com o assassinato de Sidónio Pais,regressa a Portugal, com a Cruz de Guerra,retomando a actividade política eautárquica.Com o fim da guerra e as novas ideiassurgidas nos outros países, muitosrepublicanos vão afastar-se da políticaactiva. Santos Silva é por duas vezeschamado para Ministro da Instrução.Com o 28 de Maio termina o Governo doqual fazia parte. A oposição republicanainicia o seu combate à ditadura.PORTO sempre075Santos Silva retomou a sua actividade de médico e professor.Convidado para Director Clínico do Hospital Semide, mandouinstalar um Dispensário e um Serviço de Preservação Infantilcontra a Tuberculose. Este Hospital passou a envolvê-lo atempo inteiro. Não se afastou, no entanto, da políticaparticipando em movimentos contra a ditadura.Durante a revolução de Fevereiro de 1927, a sua casa da Ruado Bonfim foi o local onde se realizavam as reuniões epernoitavam alguns dos militares.Entre 1926 e 1933, foi preso 2 vezes, a última das quaisdeportado para Angra do Heroísmo, onde nunca chegou, poisfoi à última hora mandado desembarcar no Funchal. Aí montouconsultório e mais tarde apoiou gratuitamente uma Instituiçãode Assistência Infantil.Com o fim da Guerra , a vitória dos Trabalhistas em Inglaterra,Salazar decidiu marcar eleições. É nessa altura que se formao M.U.D. (Movimento de Unidade Democrática).Eduardo SantosSilva e os dois filhos mais velhos vão participar em algumasactividades políticas deste movimento. E assim, com 66 anos,Santos Silva regressa à política.Os atritos com a nova direcção administrativa do HospitalRodrigues Semide, abertamente pró-salazarista, levam-no aapresentar o pedido de exoneração de Director Clínico; emMarço de 1948, pediu também a exoneração do cargo deDirector de Enfermaria. Fica assim definitivamente afastadodesse Hospital.O regime salazarista fortalecia-se reprimindo cada vez maiscom a nova PVDE (depois PIDE) qualquer tipo de actividadepolítica que lhe fizesse oposição.Em 1949, na campanha do General Norton de Matos, EduardoSantos Silva preside à Comissão Distrital da Candidatura noPorto. Há uma Oposição Democrática , em regime de “liberdadecontrolada” na qual Santos Silva vai participar activamente.Nesse âmbito, logo após o falecimento de Abel Salazar, juntocom Ruy Luís Gomes, Alberto Saavedra, António Lello, Armandode Castro vai integrar a Comissão Executiva da Fundação AbelSalazar.Em 1955 termina a sua carreira médica com 76 anos de idadee 52 de vida profissional.Continua a ser uma referência para os democratas portugueses.Está sempre disponível para unir e reforçar a oposição aoregime.Nas eleições de 1958, o Engº Cunha Leal vai surgir como ocandidato de toda a oposição para a Presidência da República.No Porto, numa sessão comemorativa do 31 de Janeiro SantosSilva faz o discurso de apoio a esta candidatura. Sendo CunhaLeal uma figura polémica, mal visto por alguns republicanos,em Abril anuncia a sua decisão de não se candidatar. Surgeentão o nome do General Humberto Delgado, proposto porAntónio Sérgio.No Porto aponta-se o nome de Santos Silva, convidado pelaOposição Democrática, porque como é dito numa carta a eledirigida, “ a Personalidade Moral e Intelectual de V.Exª é sópor si garante do melhor êxito nacional da próxima campanhaoposicionista para a mais alta Magistratura da República”.Venceu, no entanto, a tese de António Sérgio, assim como aapresentação do candidato por ele proposto; Eduardo SantosSilva, apoiou também esta candidatura. No Porto, dirige elepróprio as primeiras palavras de saudação ao General.Em 1959, com 80 anos, Eduardo Santos Silva foi homenageadonum jantar no Restaurante do Centro Transmontano, no PalácioAtlântico. Continua a encarnar o ideal republicano, participandoem Janeiro de 1960, como sempre, na romagem aos mortosdo 31 de Janeiro.Eduardo Santos Silva morre em Setembro de 1960. O seufuneral fez parar a cidade e as pessoas afluíram em peso aocemitério do Prado do Repouso, onde se disse adeus ao primeirocidadão do Porto.”