Poesia Estrangeira - Academia Brasileira de Letras
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Tradução <strong>de</strong> Ronaldo Costa Fernan<strong>de</strong>sVejo pestanejar o semáforo que está diante da minha casa:farmácia <strong>de</strong> plantão, pensão <strong>de</strong> terceira,estação terminal.Entre as cãs do meu paiminhas vendas acariciam o tempo,o “caminhão da chuva” recolhe a bicicletae um vento suave move as luminárias da cida<strong>de</strong>.Meu pai, sem bicicleta, apareceu na ponte:pelo esquálido rionavegam até as tetas do tempoos pincéis do avô morto;uma ambulância cruza os trigaisenquanto minha mãe remenda as vendas da ida<strong>de</strong>.Lenços <strong>de</strong> papelUma luz acesa em cada casa,aqui,na beira sem limite da penumbra.Com estes olhos sozinhose esta língua absurda,esta boca rota,este buraco cheio <strong>de</strong> cinza na gargantaescuto a passagem <strong>de</strong> um trem perdidonão sei por quê, não sei por quem.... e quem te olha então, quem?“A<strong>de</strong>us e tem pieda<strong>de</strong>”.312