Poesia Estrangeira - Academia Brasileira de Letras
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Tradução <strong>de</strong> Ronaldo Costa Fernan<strong>de</strong>sIIE se a avenida fosse ainda maior,tão gran<strong>de</strong> que nela coubesse o mundo inteiro?E se pu<strong>de</strong>sse pedalar tão <strong>de</strong>pressa,suar até a última gota <strong>de</strong> históriasobre a carcaça do animalpara roçar ali, do outro lado da rua,o rosto frio da felicida<strong>de</strong>?Mas que fazer então com as vendas,com os unguentos, comos precários arreios <strong>de</strong>sta alquimia <strong>de</strong> pós-guerraque viajam entre os raios das rodaspelas farmácias da cida<strong>de</strong>.Não mais a botica, não mais a mercearia,não mais oração breve e rezadiante do rosto morta da irmã.IIIA bicicleta do meu pai é uma vendaque não sabe a que pren<strong>de</strong>r-sena madrugada da pensão.O último bon<strong>de</strong> cruzaa caixa dos sapatos velhosem que os bichos-da-sedamastigam o tapete do tempo,e meu pai,como um centauro hipocráticosobre suas patas <strong>de</strong> aço,cruza as avenidas da cida<strong>de</strong>.310