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À Comunidade Israelita de Curitiba - Visão Judaica On Line

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18<br />

VISÃO JUDAICA setembro <strong>de</strong> 2005 Elul/Tishrê 5765<br />

s mo<strong>de</strong>rnos assentamentos israelenses<br />

na Faixa <strong>de</strong> Gaza foram<br />

retomados somente após<br />

a Guerra dos Seis Dias, em<br />

1967 – mas, mesmo com a <strong>de</strong>terminação<br />

da evacuação <strong>de</strong>sses<br />

assentamentos, as raízes judaicas são<br />

mais profundas nessa faixa arenosa<br />

<strong>de</strong> terra on<strong>de</strong> o Egito, Israel e o Mar<br />

Mediterrâneo se encontram.<br />

As opiniões divergem quanto ao<br />

fato <strong>de</strong> estar a Faixa <strong>de</strong> Gaza incluída,<br />

ou não, na chamada Terra <strong>de</strong> Israel,<br />

dominada pelos israelitas ancestrais<br />

da Bíblia.<br />

Uma das sinagogas <strong>de</strong>struídas pelos palestinos em Gaza tinha o<br />

formato da estrela <strong>de</strong> Davi<br />

Gaza é parte da Terra <strong>de</strong> Israel?<br />

Depen<strong>de</strong> <strong>de</strong> quem é perguntado...<br />

Dina Kraft *<br />

Sansão é o único israelita bíblico<br />

célebre por ter colocado os pés<br />

ali. No século XVII, o falso messias<br />

Shabbatai Zevi levou má reputação<br />

à área, ao iniciar seu movimento<br />

naquela costa litorânea.<br />

Após um acirrado <strong>de</strong>bate, o Knesset<br />

votou, ano passado, pelo <strong>de</strong>sengajamento<br />

unilateral da Faixa <strong>de</strong> Gaza<br />

e pela evacuação <strong>de</strong> aproximadamente<br />

9.000 colonos ju<strong>de</strong>us que viviam<br />

ali em assentamentos estilo “suburbano”,<br />

on<strong>de</strong> vastas plantações e parques<br />

<strong>de</strong> diversão eram protegidos por<br />

cercas <strong>de</strong> arame e postos militares.<br />

A população assentada é cercada<br />

pelo 1,3 milhão <strong>de</strong> palestinos que<br />

vivem na região <strong>de</strong>nsamente povoada,<br />

<strong>de</strong> 25 milhas <strong>de</strong> comprimento<br />

(pouco mais <strong>de</strong> 40 quilômetros) por<br />

apenas 6 milhas <strong>de</strong> largura (pouco<br />

menos <strong>de</strong> 10 quilômetros).<br />

Nos tempos bíblicos, Gaza fazia<br />

parte da Terra Prometida por D-us aos<br />

ju<strong>de</strong>us – mas nunca foi parte da terra<br />

efetivamente conquistada e habitada<br />

por eles, segundo Nili Wazana,<br />

uma conferencista sobre Estudos Bíblicos<br />

e História do Povo Ju<strong>de</strong>u da<br />

Universida<strong>de</strong> Hebraica.<br />

Wazana, que atualmente escreve<br />

um livro sobre as fronteiras bíblicas<br />

da Terra <strong>de</strong> Israel, diz que as referências<br />

à Faixa <strong>de</strong> Gaza são contraditórias<br />

na Bíblia. Uma passagem em Juízes<br />

– freqüentemente citada pelos<br />

colonos ju<strong>de</strong>us e seus <strong>de</strong>fensores –<br />

diz que a tribo <strong>de</strong> Judá assumiu o<br />

controle da região. Mas outras estórias<br />

bíblicas contradizem tal afirmação<br />

– o que é inclusive comum ocorrer<br />

na Bíblia, segundo ela.<br />

“Sobre quase tudo, você vai encontrar<br />

[na Bíblia] uma certa opinião<br />

e também uma opinião oposta.<br />

Não se trata <strong>de</strong> um texto homogêneo.<br />

Ela não foi toda escrita ao<br />

mesmo tempo e ali aparecem i<strong>de</strong>ologias<br />

contraditórias”, afirma Wazana.<br />

“A questão <strong>de</strong> Gaza é um dos<br />

pontos sobre os quais encontramse<br />

diferentes opiniões.”<br />

A maioria dos israelenses não vê<br />

razões históricas ou estratégicas para<br />

permanecer em Gaza. Mas para Yigal<br />

Kamietsky, o rabino <strong>de</strong> Gush Katif, o<br />

principal bloco <strong>de</strong> assentamentos da<br />

região, a Faixa <strong>de</strong> Gaza é parte integrante<br />

da Israel bíblica.<br />

“Gaza é parte da Terra <strong>de</strong> Israel,<br />

tanto quanto Tel Aviv e Bnei Brak”,<br />

ele afirma. “Não há dúvida <strong>de</strong> que<br />

seja parte <strong>de</strong> nossas fronteiras.” O<br />

rabino afirma não apenas que assentar-se<br />

ali era uma mitzvá, mas também<br />

que “se não estivéssemos lá, não<br />

estou certo <strong>de</strong> que o Estado <strong>de</strong> Israel<br />

ainda existiria.”<br />

Kamietsky diz que os ju<strong>de</strong>us dos<br />

assentamentos <strong>de</strong> Gaza atuavam como<br />

um “pára-raio” para aqueles ju<strong>de</strong>us<br />

que vivem <strong>de</strong>ntro das fronteiras pré-<br />

1967 <strong>de</strong> Israel. De fato, alguns oficiais<br />

israelenses temem que, uma vez<br />

que as tropas e os colonos tenham<br />

saído da área, os terroristas palestinos<br />

venham a concentrar-se na fabricação<br />

<strong>de</strong> foguetes que possam atingir<br />

a cida<strong>de</strong> israelense <strong>de</strong> Ashkelon,<br />

ao norte da Faixa <strong>de</strong> Gaza.<br />

Kamietsky ressalta que, historicamente,<br />

Gaza se viu inúmeras vezes<br />

como área <strong>de</strong> disputa <strong>de</strong> guerras.<br />

“Historicamente, Gaza sempre foi<br />

mais problemática”, diz o rabino,<br />

referindo-se aos lendários inimigos<br />

dos israelitas, os navegadores filisteus,<br />

que controlavam a região nos<br />

tempos bíblicos.<br />

O único período em que os ju<strong>de</strong>us<br />

parecem ter tido a soberania<br />

sobre Gaza foi durante o governo dos<br />

hasmoneus, quando o rei ju<strong>de</strong>u Yochanan<br />

– <strong>de</strong> quem Judá, o Macabeu,<br />

era irmão – dominou a área, no ano<br />

145 da Era Comum.<br />

Haggai Huberman – que tem dissertado<br />

longamente sobre a história<br />

da colonização judaica em Gaza através<br />

dos séculos, e atualmente vem<br />

escrevendo a história dos ju<strong>de</strong>us em<br />

Gush Katif – sustenta que os ju<strong>de</strong>us<br />

que ali viveram sempre se consi<strong>de</strong>raram<br />

moradores da Terra <strong>de</strong> Israel.<br />

Ele afirma que os ju<strong>de</strong>us vêem<br />

vivendo e saindo <strong>de</strong> Gaza <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

época do governo romano, sendo que<br />

a colonização segue um padrão <strong>de</strong><br />

expulsão, durante os tempos <strong>de</strong> guerra<br />

e conquista, e <strong>de</strong> retorno, durante<br />

períodos mais pacíficos. As ruínas <strong>de</strong><br />

uma antiga sinagoga encontrada em<br />

Gaza datam aproximadamente do ano<br />

508 da Era Comum. Seu piso em mosaico,<br />

escavado por arqueólogos, encontra-se<br />

hoje exposto no Museu <strong>de</strong><br />

Israel, em Jerusalém.<br />

Conta-se que uma gran<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong><br />

judaica teria vivido na região<br />

quando os muçulmanos a invadiram<br />

no século VII. Os ju<strong>de</strong>us eram<br />

conhecidos por sua ativida<strong>de</strong> agricultora<br />

e pela produção <strong>de</strong> vinho em<br />

seus vastos vinhedos.<br />

Depois da Inquisição espanhola,<br />

em 1492, alguns ju<strong>de</strong>us espanhóis e<br />

portugueses fugiram para Gaza. Eles<br />

abandonaram a região quando ela foi<br />

invadida pelo exército <strong>de</strong> Napoleão,<br />

mas retornaram mais tar<strong>de</strong>, no começo<br />

dos anos 1800.<br />

Quando a primeira onda <strong>de</strong> colonos<br />

sionistas chegou à região, no<br />

final do século XIX, um grupo <strong>de</strong> 50<br />

famílias mudou-se para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Gaza. De acordo com Huberman, eles<br />

estabeleceram relações amistosas<br />

com os árabes locais.<br />

Esses colonos ali ficaram até que<br />

foram expulsos em 1914 – junto com<br />

toda a população árabe <strong>de</strong> Gaza –<br />

pelos turcos otomanos, durante a<br />

Primeira Guerra Mundial. Os ju<strong>de</strong>us<br />

retornaram em 1920. Mas as tensões<br />

* Dina Kraft é repórter e correspon<strong>de</strong>nte da JTA (Jewish Telegraph Agency) em Israel. Baseada em Tel Aviv, ela cobre uma<br />

extensa gama <strong>de</strong> assuntos por trás das manchetes, incluindo temas <strong>de</strong> Israel e Diáspora e tendências econômicas e sociais.<br />

Antes da JTA ela trabalhou Associated Press durante mais <strong>de</strong> seis anos, primeiro no escritório <strong>de</strong> Jerusalém e <strong>de</strong>pois no <strong>de</strong><br />

Johanesburgo, cobrindo a África do Sul. Ela já fez reportagens não só através da África como também do Paquistão, da Turquia<br />

e da Jordânia. Artigo publicado em www.jta.org – dia 3.8.2005. Tradução: Gisella Gonçalves.<br />

começaram a se intensificar com o<br />

nascimento dos nacionalismos árabe<br />

e ju<strong>de</strong>u, e as relações com os árabes<br />

locais começaram a se <strong>de</strong>teriorar,<br />

afirma Huberman.<br />

A maior presença judaica em Gaza<br />

às vésperas da Guerra <strong>de</strong> In<strong>de</strong>pendência<br />

<strong>de</strong> Israel, em 1948, estava em um<br />

kibbutz chamado Kfar Darom, criado<br />

em 1946. Ele foi evacuado durante a<br />

guerra e foi um dos primeiros locais a<br />

serem recolonizados pelos ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> 1967. Inicialmente habitado<br />

por soldados israelenses da brigada<br />

Nahal, pouco tempo <strong>de</strong>pois Kfar Darom<br />

expandiu-se e tornou-se um dos<br />

vários assentamentos civis estabelecidos<br />

nos anos 1970, quando o movimento<br />

colonizador ganhou força.<br />

Qualquer tentativa <strong>de</strong> menosprezar<br />

as raízes judaicas na Faixa <strong>de</strong> Gaza “é<br />

parte <strong>de</strong> uma tentativa <strong>de</strong> se divulgar<br />

a <strong>de</strong>sinformação”, afirma Eran Steinberg,<br />

um porta-voz dos assentamentos<br />

<strong>de</strong> Gush Katif.<br />

Por sua vez, Wazana afirma que<br />

os atuais disputas territoriais são<br />

semelhantes àquelas encontradas na<br />

Bíblia. “Descrições <strong>de</strong> fronteiras refletiam<br />

diferentes i<strong>de</strong>ologias até<br />

mesmo naquela época”, segundo ela.<br />

“As pessoas colocavam palavras na<br />

boca <strong>de</strong> D-us mesmo nos tempos bíblicos.<br />

Se você tem uma i<strong>de</strong>ologia,<br />

certamente encontrará as palavras<br />

certas para apoiá-la.”<br />

Aqueles que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que Gaza<br />

não faz parte da bíblica Terra <strong>de</strong><br />

Israel alegam o fato <strong>de</strong> que os ju<strong>de</strong>us<br />

ortodoxos têm permissão <strong>de</strong><br />

consumir os produtos agrícolas cultivados<br />

na Faixa <strong>de</strong> Gaza durante o<br />

shmit – o sétimo ano (ou ano sabático),<br />

quando frutas e vegetais não<br />

po<strong>de</strong>m ser cultivados na Terra <strong>de</strong> Israel,<br />

<strong>de</strong> acordo com a lei judaica.<br />

Mas Kamietsky diz que é permitido<br />

o consumo <strong>de</strong> produtos da Faixa<br />

<strong>de</strong> Gaza durante esse período porque,<br />

ainda que ela seja tão “sagrada”<br />

quanto o resto da Terra <strong>de</strong> Israel, ela<br />

não era uma região colonizada durante<br />

o período do Segundo Templo,<br />

quando os ju<strong>de</strong>us retornaram <strong>de</strong> seu<br />

exílio na Babilônia.

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