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Poesia Estrangeira - Academia Brasileira de Letras

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Tradução <strong>de</strong> Ronaldo Costa Fernan<strong>de</strong>sDo outro lado do canal, no rio Mersey, flutua o escaravelho da vida entre os<strong>de</strong>ntes do gato <strong>de</strong> Chesire, uma folha sobra sua sombra, uma cera no buracoda chama, uma pena na casca do ovo, sua vida, um papel sem garrafa.E quem pôs um prato <strong>de</strong> leite para o gato e soube ver a árvore na sombra dafolha e não colocar fogo, e quem recolherá a tinta com a pluma do melroque alguma vez atravessou um jardim, quem para escrever on<strong>de</strong>, quempara escrever quê.Pouco importa que Liverpool já não exista. Isso se po<strong>de</strong> ver no rio Mersey.Por fim, tudo o que não existe é um mapa da outra margem.Gatas parindoAssim escutas as coisas <strong>de</strong> tua vida como o miado <strong>de</strong> um gato no fundo dojardim.Acordas <strong>de</strong> madrugada e ouves no fundo muito fundo esse remoto miado<strong>de</strong> gato recém-nascidoE um verão e logo outro e mais outro até chegar a esta noiteno fundo do jardim no fundoAssim escutas as coisas <strong>de</strong> tua vida assim escutas as coisas do mundo às escuras<strong>de</strong> noite apalpando o susto <strong>de</strong> não enten<strong>de</strong>r ou o <strong>de</strong> não quererfazê-lo292

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