Poesia Estrangeira - Academia Brasileira de Letras
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Tradução <strong>de</strong> Ronaldo Costa Fernan<strong>de</strong>sArespeito<strong>de</strong>*Que o mundo é impossível. Que as ruas não po<strong>de</strong>m nos caber no peito.Que nada cabe no buraco a que está <strong>de</strong>stinado e assim nos vão as coisas. Queas folhas das árvores seguem caindo e o mar segue dizendo uma palavra quenão po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>cifrar: uma palavra em movimento, uma palavra na qual cabeo tempo. Que estamos feitos <strong>de</strong> tempo, mas não <strong>de</strong> mar. Que levamos a contado tempo que vivemos, enjoados, como se pudéssemos levar as contas do mar.Que fazemos balanço <strong>de</strong> minúcias. Que as palavras nos caem da boca, sem entendê-las,como a neve se atordoa no asfalto. Que confundimos a neve com osal, os relógios com o sangue, o peito com uma garagem, e nos consolamoscrendo que tudo é relativo, como este pronome.Postal I(Panorama do horizonte visto da Costanilla <strong>de</strong>l Farol)Nada melhor que ficar distantee não saber on<strong>de</strong> nos escon<strong>de</strong>r;contar os pássaros que emigram,procurar a areia no asfaltoe nos aconchegar <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> um postecom espichado espírito <strong>de</strong> álamoenquanto o tráfego da noitediz sua palavra <strong>de</strong> rioque não chegará nunca ao mar.Uma cida<strong>de</strong>, hoje, é ficar distante.* GRANDE, Guadalupe. La Llave <strong>de</strong> Niebla. Madrid: Calambur, 2004.296